Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Wilderado - Talker

Sexta-feira, 04.10.24

Com origem em Tulsa, no Oklahoma, os norte-americanos Wilderado de Max Rainer, Tyler Wimpee e Justin Kila, são um dos nomes mais excitantes da nova vaga do indie folk alternativo do lado de lá do atlântico e estão de regresso aos holofotes com um novo disco intitulado Talker, um alinhamento de doze canções produzidas por Chad Copelin e James McAlister e que viu a luz do dia a vinte de setembro, com a chancela da Bright Antenna Records.Talker | Wilderado

Talker é um daqueles discos que parece ter um propósito, bem claro e claramente optimista, de mostrar ao mundo que é nas piores circunstâncias que as melhores qualidades de cada um de nós se podem com maior astúcia se revelar e que a música pode servir de inspiração para darmos aquele empurrãozinho que muitas vezes nos falta, para que coloquemos ao nosso serviço e, já agora, também dos outros, os nossos melhores atributos. De facto, o grau de pessoalidade e de entrega das letras e o arcaboiço melódico destas doze composições não deixa ninguém indiferente e, sem apelo nem agravo, convida implacavelmente à introspeção e, consequentemente, à ação.

Logo no tema homónimo, uma canção que assenta a sua melodia numa crua guitarra eletrificada, mas encharcada em emotividade, que é depois acompanhada por uma distorção planante e um registo percussivo lento, mas bem vincado e cheio de charme, encontramos um verdadeiro oásis de indie rock intimista, pleno de alma e de um sentimento que nos enche de emoção e de luz. Depois, o baixo vigoroso que conduz Bad Luck, canção com um travo melancólico bastante vincado e que assenta a sua melodia num baixo rugoso e envolvente, mas encharcado em emotividade e que atrai também pelo registo vocal planante e por uma bateria arritmada mas repleta de groove, acentua as perceções iniciais relativamente a um registo refinado e particularmente gracioso, um verdadeiro oásis de indie rock luminoso e enleante, que reforça e burila com ainda maior charme a típica monumentalidade espiritual destes Wilderado.

Até ao ocaso do registo, a intensidade intimista de Sometimes, a toada mais épica e vibrante de Tomorrow, canção que encontra o seu sustento numa batida sintetizada plena de charme, guitarras insinuantes, teclados incisivos e um registo vocal amiúde modificado, mas pleno de alma e de um sentimento e que nos enche de paixão e luz, a superior graça indie de Simple, a frenética teia intrincada que se estabelece, em Higher Than Most, entre guitarras e bateria e a a duplicidade harmoniosa entre escrita e música que se escuta na delicada Longstanding Misunderstanding, enriquecem toda uma complexa teia sonora que muitas vezes nos faz suster a respiração, devido ao modo como nos oferece uma soberba imagem sonora de paz e tranquilidade, à boleia de um modus operandi assente num imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, dando vida a um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos. Espero que aprecies a sugestão...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:07

Efterklang – Things We Have In Common

Sexta-feira, 27.09.24

Dois anos depois do EP Plexiglass, os dinamarqueses Efterklang estão de regresso à ribalta com um novo disco intitulado Things We Have In Common, um alinhamento de nove canções que acaba de chegar aos escaparates, com a chancela da City Slang. Things We Have In Common é o sétimo álbum da carreira do projeto formado por Mads Brauer, Casper Clausen e Rasmus Stolberg e conta com várias participações especiais relevantes, nomeadamente o guatemalteco Mabe Fratti, Zach Condon aka Beirut e Sønderjysk Pigekor.

MusikBlog - Efterklang - Things We Have In Common

Exímios a replicar um indie pop onde conceitos como majestosidade e bom gosto estão presentes de modo bastante impressivo, proporcionados por três músicos exímios no modo como criam sons com forte inspiração em elementos paisagísticos, os dinamarqueses já carimbaram, em quase duas décadas de carreira, uma imagem de marca em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas, conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar melodias com uma beleza sonora que nos deixa muitas vezes boquiabertos.

Things We Have In Common mantém bem vivo este adn Efterklang, com um naipe de canções de inquestionável beleza e assentes numa superior sapiência criativa, amplificada pelo perfil artístico de superior quilate dos artistas convidados. Getting Reminders, por exemplo, já é, na sua génese, uma composição melodicamente inspirada, mas a contribuição especial do trompete de Zach Condon ajuda decisivamente a burilar um portento sonoro em que, depois, a insinuante acusticidade orgânica de um violão, se articula com a voz imponente de Casper e esse referido trompete, com algumas texturas eletrónicas particularmente intrincadas e quase impercetíveis, a conjurarem, no seu todo, um resultado final elegante e com uma beleza sonora inquietante.

Animated Heart, uma canção que começou a ser incubada no estúdio que Casper Clausen possui em Lisboa e que conta com a participação especial de Sønderjysk Pigekor, uma cantora dinamarquesa, responsável por um coro infantil desse país nórdico (South Denmark Girls’ Choir) e que já colabora com os Efterklang há mais de uma década, também está encharcada em intimidade, enquanto exala um travo clássico intenso, destacando-se pelo modo como as vozes e as cordas lhe dão vida e alma. À medida que o tema evolui, vai recebendo diversos entalhes de outros instrumentos de cordas, mas também de teclados, num resultado final com um clima tremendamente cinematográfico e sensorial, outra imagem de marca bem presente na discografia dos Efterklang.

Relativamente ao contributo de Mabe Fratti, importa escutar com particular devoção Plant, a segunda composição do alinhamento de Things We Have In Common, um tema que aposta num clima particularmente intenso e que conta com a participação do músico guatemalteco, na voz e no violoncelo. Plant consegue ser, em simultâneo, um tratado de intimidade e majestosidade, embrulhado em cordas dedilhadas com delicadeza e uma bateria vigorosa, nuances iniciais que são depois trespassadas por diversos entalhes sintéticos encorpados, uma pafernália de distorções cósmicas e um registo vocal ecoante, num resultado final com um clima também muito cinematográfico e sensorial.

Finalmente, olhando para as canções assinadas apenas pelo trio, merece particular destaque Sentiment, uma misteriosa, mas também charmosa composição, burilada por um insinuante piano adocicado, que se arrasta por diversas cordas algo hipnóticas e alguns sons sintetizados cósmicos, um tema em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas, conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar pouco mais de três minutos sonoros com uma beleza sonora inquietante.

Things We Have In Common é, em suma, um daqueles discos que nos convida a olhar para o interior da nossa alma e a incitar os nossos desejos mais profundos, como se cavasse e alfinetasse um sentimento em nós, enquanto as suas canções amplificam esse inusitado momento de agitação elegante e introspetiva. Instrumentalmente rico, repleto de bom gosto e pronto para se espraiar com requinte e beleza nos nossos ouvidos, Things We Have In Common deixa-nos naquela letargia típica de quando se dorme e se está acordado, uma dormência que acaba por despoletar a nossa capacidade de sonhar de olhos abertos, mas que depois também nos afaga e nos permite repousar em paz na suprema espiritualidade que exalam os seus cerca de trinta e cinco minutos particularmente felizes. Espero que aprecies a sugestão...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:48

Slowburner - Wildcard

Domingo, 22.09.24

Liderado pelo madeirense Élvio Rodrigues, o projeto musical Slowburner acaba de colocar nos escaparates um novo disco intitulado Life Happens In The Interim, um alinhamento de nove canções cativantes, poderosas e intrigantes, disponíveis em todas as plataformas de streaming e em formato vinil e que espelham um conceito muito peculiar de criar música, que coloca sempre em ponto de mira uma feliz simbiose entre o melhor de dois mundos, o orgânico natural e o piano, enquanto constrói uma jornada introspectiva que explora as tensões da vida moderna e o delicado equilíbrio entre a busca pelo que realmente nos faz sentir vivos e as exigências do quotidiano que desafiam a nossa atenção e energia.

Nenhuma descrição de foto disponível.

Um dos momentos altos de Life Happens In The Interim é o single Wildcard, a última composição do alinhamento do registo, tema em que o autor explora o poder do livre-arbítrio, uma metáfora que transforma a vida num jogo onde cada um de nós tem uma carta especial – a “wildcard” – que pode mudar o curso da nossa existência. Contudo, como na vida, também aqui é necessário discernimento para saber quando e como usar essa carta.

Wildcard tem também já direito a um curioso vídeo, filmado em plena planície alentejana e que nos transporta para um cenário onírico, onde a descoberta de uma carta misteriosa leva o protagonista (Slowburner) a uma experiência surreal, culminando num final aberto e cheio de possibilidades, deixando o público a questionar o que é real e o que é apenas um reflexo dos desejos mais profundos. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:46

The Innocence Mission – This Thread Is A Green Street

Terça-feira, 10.09.24

Sedeado em Lancaster, na Pensilvânia e encabeçado pelo casal Karen Peris e Don Peris, o projeto norte-americano The Innocence Mission está prestes a regressar aos discos com Midwinter Swimmers, um alinhamento de onze canções que sucede ao registo See You Tomorrow, lançado em dois mil e vinte e que chega aos escaparates a vinte e nove de novembro com a chancela da Bella Union.

the innocence mission share new track, "This Thread Is a Green Street" -  UNCUT

This Thread Is A Green Street é o primeiro single revelado do alinhamento de Midwinter Swimmers. Já com direito a um vídeo assinado pela própria Karen Peris, The Thread Is A Green Street é um maravilhoso tratado de indie folk eminentemente acústica, uma composição bastante melancólica e intimista, sustentada por um curioso jogo que se vai estabelecendo entre cordas e teclas, incubando uma espécie de equilíbrio entre uma escrita cheia de apelos emocionais, abstrações pouco acessíveis e uma astúcia melódica que se insinua continuamente, na busca de uma transcendência distinta e individual, que é uma das imagens de marca do catálogo sonoro dos The Innocence Mission. Confere...

 

This Thread Is A Green Street
Midwinter Swimmers
The Camera That Divides The Coast Of Maine
John Williams
We Would Meet In Center City
Your Saturday Picture
Cloud To Cloud
A Hundred Flowers
Orange Of The Westering Sun
Sisters And Brothers
A Different Day

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 09:32

Suuns – The Breaks

Sexta-feira, 06.09.24

Os Suuns são um dos segredos mais bem guardados do panorama alternativo canadiano. Apareceram em dois mil e sete pela mão do vocalista e guitarrista Ben Shemie, ao qual se juntam, atualmente, Joseph Yarmush e Liam O’Neill. Estrearam-se nos álbuns em dois mil e dez com Zeroes QC e três anos depois chegou o extraordinário Images Du Futur, um trabalho que lhes elevou o estatuto grandemente, tendo merecido enormes elogios, não só no Canadá, mas também nos Estados Unidos e na Europa. Já na segunda metade da última década a dose dupla Hold/Still e Felt manteve a bitola elevada, dois discos que confirmaram definitivamente que estamos na presença de um grupo especial e distinto no panorama indie e alternativo atual.

SUUNS Announce New Album 'The Breaks', Share New Single - Our Culture

Em dois mil e vinte e quatro os Suuns continuam a enriquecer o seu catálogo com um novo disco intitulado The Breaks. É o sexto compêndio da carreira do trio sedeado em Montreal e acaba de ver a luz do dia, com a chancela da Joyful Noise Recordings.

Tomo de oito canções exemplarmente buriladas e encharcadas com o já habitual ambiente místico, nebuloso, exemplarmente caótico e tremendamente orgânico que alimenta o catálogo dos Suuns, The Breaks abre as hostilidades com cândura, imagine-se, à boleia de Vanishing Point, canção perfeita para servir de banda sonora para uma início de manhã tranquila, de preferência de um dia sem rumo ou planos. É um perfil sonoro bastante intimista e até sentimental que volta a impressionar quase no ocaso do disco, em Doreen, tema que encontra no minimal mas aconchegante dedilhar de uma guitarra o braço direito do registo vocal envolvente de Ben, dupla que depois cede o pódio a um jogo subtil, mas intrincado, de diversas interseções sintéticas, com um intenso travo progressivo e experimental.

Pelo meio, os Suuns dedicam-se a demonstrar, com irrepreensível criatividade, uma mestria interpretativa que estes verdadeiros músicos e filósofos exalam com superior requinte na sedutoramente intrigante Fish On A String, no eletronoise pop apimentado de Rage, ou na impetuosidade atmosférica bastante peculiar e climática de Road Signs and Meanings, o âmago de The Breaks

O registo eminentemente experimental e intuitivo do tema homónimo, composição que se projeta num conjunto de rugosas e abrasivas sintetizações, com uma base sonora bastante peculiar e climática, ora banhadas por um doce toque de psicadelia narcótica a preto e branco, ora consumidas por uma batida com um teor ambiental denso e encorpado e o perfil abrasivo, mas tocante, de Wave, tema agregado em redor de um sintetizador artilhado de diversos efeitos cósmicos e de um registo vocal robotizado clemente, rematam com superior quilate o conteúdo magistral de um disco em que quem mais ordena é uma peculiar e distinta pafernália de ruídos sintéticos, mas em que o modo como as cordas espreitam no meio desse minucioso caos, não é notoriamente obra do mero acaso, algo bem vincado, por exemplo. na já referida Doreen.

Masterizado por James Plotkin e produzido por Adrian Popovich, The Breaks é música futurista para alimentar uma alquimia que quer descobrir o balanço perfeito entre idealismo e conflito e que aos poucos, para o conseguir, acaba por revelar uma variedade de texturas e transformações que configuram uma espécie de psicadelia suja, assente numa feliz união entre o orgânico e o sintético, simbiose com uma certa tonalidade minimalista mas que costura todas as canções do álbum, sem excessos e onde tudo é moldado de maneira controlada. Novamente assertivos e capazes de romper limites, os Suuns oferecem-nos, entre belíssimas sonorizações instáveis e pequenas subtilezas, um portento sonoro de invulgar magnificiência, um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, disponível para quem se deixar enredar numa espécie de armadilha emocionalmente desconcertante, feita com uma química interessante e num ambiente despido de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:45

The The – Linoleum Smooth To The Stockinged Foot

Segunda-feira, 15.07.24

Vinte e quatro anos depois de NakedSelf, o projeto The The, encabeçado por Matt Johnsson, está de regresso aos discos em dois mil e vinte e quatro com Ensoulment, um alinhamento de doze canções que irão ver a luz dia a seis de setembro com chancela do consórcio Cinéola e earMUSIC.

THE THE Release 'Linoleum Smooth To The Stockinged Foot' - The Rockpit

Ensoulment foi escrito em Londres por Matt, que compôs as letras e criou o esboço de grande parte dos temas. O álbum foi depois burilado pelos restantes membros da banda, que afirmam que o disco entronca no adn dos The The, sem deixar de conter algumas nuances novas que vão ao encontro dos gostos musicais atuais dos membros do projeto. Tematicamente, o álbum tanto vai versar sobre a contemporaneidade política, o amor e as guerras em curso, como sobre alguns dilemas que hoje colocam em sobressalto o íntimo de Matt, colocando, desse modo, no centro da sua filosofia artística, a complexidade emocional da condição humana.

De Ensoulment já escutámos, no passado mês de maio, Cognitive Dissident, o tema que abre o disco. Agora, cerca de seis semanas depois, já está disponível para  audição outro tema do registo, uma canção intitulada Linoleum Smooth To The Stockinged Foot, a nona do seu alinhamento. A composição foi escrita por Matt numa cama de hospital, sob efeito de morfina, enquanto recuperava de uma operação cirúrgica e, sonoramente, contando com as participações especiais de Sonya Cullingford (violino), Terry Edwards (trompas), Gillian Glover (vozes) e Danny Cummings (percussão), oferece-nos quase quatro minutos algo sinistros e inquietantes, mas estilisticamente bastante ricos.  Linoleum Smooth To The Stockinged Foot está repleta de diversas nuances sintéticas, entalhadas em alguns elementos percussivos curiosos, como metais e palmas, num resultado final de elevado cariz cinematográfico e ambiental. Confere....

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 10:05

GRMLN – New World

Sexta-feira, 12.07.24

O projeto GRMLN, encabeçado pelo artista Yoodoo Park, nascido em Quioto, no Japão, mas a residir em Orange County, no sul da Califórnia, está de regresso aos discos com New World, um alinhamento de onze canções que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Carpark Records.

Album Review: GRMLN - Empire

Sucessor do registo Lost Days In Lake Biwa, lançado no transato ano de dois mil e vinte e três, New World é já, imagine-se, o vigésimo quinto (?) tomo da carreira de GRMLN, que tem pouco mais de uma década de percurso. Esta capacidade quase sobrehumana de compôr, algo inédita no panorama indie atual, diga-se, merece os mais rasgados elogios, até porque Yoodoo continua a conseguir, mesmo tendo a braços tão extenso catálogo, apresentar sempre novas nuances, caminhos e influências, cada vez que entra em estúdio para compôr. Desta vez, o músico de ascendência japonesa parece fazer uma mescla feliz entre a sagacidade melódica sessentista e aquele imediatismo rugoso, mas geralmente pouco ruidoso, que definiu a história do rock de final do século passado. 

De facto, e olhando para alguns dos meslhores momentos sonoros de New World, se Yr Friend é um tema rápido e incisivo no modo como replica uma espécie de indie surf punk rock, numa espécie de mescla entre as heranças de bandas como os Wavves ou os The Strokes, Apocalypse abusa, no bom sentido, na imponência das guitarras, enquanto Blank Stares, a sexta composição do catálogo de New World, pisca o olho à eletrónica, colocando todas as fichas numa linha melódica conferida por um grave teclado vibrante, que vai depois recebendo, além de uma guitarra levemente distorcida, diversas sintetizações planantes e alguns detalhes cósmicos, com o registo vocal modificado de Park, a oferecer ao tema, que acaba por exalar um certo minimalismo pueril, um charme e um travo pop indesmentíveis.

Estas três canções acabam por subliminar e contextualizar na perfeição a arquitetura sonora global de New World, um disco que, assentando, fundamentalmente, em guitarras abrasivas e uma bateria intensa, não deixa de se complementar com o sintético, principalmente ao nível dos arranjos, ampliando, desse modo, aquela sempre importante faceta experimental que deve ter um disco que pretenda chamar a atenção do ouvinte devido à sua astúcia, grandiosidade e luminosidade. Missão cumprida. Espero que aprecies a sugestão...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 17:43

Suuns - Doreen

Quinta-feira, 04.07.24

Os Suuns são um dos segredos mais bem guardados do panorama alternativo canadiano. Apareceram em dois mil e sete pela mão do vocalista e guitarrista Ben Shemie, ao qual se juntam, atualmente, Joseph Yarmush e Liam O’Neill. Estrearam-se nos álbuns em dois mil e dez com Zeroes QC e três anos depois chegou o extraordinário Images Du Futur, um trabalho que lhes elevou o estatuto grandemente, tendo merecido enormes elogios, não só no Canadá, mas também nos Estados Unidos e na Europa. Já na segunda metade da última década a dose dupla Hold/Still e Felt manteve a bitola elevada, dois discos que confirmaram definitivamente que estamos na presença de um grupo especial e distinto no panorama indie e alternativo atual.

SUUNS

Em dois mil e vinte e quatro os Suuns vão continuar a enriquecer o seu catálogo com um novo disco intitulado The Breaks. Será o sexto compêndio da carreira do trio sedeado em Montreal e irá ver a luz do dia a seis de setembro, com a chancela da Joyful Noise Recordings.

Já há vários singles divulgados do alinhamento de The Breaks e o mais recente é Doreen. Trata-se de uma canção com um perfil interpretativo bastante intimista e sentimental, que tem, inicialmente, no minimal mas aconchegante dedilhar de uma guitarra o braço direito do registo vocal envolvente de Ben que, quando termina, quer ele quer as cordas cedem o pódio a um jogo subtil, mas intrincado, de diversas interseções sintéticas, com um intenso travo progressivo e experimental. Confere Doreen e o vídeo que ilustra a canção, dirigido pela própria banda...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:52

Efterklang – Animated Heart (feat. Sønderjysk Pigekor)

Segunda-feira, 01.07.24

Dois anos depois do EP Plexiglass, os dinamarqueses Efterklang estão de regresso à ribalta com o anúncio de um novo disco intitulado Things We Have In Common, um alinhamento de nove canções que irá chegar aos escaparates a vinte e sete de setembro deste ano, com a chancela da City Slang. Things We Have In Common será o sétimo álbum da carreira do projeto formado por Mads Brauer, Casper Clausen e Rasmus Stolberg.

Créditos: Søren Lynggaard

No final do passado mês de março demos aqui conta de Getting Reminders, uma composição que contava com a contribuição especial de Zach Condon, a primeira amostra deste novo trabalho dos Efterklang. O líder do projeto Beirut tocava trompete, ajudando decisivamente a burilar um portento sonoro em que a insinuante acusticidade orgânica de um violão, se articulava com a voz imponente de Casper, o referido trompete e algumas texturas eletrónicas particularmente intrincadas e quase impercetíveis, num resultado final elegante e com uma beleza sonora inquietante.

Poucas semanas depois, já em maio, conferimos Plant, a segunda composição do alinhamento de Things We Have In Common, tema que apostava num clima mais intenso e que contava com a participação especial do músico guatemalteco Mabe Fratti, na voz e no violoncelo.

Agora chega a vez de escutarmos Animated Heart, canção que conta com a participação especial de Sønderjysk Pigekor, uma cantora dinamarquesa, responsável por um coro infantil desse país nórdico (South Denmark Girls’ Choir) e que já colabora com os Efterklang há mais de uma década. Animated Heart, um tema que começou a ser incubado no estúdio que Casper Clausen possui em Lisboa, é uma canção encharcada em intimidade, com um travo clássico intenso e que se destaca pelo modo como as vozes e as cordas lhe dão vida e alma. À medida que o tema evolui, vai recebendo diversos entalhes de outros instrumentos de cordas, mas também de teclados, num resultado final uma vez mais com um clima tremendamente cinematográfico e sensorial. Confere Animated Heart e o vídeo do tema assinado por Søren Lynggaard, que já tinha assinado o vídeo de Plant e pelo membro da banda, Rasmus Stolberg...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:35

POND - Stung!

Sábado, 29.06.24

Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, está de regresso as discos com Stung!, um alinhamento de catorze canções, que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Spinning Top.

Pond - Stung! | Reviews | Clash Magazine Music News, Reviews & Interviews

O início da carreira dos POND foi particularmente marcante, pelo modo como da psicadelia, à dream pop, passando pelo shoegaze e o chamado space rock, nos deliciaram com a mistura destas vertentes e influências sonoras, sempre em busca do puro experimentalismo e com liberdade plena para irem além de qualquer condicionalismo editorial que pudesse influenciar o processo criativo de um grupo. O disco Man It Feels Like Space Again, editado em dois mil e dezasseis e já, à época, o sexto da carreira da banda australiana, terá sido o expoente máximo desta filosofia estilística que tinha no fuzz rock a sua pedra de toque, talvez a expressão mais feliz para caraterizar o caldeirão sonoro que os Pond reservaram para nós no início da sua carreira. No entanto, a partir do sucessor deste trabalho, o álbum The Weather, lançado no ano seguinte, percebeu-se logo, e um pouco à imagem do que sucedia com a discografia dos Tampe Impala, que as agulhas iriam começar a virar rumo a territórios menos orgânicos e que aquele modus operandi sonoro que fez escola nos anos oitenta e que misturava funk, com pop, R&B, new wave e jazz e que terá tido em Prince o seu expoente máximo, começava a ser influência declarada dos POND no momento de entrarem em estúdio para compôr.

9, lançado em dois mil e vinte e um, sucessor de The Weather e antecessor deste Stung!, confirmou essa tendência, com canções como America's Cup, Human Touch ou Czech Locomotive a aprimorarem um som cada vez mais camaleónico e a colocarem um pouco de lado aquelas guitarras alimentadas por um combustível eletrificado que inflama raios flamejantes que cortam a direito, feitas, geralmente, de acordes rápidos, distorções inebriantes e plenas de fuzz e acidez e que eram a grande imagem de marca dos POND na fase inicial da carreira. Stung! acaba por ser consequência óbvia desta nova fase evolutiva dos POND, com as catorze canções do seu alinhamento a não deixarem de contar com as cordas como sustento importante, mas colocando-as num plano menor, nomeadamente ao nível dos arranjos e dos adornos, cabendo aos sintetizadores e aos teclados o papel principal no que concerne ao arquétipo das composições, quer rítmico, quer melódico.

Logo em Constant Picnic, fica óbvio esta busca de uma certa lisergia sintética planante que calcorreia ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de elevada acessibilidade e abrangência, sem deixar de homenagear, com elevada epicidade, aquela filosofia psicadélica e sensualmente charmosa com que os anos setenta e oitenta do século passado nos brindaram. (I’m) Stung, o segundo tema do alinhamento do álbum, não deixa de contar com uma guitarra encharcada com um riff metalico fulminante, que trespassa uma viola acústica vibrante, uma bateria vigorosa e repleta de variações rítmicas, mas são diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, os principais ingredientes que alimentam uma canção opulenta, vigorosa, majestosa e instrumentalmente repleta de detalhes inebriantes e cheios de fuzz e de acidez.

A partir daí, se  no eletropunk blues enérgico e libertário de Neon River e, um pouco adiante, de Boys Don't Crash, temos dois fulminantes exercícios de fusão entre o orgânico e o sintético, em So Lo volta a haver uma guitarra que se insinua enquanto debita um riff metálico fulminante, acompanhada por um baixo exemplar no modo como acama uma batida com um groove tremendamente sensual, mas voltam a ser diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, o grande sustento de um estrondoso compêndio de funk rock. Depois, se Black Long pisca o olho a territórios mais progressivos e experimentais, numa espécie de viagem esotérica setentista e se Sunrise For The Lonely e Elf Bar Blues são dois curiosos exercícios de pop eletrónica contemplativa, temas como a majestosa e intrincada Edge Of The World Pt.3, um portentoso exercício de rock progressivo flamejante encharcado com sintetizadores abrasivos e Fell From Grace With The Sea, uma composição que tem num clemente piano a sua grande força motriz, atestam o exercício sensorial a que o disco nos convida incessantemente e mostram o imenso potencial de energia que estas composições recheadas de marcas sonoras rudes, suaves, pastosas, imponentes, divertidas e expressivas, às vezes relacionadas com vozes convertidas em sons e letras e que atuam de forma propositadamente instrumental, nos proporcionam.

Até ao ocaso de Stung!, o instante de eletrofolk psicadélica O'UV Ray e o travo soul jazzístico de Elephant Gun, cimentam a elevada bitola qualitativa de Stung!, um disco que nunca deixa de transparecer, ao longo da sua audição, uma sensação de euforia e de celebração, num alinhamento que tanto ecoa e paralisa, como nos faz dançar como se não houvesse amanhã, sempre no meio de uma amálgama assente numa programação sintetizada de forte cariz experimental e que nos embarca numa demanda triunfal de insanidade desconstrutiva e psicadélica. Se quisermos escutar Stung! com a dedicação que o registo merece, devemos estar cientes de que no som dos POND não há escapatória possível de uma ode imensa de celebração do lado mais estratosférico, descomplicado e animado da vida. Espero que aprecies a sugestão...

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 11:11






mais sobre mim

foto do autor


Parceria - Portal FB Headliner

HeadLiner

Man On The Moon - Paivense FM (99.5)

Man On The Moon · Man On The Moon - Programa 599


Disco da semana 189#


Em escuta...


pesquisar

Pesquisar no Blog  

links

as minhas bandas

My Town

eu...

Outros Planetas...

Isto interessa-me...

Rádio

Na Escola

Free MP3 Downloads

Cinema

Editoras

Records Stream


calendário

Outubro 2024

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.