man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Elbow - Dis-Graceland 463-465 Bury New Road
Praticamente um ano depois do lançamento de Audio Vertigo, o décimo registo de originais dos Elbow, o grupo formado por Guy Garvey, Craig Potter, Mark Potter e Pete Turner está de regresso com um novo EP, um alinhamento de quatro canções intitulado Audio Vertigo Echo, que chegará aos escaparates em formato digital e vinil de edição limitada, já a seis de junho, com a chancela do consórcio Polydor/GEFFEN.
Há cerca de meio ano, chegou ao nosso radar Adriana Again, o single de apresentação do EP, uma canção angulosa, com um espírito tremendamente explosivo e até algo sufocante e que deixou imensa curiosidade e água na boca relativamente ao restante conteúdo do registo, impressão que se ampliou com Sober, a segunda composição divulgada, há alguns dias atrás, de Audio Vertigo Echo, um tema excitante e, diga-se, sonoramente algo inédito na discografia dos Elbow, porque puxou imediatamente para o nosso imaginário a herança daquele som que em Manchester, a terra natal dos Elbow, no final dos anos oitenta do século passado e início da década seguinte, misturou, com mestria, indie rock, com elementos do acid house, da psicadelia e da melhor pop sessentista, o chamado movimento Madchester, que bandas como os Stone Roses, os Happy Mondays, ou os Primal Scream, exemplarmente recriaram.
Agora, já a poucos dias do lançamento do EP, chega a vez de escutarmos Dis-Graceland 463-465 Bury New Road, o tema que abre o alinhamento de Audio Vertigo Echo. Com um título bastante curioso, trata-se de uma canção pop, na verdadeira acepção da palavra, já que oscila entre um refrão vigoroso e imponente e secções melódicas intermédias repletas de efeitos e detalhes, dos quais se destacam diversos instrumentos percussivos, num resultado final recheado de astúcia e virtuosismo. Os Elbow estão em grande forma e o EP Audio Vertigo Echo vai ser, certamente, um dos grandes marcos discográficos de dois mil e vinte e cinco, nesse formato. Confere...
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The Feelies - Dancing Barefoot vs Barstool Blues
Há mais de quatro décadas a ditar regras e a tornarem-se influência primordial no cenário do indie rock norte americano, os The Feelies estão de regresso aos discos em dois mil e vinte e cinco com Rewind, uma coleção de nove covers abrigadas pela insuspeita Bar None Records e que foram sendo captadas pelo projeto liderado por Glenn Mercer nos anos oitenta e noventa do século passado, período em que lançaram, por exemplo, momentos discográficos tão relevantes como Crazy Rhythms (1980), ou o soberbo disco Only Life (1988). Exceção deste período temporal que abraça Rewind é a versão do clássico dos The Doors, Take It As It Comes, que foi gravada pela banda de Nova Jersei em dois mil e dezasseis.
Com revisitações de composições assinadas por nomes como The Rolling Stones, The Beatles, os já referidos The Doors, ou os The Modern Lovers, merecem para já destaque da nossa redação os dois primeiros temas revelados do alinhamento do registo; Tratam-se de Dancing Barefoot e Barstool Blues, dois originais assinados por Patti Smith e Neil Young e que são revisitados pelos The Feelies tendo em conta a sua habitual filosofia sonora, que se tem abrigado, desde o início, à sombra de uma fórmula de composição muito específica e que faz da luminosidade lo fi das cordas e da criação de melodias aditivas a sua maior premissa. A opção por estes dois verdadeiros clássicos não terá sido certamente inocente, porque quer Patti Smith quer Neil Young têm tudo aquilo que os The Feelies sempre procuraram adicionar ao seu catálogo sonoro, texturas em que sobressaia uma curiosa leveza rugosa que incite os seus ouvintes a viajarem pelos recantos mais amplos de uma América também profundamente selvagem e mística.
Tendo em conta estas duas amostras já reveladas, Rewind será, certamente, mais uma demonstração cabal do modo exímio como os The Feelies, no período áureo da carreira, sentiam à vontade a recriar inflexões e variações, quer de sons quer de arranjos, enquanto navegavam com segurança e vigor nos meandros intrincados e sinuosos de um indie rock que, entre uma toada mais grunge, progressiva e psicadélica e uma leveza pop mais intimista, nunca deixou de exalar um sedutor entusiasmo lírico e uma atmosfera amável, mesmo no meio de algum fuzz ocasional. Confere Dancing Barefoot e Barstool Blues e o artwork e a tracklist de Rewind...
“Dancing Barefoot,” The Patti Smith Group
“Barstool Blues,” Neil Young
“She Said She Said,” The Beatles
“Seven Days,” Bob Dylan (first recorded by Ron Wood)
“Take It As It Comes,” The Doors
“Paint It Black,” The Rolling Stones
“Everybody’s Got Something to Hide Except Me and My Monkey,” The Beatles
“I Wanna Sleep in Your Arms,” The Modern Lovers
“Sedan Delivery,” Neil Young
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DIIV - Return Of Youth
Cerca de um ano depois de Frog In Boiling Water, os DIIV de Zachary Cole-Smith, Andrew Bailey, Colin Caulfield e Ben Newman estão de regresso ao nosso radar à boleia de Return Of Youth, um novo single da banda nova-iorquina que se estreou em dois mil e doze com o extraordinário álbum Doused.
pic by Coley Brown
Tema com um edifício melódico que apela ao mais íntimo de nós e que não descura uma elevada essência pop, Return Of Youth está repleto de diversas nuances orgânicas e sintéticas, com destaque para o timbre metálico das cordas, diversas distorções abrasivas enleantes, um baixo vigoroso e vários efeitos sempre algo cavernosos, que se vão revezando entre si, num resultado final pleno de densidade, nostalgia, crueza e hipnotismo.
Return Of Youth tem, de facto, uma forte marca impressiva, já que a canção foi escrita ainda antes do nascimento do primeiro filho de Cole-Smith, com o propósito de encarnar uma espécie de projeção, tentar recriar aquilo que o autor veria ao seu redor, imaginando que seria os olhos e a mente do seu progenitor. No entanto, acaba também por ter muito presente a tragédia que o músico e a sua família viveram no início deste ano. A casa onde Cole-Smith vivia com a sua companheira e os seus dois filhos, ainda bebés, em Altadena, nos arredores de Los Angeles, foi totalmente destruída pelos terríveis incêndios que assolaram a Califórnia há cerca de cinco meses. Foi um evento bastante traumático para o músico, como é natural, porque, segundo o próprio, com a casa desapareceram também todas as memórias construídas e vividas pelo casal e todos os planos que tinham feito, já que o recheio tinha sido planeado ao pormenor de modo a recriar um mundo muito próprio e aconchegante para os dois bebés. Confere Return Of Youth e o vídeo do tema que mostra a casa do músico em ruínas...
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The Lemonheads - Deep End vs Sad Cinderella
Quase duas décadas depois de um disco homónimo, os The Lemonheads de Evan Dando estão finalmente de regresso ao mesmo formato à boleia de Love Chant, um álbum que deverá ver a luz do dia no início do próximo outono e que certamente nos vai fazer voltar a sentir aquele clima tão caraterístico, que o cenário indie norte-americano replicou com pujança nos anos noventa do século passado.
Criado com a ajuda de Tom Morgan, dos australianos Smudge e com a participação especial de J Mascis na guitarra e de Juliana Hatfield, no baixo, Deep End é o mais recente single divulgado do alinhamento de Love Chant. Nele, a banda de Boston oferece-nos um espetacular tratado de indie punk rock, com guitarras exemplarmente eletrificadas e repletas de distorções abrasivas e um baixo e uma bateria arritmados, mas exemplarmente coordenados, a sustentarem uma composição, onde não faltam solos inebriantes e aquele notável espírito garageiro que nos marcou a todos há cerca de três décadas.
O lado b da edição deste novo single dos The Lemonheads, lançado numa edição limitada de quinhentas cópias em vinil de doze polegadas e em formato digital, é Sad Cinderella, uma feliz recriação de um original de Townes Van Zandt. Nesta recriação, os The Lemonheadas criaram uma belíssima balada, um tributo aos românticos incuráveis, um instante de acusticidade e de intimidade, abrilhantado pela presença vocal da cantora Erin Rae, ao lado de Evan Dando. Confere...
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Wavves – Spun
Os californianos Wavves de Nathan Williams, uma das grandes apostas da Fat Possum Records, estiveram em alta rotação na nossa redação em dois mil e vinte e um com Hideaway, o sétimo álbum deste grupo com praticamente duas décadas de estrada e que, atingindo, à época, este marco temporal importante para bandas contemporâneas, angariaram uma certa maturidade em torno de si, que se confirmou pouco tempo depois com um tema que o grupo também lançou nesse ano intitulado Caviar.
Há pouco mais de dois meses os Wavves tinham regressado ao nosso radar com um novo single intitulado So Long, um lançamento que na altura ainda não trazia atrelado um novo disco do projeto. No entanto, em pleno mês de abril os Wavves divulgaram outra nova canção, chamada Goner e com ela a confirmação dessa novidade. Trata-se de um álbum intitulado Spun, o oitavo da carreira, um registo que vai ver a luz do dia a seis de junho com a chancela da Ghost Ramp Recordings, a etiqueta da própria banda.
Exemplarmente ritmada, com uma bateria e um baixo vigorosos e impulsivos, Goner era um tema enérgico, que impressionava pelo modo como o refrão era destacado do restante tema com mestria. Agora chega a vez de conferirmos o tema homónimo e que também abre o alinhamento do disco. Com um início rugoso e abrasivo, que acaba por se estender ao longo de mais de três minutos encharcados em guitarras distorcidas com intensidade e arrojo, Spun é uma canção vibrante e intensa, um verdadeiro tratado de indie punk pop, melodicamente inspirado, que demonstra que Nathan Williams continua a aprimorar com distinção as suas qualidades interpretativas, olhando sempre e com indisfarçável gula, para a herança do melhor punk rock de início deste milénio. Confere...
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Elbow – Sober
Praticamente um ano depois do lançamento de Audio Vertigo, o décimo registo de originais dos Elbow, o grupo formado por Guy Garvey, Craig Potter, Mark Potter e Pete Turner está de regresso com a confirmação do anúncio já feito em novembro último, de um novo EP do quarteto para dois mil e vinte e cinco, um alinhamento de quatro canções intitulado Audio Vertigo Echo, que chegará aos escaparates em formato digital e vinil de edição limitada, a seis de junho, com a chancela do consórcio Polydor/GEFFEN.
Há cerca de meio ano, chegou ao nosso radar Adriana Again, o single de apresentação do EP, uma canção angulosa, com um espírito tremendamente explosivo e até algo sufocante e que deixou imensa curiosidade e água na boca relativamente ao restante conteúdo do registo, impressão que se amplia com Sober, a segunda composição divulgada, por estes dias, de Audio Vertigo Echo.
Sober é um tema excitante e, diga-se, sonoramente algo inédito na discografia dos Elbow, mesmo que no último disco tenham abordado territórios sonoros algo incomuns, tendo em conta o histórico do projeto. A canção é particularmente contundente no modo como assenta num perfil percussivo eminentemente sintético, nuance que puxa imedatamente para o nosso imaginário a herança daquele som que em Manchester, a terra natal dos Elbow, no final dos anos oitenta do século passado e início da década seguinte, misturou, com mestria, indie rock, com elementos do acid house, da psicadelia e da melhor pop sessentista, o chamado movimento Madchester, que bandas como os Stone Roses, os Happy Mondays, ou os Primal Scream, exemplarmente recriaram. Além disso, Sober ganha um cunho qualitativo ainda mais distinto, no modo como não deixa de conter um curioso travo tropical. Trata-se, em suma, de uma canção majestosa e com um ímpar groove, assinada por uma das bandas fundamentais do cenário indie britânico deste milénio e, sem sombra de dúvida, cada vez mais eclética e abrangente. Confere...
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Matt Berninger – Inland Ocean
Pouco mais de quatro anos após o lançamento de Serpentine Prison, o registo de estreia da sua carreira a solo, Matt Berninger tem já pronto o sucessor, um álbum produzido por Sean O’Brien, intitulado Get Sunk. O disco vai chegar aos escaparates a trinta deste mês, com a chancela da Book Records, uma etiqueta subsidiária da Concord Records e detida pelo próprio Berninger e pelo produtor Booker T. Jones.
Com as participações especiais de Meg Duffy (Hand Habits), Julia Laws (Ronboy), Kyle Resnick (The National, Beirut), Garret Lang, Sterling Laws, Harrison Whitford, Mike Brewer e Walter Martin e Paul Maroon, dos The Walkmen, Get Sunk deverá ser mais um passo em frente na carreira do artista natural de Nova Iorque rumo a territórios sonoros que, nunca renegando o adn essencial do melhor indie rock contemporâneo, procura calcorrear detalhes e nuances com uma abrangência diferente, relativamente ao perfil estilístico que marca o catálogo dos The National.
Bonnet Of Pins foi o primeiro single divulgado do alinhamento de Get Sunk, uma luminosa e imponente canção, que chamou a atenção pela contundência das cordas e pelo frenesim da percurssão. Já em abril chegou a vez de escutarmos Breaking Into Acting, tema que contava com a contribuição especial da acima referida Meg Duffy e que, sonoramente, nos ofereceu um instante tratado de indie folk clássica instrumentalmente rico, texturalmente bastante intimista e que emocionalmente ganhava contornos de excelência e vigor no modo como as vozes dois dois intervenientes se entrelaçam, sem nunca se confundirem, construindo um diálogo intenso e revelador.
Agora, em pleno mês de maio, Matt Berninger proporciona-nos a audição de uma das mais bonitas composições que a nossa redação teve o privilégio de conferir em dois mil e vinte e cinco. Trata-se de Inland Ocean, um tema bastante refinado no modo como assenta num perfil percussivo eminentemente sintético, conferido por uma linha de teclado algo hipnótica que, a espaços, abraça a bateria sem pudores. Depois, guitarras ecoantes, saxofones atrevidos e a voz grave de Berninger, exemplarmente acompanhada por Julia Laws (aka Ronboy), são nuances que acentuam um clima algo melancólico e reflexivo, mas também revelador no modo como nos ensina que, mesmo não sendo fácil aceitar de bom grado deixar ir quem não nos quer, seguir em frente, de punhos cerrados, é sempre, por muito que isso custe, a opção certa a tomar. Confere...
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Preoccupations – Ill At Ease
Pouco mais de dois anos depois do espetacular registo Arrangements, o projeto canadiano Preoccupations, formado por Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, que já se chamou Viet Cong ainda nesta vida e que tem estado permanentemente na linha da frente da reinvenção do rock, volta a distribuir jogo em dois mil e vinte e cinco com Ill At Ease, um alinhamento de oito canções que viu ontem a luz do dia, com a chancela da Born Losers, a etiqueta do próprio grupo, que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.
Mestres em replicar um som de forte cariz urbano e industrial, um perfil interpretativo que ali, algures entre o apogeu do punk rock oitocentista e o enganador ocaso daquele krautrock que ganhou forma e sustento na década anterior, encarnado, à época, num vaivem transatlântico entre Berlim e a costa leste dos Estados Unidos, os Preoccupations são, claramente, um dos projetos mais excitantes da atualidade dentro do espetro sonoro em que se movimentam.
Neste seu novo álbum, logo no frenesim enleante e hipnótico de Focus, um tema vibrante, efusivo e repleto de efeitos sintéticos de forte cariz retro e com uma ímpar tonalidade abrasiva, os canadianos mostram, com vigor, ao que vêm e de que tempero se coze Ill At Ease, um alinhamento de oito canções que mostram o modo impressivo como os Preoccupations voltam a querer estar na vanguarda da indução de novas nuances e conceitos estilísticos a um género sonoro demasiado abrangente para se poder dizer que são diminutas as possibilidades de lhe acrescentar algo de novo e diferente.
De facto, logo nos diversos entalhes percurssivos que dão vida a Bastards, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia e no modo como Ill At Ease, uma canção que reflete sobre aquela sensação que todos já experimentámos de acordarmos e ainda não sabermos muito bem se já acabámos de sonhar e que assenta a sua base melódica, apelativa e radiofónica, numa batida sintética abrasiva, que vai recebendo minuciosamente vários efeitos de elevado travo metálico e guitarras com elevada inspiração oitocentista, como convém a um projeto que coloca o pós punk na linha da frente, deixamos de duvidar que os Preoccupations estão de facto na vanguarda do renascimento de um tipo de sonoridade que diz muito à minha geração, mas que também encantará, certamente, todos aqueles que, não tendo vivido esses tempos, apreciam o modo como hoje também é possível transformar rispidez visceral em algo de extremamente sedutor e apelativo.
Até ao ocaso de Ill At Ease, as cordas ecoantes de Retrograde, inflamadas por diversos efeitos cavernosos, a epicidade fulgurante das guitarras abrasivas que sustentam Andromeda, a bateria seca e os entalhes metálicos que marcam Panic e as primorosas sintetizações que dão indispensável tempero às cordas efervescentes que sustentam dois prodígios melódicos encarnados chamados Sken e Krem2, ficamos convencidos da imponência de um disco transcendente e que fere porque atinge o âmago, mesmo que, a espaços, se sirva de uma matriz sonora algo esquizofrénica e fortemente combativa, mas que, no fundo, purifica e frutifica novos detalhes, nessa tal mistura exemplar entre post punk e shoegaze.
Não há, na música dos Preoccupations, uma busca pela indução no ouvinte de estados de alma límpidos, puros e aconchegantes e esse é, mesmo que alguns discordem, um dos grandes atributos deste projeto de Calgary. Ill At Ease é mais uma marca qualitativa de superior calibre desta permissa, porque traduz um saudável experimentalismo, feito à boleia de um exercício sonoro catárquico, onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, tudo isto aliado a um curioso sentido de estética, que fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...
01. Focus
02. Bastards
03. Ill At Ease
04. Retrograde
05. Andromeda
06. Panic
07. Sken
08. Krem 2
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Arcade Fire - Pink Elephant
Três anos depois de WE, os canadianos Arcade Fire de Win Butler, Régine Chassagne, Jeremy Gara, Tim Kingsbury e Richard Reed Parry, estão de regresso ao formato longa duração com Pink Elephant, um alinhamento de dez canções, que acaba de ver a luz do dia com a chancela da Columbia Recordings.
pic by Danny Clinch
Produzido por Win Butler, Régine Chassagne e Daniel Lanois e gravado em Nova Orleães, nos Estúdios Good News Recording Studio de Win e Régine, Pink Elephant é descrito pelos Arcade Fire como cerca de quarenta e dois minutos de punk místico cinematográfico, que convida o ouvinte para uma odisseia sonora, uma busca pela vida que existe dentro da perceção do indivíduo, uma meditação sobre a escuridão e a luz, a beleza interior, enquanto se debruça sobre aquela sensação que todos conhecemos de querermos evitar um pensamento o mais possível e esse simples facto ser suficiente para que ele não se desvaneça.
De facto, quer o aspeto visual do álbum, quer o conteúdo sonoro do mesmo, confirmam estarmos na presença desse tal passo concetual que encarna, claramente, um passo em frente na carreira do projeto canadiano, cada vez mais distante do épico rock alternativo, com deliciosas pitadas de indie folk, que nos marcou a todos no início deste século.
Assim, em Pink Elephant, com diversidade, criatividade e, a espaços, com elevado hipnotismo e magnetismo e sempre com uma contemporaneidade ímpar, os Arcade Fire colocam todas as fichas numa filosofia sonora que encarna uma espécie de arco interpretativo que abraça a herança kraftwerkiana setentista com o período áureo do melhor punk rock oitocentista.
Logo no tema de abertura, Open your heart or die trying, percebemos que, num momento sinteticamente empolgante, há aqui algo de diferente e inédito, apesar de os Arcade Fire terem tido sempre uma forte componente cinematográfica nos seus temas. O modo como esse instrumental enleante se estende para o tema homónimo, aprimora uma aconchegante sensação comunicativa que se estende, em Pink elephant, numa canção que nos afaga no modo como uma guitarra hipnótica e uma bateria arrastada se entrelaçam, enquanto puxam por alguns dos sentimentos mais intensos e indecifráveis que decoram o nosso âmago.
Depois desta introdução imersiva, o disco aprofunda-se no ímpeto, no ruído e no arrojo. Year Of The Snake impressiona pelo modo como o baixo, pela primeira vez sob os comandos de Régine, conduz os seus pouco mais de cinco minutos de longa duração de modo envolvente e emotivo, com a bateria, tocada também em modo estreia por Win Butler, a ser o parceiro perfeito no modo como juntos sustentam um indie rock que, mesmo só encontrando a cor e o brilho nas guitarras quase no seu ocaso, não deixa de ser impetuoso, entusiástico e épico, como é norma neste grupo canadiano.
Depois, em Circle Of Trust, um extraordinário tratado de indie pop e já um dos melhores temas do catálogo dos Arcade Fire, escuta-se vigor, epicidade e têmpera, mas também pureza e imediatismo, curiosamente pilares que sustentaram o rock impetuoso dos primórdios deste século, mas feito, na altura, de modo mais firme, por outros nomes. A partir daí, em climas eminentemente clássicos e progressivos, como em Beyond Salvation e Alien Nation, respetivamente, testemunhamos mais duas canções em que constatamos, com elevada dose de impressionismo e simbiose, toda esta trama conceptual que conduziu a filosofia sonora do álbum.
Até ao ocaso de Pink Elephant, no intimismo clemente de Ride or die, um oásis de cordas reluzentes, na sublime abordagem a ambientes mais eletrónicos em I love her shadow, uma composição em que um teclado algo lascivo, assume, sem pudores, primazia sensorial e, finalmente, na intensidade crescente de Stuck In My Head, um tema pulsante e explosivo, somos sugados por um disco cheio de grandes instantes sonoros e que acaba realmente por funcionar como uma espécie de momento de ruptura com o catálogo anterior dos Arcade Fire.
Se Everything Now foi um olhar crítico e críptico dos Arcade Fire sobre o imediato e, na altura, um claro manifesto político e de protesto claro ao rumo que o país vizinho tinha tomado com primeira subida de Trump ao poder, além da abordagem sociológica que o disco fazia aos novos dilemas da contemporaneidade de cariz mais urbano e tecnológico em que a dita sociedade ocidental mais desenvolvida ainda hoje vive e se WE olhou ainda mais em frente, projetando um futuro imaginário, liberto de muitas das amarras que hoje nos afrontam, ao mesmo tempo que refletia sobre o perigo das forças que constantemente tentam nos afastar das pessoas que amamos e a urgente necessidade de superá-las, Pink Elephant mostra-nos que ainda vale a pena sonhar e tentar, em simultâneo, afugentar os maus pensamentos, desde que canalizemos o medo e a solidão do isolamento, na busca incessante de alguém que nos possa dar uma vida mais cor-de-rosa, porque não há nada mais forte neste mundo do que os poderes da alegria da partilha e da conexão com alguém que amemos e que nos ame. Espero que aprecies a sugestão...
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mutu - Estado Novo
Projeto bracarense formado em 2020, mutu é um quarteto heterogéneo no que respeita aos gostos e influências dos seus elementos. Da electrónica à música tradicional, passando pelo jazz, o psicadelismo, o fado e o post-rock, tudo se combina num tecido musicalmente moderno e minimalista encimado por uma voz evocativa de uma portugalidade de outrora, transmitindo mensagens que apelam a um sentido crítico sobre importantes problemáticas sociais.
Os mutu estrearam-se nos discos com o registo A Morte do Artista, que levaram a várias salas míticas do país, nomeadamente o Teatro Circo, o gnration, a Casa da Música e também constaram, o ano passado, do cartaz de vários festivais, nomeadamente o Paredes de Coura e o Primavera Sound, no Porto.
Agora, e já com promessa de disco novo para dois mil e vinte e seis, os mutu estão de regresso à estrada com uma digressão que passou há alguns dias pelo Festival Desecentrar em Este, nos arredores de Braga e que tem como próximos capítulos, o Maus Hábitos no Porto, a dezasseis de maio, Famalicão, no dia trinta de maio, Marinha Grande no dia cinco de setembro e, no dia seguinte, Ourém.
Para esta nova fornada de espetáculos os mutu levam na bagagem um novo single intitulado Estado Novo, que deverá fazer parte do segundo disco do grupo. Canção enleante, com um ímpar perfil clássico, mas sem dispensar uma salutar rugosidade e crueza e tendo como eixo central um piano hipnótico que depois vai recebendo sintetizações inebriantes e outros arranjos das mais variadas proveniências instrumentais, quer orgânicas, quer sintéticas, Estado Novo é um convite à resistência, de um discurso que os mutu consideram que se está a repetir nos dias de hoje por cá e que plasma um crescimento do ultranacionalismo e do fascismo vestido de novas cores, mas a carregar a mesma essência: medo, divisão e manipulação. Sem recursos de censura ou de uma polícia política, a propaganda espalha-se pelas redes sociais e pelos meios de comunicação, num discurso encoberto pelo patriotismo e pelo ódio ao diferente e às ideias novas. Confere...
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