man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Luís Capitão - Casa Incerteza
Foi no passado dia dezassete de maio que chegou aos escaparates Vida Dupla, o disco de estreia de Luís Capitão, um alinhamento que mistura fado e rap com inusitada mestria e que contou com a participação especial de Leonardo Pisco, aos comandos da viola. São sete temas como os sete mares deste mundo, repletos de instrumentais exóticos, algo diferentes da estética que está sempre associada à guitarra portuguesa, o grande sustentáculo melódico do alinhamento do disco.
João Mota
Experimentar para viajar, arriscar para fazer dançar, chocar para agradar, é esta a energia pretendida pelo autor para Vida Dupla, que tem já várias músicas do seu alinhamento com direito ao formato single. A mais recente é Casa Incerteza, canção escrita por Bruno Sena e que, misturando vários ingredientes sonoros e chegando, desse modo, a novas receitas, nos apresenta alguns dos melhores sabores sonoros que se podem escutar neste longa duração. Confere o vídeo do tema, assinado por Cross Eye...
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Fontaines D.C. – Starburster
Dois anos depois de Skinty Fia, o curioso título do disco que os irlandeses Fontaines D.C. lançaram na primavera de dois mil e vinte e dois, a banda formada pelo vocalista Grian Chatten, os guitarristas Carlos O’Connell e Conor Curley, o baixista Conor Deegan, o contrabaixista Conor Deegan III no contra-baixo e o baterista Tom Coll, parece verdadeiramente apostada em não colocar rédeas na sua veia criativa, tendo acabado de anunciar o regresso ao formato longa-duração, à boleia de Romance, um alinhamento de onze canções que irá ver a luz do dia a vinte e três de agosto, com a chancela da XL Recordings, a nova etiqueta do grupo.
Starbuster, o segundo tema do alinhamento de Romance, é o primeiro single retirado do disco. A canção é inspirada num ataque de pânico que Chatten viveu na famosa estação ferroviária londrina St. Pancras e tem uma sonoridade algo sinistra e inquietante. Um trecho de violinos e um piano fugídio introduzem um desfile sonoro encorpado e vigoroso, feito de guitarras sujas e abrasivas e um baixo tremendamente encorpado, com o rap a ser a inspiração do registo vocal de Chatten, nuance à qual não deverá ser alheia a colaboração que o músico encetou com o trio de hip-hop Kneecap, numa canção intitulada Better Way To Live, lançada no último outono. Confere o vídeo de Starburster dirigido por Aube Perrie e o artwork e a tracklist de Romance...
Romance
Starburster
Here’s The Thing
Desire
In The Modern World
Bug
Motorcycle Boy
Sundowner
Horseness Is The Whatness
Death Kink
Favourite
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Gorillaz – Cracker Island
Pouco mais de dois anos após Song Machine, Season One: Strange Timez, já está nos escaparates, com a chancela da Parlophone Records, Cracker Island, o oitavo álbum dos britânicos Gorillaz, projeto formado por Russell, Noodle, 2D e Murdoc e conduzido pelo enorme Damon Albarn, talvez a única personalidade da música alternativa contemporânea capaz de agregar nomes de proveniências e universos sonoros tão díspares e fazê-lo num único registo sonoro.
Cracker Island, impressiona desde logo pela vastíssima listagem de participações especiais, da qual constam nomes tão proeminentes como Stevie Nicks, Bad Bunny, Beck, Tame Impala, Bootie Brown, Adeleye Omotayo, um dos nomes maiores do projeto vocal Humanz Choir, um coro que teve um papel determinante no conteúdo de Humanz, o disco que os Gorillaz lançaram em dois mil e dezassete e outros artistas de relevo. Se tal não é de estranhar, por ser já um hábito neste projeto, nomeadamente em Plastic Beach, para a nossa redação o melhor trabalho da carreira dos Gorillaz, existe, no entanto, um ponto convergente, que é a opção por artistas que têm na pop, no seu formato eminentemente clássico, a sua zona de conforto, nomeadamente aquela pop que se cruza com o mais buliçoso R&B e que tem como origem o lado de lá do atlântico
E de facto, Cracker Island personifica um afastamento, talvez definitivo, dos Gorillaz daquele rock de matriz mais clássica, o rock que assenta em guitarras encharcadas em distorções, para uma guinagem em absoluto para territórios de cariz eminentemente sintético, ou seja, um modus operandi que, mantendo a experimentação como um conceito essencial, tem a eletrónica nos comandos, o hip-hop e o R&B na mira e o rock como apenas um apêndice, que pode servir para adornar detalhisticamente algumas canções.
Seja como for, uma das facetas mais curiosas das dez composições de Cracker Island é todas elas conseguirem atingir com enorme mestria o propósito simbiótico entre aquilo que é o som Gorillaz e o adn do convidado de cada tema. E esse é um dos grandes atributos do disco. A singela acusticidade minimalista e melancólica de Tormenta, o rap psicadélico de New Gold, como seria de esperar tendo em conta a presença dos Tame Impala e Bootie Brown, o transe retro de Oil, abrilhantado por beats inconfundíveis, a tonalidade pop do tema homónimo, a fusão entre dub e downtempo em Baby Queen, o travo urbano e caliente de Silent Running, aprimorado por um Adeleye Omotayo na sua melhor forma e o inesperado cruzamento entre jazz e soul em Possession Island, são os instantes maiores de toda uma caldeirada impressiva, mas tremendamente sagaz e contemporânea, que parece ter sido incubada com abertura de espírito, mas também, obedecendo à filosofia estilística de cada participante, sempre na busca de um tronco comum, que defina aquele que é, duas décadas após a estreia, o definitivo adn dos Gorillaz.
Cracker Island é, em suma, mais um intrigante exemplo sonoro de mescla de diferentes culturas, num pacote seguro e familiar, que permite a Albarn deixar mais uma vez vincada a sua apetência natural para se servir das raízes de qualquer estilo e conferir às mesmas o seu toque de personalidade, contornando, sem beliscar, todas as referências culturais dos seus convidados que, se não tivessem a mente tão aberta como o anfitrião, poderiam ver limitado o processo criativo. E assim, isentos de tais formalismos, não receiam misturar tudo aquilo que ouvem, aprendem e assimilam nas respetivas carreiras, fazendo-o com enorme bom gosto, ao mesmo tempo que refletem com indisfarçável temperamento sobre este mundo conturbado em que todos vivemos. Espero que aprecies a sugestão...
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Ghost Of Vroom – Ghost Of Vroom 1
Depois de um aclamado percurso discográfico com três tomos nos anos noventa, Mike Doughty colocou os míticos Soul Coughing numa situação de pousio e dedicou-se a uma profícua carreira a solo, quer como produtor, quer como compositor, tendo o artista produzido dezoito discos já no século XXI, a maioria deles com a chancela da etiqueta ATO de Dave Matthews. Durante estas mais de duas décadas Doughty evitou sempre mexer no catálogo dos Soul Coughing, descrevendo essa fase da sua vida como um casamento obsessivo e sombrio e que já tinha terminado. Seja como for, em dois mil e treze deu luz verde à compilação Circles, Super Bon Bon, and The Very Best of Soul Coughing, chegando a dar nova roupagem a algumas das canções mais emblemáticas do projeto.
Dois anos depois Doughy mudou-se para Memphis onde contactou com o coletivo de hip-hop Unapologetic, uma colaboração que o transportou para territórios sonoros familiares e o levou a equacionar uma potencial reunião dos Soul coughing, juntamente com o seu parceiro nesse projeto Andrew "Scrap" Livingston. No entanto, como não queriam voltar com a palavra atrás em relação ao tal casamento, a dupla rebatizou os soul coughing com o nome Ghost Of Vroom, uma alusão a Ruby Vroom, o disco de estreia dos Soul Coughing, estrearam-se com o EP Ghost of Vroom 2 (no passado mês de julho e agora chegou a hora de colocarem nos escaparates o longa duração que, curiosamente, já estava gravado antes desse EP de estreia ter sido divulgado, como se percebe pelo título.
Para conceber e gravar Ghost Of Vroom 1, registo que viu a luz do dia a vinte e nove de março à boleia da Mod y Vi Records, Doughty e Livingston viajram para Los Angeles para trabalhar com o produtor Mario Caldato Jr., referência ímpar da carreira dos Beastie Boys. Chamaram ao estúdio o baterista Gene Coye, figura relevante do jazz em Los Angeles e depois dividiram entre si o restante arsenal instrumental, com Doughty a ocupar-se das guitarras e dos samplers e Livingston do baixo, dos teclados e das restantes cordas. Divisão feita, a improvisação tornou-se pedra de toque no processo de incubação e o resultado final é um excelente alinhamento que nos transporta de modo impressivo para a herança dos Soul Coughing enquanto jazz, hip-hop e rock conjuram entre si de modo cativante, e com uma senjsibilidade poética ritmicamente vibrante. Desde o delicioso travo a rap de rua de Memphis Woofer Rock, ao rock espacial de I Hear the Axe Swinging, passando pelo rap anguloso, ecoante e comestível de More Bacon Than the Pan Can Handle, o blues incandescente que exala de Miss You Like Crazy, o mais apocalítico de Revelator, o noise rugoso de They Came In the Name of the People e o registo interpretativo mais tradicional de James Jesus Angleton, mantém-se sempre firme um propósito estilístico bem vincado e interpretado com um grau qualitativo elevadíssimo, por parte de uma dupla cujo regresso ao ativo em conjunto irá agradar aos fãs saudositas dos Soul Coughing, mas também a novos públicos, que estejasm sempre sedentos de algo diferente e refrescante. Espero que aprecies a sugestão...
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King Krule – Man Alive!
Já está nos escaparates Man Alive!, o quarto e novo registo de originais do britânico Archy Marshall, que assina a sua inusitada música como King Krule e que nos oferece mais um alinhamento de catorze canções, gravadas entre os estúdios Shrunken Heads, em Nunhead, Londres e, mais tarde nos estúdios Eve, em Stockport, no norte de Inglaterra, para onde teve de se mudar após o nascimento da sua filha. Co-produzido por Dilip Harris, Man Alive! sucedem ao intimista registo The Ooz (2017) e que fazendo, com a ajuda de Ignacio Salvadores (saxofone), George Bass (bateria), Jack Towell (vocoder) e James Wilson (baixo), interseções únicas entre o rock, a pop, o jazz, o rap, a eletrónica ambiental e o próprio punk lo-fi, proporciona-nos uma experiência sensorial única e até intrigante, já que cada audição é uma janela de oportunidade que se abre para descobrir mais um efeito, uma nuance, um flash, uma corda ou uma nota que ainda não tinha sido captada pelo nosso âmago.
Guitarrista de formação, mas mestre na arte de sobrepôr a mais variada míriade instrumental que a sua profícua mente o induza a usar para adornar as composições sonoras que cria, King Krule revela-se, neste Man Alive!, também um exímio contador de histórias, tal é o travo de autenticidade poética das mesmas e que andam muito à volta do nascimento da sua filha, resultado da relação com a fotógrafa Charlotte Patmore e como esse evento o fez mudar de uma vida de bastantes períodos de bonomia, para uma realidade em que existe o foco concreto de ter de ser um bom pai e proporcionar à filha, material e emocionalmente, tudo aquilo que precisa. Assim, na cosmicidade boémia que abastece, na sobresposição entre guitarra e metais, Cellular, no cru minimalismo ecoante de Supermarché, no rap nebuloso e futurista de Stoned Again, na intrigante Comet Face, no rock experimental repleto de groove de Alone, Omen 3 ou no soturno blues de Perfecto Miserable, encontramos alguns dos melhores momentos de um alinhamento onde não falta luz, optimismo e preserverança, criado por uma das personagens mais queridas da indie britânica atual e que se expôe bem menos caótico e confuso do que antes e mais aprumado e organizado, fruto, certamente, de uma nova dinâmica existencial certamente mais feliz e que Man Alive! claramente exala. Espero que aprecies a sugestão...
01. Cellular
02. Supermaché
03. Stoned Again
04. Comet Face
05. The Dream
06. Perfecto Miserable
07. Alone Omen 3
08. Slinsky
09. Airport Antenatal Airplane
10. (Don’t Let The Dragon) Draag On
11. Theme for The Cross
12. Underclass
13. Energy Fleets
14. Please Complete Thee
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Thievery Corporation – Treasures From The Temple
Sem um daqueles sucessos radiofónicos que catapultam um projeto para o éden durante um longo período de tempo, sem uma portentosa máquina de marketing por trás, vídeos com milhões de visualizações ou uma editora internacional nos seus créditos, os Thievery Corporation continuam, quase duas décadas após a estreia, a ser um dos nomes mais consensuais e influentes da chamada música de fusão, tendo uma base de seguidores fiel e numerosa em todo o mundo, a sua própria editora, a ESL Music Label, assento destacado em cartazes de alguns dos mais relevantes festivais de música e, mais importante que tudo isso, uma carreira recheada de extraordinários momentos sonoros. O ano passado os Thievery Corporation chegaram ao seu oitavo disco de originais, um registo intitulado The Temple Of I And I e com ele voltámos todos a dançar ao som desta dupla de Washington, formada por Rob Garza e Eric Hilton, que agora, um ano depois, acaba de lançar Treasures from the Temple, um alinhamento de doze canções que são as gravações originais ou remisturas de temas incluídos em Temple of I & I e que surgiram durante as sessões de gravação desse álbum nos estúdios Geejam, em Port Antonio, na Jamaica.
Em The Temple Of I And I foi a Jamaica que seduziu os Thievery Corporation, com as quinze canções do registo a captarem muita da essência mítica e do poder da música deste arquipélago caribenho. Repleto de participações especiais das quais se destacam, por exemplo, os rappers Zee e Notch, mas também a norte americana Lou Lou Ghelichkhani e a jamaicana Raquel Jones, que agora voltam a aparecer em alguns dos temas de Treasures From The Temple, esse foi um disco que absorveu e explanou com eficiência e enorme criatividade toda a influência e exotismo deste pedaço de mundo onde nasceu, como todos sabemos, o reggae.
Tendo estado, portanto, toda a herança sonora da Jamaica em ponto de mira para os Thievery Corporation nesse The Temple Of I And I, esse mesmo reggae firma-se, naturalmente, como o grande suporte estilístico da sonoridade do alinhamento de Treasures From The Temple, com o dubb, o jazz, o rap e a eletrónica e fornecerem a base para arranjos, batidas, efeitos e até trechos melódicos, destacando-se, como grandes instantes do disco, logo a abrir, e dentro do reggae, a vibe que se espraia por San San Rock e a participação de Notch na mais sintética e climática Destroy The Wicked. Depois, as batidas inebriantes de History, canção em que Mr. Lif e Sitali dividem, a meias, os créditos vocais, a toada envolvente de Music To Make You Stagger, os sopros e o groove de Guidance e os flashes que vão adornando a batida hipnótica de Water Under The Bridge (Feat. Natalia Clavier), têm sempre o objetivo primordial de fazer o ouvinte dançar mas também refletir sobre vários aspetos da vida contemporânea, nomeadamente os de cariz eminentemente político.
Já não restam dúvidas que Garza e Hilton apreciam imenso ir ao génese de alguns dos movimentos musicais essenciais da dita música do mundo, desta vez dando vida à vocalização melancólica, quente e cheia de alma que faz parte da essência do reggae, completando com Treasures From The Temple um círculo onde, depois de deambularem pela música eletrónica e, no exato momento anterior a este registo, pela bossa nova, viajaram agora para algo ainda eminentemente orgânico, construindo mais um tronco do túnel do tempo musical que é a sua discografia, antes de passarem ao próximo capítulo. Espero que aprecies a sugestão...
01. San San Rock
02. History (Feat. Mr. Lif And Sitali)
03. Music To Make You Stagger
04. Letter To The Editor (Feat. Racquel Jones)
05. Destroy The Wicked (Feat. Notch)
06. Guidance
07. Water Under The Bridge (Feat. Natalia Clavier)
08. Voyage Libre (Feat. LouLou Ghelichkhani)
09. Road Block (Feat. Racquel Jones)
10. Joy Ride (Feat. Sitali And Mr. Lif)
11. La Force De Melodie (Feat. LouLou Ghelichkhani)
12. Waiting Too Long (Feat. Notch)
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Mura Masa - Mura Masa
No sul de Inglaterra, em pleno canal da Mancha, situa-se a minúscula ilha de Guernsey, terra natal de Alex Crossan, um músico nascido a cinco de abril de mil novecentos e noventa e seis e que desde muito cedo começou a utlizar a composição musical e o DJing como principal refúgio para a natural sensação de isolamento que sempre sentiu e de modo a materializar também um forte desejo de sair do meio do atlântico e passar viver em Londres. Ele assina a sua música como Mura Masa (nome de um sabre japonês) e estreou-se recentemente nos discos com um homónimo, editado à boleia da Polydor Records e que conta com várias participações especiais de relevo, nomeadamente Damon Albarn, Charli XCX e A$AP Rocky, entre outros.
Produtor, compositor e multi-instrumentista, Alex Crossan começou a ser notado pela crítica quando em setembro do ano passado apresentou ao mundo Lovesick, um dos temas deste seu álbum de estreia e que conta com a voz de A$AP. A partir daí a ansiedade por novas canções por parte de uma já interessante legião de fãs foi aumentando até ficar finalmente satisfeita com estas treze canções que, do rap à eletrónica, passando pela pop ambiental, o hip-hop, o house tropical, o dubstep e o próprio jazz, abraçam uma multiplicidade de estilos e tendências sonoras que fazem deste Mura Masa um dos discos mais interessantes e multifacetados do momento.
Caldo sonoro, mas também multicultural, Mura Masa tem instantes que nos incitam à pista de dança e a deixar extravasar o nosso lado mais libidinoso, que irá certamente deliciar-se com a batida afro de Nuggets ou o clima envolvente particularmente sensual do efeito metálico sintético que conduz All Around the World e outros em que predomina um clima de maior introspeção, com particular destaque para o intimismo de Blue, canção que ganha um charme muito próprio devido ao modo como as vozes de Alex e Albarn se entrelaçam. E este jogo entre estas duas vozes contém uma ainda maior simbologia porque encerra um disco que instrumentalmente, entre os vários estilos que cruzam as treze canções, acaba por firmar a atmosfera de um álbum que obriga-nos a esperar o inesperado e a ouvi-lo em constante sobressalto, excitados pela sensualidade de algumas letras e por nunca sabermos muito bem o que poderá vir a seguir. E um dos temas que mais me impressionou e fez-me crer que realmente o inesperado está sempre ao virar da esquina, foi Nothing Else! e a abordagem vocal algo minimalista mais impressiva de Jamie Lidell ao universo mais negro do r&b, o grande detalhe que sustenta a soul essa canção. Mas também merecem, na minha opinião, especial referência o cardápio instrumental sintético que trespassa o frenesim de Helpline e a luminosidade harmónica de Second 2 None.
Mura Masa plasma com particular eloquência e impressiva criatividade a míriade sonora que influencia o seu autor e leva-nos facilmente a admirar o mesmo pelo bom gosto com que navega de influência em influência e acaba, com essa viagem descomprometida, mas inspirada, por construir algo inédito e a sua própria marca sonora identitária, que faz de si um dos produtores mais interessantes da nova pop contemporânea. Espero que aprecies a sugestão...
1.Messy Love
2. Nuggets (feat. Bonzai)
3. Love$Ick (feat. A$AP Rocky)
4. 1 Night (feat. Charli XCX)
5. All Around the World (feat. Desiigner)
6. give me the ground
7. What If I Go?
8. Firefly (feat. NAO)
9. Nothing Else! (feat. Jamie Lidell)
10. Helpline (feat. Tom Tripp)
11. Second 2 None (feat. Christine and the Queens)
12. Who Is It Gonna B (feat. A.K. Paul)
13. Blu (feat. Damon Albarn)
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Gorillaz – Sleeping Powder
As sessões de gravação de Humanz, o último registo discográfico dos Gorillaz de 2-D, Murdoc, Noodle e Russel, terão deixado um legado interessantíssimo de canções ou trechos sonoros que acabaram por não constar do alinhamento de um disco com vinte e seis canções, na versão mais completa. Esse trabalho produzido pelo próprio Damon Albarn e primeiro da banda desde The Fall (2011), acaba por ser um monumental e sólido passo dos Gorillaz rumo a uma zona de conforto sonora cada vez mais afastada das experimentações iniciais do projeto que, tendo sempre a eletrónica, o hip-hop e o R&B em ponto de mira, num universo eminentemente pop, também chegou a olhar para o rock com uma certa gula.
Sleeping Powder é um dos temas que acabou por ficar de fora do vasto alinhamento de Humanz, uma canção que tendo como referência fundamental todo o espetro pop contemporâneo, entronca numa filosofia de experimentação contínua, livre de constrangimentos e com um alvo bem definido, o hip-hop . Nesta composição e, no fundo, em todo o conteúdo de Humanz, foi o parceiro privilegiado da eletrónica, com a voz de Albarn a constituir-se, na música, como um inconfundível e delicioso apontamento de charme, seneridade e harmonia. Confere...
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Gorillaz - Humanz
Já está nos escaparates Humanz, o mais recente disco dos Gorillaz de 2-D, Murdoc, Noodle e Russel, um trabalho produzido pelo próprio Damon Albarn e primeiro da banda desde The Fall (2011). O registo viu a luz do dia a vinte e oito de abril e tem dezanove canções e seis interlúdios, que incluem a participação especial de nomes tão relevantes como Mavis Staples, Carly Simon, Grace Jones, De La Soul, Jehnny Beth das Savages, Pusha T, Danny Brown, Vince Staples, Kelela e D.R.A.M., entre outros. Humanz foi gravado em cinco locais diferentes, nomeadamente Londres, Paris, Nova Iorque, Chicago e na Jamaica.
Primeiro registo de canções desde o já longínquo The Fall (2011), Humanz é um sólido passo dos Gorillaz rumo a uma zona de conforto sonora cada vez mais afastada das experimentações iniciais do projeto que, tendo sempre a eletrónica, o hip-hop e o R&B em ponto de mira, num universo eminentemente pop, também chegou a olhar para o rock com uma certa gula. Mas este rock parece cada vez mais afastado do ponto concetual nevrálgico do projeto, com as outras vertentes que sustentam muita da pop que é mais apreciada nos dias de hoje, principalmente do lado de lá do atlântico, a serem colocadas na linha da frente. Tal opção não é inédita e, dando só um outro exemplo, no início deste século não estaria propriamente no horizonte dos fãs mais puristas dos The Flaming Lips verem Wayne Coyne a convidar uma artista do espetro sonoro de uma Miley Cyrus e ter um papel de relevo num álbum desta banda de Oklahoma e a verdade é que hoje essa parceria é uma óbvia mais valia para esse grupo.
Quem, como eu, considera Demon Days um dos melhores álbuns da primeira década deste século, talvez olhe para este Humanz e veja, à primeira audição, poucas evidências da sonoridade que ficou impressa pelos Gorillaz nessa estreia. Mas talvez as semelhanças sejam mais do que as óbvias e, doze anos depois, 2017 marque mais um capítulo seguro numa linha de continuidade que, tendo como referência fundamental todo o espetro pop contemporâneo, busque uma filosofia de experimentação contínua, livre de constrangimentos e com um alvo bem definido em cada registo. E não há dúvida que o hip-hop foi, desta vez, o parceiro privilegiado da eletrónica, num alinhamento onde abundam as participações especiais, mas onde a voz de Albarn continua a ser inconfundível e um delicioso apontamento de charme, seneridade e harmonia, numa multiplicidade e heterogeneidade de registos, quase sempre abruptos, graves, determinados, contestadores e buliçosos, não fosse este um álbum concetual que disserta sobre alguns dos principais dilemas e tiros nos pés que a sociedade contemporânea insiste em dar nos dias de hoje, com o Brexit, em Hallellujah Money, Trump e o aquecimento global em vários temas e o racismo, em Ascension, com o rapper Vince Staples, a serem apenas alguns exemplos desta gigantesta sátira em tom crítico. Seja como for, apesar de todo o ambiente fortemente político e de alerta e intervenção que marca Humanz, o alinhamento encerra com outra improbabilidade, ao ser possível escutar, em We Got The Power, os antigos inimigos de estimação Damon Albarn e Noel Gallagher a cantarem em uníssono We got the power to be loving each other. No matter what happens, we’ve got the power to do that. Afinam ainda há esperança para todos nós. Espero que aprecies a sugestão...
CD 1
01. Intro: I Switched My Robot Off
02. Ascension (Feat. Vince Staples)
03. Strobelite (Feat. Peven Everett)
04. Saturnz Barz (Feat. Popcaan)
05. Momentz (Feat. De La Soul)
06. Interlude: The Non-Conformist Oath
07. Submission (Feat. Danny Brown And Kelela)
08. Charger (Feat. Grace Jones)
09. Interlude: Elevator Going Up
10. Andromeda (Feat. D.R.A.M.)
11. Busted And Blue
12. Interlude: Talk Radio
13. Carnival (Feat. Anthony Hamilton)
14. Let Me Out (Feat. Mavis Staples And Pusha T)
15. Interlude: Penthouse
16. Sex Murder Party (Feat. Jamie Principle And Zebra Katz)
17. She’s My Collar (Feat. Kali Uchis)
18. Interlude: The Elephant
19. Halleujah Money (Feat. Benjamin Clementine)
20. We Got The Power (Feat. Jehnny Beth)
CD 2
01. Interlude: New World
02. The Apprentice (Feat. Rag’n’Bone Man, Ray BLK, Zebra Katz)
03. Halfway To The Halfway House (Feat. Peven Everett)
04. Out Of Body (Feat. Imani Vonsha, Kilo Kish, Zebra Katz)
05. Ticker Tape (Feat. Carly Simon, Kali Uchis)
06. Circle Of Friendz (Feat. Brandon Markell Holmes)
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Yes, Gorillaz Returns
Mais de três anos após o lançamento de The Fall, os Gorillaz de Damon Albarn e Jamie Hewlett deram finalmente indicações concretas de que o regresso poderá estar próximo e que o período de hibernação terá, finalmente, o seu epílogo.
Foi o próprio Jamie Hewlett quem confirmou a novidade no Instagram, com a mensagem de Yes, Gorillaz Returns, precedida de imagens de novos desenhos de Murdoc e Noodle.
Depois de Murdoc, Noodle e os restantes companheiros terem gravado The Fall numa ilha secreta flutuante no Pacífico Sul, onde instalaram o quartel-general da Plastic Beach, feito de detritos, ruínas e restos da humanidade, fica agora a curiosidade para perceber onde será o local de gravação do novo trabalho da banda virtual mais conhecida do planeta e umas das minhas preferidas, que deverá ver a luz do dia lá para 2016.
Em 2014, Damon Albarn lançou o seu primeiro álbum de originais, Everyday Robots , e tinha logo anunciado planos para este novo disco dos Gorillaz, mas também para os fantásticos The Good, The Bad & The Queen. Recordemos dois dos melhores momentos destes dois projetos.