man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Dodos – Individ
Os norte americanos The Dodos de Meric Long e Logan Kroeber já têm sucessor para Carrier (2013). O novo álbum da dupla de São Francisco chama-se Individ e viu a luz do dia ontem, através da Polyvinyl Records nos Estados Unidos, da Morr Music na Europa e a Dine Alone no Canada. Individ foi o disco mais escutado na redação fixa e móvel de Man On The Moon durante o mês de janeiro e impressionou, seduziu e conquistou, tendo exigido repetidas e sempre dedicadas e aprazíveis audições.
Os The Dodos têm uma carreira já bastante cimentada no universo alternativo e são respeitados,sendo notória a influência que já representam para muitos outros projetos. Com seis discos já editados desde 2005, são exemplo de fidelidade aos seus instintos primários, de não se reduzirem a uma simples brisa quando podem caminhar tornado dentro, a grande imagem conceptual deste Individ, de acordo com a própria banda.
Individ começou a ser idealizado logo em finais de 2013, após o lançamento de Carrier, o belíssimo antecessor, um álbum que gravitava em redor da necessidade de quebrar os hábitos e as rotinas que tornam a nossa vida num corropio infernal, com a capa a querer transmitir a ideia de alguém que quis fazer uma pausa e agora observa um tornado, que não é mais do que a sua própria vida. Individ é a aceitação daquilo que somos e, depois de um exercício de auto expiação e plenamente revigorados e renovados, uma reentrada nesse tornado, mas mais preparados e fortalecidos para enfrentar os dilemas da nossa existência.
Exímios no modo como conjugam as cordas com uma percussão vibrante e donos de uma distorção típica, imponente, contínua e com um efeito metálico muito caraterístico, os The Dodos mostram, logo na eloquente, ampla, vigorosa e visceral Precipitation o seu inconfundível truque que alia a típica sonoridade metálica das cordas com instrumentos percussivos do mesmo timbre, com o baixo a colocar o indispensável manto, tudo com uma inspirada melodia. É assim a música dos The Dodos, tão simples como a vontade de usar imensos adjetivos para elogiar este indie rock direto e incisivo, cheio de alma e caráter, sempre apresentado de forma assertiva e bem produzida.
O deambulante efeito da guitarra de Tide e o fuzz da mesma em Bubble e o modo como este instrumento aparece eletrificado sempre de mãos dadas com alguma dose de reverb sem perder um implícito travo acústico, indispensável para o tal efeito imagem de marca metálico, entrelaça-se, nestes dois registos, com uma bateria incessante, que ganha em mestria o modo como consegue exprimir uma calculada alternância de fulgor, criando assim com perfeição o clima melódico que os The Dodos procuram recriar, o indicado para um disco que, como já foi referido, pretende contar histórias muito concretas, relacionadas com a vida comum e os conflitos psicológicos que ela frequentemente provoca. Um pouco adiante, em Goodbyes and Endings, este casamento entre as cordas e a percussão, é mais um instante feliz de exploração de um som amplo, épico e alongado, sustentado no abraço constante que cria uma atmosfera verdadeiramente nostálgica, sedutora e hipnotizante.
Chega-se a Competition, a bateria continua a ter as rédeas e dançamos vigorosamente enquanto a canção é conduzida por uma melodia que explode em cordas eletrificadas que clamam por um enorme sentido de urgência e caos, um incómodo sadio que o primeiro single retirado de Individ suscita e nos recorda que já não há possibilidade de regresso enquanto não se der o ocaso de um disco abrangente no modo como cruza a leveza onírica da dream pop, bem presente na balada Darkness, canção onde o esplendor da vertente acústica das cordas tem o seu momento alto e o cariz mais rugoso do rock alternativo, com outros espetros sonoros, mais progressivos e experimentais, que a imponente e bizarra Retrevier nos oferece em forma de roleta russa, numa dupla que não se deixa enlear por regras e imposições herméticas. Bom exemplo disso são também os mais de sete minutos de Pattern/Shadow, uma canção cheia de detalhes preciosos, com destaque para o dedilhar inicial do baixo e que parece funcionar como uma sobreposição contínua e simultânea de dois temas isolados e que, ao contar com a participação especial, na voz, de Brigid Dawson, dos Thee Oh Sees, cria uma manta sonora particularmente feliz para o encaixe do pendor mais orgânico e psicadélico que faz parte da positividade contagiante destes The Dodos, sempre fieis aos seus instintos mais primários, que exigem a constante quebra de estruturas e padrões e a fuga a categorizações que balizem em excesso o ADN do projeto.
Disco muito coeso, maduro, impecavelmente produzido e um verdadeiro manancial de melodias lindíssimas, Individ é mais um tiro certeiro na carreira desta dupla de São Francisco e talvez o melhor álbum dos The Dodos até ao momento, não só por causa das suas caraterísticas assertivas, mas também por ser capaz de nos transportar para um universo particularmente melancólico, sensível e confessional. Espero que aprecies a sugestão...
01 Precipitation
02 The Tide
03 Bubble
04 Competition
05 Darkness
06 Goodbyes And Endings
07 Retriever
08 Bastard
09 Pattern/Shadow