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GUM – Race To The Air

Domingo, 28.05.23

No passado mês de abril, GUM, um projeto a solo liderado pelo australiano Jay Watson, músico com ligações estreitas aos POND e aos Tame Impala, juntou-se a Ambrose Kenny-Smith, um dos rostos do fabuloso grupo King Gizzard and the Lizard Wizard, para incubarem um par de canções, Minor Setback e Old Transistor Radio, que deu origem a um single de sete polegadas, editado no âmbito da efeméride Record Store Day. Agora, quase no final de maio, Jay Watson faz faísca no nosso radar devido a Race To The Air, canção com a chancela da Spinning Tod Records e o primeiro single que o músico divulga depois do disco Out In The World, que lançou em dois mil e vinte.

Tame Impala's Jay Watson on his imaginative new solo album as GUM

Canção que inicialmente se chamava Running to The Cure, porque se inspirou num concerto que o músico viu da banda britânica Cure em Glastonbury, em dois mil e dezanove, Race To The Air é uma composição que coloca todas as fichas num baixo vigoroso e num registo vocal de forte cariz lisérgico, duas imagens de marca daquele que é o habitual registo psicadélico dos projetos conterrâneos acima referidos e que contém no seu adn ambientes sonoros com enorme sentido melódico e uma certa essência pop, sempre numa busca de acessibilidade e abrangência. Sem dúvida que a Austrália é um manancial deste espetro sonoro do indie rock e GUM é mais um nome a ter em conta, até porque Jay já divulgou que tem novas canções na forja, mas sem ainda ter confirmado um novo disco do projeto. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:53

Meltt – Another Quiet Sunday EP

Sábado, 27.05.23

Oriundos de Vancouver, no Canadá, os Meltt têm já uma assinalável reputação no país natal, como uma das bandas que melhor replica aquele rock majestoso e de forte cariz progressivo, enquanto não renega contactos mais ou menos estreitos com outros espetros sonoros, com particular destaque para a eletrónica ambiental, a música de dança e o próprio R&B. Já com um vasto catálogo em mãos, acabam de nos surpreender com Another Quiet Sunday, um EP com cinco canções que vale bem a pena destrinçar.

Meltt Releases New Single “Blossoms” Off Forthcoming EP “Another Quiet  Sunday” Out March 3rd | S.L.R. Magazine

Another Quiet Sunday são dezoito minutos de pura magia, etérea e psicadélica, que nos transporta para um universo sonoro com um adn muito vincado e que encontra as reminiscências estruturais no melhor rock clássico dos anos oitenta. As canções do EP exalam uma sensação de espaço única, aprimorada por um registo vocal leve e arejado, que dá vida a letras propositadamente vagas, permitindo que cada um de nós as interprete do modo que entender.

Guitarras com elevada amplitude, quer ao nível dos efeitos, quer da distorção, explodem em energia e vão ganhando tonalidade e progressão à medida que as canções avançam, sendo esse o arquétipo sonoro essencial de canções que criam paisagens sonoras intensas e onde não falta imensa diversidade, principalmente ao nível das orquestrações e do conteúdo melódico. É uma espécie de odisseia altiva e afirmativa, uma breve, mas intensa, caminhada filosófica e estilística, em que canções do calibre da sumptuosa e planante Blossoms, da vibrante e insinuante Only In Your Eyes, da nostálgica, delicada e contemplativa Within You, Within Me, da orgulhosamente pop It Could Grow Anywhere e da sentimental e cavernosa homónima, justificam todas as odes que se possa oferecer a um registo eminentemente experimental e que tem nas sensações que exala a sua grande força motriz. Espero que aprecies a sugestão...

 

 

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publicado por stipe07 às 16:02

Bdrmm - Pulling Stitches

Quarta-feira, 24.05.23

Ryan Smith, Jordan Smith, Joe Vickers, Danny Hull e Luke Irvin são os bdrmm, um projeto natural de Hull, em Inglaterra e que começou a fazer furor com If Not, When?, um EP de seis canções que viu a luz do dia à boleia da Sonic Cathedral Recordings e que foi gravado e masterizado por Alex Greaves. Em dois mil e vinte estrearam-se no formato longa duração com um intrigante registo intitulado Bedroom, que tem finalmente sucessor, um disco que irá chegar aos escaparates em junho e que se irá chamar I Don't Know.

bdrmm's 'Pulling Stitches' Has A Palpable Sense Of Physicality | News |  Clash Magazine Music News, Reviews & Interviews

Há cerca de um mês demos conta neste espaço do conteúdo sonoro de Be Careful, o primeiro single divulgado de I Don't Know, uma composição de forte cariz ambiental e climático, assente num timbre de guitarra com uma forte tonalidade progressiva. Agora chega a vez de contemplarmos Pulling Stitches, tema ainda mais majestoso e ruidoso, uma canção ímpar, com um refrão imparável em termos de imponência e amplitude sonora, devido a um guitarra nua de rédeas e que se atira ao exeprimentalismo sem qualquer receio. No fundo e à semelhança das mais recentes propostas do projeto, se bem que de forma ainda mais convincente e crua, Pulling Stitches exala uma suja nostalgia, enquanto nos conduz a um amigável confronto entre o rock alternativo de cariz mais lo fi e shoegaze com aquela psicadelia particularmente luminosa que atingiu o êxtase nas décadas finais do século passado e que, graças a projetos como este, se mantém mais atual do que nunca. Confere...

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publicado por stipe07 às 16:13

The KVB – Pictures Of Matchstick Men

Sexta-feira, 05.05.23

Os londrinos The KVB construiram na última meia década um firme reputação que permite afirmar, com toda a segurança, que são, atualmente, uma das melhores bandas a apostar na herança do krautrock e do garage rock, aliados com o pós punk britânico dos anos oitenta. Formados pela dupla Nicholas Wood e Kat Day, os The KVB deram nas vistas em dois mil e dezoito com o registo Only Now Forever, criaram semelhante impacto no ano seguinte com o EP Submersion e agora, no verão de dois mil e vinte e três, vão certamente enriquecer ainda mais o seu catálogo à custa de Artefacts (Reimaginings From The Original Psychedelic Era), um disco que vai chegar aos escaparates já a doze de maio com a chancela da Cleopatra Records, uma etiqueta independente sedeada em Los Angeles.

The KVB Unveil "Pictures Of Matchstick Men" (Status Quo cover)

Pic George Katsanakis

Conforme o próprio nome indica, Artefacts (Reimaginings From The Original Psychedelic Era) terá um alinhamento de canções, neste caso onze, que irão encarnar versões de alguns dos temas preferidos da dupla e que fizeram parte do catálogo do melhor rock psicadélico dos anos sessenta do século passado. Uma dessas covers é a que se debruça sobre Pictures Of Matchstick Men, um original de mil novecentos e sessenta e oito dos míticos Status Quo e que com os The KVB ganha uma roupagem mais contemporânea, mas igualmente imponente e enleante, com o fuzz das guitarras a ser o grande atributo de uma cover que, como seria de esperar, espreita perigosamente, e ainda bem, uma sonoridade muito próxima da pura psicadelia.

Além dos Status Quo, nomes como os Them, The Troggs e The Pretty Things também irão aparecer nos créditos deste espetacular mergulho que os The KVB dão no melhor rock psicadélico de há meio século, à boleia de Artefacts (Reimaginings From The Original Psychedelic Era). Confere o original dos Status Quo e a versão dos The KVB de Pictures Of Matchstick Men...

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publicado por stipe07 às 16:24

The New Pornographers – Continue As A Guest

Sexta-feira, 21.04.23

Os The New Pornographers de Neko Case, Kathryn Calder, John Collins, Todd Fancey, Joe Seiders e o saxofonista Zach Djanikian, já têm sucessor para o excelente In The Morse Code Of Brake Lights, de dois mil e dezanove. Continue As A Guest é o nono e novo registo da carreira do coletivo canadiano, viu a luz do na reta final do passado mês de março e contém um faustoso alinhamento de dez canções que aprimoram, de um modo nunca antes visto, o habitual indie pop rock inspirado do grupo, com o alto patrocínio da Merge Records.

The New Pornographers talk new album 'Continue As A Guest'

A primeira coisa que me apraz dizer depois de ter escutado este disco é que Continue As A Guest é um intrincado jogo de luzes e reflexos em forma de música, um disco cheio de brilho e cor em movimento, que tem um alinhamento alegre e festivo e que parece querer exaltar, acima de tudo, o lado bom da existência humana. Sendo, claramente, o registo mais grandioso e burilado da trajetória dos The New Pornographers, Continue As A Guest é, no seu todo, um registo tremendamente orquestral e impulsivo, sem deixar de conter algumas das marcas essenciais do melhor indie atual.

Logo em Realy Really Light, uma fabulosa e empolgante canção assinada por Dan Bejar, habitual colaborador do grupo e que coloca todas as fichas em alguns dos melhores tiques do indie rock e da pop contemporânea, com um clima cósmico e intemporal inebriantes, sente-se um desejo desmesurado do grupo de dar mais um salto em frente rumo a um desconhecido, que poderá ter tanto de intrigante, como de deslumbrante. De facto, goste-se ou não da música, a verdade é que ela obriga o ouvinte a querer continuar a conferir o restante alinhamento do disco, mesmo que a canção não tenha, de todo, agradado e enchido as medidas. O trompete que introduz Pontius Pilate’s Home Movies, uma amarga reflexão sobre a influência da internet na nossa existência, ajuda a cimentar ainda mais essa impressão de heterogeneidade e a reforçar a certeza de que, até ao final do registo, há que esperar uma espiral constante de surpresas sonoras. Neste tema, não faltando arranjos luminosos de um piano insinuante, a regra é o abrigo à sombra do rock denso e visceral, mas em Cat And Mouse With The Light as fichas já são colocadas naquela pop experimental e de cariz eminentemente contemplativo. Em suma, nas três primeiras canções do álbum, é vasta a confluência de estilos e constante o tatear por diferentes climas e universos.

A partir daí, a espiral abrupta de efeitos e ditorções de guitarras que se sobrepôem e se encadeiam na pulsante Last and Beautiful e o modo como aquele clima mais cósmico e agreste do rock dito mais clássico são homenageados no tema homónimo e em Bottle Episodes, duas canções liricamente consumidas pela recente pandemia e pelo clima de depressão que a mesma provocou em todos nós, fica bem patente a capacidade, cada vez maior, deste coletivo canadiano nos oferecer canções que são, na mesma medida, contagiantes e intrigantes. A ode oitocentista que configura a lindíssima canção Firework In The Falling Snow e a etérea delicadeza que exala de Marie and the Undersea, uma composição que versa sobre o culto do corpo e o recurso às cirurgias plásticas em busca de uma nova identidade, acabam por ser a cereja no topo do bolo de uma imensa e feliz coreografia sonora que não teve, felizmente, barreiras ou imposições estilísticas no momento em que foi concebida.

Disco em certos momentos particularmente explosivo e noutros implacavelmente reflexivo e ponderado, Continue As A Guest é, no seu busílis, uma trama orquestral complexa, um festim intrumental em que percussão, sintetizadores, sopros e guitarras, assim como as vozes de Newman e Case, se alternam e se sobrepôem em camadas, à medida que dez composições fluem naturalmente, sem se acomodarem ao ponto de se sufocarem entre si, num caldeirão sonoro criado por um elenco de extraordinários músicos e artistas, que sabem melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe neste universo sonoro ao qual dão vida e que deve estar sempre pronto para projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte, assentes num misto de power pop psicadélica e rock progressivo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:45

Temples – Exotico

Terça-feira, 18.04.23

Pouco mais de três anos após Hot Motion, os britânicos Temples estão de regresso aos discos com Exotico, o quarto trabalho da carreira deste quarteto de rock psicadélico, natural de Kessering e que, como certamente se recordam, estreou-se no formato longa duração em dois mil e catorze com o excelente Sun Structures, registo ao qual sucedeu, três anos depois, VolcanoExotico, um álbum com um alinhamento de dezasseis canções, produzido por Sean Ono Lennon e misturado por Dave Fridmann, chegou aos escaparates no início deste mês de abril, com a chancela da ATO Recordings.

Temples

Exotico é, de facto, um título feliz para este novo registo dos Temples de James Bagshaw, Adam Smith, Tom Walmsley e Rens Ottink, porque ao longo das dezasseis canções do seu alinhamento, o quarteto coloca em prática, de um modo esplendoroso, diga-se, todos os seus imensos atributos instrumentais e melódicos, através de uma faceta estilística que tanto pode privilegiar uma vertente contemplativa, como no caso de Afterlife, como uma enorme exuberância sintética, plena de intensidade, bem expressa em temas como Gamma Rays, ou a acelerada Inner Space. Pelo meio, canções do calibre de Cicada, um valoroso tratado de indie rock nostálgico, ou Crystal Hall, uma divertida composição em que se destaca o arrojo das guitarras que alimentam um groove algo sinistro, demonstram que os Temples olham para a herança da melhor pop contemporânea como a peça chave conceptual das suas criações, algo que o sintetizador oitocentista que conduz Giallo também comprova, mas que também são exímios e movimentar-se num espetro mais rock, sempre, seja qual for o modelo que privilegiam, sem deixarem de homenagear aquele som que, há quatro ou cinco décadas atrás, conduziu alguns dos melhores intérpretes do universo experimental e progressivo e que marcou euforicamente a história do rock clássico. 

Disco efusiante, sonoramente majestoso e vibrante, orelhudo e salutarmente ruidoso, Exotico é, portanto, uma espécie de disco de viagem, já que explora de modo profundo os melhores atributos da música indie do último meio século. Fá-lo de modo simultaneamente artístico, mas também esotérico e com uma abordagem eclética, enquanto pinta um curioso retrato deste mundo em que vivemos, com uma paleta de cores apenas ao alcance da imaginação transcendetal de uma banda única no panorama indie atual. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 17:31

Lanterns On The Lake – String Theory

Quinta-feira, 13.04.23

Coqueluches da insuspeita Bella Union, os britânicos Lanterns On The Lake têm as suas raízes em Newcastle e são atualmente compostos por Hazel Wilde, Paul Gregory, Bob Allan e Angela Chan. Deram logo nas vistas com o registo de estreia, um trabalho intitulado Gracious Tide, Take Me Home, que viu a luz do dia em setembro de dois mil e onze e, três discos depois, preparam-se para regressar ao formato longa duração com Versions Of Us, o quinto disco da banda, um alinhamento de nove canções, que chegará aos escaparates a dois de junho com a chancela da etiqueta acima referida.

Lanterns on the Lake share new track 'String Theory' | DIY Magazine

Tema que conta com a participação especial na bateria de Phillip Selway, dos Radiohead, String Theory é o primeiro single divulgado do alinhamento de Versions Of Us, álbum que foi misturado por Paul Gregory, o guitarrista do grupo. É uma majestosa e épica composição, que contém os melhores ingredientes que definem o rock atual de cariz eminentemente clássico e genuíno. A canção tem como grande sustento qualitativo a já esperada superior destreza de Selway na bateria, além da poderosa performance vocal de Hazel Wilde, os dois grandes pontos fortes da composição. Confere...

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publicado por stipe07 às 16:15

Palace – All We’ve Ever Wanted

Segunda-feira, 06.03.23

Sedeados em Londres, os Palace deram-nos, no ano passado, um dos grandes momentos discográficos de dois mil e vinte e dois, encarnado em Shoals, um espetacular alinhamento de doze canções consumidas na esfera de um indie alt-rock expansivo e encharcado em emotividade, que encontrava fortes reminiscências no catálogo de nomes tão credenciados como os DIIV, Alt-J ou os Local Natives e que acabou por fazer parte, com toda a naturalidade, da nossa lista dos melhores álbuns desse ano.

Agora, quase na primavera de dois mil e vinte e três, e depois de uma aclamada digressão por terras de Sua Majestade, a banda londrina, que tem no centro das suas criações sonoras o inconfundível falsete de Leo Wyndham, o vocalista de um projeto ao qual se juntam Rupert Turner, Will Dorey e Matt Hodges, acaba de anunciar uma nova série de concertos, mas do outro lado do atlântico, aproveitando a ocasião para divulgar uma nova canção intitulada All We've Ever Wanted. Este novo tema dos Palace parece construído propositadamente para grandes arenas, já que é majestoso e imponente, com a distorção da guitarra no refrão a conferir à composição uma mescla de bravura, serenidade e exaltação, além de um charme sofisticado. Uma grande canção dos Palace que parecem dispostos a causar furor de novo e muito em breve, apesar de All We've Ever Wanted ainda não trazer atrelado o anúncio de um novo álbum do quarteto. Confere...

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publicado por stipe07 às 13:35

Stolen Jars – Somewhere Else

Sábado, 25.02.23

A dupla Cody Fitzgerald e Sarah Coffey encabeça a banda Stolen Jars, sedeada em Brooklyn, Nova Iorque e da qual também faz parte Elias Spector-Zabusky, Grant Meyer e Isaiah Hazzard. Além deste projeto sonoro, Cody é também conhecido por escrever e produzir canções para a Disney, tendo sido responsável pela banda sonora do filme Noelle e Sarah é uma das pessoas mais seguidas no mundo inteiro na rede social Tik Tok.

Somewhere Else" By Stolen Jars - Northern Transmissions

Os Stolen Jars estrrearam-se em dois mil e onze com um registo homónimo que merece audição muito atenta e andam a fazer furor no meio alternativo por estes dias devido a uma nova canção que, infelizmente, ainda não traz atrelado o anúncio de um novo disco do grupo. O tema intitula-se Somewhere Else, foi escrito no verão de dois mil e vinte, em pleno período pandémico e, inspirado por esse evento, versa sobre os efeitos psíquicos e físicos subjacentes à obrigatoriedade de permanecermos num mesmo local durante um longo périodo de tempo.

Sonoramente, Somewhere Else é um vibrante tratado de indie soft rock, uma composição simultaneamente nostálgica e contemporânea, porque contém uma indisfarçável vibração oitocentista nas sintetizações empolgantes, mas com o registo percussivo repleto de variações e algumas guitarras com distorções e efeitos que roçam alguns detalhes identitários do melhor rock progressivo, a darem à canção um cunho atual. Confere...

I don’t want to be in this house
Trust falling to catch myself
My blood is slowing me down
Running circles to somewhere else

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publicado por stipe07 às 13:52

Yo La Tengo – This Stupid World

Sexta-feira, 10.02.23

Depois de os Yo La Tengo terem andado em dois mil e vinte a divulgar uma música por dia durante uma semana, uma sequência que culminou com a edição de um EP instrumental intitulado We Have Amnesia Sometimes e de, no ocaso do mês de agosto desse ano, terem editado um outro EP intitulado Sleepless Night, um alinhamento de sete canções com um original e covers de Bob Dylan, The Flying Machine, The Delmore Brothers, Ronnie Lane e os The Byrds, agora, em pleno arranque dois mil e vinte e três, a banda que nasceu em mil novecentos e oitenta e quatro pelas mãos do casal Ira Kaplan e Georgia Hubley (voz e bateria) e James McNew e que me conquistou definitivamente há quase uma década com o excelente Fade, volta às luzes da ribalta com um novo álbum intitulado This Stupid World, um alinhamento de nove estupendas canções que viu a luz do dia hoje mesmo, com a chancela da Matador Records.

Yo La Tengo Share New Song “Aselestine”: Stream

São poucas as bandas que se podem dar ao luxo de beneficiarem da proteção imaculada de uma longa e bem sucedida carreira, para chegarem a um determinado ponto da mesma e, embrenhando-se na composição, terem o privilégio de poderem deixar de lado qualquer preocupação radiofónica ou comercial relativamente ao conteúdo do que criam. Partindo dessa permissa, todos aqueles que estão menos familiarizados com o catálogo deste projeto de Hoboken, nos arredores de Nova Jersey e que escutarem This Stupid World, o (imagine-se) décimo sétimo disco da carreira do trio, serão certamente assaltados pela ideia de estarem na presença de uma banda que foi, registo após registo, consolidando um estatuto e que agora, numa fase de plena maturidade, nada mais têm a provar e podem usufruir do gozo pleno que lhes dará poderem entrar em estúdio livres de amarras ou constrangimentos criativos e, mesmo assim, terem a certeza que o produto que colocarem nas lojas será um sucesso garantido.

No entanto, quem conhece bem os Yo La Tengo acaba por ter uma impressão mais ampla. This Stupid World é, na verdade, mais um capítulo eufórico e radiante numa epopeia estilística sonora que privilegiou, desde a estreia em mil novecentos e oitenta e seis com o registo Ride The Tiger, de completa e absoluta liberdade criativa, ou seja, o modus operandi foi, realistícamente, sempre este. Não houve aqui uma espécie de crescendo naquilo que foi a bitola qualitativa dos discos que foram sendo colocados nas prateleiras, apenas ligeiras e naturais oscilações estilísticas que, passando pelo rock clássico, o surf rock, o lo fi, o indie puro e duro, a new wave, o punk rock, o rock progressivo e o psicadélico, a country, a folk, a eletrónica e até o jazz, colocaram sempre o melhor indie rock alternativo em declarado ponto de mira. E, na minha modesta opinião, está errado quem não considera que o melhor indie rock alternativo não é nada mais nada menos do que este rock que consegue agregar pitadas daqui e de acolá, com subtileza, arrojo, desenvoltura e superior habilidade criativa, algo que sucede neste álbum dos Yo La Tengo com ímpar sabedoria.

Portanto, This Stupid World é esse tipo de disco. Contém nove composições que têm como principal atributo conseguirem, umas vezes com indisfarcável subtileza e outras com esplendoroso requinte, unir, congregar, construir e desconstruir e sublinhar todo um universo de géneros e estilos que também demarcam, e não será certamente por acaso, as fronteiras do melhor cancioneiro norte americano de igual período.

Logo a abrir o registo, o baixo encorpado e a rispidez das guitarras que a longa epopeia cósmico-hipnótica Sinatra Drive Breakdown exala, são dois trunfos instrumentais que afagam e acamam o ouvinte, independentemente do seu grau de familiariedade com o grupo e, cereja no topo do bolo, também com naquele adn algo imediato e cru que formata a sensibilidade típica da banda e que foi já , no fundo, amplamente dissecado acima. A seguir, segue-se o período mais acessível do disco, com o garage efusivo de Fallout e, no pólo oposto, a sensibilidade acústica country-folk descaradamente noventista de Aselestine e, num registo mais subtilmente entrelaçado com tiques da melhor tropicália, de Until It Happens, a projetarem a personalidade ímpar de um ecletismo que também sabe como enfeitiçar e enlear, mesmo os mais resistentes. Pelo meio, o toque jazzístico enevoado e empolgante de Tonight's Episode e a sobriedade melancólica de Apology Letter, acrescentam uma faceta ainda mais ambiental e intimista a um alinhamento que, se terminasse aqui em formato EP, era, desde já, justamente descrito como memorável e único.

A partir daí e até ao ocaso de This Stupid World, o frenesim sintetizado borbulhante de Brain Capers, a gloriosa indiferença experimental em que assentou, certamente, a criação do tema homónimo e o apurado sentido cândido e profundo de Miles Away, um tratado de eletro rock ambiental intratável, carimbam, sem apelo nem agravo, a certeza de que este disco merece ser um estrondoso sucesso comercial ou, pelo menos (já que agora esta questão do sucesso comercial não se mede propriamente pela quantidade de discos vendidos), ser escutado por todos aqueles que têm nos cânones essenciais do rock alternativo das últimas quatro décadas pilares fundamentais do seu gosto musical. De certeza que não se vão arrepender e que, no final, depois do modo repeat ter sido ativado instantaneamente, se vão sentir ainda mais enriquecidos por terem a possibilidade de, quatro décadas depois da estreia, ainda poderem escutar e saberem que está no ativo uma banda tão rica, vigorosa, inspiradora, independente, dinâmica e fluída, como são os Yo La tengo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:26






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