man on the moon
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You Can't Win Charlie Brown - Diffraction / Refraction (inclui entrevista)
Depois do sucesso alcançado em 2011 com Chromatic, o disco de estreia e a recriação ao vivo dos Velvet Underground, no final de 2012, o coletivo You Can't Win Charlie Brown regressou hoje, dia vinte de janeiro, aos lançamentos discográficos com Diffraction / Refraction, o segundo disco desta banda formada por Tomás Sousa (bateria) Afonso Cabral (voz, piano e guitarras), Salvador Menezes (voz, guitarra acústica e baixo), David Santos (voz, teclados, metalofones), Luís Costa (guitarra eléctrica) e João Gil (guitarra acústica e teclados). Diffraction / Refraction foi gravado, à semelhança do disco de estreia, nos estúdios da Pataca Discos, produzido pelos próprios You Can't Win Charlie Brown, misturado por Luís Nunes (Walter Benjamim) e masterizado por Rafael Toral. Confere..
Com tantas bandas e artistas a fazer atualmente lá fora a dita indie folk, é refrescante encontrar por cá alguém que o faz de forma diferente e com músicas profundas e poderosamente bem escritas. Diffraction / Refraction é um disco que logo, desde o início, não dá tempo para recuperar o fôlego. E tal não sucede por ser demasiado frenético; Até há momentos de pausa, contemplação, de sossego e de melancolia, esta muitas vezes quase absurda. Tal sofreguidão deve-se antes à consistência com que, música após música, somos confortados por melodias maravilhosamente irresistiveis e ternurentas.
A belíssima canção que abre o trabalho chama-se After December e é já um dos singles retirados do álbum; Já reconhecida por cá como uma das canções maiores do ano, é feita de infecciosas harmonias vocais e uma melodia magistral. Fall For You segue noutra direção devido ao piano e à batida sintetizada e a forma como os arranjos e a voz ecoam numa melodia que os Air adoravam ter incluido em Moon Safari, proporcionando ao ouvinte uma assombrosa sensação de conforto.
Pouco depois somos confrontados com o sentido quadro sonoro, feito de quatro minutos pintados com belíssimos arranjos de cordas e uma voz contagiante que é Be My World (recomendo vivamente o video desta canção, realizado pelo baterista, Tomas Sousa, que, de acordo com o grupo serve para antecipar as múltiplas atmosferas que poderemos vislumbrar em Diffraction / Refraction) e ficamos então com a certeza que os You Can't Win Charlie Brown atingiram a excelência com este disco, onde nenhum instrumento ou som está deslocado ou a mais e que sabem melhor do que ninguém como conjugar exuberância com minimalismo, como fica bem evidente no crescendo da canção, algo plasmado com igual evidência em Shout, uma canção um pouco sombria, mas simultâneamente festiva e com a voz incrivelmente bonita de Afonso a pairar delicadamente sobre uma melodia pop simples e muito elegante. Já agora, neste disco todos os elementos da banda cantam, mas é a voz do Afonso a que mais se escuta. Pelo meio, I Wanna Be Your Fog poderia ser usada como música padrão para definir a indie acústica bem feita. Mais para o fim, também fiquei impressionado com a percurssão de Natural Habitat, por ter uma sonoridade que contrasta, algo inesperada e com uma letra que, de acordo com a minha interpretação pessoal, fala de visões e do desvendar de algo misterioso e que não é deste mundo.
Diffraction / Refraction é uma espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas, pintadas com melodias acústicas bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam a sensibilidade dos You Can't Win Charlie Brown para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana. E não restam dúvidas que eles combinam com uma perfeição raramente ouvida a música pop com sonoridades mais clássicas. No que diz respeito à escrita, uma espécie de fantasmagoria impregna a poesia das canções, por isso Diffraction / Refraction recordou-me também tempos idos, sonhos e aquelas pessoas especiais que não estão mais entre nós, mas que ficaram fotografadas por uma máquina em tudo semelhante à da capa na nossa memória.
Pessoalmente, os You Can't Win Charlie Brown, provocaram em mim um efeito devastador e senti este álbum como uma espécie de disco híbrido perfeito. Convido-te a conferires a entrevista que a banda me concedeu e espero que, tal como eu, também aprecies esta sugestão...
1 - After December
2 - Fall For You
3 - Post Summer Silence
4 - Be My World
5 - I Wanna Be Your Fog
6 - Shout
7 - Natural Habitat
8 - Heart
9 - From Her Soothing Mouth
10 - Under
11 - Won’t Be Harmed
Depois do sucesso alcançado em 2011 com Chromatic, o disco de estreia e a recriação ao vivo dos Velvet Underground, no final de 2012, regressam aos lançamentos com Diffraction / Refraction. Começo com uma questão cliché… Quais são, antes de mais, as vossas expetativas para este novo trabalho?
Luís Costa: Bom, as expectativas são mais ou menos sempre as mesmas… que as pessoas gostem e se identifiquem com as músicas, e idealmente que reconheçam alguma evolução em relação ao álbum anterior.
Confesso que o que mais me agradou na audição do álbum foi uma certa bipolaridade entre a riqueza dos arranjos e a subtileza com que eles surgiam nas músicas, muitos de forma quase impercetível, conferindo à sonoridade geral de Diffraction / Refraction uma sensação, quanto a mim, enganadoramente, minimal. Talvez esta minha perceção não tenha o menor sentido, ainda mais quando parece que houve da vossa parte, pelo que já li, uma tentativa de soarem um pouco mais simples e diretos do que em Chromatic. No fundo, em termos de ambiente sonoro, que idealizaram para o álbum inicialmente? E o resultado final correspondeu ou houve alterações de fundo ao longo do processo?
L.C. Houve uma tentativa consciente de tentar não “sufocar” as músicas com demasiados arranjos e deixá-las respirar, mas essa preocupação na verdade só surgiu mais perto do final do processo. Talvez o que tenha contribuído mais para os arranjos parecerem mais controlados em relação ao Chromatic, foi o facto de que já nos conhecemos melhor agora, sabemos qual o espaço que cada um ocupa musicalmente e por consequência as músicas já foram compostas e construídas com isso em mente. No 1º álbum ainda havia aquela urgência de querermos mostrar o que conseguíamos fazer, todos queríamos tocar tudo. Neste houve uma maturidade diferente e penso que isso se reflectiu numa melhor arrumação dos arranjos em cada tema.
Além de ter apreciado a riqueza instrumental, quer orgânica, quer eletrónica, e também a criatividade com que selecionaram os arranjos, gostei particularmente do cenário melódico destas vossas novas canções, que achei particularmente bonito. Em que se inspiram para criar as melodias? Acontece tudo naturalmente e de forma espontânea em jam sessions conjuntas, ou as melodias são criadas individualmente, ou quase nota a nota, todos juntos e depois existe um processo de agregação?
L.C. O nosso processo de composição parte sempre de uma ideia base de alguém, a única coisa que varia é o grau de desenvolvimento dessa ideia quando é apresentada ao resto da banda. Nalguns casos podem ser só uns riffs que são depois trabalhados por todos, noutros a ideia já vem perfeitamente consolidada e os restantes só adicionam pormenores. No passado trabalhámos muito via internet, cada um gravava as suas partes em casa e depois enviava para os outros, mas neste álbum o processo foi muito mais presencial, o que na minha opinião também contribuiu para uma maior consistência das músicas.
Acho que até hoje ainda nunca compusemos uma música todos juntos no ensaio, mas já falámos que no próximo álbum gostaríamos de tentar isso, a ver vamos.
De acordo com vocês, o vídeo de Be My World serve para antecipar as múltiplas atmosferas que poderemos vislumbrar em Diffraction / Refraction, que foram concebidas, desenhadas e realizadas pelo baterista da banda, Tomás Sousa. Há aqui, neste novo trabalho, algo mais pensado do que apenas a simples composição musical, nomeadamente a ideia de editar algum tipo de animação em conjunto com a música, quer noutros singles deste trabalho, quer no futuro discográfico do grupo?
L.C. Não, não pensámos tão longe. O Tomás trabalha na área de design e quando estávamos a trocar ideias sobre o que poderia ser o vídeo, ele ofereceu-se para experimentar fazer o vídeo com animação em 3D. Acho que no fundo foi um desafio que ele se quis auto-impôr, e que felizmente para nós resultou muito bem com a música.
A apresentação de Diffraction / Refraction irá ocorrer no Centro Cultural de Belém a dezoito de janeiro. Há surpresas prensadas e preparadas? E o alinhamento do concerto vai também passear por Chromatic?
L.C. Acho que a surpresa é não haver grandes surpresas! Vamos simplesmente tentar os 6 recriar as músicas do Diffraction o melhor que conseguirmos, e também iremos revisitar algumas do Chromatic e do nosso primeiro EP.
Diffraction / Refraction foi produzido pela própria banda. Esta opção acabou por surgir com naturalidade ou já estava pensada desde o início e foi desde sempre uma imposição vossa? E porque a tomaram?
L.C. Surgiu com alguma naturalidade, porque quando partimos para estúdio já tínhamos uma ideia muito definida do que pretendíamos. A melhor maneira de conseguirmos isso era assumir as rédeas, não fazia sentido delegar essa tarefa.
Depois de ter apreciado imenso a extravagante capa de Chromatic, confesso que fiquei particularmente surpreso com a simplicidade do artwork de Diffraction / Refraction. Como surgiu a ideia e que câmara fotográfica é aquela?
L.C. O artwork é um trabalho conjunto de muita gente. Falámos com o Pedro Gaspar, que já tinha feito a capa do Chromatic, e demos-lhe bastante liberdade. Em conversa com o João Paulo Feliciano, eles lembraram-se de usar obras do Rui Toscano (artista que também partilha o espaço onde gravámos o disco). O universo dele encaixava naquilo que nós sentiamos quando ouviamos o disco (e neste nós incluem-se o Pedro e o João Paulo). Fez nos tanto sentido que até foi a capa que inspirou o nome do disco.
Adoro a canção I Wanna Be Your Fog. Os You Can’t Win Charlie Brown têm um tema preferido em Diffraction / Refraction?
L.C. Acho que cada membro tem um tema preferido diferente, e mesmo esse provavelmente varia consoante os dias. A beleza deste álbum para mim é que tem uma variedade de ambientes bastante grande, portanto há uma música para cada estado de espírito. Neste momento a minha preferida é a Won’t be harmed, mas amanhã já pode ser uma diferente.
Não sou um purista e acho que há imensos projetos nacionais que se valorizam imenso por se expressarem em inglês. Há alguma razão especial para cantarem em inglês e a opção será para se manter?
L.C. O Afonso viveu muito tempo no estrangeiro, portanto o Inglês é quase tão natural para ele quanto o Português. Penso que isso, aliado ao facto da maioria das suas influências serem bandas anglo-saxónicas, fez com que naturalmente escrevesse em Inglês. Foi algo que nunca sequer discutimos entre nós, pessoalmente é-me um bocadinho irrelevante a língua em que se canta, o que me interessa é o sentimento com que se canta. Por isso é que me consigo identificar com as músicas dos Sigur Rós, por exemplo, apesar de não fazer ideia do que estão a dizer.
Atualmente a Pataca Discos do João Paulo Feliciano é a casa de alguns dos nomes fundamentais do universo sonoro musical nacional. É importante para vocês pertencer a esta família que vai do jazz, ao fado, passando pela pop e pela eletrónica, ainda mais quando se prepara para abrir uma loja digital e estabelecer uma parceira com a PIAS?
L.C.: A Pataca tem sido a nossa casa desde praticamente o início, inevitavelmente acaba quase por se tornar como uma família, sim. Ainda por cima a maior parte dos artistas ligados à Pataca já conhecíamos de uma forma ou de outra, portanto fica tudo entre amigos.
O mais importante de pertencer à Pataca tem sido o termos acesso a condições de gravação excepcionais que noutras circunstâncias seria perfeitamente impossível, e acima de tudo termos a liberdade de fazermos o que queremos musicalmente sem condicionantes, temos de agradecer ao João Paulo Feliciano pela confiança que sempre depositou em nós.
O que vos move é apenas o rock, a folk e a indie pop experimental ou gostariam ainda de experimentar outras sonoridades? Em suma, o que podemos esperar do futuro discográfico dos You Can’t Win Charlie Brown?
L.C. É bastante difícil de prever uma coisa dessas, porque todos ouvimos coisas muito diferentes e os gostos estão sempre a mudar. Arrisco dizer que não será um álbum de kuduro-progressivo, mas nunca se sabe… ;)
Quais são as três bandas atuais que mais admiram?
L.C.: Só 3? impossível! :) Mas posso-te dizer as últimas descobertas que fiz e que mais me impressionaram: os Torto, Three Trapped Tigers e a Chelsea Wolfe.
Não posso terminar esta entrevista sem vos questionar sobre outro assunto. Com que marcas ficou a banda da recriação do álbum clássico Velvet Underground & Nico? Como foi trabalhar para aquelas músicas e se de algum modo esse trabalho influenciou o conteúdo de Diffraction / Refraction?
L.C. Musicalmente não podemos dizer que nos tenha influenciado directamente, mas provavelmente acabou por influenciar no método de composição. Foi nas sessões de preparação para os Velvet que começámos a juntarmo-nos presencialmente para trabalhar numa ideia base que alguém trazia, e depois cada um ia inventando e gravando as suas partes na hora. Essa maneira de compor acabou por se transpôr para as sessões de pré-produção do Diffraction.