man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The New Pornographers – Continue As A Guest
Os The New Pornographers de Neko Case, Kathryn Calder, John Collins, Todd Fancey, Joe Seiders e o saxofonista Zach Djanikian, já têm sucessor para o excelente In The Morse Code Of Brake Lights, de dois mil e dezanove. Continue As A Guest é o nono e novo registo da carreira do coletivo canadiano, viu a luz do na reta final do passado mês de março e contém um faustoso alinhamento de dez canções que aprimoram, de um modo nunca antes visto, o habitual indie pop rock inspirado do grupo, com o alto patrocínio da Merge Records.
A primeira coisa que me apraz dizer depois de ter escutado este disco é que Continue As A Guest é um intrincado jogo de luzes e reflexos em forma de música, um disco cheio de brilho e cor em movimento, que tem um alinhamento alegre e festivo e que parece querer exaltar, acima de tudo, o lado bom da existência humana. Sendo, claramente, o registo mais grandioso e burilado da trajetória dos The New Pornographers, Continue As A Guest é, no seu todo, um registo tremendamente orquestral e impulsivo, sem deixar de conter algumas das marcas essenciais do melhor indie atual.
Logo em Realy Really Light, uma fabulosa e empolgante canção assinada por Dan Bejar, habitual colaborador do grupo e que coloca todas as fichas em alguns dos melhores tiques do indie rock e da pop contemporânea, com um clima cósmico e intemporal inebriantes, sente-se um desejo desmesurado do grupo de dar mais um salto em frente rumo a um desconhecido, que poderá ter tanto de intrigante, como de deslumbrante. De facto, goste-se ou não da música, a verdade é que ela obriga o ouvinte a querer continuar a conferir o restante alinhamento do disco, mesmo que a canção não tenha, de todo, agradado e enchido as medidas. O trompete que introduz Pontius Pilate’s Home Movies, uma amarga reflexão sobre a influência da internet na nossa existência, ajuda a cimentar ainda mais essa impressão de heterogeneidade e a reforçar a certeza de que, até ao final do registo, há que esperar uma espiral constante de surpresas sonoras. Neste tema, não faltando arranjos luminosos de um piano insinuante, a regra é o abrigo à sombra do rock denso e visceral, mas em Cat And Mouse With The Light as fichas já são colocadas naquela pop experimental e de cariz eminentemente contemplativo. Em suma, nas três primeiras canções do álbum, é vasta a confluência de estilos e constante o tatear por diferentes climas e universos.
A partir daí, a espiral abrupta de efeitos e ditorções de guitarras que se sobrepôem e se encadeiam na pulsante Last and Beautiful e o modo como aquele clima mais cósmico e agreste do rock dito mais clássico são homenageados no tema homónimo e em Bottle Episodes, duas canções liricamente consumidas pela recente pandemia e pelo clima de depressão que a mesma provocou em todos nós, fica bem patente a capacidade, cada vez maior, deste coletivo canadiano nos oferecer canções que são, na mesma medida, contagiantes e intrigantes. A ode oitocentista que configura a lindíssima canção Firework In The Falling Snow e a etérea delicadeza que exala de Marie and the Undersea, uma composição que versa sobre o culto do corpo e o recurso às cirurgias plásticas em busca de uma nova identidade, acabam por ser a cereja no topo do bolo de uma imensa e feliz coreografia sonora que não teve, felizmente, barreiras ou imposições estilísticas no momento em que foi concebida.
Disco em certos momentos particularmente explosivo e noutros implacavelmente reflexivo e ponderado, Continue As A Guest é, no seu busílis, uma trama orquestral complexa, um festim intrumental em que percussão, sintetizadores, sopros e guitarras, assim como as vozes de Newman e Case, se alternam e se sobrepôem em camadas, à medida que dez composições fluem naturalmente, sem se acomodarem ao ponto de se sufocarem entre si, num caldeirão sonoro criado por um elenco de extraordinários músicos e artistas, que sabem melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe neste universo sonoro ao qual dão vida e que deve estar sempre pronto para projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte, assentes num misto de power pop psicadélica e rock progressivo. Espero que aprecies a sugestão...