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Arcade Fire – WE

Sexta-feira, 06.05.22

Meia década depois do registo Everything Now, os canadianos Arcade Fire estão finalmente de regresso aos discos com WE, o sexto álbum da banda liderada por Win Butler. Produzido por Nigel Godrich e os próprios Win Butler e Régine, o núcleo duro do grupo, WE viu a luz do dia hoje mesmo com a chancela da Columbia Records.

Arcade Fire: We review – goodbye cod reggae, hello stadium singalongs |  Music | The Guardian

Antes de mais, vale a pena confessar que a suprema constatação que a nossa redação fez logo após a primeira audição de WE é que, finalmente, quase vinte anos depois do fabuloso e inimitável Funeral, os Arcade Fire estão de regresso às obras-primas. WE é já, logo no primeiro dia de vida oficial, um notável clássico e, na nossa opinião, supera tudo aquilo que o grupo de Montreal apresentou ao mundo depois dessa auspiciosa estreia em dois mil e quatro. Sonoramente, a curiosa estrutura dos sete temas do registo, liga, com contemporaneidade ímpar, um arco conceptual que abraça a herança kraftwerkiana setentista com o melhor rock oitocentista em temas como Age Of Anxiety (Rabbit Hole), passando pela pureza e pelo imediatismo, que definem os pilares que sustentaram o rock impetuoso dos primórdios deste século e, já agora, da carreira do projeto, em The Lightning I, II e sem esquecer o clima mais clássico, progressivo e noventista da dupla End Of The Empire I-III e End Of The Empire IV (Sagittarius A*). Nos sintetizadores imponentes e no registo percussivo que mescla origens orgânicas com sintéticas em Unconditional II (Race And Religion), uma canção que conta com a participação especial de Peter Gabriel, constatamos, com elevada dose de impressionismo a simbiose de toda esta trama conceptual que conduziu a filosofia sonora do álbum.

Estes são carimbos sonoros do alinhamento de WE que justificam a apreciação elogiosa acima referida que, parecendo algo precipitada e resultado de um estado de letargia critica ébria devido à audição entusiasmada do registo, estamos certos que continuará a ecoar nestas paredes e ouvidos, após as múltiplas audições futuras de um trabalho que em pouco mais de quarenta minutos nos oferece um naipe de canções que passam impecavelmente a lustro e com laivos de epicidade extrema esta espécie de revisitação catálogo da história do rock nos últimos quarenta anos, principalmente no seu formato mais pop.

Tematicamente WE é um disco de ruptura com o catálogo anterior dos Arcade Fire. Se Everything Now foi um olhar crítico e críptico dos Arcade Fire sobre o imediato e, na altura, um claro manifesto político e de protesto claro ao rumo que o país vizinho tinha tomado com a subida de Trump ao poder, além da abordagem sociológica que o disco fazia aos novos dilemas da contemporaneidade de cariz mais urbano e tecnológico em que a dita sociedade ocidental mais desenvolvida  ainda hoje vive, WE, um disco que começou a ser gravado em março de dois mil e vinte, poucas horas antes de ser decretado o primeiro confinamento global devido ao COVID, prefere olhar em frente, projetando um futuro imaginário, liberto de muitas das amarras que hoje nos afrontam, ao mesmo tempo que reflete sobre o perigo das forças que constantemente tentam nos afastar das pessoas que amamos e a urgente necessidade de superá-las. É uma jornada catártica que segue um arco definido que vai da escuridão à luz ao longo de sete canções, divididas em dois lados distintos: o lado I, que canaliza o medo e a solidão do isolamento e o lado WE, que expressa a alegria e o poder da reconexão.

A partir desta trama impecavelmente balizada, a forma como as canções evoluem e o sentimentalismo que é colocado em cada uma, são, como não podia deixar de ser, uma imagem de marca que estará sempre marcada de modo indelével em WE. A exuberância das cordas, o modo como os temas evoluem através do piano e da voz inconfundível de Butler, alicerçada num catálogo de nuances e variações nunca visto, até atingirem um pico orquestral quase sempre exuberante, são caraterísticas de um álbum que emociona e instiga e que carrega um ambiente sonoro que aprimorou a tonalidade da escrita quase religiosa de Butler e Chassagne. Podemos até acrescentar que WE terá a capacidade de até nos pode fazer dançar, com a certeza de que, ao contário do que aconteceu com registos anteriores do grupo, não há o risco de, há mínima escorregadela, podermos cair para um lado mais obscuro e depressivo. Em suma, sendo WE um trabalho altamente preciso e controlado e pensado ao mínimo detalhe, é indesmentível que vai ao encontro das enormes expetativas que sobre ele recaia desde que foi prometido, personificando um salto qualitativo em frente (ou para atrás, dependendo da perspetiva) na carreira dos Arcade Fire, ao mesmo tempo que volta a empolgar os fãs e apreciadores da banda relativamente ao futuro sonoro de uma das maiores e melhores bandas do mundo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 11:36

Chad VanGaalen – World’s Most Stressed Out Gardener

Segunda-feira, 29.03.21

Foi há poucos dias e por intermédio da Sub Pop Records que chegou aos escaparates World’s Most Stressed Out Gardenero novo trabalho do canadiano Chad Van Gaalen, um alinhamento de treze canções gravado, misturado e produzido pelo próprio nos seus estudios Yoko Eno Studio em Calgary, Alberta e masterizado por Ryan Morey em Montreal, no Quebeque.

Chad VanGaalen: 5 Albums That Changed My Life | TIDAL Magazine

Antes de tecer considerações sobre o conteúdo do alinhamento de World’s Most Stressed Out Gardener, é, como habitual, importante contextualizar o autor desta magnífica obra musical e esclarecer que Chad é, acima de tudo, um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que ele idealizou. E basta ouvir World’s Most Stressed Out Gardener para perceber que, realmente, Chad comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada.

Esta filosofia sonora aventureira começou a ganhar forma sem rodeios em Infiniheart (2004) e Soft Airplane (2008), trabalhos que apostaram numa sonoridade folk eminentemente acústica e orgânica, mas a partir de Diaper Island (2011) e com mais vigor em Shrink Dust (2014) e Light Information (2017), o estilo foi aprimorado com um arsenal sintético cada vez mais diversificado, tendência que se mantém em World’s Most Stressed Out Gardener, um disco eclético, complexo e de audição verdadeiramente desafiante, mas altamente recompensadora.

Se dúvidas ainda existiam, World’s Most Stressed Out Gardener, o oitavo disco do autor e que tem este nome porque o músico gosta de cultivar vegetais no seu quintal e comê-los crus, como um animal no pasto, prova que é mesmo a eletrónica o terreno onde hoje musicalmente VanGaalen se move com maior conforto, utilizando-a até para reproduzir muitos dos sons mais orgânicos que podemos escutar neste álbum. Sintetizadores e teclados são a matriz do arsenal bélico com que o canadiano nos sacode e traduz em grande parte destas treze canções, que materializam, na forma de música, visões alienadas de uma mente criativa que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo. A visão apocalítica que nos oferece com a sua voz profusa e decadente sobre o futuro do mundo na lindíssima balada Nothing Is Strange, ou o frenesim roqueiro que avalia os diferentes níveis de realismo de alguns pesadelos em Nightwaves, são bons exemplos desta escrita e composição emocionalmente ressonante e que parte também, muitas vezes, de premissas absurdas, como sucede na sua visão de uma pêra mágica em Golden Pear, ou uma curiosa busca por uma espada de samurai perdida, plasmada em Samurai Sword, uma das canções mais bonitas do disco. Aliás, a própria criatura mutante que estampa a capa deste World’s Most Stressed Out Gardener, é também uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por VanGaalen ao longo da sua carreira e que parece ser alvo de uma espécie de súmula neste seu mais recente cardápio, um festim de canções pop ruidosas, exemplarmente picotadas e fragmentadas e que penetram profundamente no nosso subconsciente.

A trama adensa-se à medida que o álbum floresce nos nossos ouvidos, com a fantasia coalhante do rock estridente de Spider Milk, o clima sci-fi oitocentista dos instrumentais Earth From a Distance e Plant Musica energia alienígena positivamente agressiva de Starlight e o krautrock sombrio de Inner Fire, a servirem-se dos sonhos do autor como matéria-prima por excelência, para consolidar um verdadeiro jogo de texturas e distorções, em suma, um notável passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da sua existência pessoal e que nos oferece neste World’s Most Stressed Out Gardener, o disco mais estranho e abrasivo, mas também feliz, da sua carreira. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 10:34

Chad VanGaalen - Nightwaves

Terça-feira, 02.03.21

Vai ser a vinte e nove deste mês e por intermédio da Sub Pop Records que irá ver a luz do dia World’s Most Stressed Out Gardenero novo trabalho do canadiano Chad Van Gaalen, gravado, misturado e produzido pelo próprio nos seus estudios Yoko Eno Studio em Calgary, Alberta e masterizado por Ryan Morey em Montreal, no Quebeque.

Chad VanGaalen - Wikipedia

Chad Van Gaalen é um músico, autor e compositor de quem esta redação já sentia imensas saudades, nomeadamente dos seus devaneios cósmicos. Desaparecido depois de em 2010 ter editado o excelente Diaper Island, andou, pelos vistos, a aprender a usar o pedal steel, além de ter trabalhado na banda desenhada de ficção científica Translated Log Of Inhabitants, surpreendeu a crítica e os fãs três anos depois com o excelente Shrink Dust, aprimorou a receita em dois mil e dezassete com o fabuloso disco Light Information e agora, no início da próxima primavera, oferece-nos mais alguns minutos de excelente música, conforme demonstram os temas já revelados do álbum, nomeadamente Samurai WorldStarlight, Where Is It All Going? e a mais recente Nightwaves, uma composição onde sintetizadores e teclados, são apenas uma pequena parte do arsenal bélico com que a mesma nos sacode e traduz, criada por uma mente criativa que vive num universo paralelo muito próprio e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente. Confere Nightwaves e a tracklist de World’s Most Stressed Out Gardener...

World’s Most Stressed Out Gardener
 
Tracklisting:
1. Spider Milk
2. Flute Peace
3. Starlight
4. Where Is It All Going?
5. Earth From a Distance
6. Nightwaves
7. Plant Music
8. Nothing Is Strange
9. Inner Fire
10. Golden Pear
11. Nightmare Scenario
12. Samurai Sword
13. Water Brother

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publicado por stipe07 às 11:18

Foreign Diplomats – Monami

Quinta-feira, 13.06.19

Thomas Bruneau Faubert, Charles Primeau, Élie Raymond, Lazer Vallières e Tony L. Roy são os Foreign Diplomats, uma banda canadiana oriunda de Montreal, no Quebeque, que acaba de regressar aos lançamentos discográficos com Monami, um compêndio de canções que sucede a Princess Flash, o extraordinário disco de estreia que a banda lançou no final de dois mil e quinze, ainda a tempo de ser um dos melhores desse ano para esta redação.

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Escrito e composto maioritariamente por Élie Raymond e produzido e misturado por Jace Lasek, que já tinha trabalhado com os Foreign Diplomats no antecessor, Monami mantém o projeot canadiano nas coordenadas certas para estilizar canções em cujo regaço festa e lisergia caminham lado a lado, duas asas que nos fazem levitar ao encontro de paisagens multicoloridas de sons e sentimentos.

Num disco em que a ideia principal é o amor e o medo que nos invade sempre que nos apaixonamos, mas também onde não faltam referências a viagens, comida e a tudo aquilo que preenche a normalidade rotineira de qualquer um de nós, não faltam aqui canções repletas daqueles arrepios que nos provocam, muitas vezes, autênticas miragens lisérgicas e hipnóticas. E fazem-no deambulando pelos nossos ouvidos, alicerçadas num frágil balanço entre uma percussão pulsante, um rock e uma eletrónica com um vincado sentido cósmico e uma indulgência orgânica que se abastece de guitarras plenas de efeitos texturalmente ricos, teclados corrosivos no modo como atentam contra o sossego em que constantemente nos refugiamos e a voz de Élie que, num registo ecoante e esvoaçante, coloca em sentido todos os alicerces da nossa dimensão pessoal mais frágil e ternurenta.

Se a audição de Monami nos oferece então vastas paisagens sonoras, nota-se, rapidamente, um ponto em comum em praticamente todas as suas canções e, de certo modo, já descrito acima. Refiro-me ao modo como as guitarras fornecem a base melódica que vai depois sustentar praticamente todos os temas até ao seu ocaso, havendo, pelo meio, quase sempre uma explosão sónica sintética, feita de exuberância, cor e um apreciável experimentalismo, que do clima animado de Road Wage, ao travo oitocentista mais negro de City Luv, aperfeiçoado com um grau superior de refinamento em Adopted Hometown, passando pela luminosidade percurssiva de Charger ou, com maior epicidade ainda, de You Decide (The Return Of), pela elegância de Amafula e pelo charme contagiante de Demon (Slamador), tem sempre em comum essa primazia das cordas eletrificadas e a adição às mesmas de teclados repletos de um vasto catálogo de efeitos embebidos por uma inegável filosofia pop, uma relação simbiótica que faz da audição deste alinhamento uma demanda por um percurso triunfante e seguro.  

Bálsamo retemperador perfeito capaz de nos fazer recuperar o fôlego de um dia intenso, Monami  balança genuinamente nos nossos ouvidos, agita a mente e força-nos a um abanar de ancas intuitivo e capaz de nos libertar de qualquer amarra ou constrangimento que ainda nos domine. Disco mais exuberante e fervoroso que o antecessor, Monami é um extraordinário exemplo do modo como esta banda é capaz de ser genuína a combinar guitarras com teclados, sem colocar em causa a vivacidade e o esplendor que é muitas vezes abafado por aquela faceta algo rígida que a eletrónica intui, sendo, no seu todo, uma súmula quase imperceptível entre epicidade frenética, crua e impulsiva e sensualidade lasciva, num resultado global borbulhante e colorido. Espero que aprecies a sugestão...

Foreign Diplomats - Monami

01. Road Wage
02. City Luv
03. Charger
04. Amafula
05. You Decide (The Return Of)
06. Demon (Slamador)
07. Adopted Hometown
08. Frilu
09. Tender Night
10. How Cool Is That?
11. Fearful Flower

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publicado por stipe07 às 16:05

Cœur De Pirate – En Cas De Tempête, Ce Jardin Sera Fermé.

Quarta-feira, 27.06.18

Conhecida pela sua escrita impressiva, quase sempre na primeira pessoa e pela arrebatadora sinceridade e doce luminosidade da sua música, a canadiana Béatrice Martin comemora em 2018 dez anos de carreira à frente do seu projeto Cœur De Pirate e fá-lo com a edição de um álbum intitulado En Cas De Tempête, Ce Jardin Sera Fermé. Esse novo registo de originais desta lindíssima artista oriunda do Quebeque canadiano chegou aos escaparates já no início deste mês através da Dare To Care Records e não é necessário ser um génio na língua francesa para se entender toda a teia emocional destas dez canções que, até no próprio duplo sentido do título do disco, num misto de cautela e turbulência, explícita toda a teia sentimental que descreve a pessoalidade de uma mulher madura, mas também tremendamente humana e já bastante vivida.

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Gravado maioritariamente em Paris e produzido por Cristian Salvati, En Cas De Tempête, Ce Jardin Sera Fermé é uma deliciosa narrativa sobre o poder do amor, o modo como essa força se ajusta aos diferentes ritmos e vivências de uma relação e como a desregulação desse sentimento pode provocar, no seio da mesma, situações menos felizes e saudáveis que, em última instância, podem colocar em causa a senilidade dos intervenientes.

Escuta-se Somnambule, um dos momentos altos do registo que também teve forte influência da obra ficcional do escritor René Barjavel e percebe-se claramente toda esta trama acima descrita, numa canção que foi composta num estágio superior de sapiência, um estado de alma que permitiu à autora utilizar o seu habitual espírito acústico e orgânico ao piano para se colocar também à boleia de arranjos de cordas tensos, dramáticos e melódicos e contar-nos assim mais uma história que a materializa na forma de uma conselheira espiritual sincera e firme e que tem a ousadia de nos querer guiar pelo melhor caminho, neste caso do tal amor, sem mostrar um superior pretensiosismo ou tiques desnecessários de superioridade. Depois, na pop efervescente de Prémonition, na luminosidade e no positivismo feliz de Amour D'un Soir e nos belíssimos arranjos que divagam por De Honte Et De Pardon, percebemos o modo como este disco acabou por funcionar como um bem sucedido escape emocional para alguém que incubou este alinhamento num momento complicado da sua vida pessoal, de exaustão e de necessidade de isolamento, mas que, talvez inconscientemente, acabou por dar vida a um dos discos mais pessoais e intimistas do ano. Espero que aprecies a sugestão...

Cœur De Pirate - En Cas De Tempête, Ce Jardin Sera Fermé.

01. Somnambule
02. Prémonition
03. Je Veux Rentrer
04. Dans Les Bras De L’autre
05. Combustible
06. Dans La Nuit (Feat. Loud)
07. Amour D’un Soir
08. Carte Blanche
09. Malade
10. De Honte Et De Pardon

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publicado por stipe07 às 21:08

Cœur De Pirate – Somnambule

Terça-feira, 17.04.18

Cœur De Pirate - Somnambule

Conhecida pela sua escrita impressiva, quase sempre na primeira pessoa e pela arrebatadora sinceridade e doce luminosidade da sua música, a canadiana Béatrice Martin comemora em 2018 dez anos de carreira à frente do seu projeto Cœur De Pirate e fá-lo com a edição de um álbum intitulado En cas de tempête, ce jardin sera fermé. Esse novo registo de originais desta lindíssima artista oriunda do quebeque canadiano chega aos escaparates já nesta primavera e Somnambule é o primeiro tema divulgado do seu alinhamento.

Escuta-se Somnambule e percebe-se que esta é uma daquelas canções composta num estágio superior de sapiência que permite à autora utilizar o seu habitual espírito acústico e orgânico ao piano para se colocar também à boleia de arranjos de cordas tensos, dramáticos e melódicos e contar-nos assim mais uma história que a materializa na forma de uma conselheira espiritual sincera e firme e que tem a ousadia de nos querer guiar pelo melhor caminho, neste caso do amor, sem mostrar um superior pretensiosismo ou tiques desnecessários de superioridade. Para acompanhar o lançamento deste singleCœur De Pirate gravou uma versão ao vivo em França na igreja Saint-Jean-Baptiste, em Neuilly-sur-Seine. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:28

Arcade Fire – Creature Comfort

Sábado, 17.06.17

Arcade Fire - Creature Comfort

Três anos depois do excelente Reflektor e de dois discos a solo de Will Butler, os canadianos Arcade Fire apostam muita da sua reputação num disco que deverá cehgar ainda este ano e que,de acordo com as amostras já divulgadas, parece-se vir a ser um claro manifesto político e de protesto ao novo rumo tomado pelo país vizinho, do Canadá de onde são originários.

A mais recente canção divulgada pelos Arcade Fire chama-se Creature Comfort e sendo conduzida por um teclado rugoso com uma intensidade firmemente sintética, prova, à semelhança dos temas anteriormente divulgados, que uma filosofica mais pop está a ser definitivamente relegada para primeiro plano, com o grupo a ter uma nova aúrea, completamente remodelada. Infinite Content é o título mais plausível para o novo registo da banda, ainda sem data de lançamento definida. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:38

Heat – Overnight

Sexta-feira, 27.01.17

Montreal, em pleno Quebec, no Canadá, é o habitat natural dos Heat, um trio de post punk formado por Susil Sharma, Matthew Fiorentino e Raphaël Bussières e que acaba de editar Overnight, o longa duração de estreia do projeto, disponivel para audição e aquisição, em formato digital e fisicamente em vinil, na plataforma bandcamp.

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É algures entre uma certa luminosidade épica e um relativo negrume lo fi que estes Heat se sentem confortáveis a dar à luz canções iluminadas por uma fragilidade incrivelmente sedutora, à medida que deixam as guitarras, o baixo e a bateria seguirem a sua dinâmica natural e assumirem uma faceta bastante saudosista, para criar um cenário musical tipicamente rock, esculpido com cordas ligas à eletricidade, mas com uma certa timidez que não é mais do que um assomo de elegância contida, numa exibição consciente dequela sapiência melódica que fez escola no período aúreo do rock alternativo, em plenos anos oitenta do século passado.

Este desígnio é logo audível na imponência de City Limits e no frenesim vibrante de Sometimes, mas também no clima mais luxuriante e pomposo de Lush, composição de forte cariz orquestral, feita com deliciosos acordes e melodias minusiosamente construídas com diversas camadas de instrumentos, que carregam uma sobriedade sentimental esplendorosa, rematada por um curioso charme vocal. Este tema, escolhido para single do disco, acaba por ser um exemplo feliz do modo como nestes Heat é possível conferir leves pitadas de shoegaze e post rock, sem levar o tabuleiro onde as diferentes peças se movimentam para um território demasiado experimental.

Na verdade, todos os temas de Overnight têm esta toada eminentemente retro e que exala algo de grandioso e implicitamente sedutor. É um trabalho cheio de belos instantes sonoros pop, que atingem um elevado pico de magnificiência não só nos temas já referidos, mas também, por exemplo, no clássico rock anguloso que abastece Cold Hard Morning Light e na solidez estilística em que guitarra e bateria se envolvem em Long Time Coming.

Além de imprimir com uma áurea melancólica e mágica um projeto que não se envergonha de homenagear algumas referências óbvias de finais do século passado, Overnight tem a mira bem apontada ao nosso âmago, plasmando sonoramente sensações positivas, provocadas por um processo de criação sonora que, no caso deste grupo, deverá ter sido pleno de momentos reconfortantes de incubação melódica. Estes Heat merecem ser vistos, logo à partida, como uma banda extremamente criativa, atual, inspirada e inspiradora e que sabe como se posicionar em posição de destaque no espetro sonoro em que se movimenta. Espero que aprecies a sugestão...

Heat - Overnight

01. City Limits
02. Sometimes
03. Lush
04. The Unknown
05. Rose De Lima
06. Cold Hard Morning Light
07. Still, Soft
08. Long Time Coming
09. Chains

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publicado por stipe07 às 09:11

Foreign Diplomats – Princess Flash

Segunda-feira, 23.11.15

Élie Raymond, Antoine Lévesque-Roy, Thomas Bruneau Faubert, Charles Primeau e Emmanuel Vallieres, são os Foreign Diplomats, uma banda canadiana oirunda de Montréal, que acaba de se estrear nos lançamntos discográficos com um compêndio de canções que são já um marco imprescindível e obrigatório neste ano repleto de novidades e registos sonoros qualitativamente incomuns. Gravado nos primeiros meses deste ano, o disco a que me refiro chama-se Princess Flash, foi misturado e produzido por Brian Deck e está disponivel através da Indica Records.

Este quinteto canadiano começa agora a traçar o seu percurso sonoro, mas já tem bem definidas as coordenadas para estilizar canções em cujo regaço festa e lisergia caminham lado a lado. Falo de duas asas que nos fazem levitar ao encontro de paisagens multicoloridas de sons e sentimentos, arrepios que nos provocam, muitas vezes, autênticas miragens lisérgicas e hipnóticas enquanto deambulam pelos nossos ouvidos num frágil balanço entre uma percussão pulsante, um rock e uma eletrónica com um vincado sentido cósmico e uma indulgência orgânica que se abastece de guitarras plenas de efeitos texturalmente ricos, teclados corrosivos no modo como atentam contra o sossego em que constantemente nos refugiamos e a voz de Élie que, num registo ecoante e esvoaçante, coloca em sentido todos os alicerces da nossa dimensão pessoal mais frágil e ternurenta.

Se a audição de Princess Flash nos oferece vastas paisagens sonoras, nota-se, rapidamente, num ponto em comum em praticamente todas as suas canções. Começam, geralmente, por uma base instrumental minimal, aquela que vai sustentar o tema até ao seu ocaso, mas depois acontece sempre uma explosão sónica, feita de exuberância e cor, que do território mais negro e encorpado de Lies (Of November), tema que disserta sobre o dia a dia de um serial killer e alguns dos seus pensamentos mais obscuros, ao tribalismo percussivo de Comfort Design, ou o mais animado e até dançável de Queen+King, ocorre sempre num percurso triunfante e seguro, onde abundam guitarras experimentais, uma súmula muitas vezes quase impercetível entre epicidade frenética, crua e impulsiva e sensualidade lasciva, num resultado global borbulhante e colorido.

Bálsamo retemperador perfeito capaz de nos fazer recuperar o fôlego de um dia intenso, Princess Flash ruge nos nossos ouvidos, agita a mente e força-nos a um abanar de ancas intuitivo e capaz de nos libertar de qualquer amarra ou constrangimento que ainda nos domine. E fá-lo conduzido por uma espiral pop onde tudo é filtrado de modo bastante orgânico, através de um som esculpido e complexo, originando um encadeamento que nos obriga a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador. O minimalismo contagiante da guitarra em que se sustenta Lily's Nice Shoes!, mais um tema que nos desarma devido ao registo vocal e ao banquete percussivo que contém e a riqueza sintética que sobressai da tela por onde escorre uma amalgama de efeitos e ruídos, é um extraordinário exemplo do modo como esta banda é capaz de ser genuína a manipular o sintético, de modo a dar-lhe a vida e a retirar aquela faceta algo rígida que a eletrónica muitas vezes intui, convertendo tudo aquilo que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos, em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico.

Com nuances variadas e harmonias magistrais, em Princess Flash tudo se orienta com o propósito de criar um único bloco de som, fazendo do disco um corpo único e indivisível e com vida própria, com os temas a serem os seus orgãos e membros e a poderem personificar no seu todo um groove e uma ligeireza que fazem estremecer o nosso lado mais libidinoso, servidos em bandeja de ouro por um compêndio aventureiro, mas também comercial, que deve figurar na prateleira daqueles trabalhos que são de escuta essencial para se perceber as novas e mais inspiradas tendências do indie rock contemporâneo, além de ser, claramente, um daqueles discos que exige várias e ponderadas audições, porque cada um dos seus temas esconde texturas, vozes, batidas e mínimas frequências que só são percetíveis seguindo essa premissa. Espero que aprecies a sugestão...

Foreign Diplomats - Princess Flash

01. Lies (Of November)
02. Comfort Design
03. Queen+King
04. Color
05. Flash Sings For Us
06. Lily’s Nice Shoes!
07. Beni Oui Oui
08. Mexico
09. Guns (Of March)
10. Crown
11. Drunk Old Paul (And His Wild Things)

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publicado por stipe07 às 19:13

Surfin' Mutants Pizza Party - The Death of Cool

Sexta-feira, 12.06.15

Apesar de vir do frio Quebec canadiano, Julien Maltais, um jovem de apenas vinte e um anos, tem no sangue o calor do punk rock californiano. Ele é o líder e grande mentor do projeto Surfin' Mutants Pizza Party, que criou depois de ter liderado várias bandas de metal sem grande sucesso e ter decidido sozinho, no seu quarto, começar a criar música.

Julien estreou-se nos lançamentos discográficos com The Death of Cool, um trabalho que viu a luz do dia a dezanove de maio, em formato digital e cassete, através da insuspeita e espetacular editora, Fleeting Youth Records, uma etiqueta essencial para os amantes do rock e do punk, sedeada em Austin, no Texas.

Do surf punk, ao skateboarding, passando pela banda desenhada e a ficção científica, são várias as fontes de inspiração de um músico que cria uma colorida estética sonora, onde o vintage e o contemporâneo se misturam com particular acerto. Basta escutar o efeito e o fuzz da guitarra e a bateria crua de Sidewalk Svrfin' Cvrse (intro) para chocar de frente com essa insana partilha, onde acontece uma cópula e fusão de guitarras distorcidas, com um baixo grave e imponente e uma percussão frenética, além de alguns efeitos sintetizados que só podem ter saído de uma mente impregnada com um ímpar nível de criatividade. Este instante abençoado de criação musical aconteceu dentro de um quarto, de onde sairam onze canções que plasmam diferentes manifestações do comum pensamento juvenil, já que se debruçam sobre algumas das temáticas para quem começa a entrar na idade adulta, com temas como I Need a Cigarette, Cocaine Lipstick ou Noodles & Energy Drinks a colocarem a questão da adição num plano de destaque, quer de forma direta, quer com um sarcasmo e uma ironia que parece ser imagem de marca da curiosa escrita de Julien.

Apesar dos antecedentes criminais do autor de The Death Of Cool que, recordo, têm o metal como bitola determinante, há em alguns temas deste disco, um curioso piscar de olhos a sonoridades mais pop, apesar do transversal cariz lo fi do alinhamento. Canções como The Kraken, uma ode a um lendário monstro marinho, o grunge de Werewolf Class Of '77 ou Can't See Straight de algum modo definem ajudam a cimentar este padrão, que tanto nos atira para o sujo e potente indie rock, como para um universo oposto com uma melodia e um instrumental, sempre rugosa, mas mais doce e suave. Esta aparente dicotomia acaba por sobressair se olharmos para o disco como um todo, algo ainda mais simples de balizar quando estamos na presença de um trabalho com caraterísticas e um modelo de produção muito próprios. Aliás, esta alternância do leve e do limpo com o cru, acaba por enriquecer, quase que inconscientemente, o leque de géneros presentes na sonoridade de The Death Of Cool, através da melancolia de e do blues encaixado nos moldes indie e noise, bem patente na homónima The Death Of Cool e, finalmente, alguns momentos de inconstância e experimentação, como Just Another Slacker Anthem, mostrando que a coragem instrumental de Surfin' Mutants Pizza Party não perturba a conturbada homogeneidade de um alinhamento que raramente deixa de ser fluído e acessível, apesar desses momentos e da especificidade rugosa do som que carateriza este projeto.

Particularmente inventivo e curioso na sua escrita, corajoso, determinado e sonoramente destemido, Julien Maltais fez do seu quarto um portal aberto para o resto do mundo, alimentado pela energia inebriante que transborda de uma guitarra jovial e pulsante e de um interessante arsenal instrumental que contém alguns dos melhores efeitos e detalhes típicos do rock alternativo e do indie punk vintage mais juvenil. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:02






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