01. After The Afterlife
02. Tears For Animals (Feat. Antony Hegarty)
03. Child Bride
04. Broken Chariot
05. End Of Time
06. Harmless Monster
07. Gravediggress
08. Far Away
09. Roots Of My Hair
10. Villain
11. Poison (Feat. Antony Hegarty) + Hidden Track
man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Sigur Rós – Stendur æva
Os islandeses Sigur Rós são provavelmente os maiores responsáveis pela geração a que pertenço se ter aproximado da música erudita ou de quaisquer outras formas de experimentação e de estranhos diálogos que possam existir dentro do campo musical. Ao lado da conterrânea Björk, este projeto não apenas colocou a Islândia no mapa dos grandes expoentes musicais, como definiu de vez o famigerado pós rock, género que mesmo não sendo de autoria da banda, só alcançou o estatuto e a celebração de hoje graças, em grande parte, ao rico cardápio instrumental que este grupo conseguiu alicerçar nas mais de duas décadas que já leva de existência.
Agora, sete anos depois do último disco da banda, o aclamado Kveikur, os Sigur Rós voltam a fazer mossa com Odin’s Raven Magic, um disco orquestral ao vivo, que conta com as participações de vários músicos do país da banda, nomeadamente Maria Huld Markan Sigfúsdóttir do projeto Amiina, Hilmar Örn Hilmarsson e Steindór Andersen e que é inspirado num poema medieval islandês chamado Edda e que retrata um banquete de deuses marcado por presságios agoirentos sobre o fim do mundo. Já agora, a primeira interpretação desta verdadeira banda sonora de um poema sucedeu um par de vezes, há já dezoito anos, em dois mil e dois, no evento Reykjavik Arts Festival. Este lançamento em disco de Odin’s Raven Magic, que vai acontecer a quatro de dezembro à boleia do consórcio Krunk vs Warner, teve os arranjos assinados por Kjartan Sveinsson e por Sigfúsdóttir, da banda Amiina e capta uma performance no La Grande Halle de la Villette, em Paris, em setembro de dois mil e quatro.
Stendur æva (stands alive) é o mais recente tema divulgado deste novo registo dos Sigur Rós que faz uma súmula desse concerto em Paris, uma composição efervescente e onde todas as opções instrumentais, predominantemente sintéticas e minimalistas, mas também fortemente orgânicas e dominadas pelas cordas e pelos sopros da orquestra participante, se orientaram de forma controlada. A canção é marcada por um loop hipnótico conferido por um curioso xilofone construído a partir de fragmentos de pedra rudemente talhados, da autoria do escultor Páll Guðmundsson. A partir dessa base, os restantes elementos instrumentais, a voz profunda de Andersen e o falsete de Jonsi vão conjurando entre si até se aglutinarem num clímax sereno, mas bastante emotivo, resultando, no seu todo, num salutar grau de epicidade, sendo a audição da composição uma experiência auditiva de forte pendor metafísico e sensorial. Confere Stendur æva e a tracklist de Odin’s Raven Magic...
1. Prologus
2. Alföður orkar
3. Dvergmál
4. Stendur æva
5. Áss hinn hvíti
6. Hvert stefnir
7. Spár eða spakmál
8. Dagrenning
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This Is The Kit - Off Off On
Os This Is The Kit da britânica Kate Stables estão de regresso aos discos com Off Off On, sucessor do belíssimo registo Moonshine Freeze, que viu a luz do dia em dois mil e dezassete. Off Off On foi produzido pelo extraordinário multi-instrumentista Josh Kaufman dos Bonny Light Horseman que, como certamente se recordam, faz parte do projeto MUZZ, juntamente com Paul Banks dos Interpol e Matt Barrick dos The Walkmen, que se estreou nos álbuns com um homónimo no final da passada primavera.
Off Off On é mais um documento notável no modo como retrata a já mítica expressividade lírica de Kate Stables, que também pode ser catalogada de poeta, além de compositora e cantora. De facto, não faltam exemplos neste novo álbum dos This Is The Kit que comprovam a sua imensa habilidade com as palavras e o modo como se consegue servir delas, sem usar um vocabulário intrincado, para pincelar emoções e vivências. Basta conferir a inspiradora e confessional Starting Again (Carefully you must build it up again, Steadily you must fall apart) ou a dramatização que é encenada sem pudor algum em This is What You Did (This is what they want, why are you still here? This is what they said, this is what you get,) para se perceber como Stables é notável a escrever letras bastante impressivas no modo como nos afagam com verdadeiras novelas, reais ou fictícias, pouco importa, sobre a sua intimidade, que pode ser muito bem também a nossa. Esta é, desde sempre, uma das imagens de marca deste projeto This Is The Kit, que nunca deixou de nos brindar com inspirados retratos melódicos de uma contemporaneidade cada vez mais conturbada e, também por isso, fértil no modo como suscita a criação de uma paisagem imensa e ilimitada de possibilidades, dentro da amálgama sonora que sustenta a música atual.
Para dar vida e cor às histórias que nos quer contar, Stables olha com gula para as cordas, faz delas o seu trunfo maior no processo de construção das canções e, aliando à viola e à guitarra uma vasta míriade de recursos percurssivos e inspirados sopros, com o trompete neste disco a tornar-se peça fulcral de várias composições, sustenta um adn sonoro com elevado travo indie. Em toda esta trama interpretativa, do rock alternativo à folk, é vasta a amplitude e abrangência do catálogo disponibilizado num registo com onze canções feitas, no seu todo, de toda esta combinação etérea de superior calibre, reservada e contida em alguns momentos, mas também iluminada e vibrante noutros, sempre na medida certa e, no global, inultrapassável no caudal de emoções que arrasta à sua passagem.
Off Off On é, pois, um disco onde intensidade sentimental e sobriedade instrumental se juntam, para permitir que, ao longo da sua audição, nos possamos sentir profundamente tocados por uma nobreza única, que arrebata e salpica com suores quentes todos os poros do nosso ser. Espero que aprecies a sugestão...
01. Found Out
02. Started Again
03. This Is What You Did
04. No Such Thing
05. Slider
06. Coming To Get You Nowhere
07. Carry Us Please
08. Off Off On
09. Shinbone Soap
10. Was Magician
11. Keep Going
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Archive - Black And Blue
Os Archive de Darius Keelers e Dan Griffiths e aos quais se juntam neste momento Pollard Berrier, Rosko John, Dave Pen, Maria Q, Smiley, Steve Harris, Steve Davis, Jonathan Noyce, Holly Martin e Mickey Hurcombe, são um dos nomes essenciais do trip-hop que começou a fazer escola na década de noventa no Reino unido e já andam por cá desde 1996. Entre Londres e Paris, foram responsáveis por alguns dos mais marcantes discos do panorama alternativo dos últimos vinte anos, com destaque para Londinium (1996), Take My Head (1999) e Noise (2004), entre tantos outros. Um dos últimos registos de originais do projeto tinha sido With Us Until You're Dead, um trabalho editado em 2012 e do qual dei conta na altura, mas ainda há poucos meses, mais concretamente a vinte e seis de maio, lançaram um outro trabalho in intitulado Axiom.
Agora, cerca de meio ano depois, já há sucessor anunciado; Disponibilizado gratuitamente no soundcloud oficial do coletivo, Black and Blue é um dos três primeiros avanços já divulgados para Restriction, o décimo álbum da carreira dos Archive, que irá ver a luz do dia a doze de janeiro de 2015, através da PIAS Recordings. A canção, uma das doze do alinhamento de Restriction, é um registo quase à capella, com a voz a ser acompanhada por um orgão e um efeito de uma guitarra que nos afoga numa hipnótica nuvem de melancolia.
Além do vídeo de Black and Blue, é possivel tambem visualizar na página oficial da banda os filmes de Kid Corner e Feel It, os dois outros avanços de Restriction já divulgados. Confere...
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Melody’s Echo Chamber – Shirim
Melody’s Echo Chamber é Melody Prochet, uma cantora e compositora parisiense que toca uma fantástica pop psicadélica. Estreou-se nos disco em 2012 com um homónimo produzido por Kevin Parker, o vocalista dos Tame impala e na próxima primavara vai lançar o seu segundo disco de originais.
Esse trabalho ainda não tem nome, mas já se sabe que será a própria Prochet a produzir o disco, que tem em Shirim o primeiro avanço divulgado, uma curiosa canção pop que deambula entre a habitual psicadelia e o groove do ska. Confere aqui...
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Elephant – Sky Swimming
Os Elephant são uma dupla oriunda de Londres e formada pela francesa Amelia Rivas e por Christian Pinchbeck. Conheceram-se em maio de 2010 e tiveram um 2011 bastante profícuo; Depois de em janeiro terem lançado o EP ants-wolf-cry e em julho allured-actors, em novembro deram a conhecer um terceiro EP, intitulado Assembly, sempre através da Memphis Industries. Agora, três anos depois, chegou aos escaparates Sky Swimming, o primeiro longa duração da dupla.
A sonoridade dos Elephant assenta numa pop etérea e lo-fi e são fortemente influenciados pelo hip-hop francês e pela eletrónica dos anos oitenta. Em qualquer um dos três EPs há uma batida que se vai arrastando um pouco atrás da voz de Rivas e camadas sintetizadas que vão sendo acrescentadas, o que cria um clima sombrio, melancólico e de certa forma até mágico. Fica-se muitas vezes com a sensação estranha que o silêncio é a força motriz das canções, o elemento propulsor das mesmas e que nelas se inclui e as sustenta e ao redor do qual os músicos vão acrescentando vários elementos sonoros, muitas vezes só perceptíveis numa posterior audição.
De Beach House a Mazzy Star e passando por Zola Jesus, os Elephant são requintados, minimalistas e cosmopolitas e combinam todo o encanto da Paris das passadeiras vermelhas com uma fragilidade cândida, futurista e atmosférica, feita com guitarras estridentes e um piano delicado. Estão no momento ideal para, com este disco de estreia, cimentar um lugar de relevo no cenário indie da actualidade. Os três EPs estão disponíveis para download gratuito no bandcamp dos Elephant. Espero que aprecies a sugestão...
01. Assembly
02. Skyscraper
03. Allured
04. Ants
05. Elusive Youth
06. Shipwrecked
07. Torn Tongues
08. Come To Me
09. TV Dinner
10. Sky Swimming
11. Golden
12. Shapeshifter
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Mr Crock - Aphrodesis EP
Os franceses Mr. Crock são Walter Laguerre, Christelle Canot, Benjamin Zana, Solène Rigot, Marc Sanchez, uma banda cujos membros se foram encontrando numa Paris cheia de vida musical que soube recebê-los desde que se juntaram, no já longínquo ano de 2009. Estrearam-se em 2011 com um EP homónimo e depois disso já atuaram em locais tão emblemáticos da cidade das luzes como Trabendo, Elysee Montmartre, Machine du Moulin Rouge, Alhambra, Bus Palladium. Em 2013 venceram um concurso de bandas, o Festival Ici et Demain, que contou com a participação de cerca de oitocentos grupos.
No passado dia treze de janeiro chegou finalmente o segundo trabalho do grupo, mais um EP intitulado Aphrodesis, disponível para audição no soundcloud dos Mr. Crock. Confere...
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Conheces os Agua Roja?
Os Agua Roja são November (voz), Benjamin Porraz (guitarra) e Clement Roussel (teclados), uma banda francesa natural de Paris. Chamaram-me a atenção por causa do soundcloud do grupo, onde é possível escutar e obter gratuitamente Summer Ends, Third Eye Vision e Troublemaker, as três canções já lançadas pelos Agua Roja.
Com um propósito certamente vintage, os três temas têm um groove com um certo clima tropical, que nos remete para os primórdios do surf rock e da indie pop, algures nas décadas de sessenta e setenta. Vale a pena ficar atento a futuros lançamentos destes Agua Roja. Confere...
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Darkside - Psychic
Gravado nos últimos dois anos entre Paris e Nova Iorque e lançado no passado dia oito de outubro, Psychic é a mais recente obra-prima com a intervenção direta do músico e produtor Nicolas Jaar, que no projeto Darkside une esforços com o não menos talentoso David Harrington, seu colega de palco e da faculdade. E quando é o selo Other People, em parceria com a Matador Records, a abençoar esta estreia de uma dupla que promete deixar uma marca importante na história da música eletrónica, então juntam-se todos os ingredientes para estarmos na presença de um disco que será certamente um marco. Psychic foi antecedido de um auspicioso EP de estreia, chamado Darkside, que serviu logo para a crítica tomar o pulso à electrónica mercurial de Jaar e Harrington e ficar à espera deste disco com justificada expetativa.
Psychic impressiona pela forma subtil como, ao criar um ambiente muito próprio e único através da forma como sustenta instrumentalmente os oito temas do seu alinhamento, alberga diferentes géneros sonoros e faz uma espécie de súmula da história da música dos últimos quarenta anos. É um disco mutante, que cria um universo quase obscuro em torno de si e que se vai transformando à medida que avançamos na sua audição, que surpreende a cada instante.
Do rock sujo e rugoso à pop mais límpida, escuta-se de tudo um pouco e logo no primeiro tema; Os onze minutos de Golden Arrow provocam e atiçam. São uma verdadeira entrada a matar para percebermos que os Darkside preocuparam-se em trazer para o disco o ambiente envolvente dos seus concertos, ora catárticos devido à batida, ora em busca de uma psicadelia que só uma guitarra picada a lançar-se sobre o avanço lento mas infatigável de um corpo eletrónico que também usa a voz como camada sonora, consegue proporcionar. São onze minutos que nos preparam o cenário sobre o qual vai apresentar-se Psychic como um todo.
A partir daí são vários os mestres que Psychic chama para os seus braços; Mark Knofler é chamado à pedra por Harrington em Sitra, quando se escuta uma linha de guitarra que poderia muito bem ter sido dedilhada por ele e quer Moby quer os Massive Attack certamente sentiram um enorme arrepio quando escutaram a ambiência sonora e os loops de Hearts, ao mesmo tempo que amparavam uma voz que poderia muito bem ser um Tom Waits sobre o efeito de uma bolha de hélio. Na verdade, uma das grandes virtudes deste disco é a forma como a eletrónica de Jaar e a guitarra de Harrington se entrelaçam, numa simbiose que roça a perfeição em muitos temas. Mas, voltando à revisão histórica, na minha opinião, o auge desta revisão eufórica acontece quando Psychic desperta-nos para uns Pink Floyd imaginários e futuristas ao som da sequência Paper Trails e The Only Shrine I’ve Seen , uns Pink Floyd que certamente não se importariam de ter sido manipulados digitalmente há trinta anos atrás se fosse este o resultado final dessa apropriação.
Daqui em diante ainda há tempo para sentir em Freak, Go home, um toque de lustro dos anos oitenta, através de um sintetizador que apenas permanece o tempo suficiente para nos preparar para uma batida crua, cheia de loops e efeitos em repetição constante, mas livre de constrangimentos estéticos e que nos provoca um saudável torpor, que de algum modo apenas é interrompido em Greek Light, aquela canção que todos os grandes discos têm e que também serve para exaltar a qualidade dos mesmos, principalmente quando se desviam um pouco do rumo sonoro geral do trabalho. Os efeitos robóticos carregados de poeira e daquele som típico da agulha a ranger no vinil, assim como os teclados de Metatron e um subtil efeito de guitarra colocam-nos de novo na rota certa de um álbum que do tecno minimal ao space rock, passando pela chillwave e a eletrónica ambiental, impressiona pela atmosfera densa e pastosa mas libertadora e esotérica que transporta. Psychic é um disco muito experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas. Mas tem também uma estrutura sólida e uma harmonia constante. É estranho mas pode também não o ser. É a música no seu melhor. Espero que aprecies a sugestão...
01. Golden Arrow
02. Sitra
03. Heart
04. Paper Trails
05. The Only Shrine I’ve Seen
06. Freak, Go Home
07. Greek Light
08. Metatron
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Lockhart - The Bridge To Your Heart
Lockhart é Nico Lockhart, um músico e produtor sedeado em Paris, que disponibilizou recentemente The Bridge to Your Heart, um tema que me chamou a atenção para este projeto. No soundcloud de Lockhart estão disponíveis mais duas canções, Toi e Lost You, que me fizeram entrar em contacto com Nico para tentar perceber melhor qual o rumo deste projeto e destas canções.
Antes de mais, na repsosta que gentilmente obtive, Nico confessou-me ser um apaixonado por sonoridades algo vintage e mais típicas do outro lado do atlântico, nomeadamente Crosby Stills & Nash, Tears for Fears e Christopher Cross. Quanto a projetos mais contemporâneos, confessou uma grande admiração pelos Violens e Ariel Pink, além de andar a ouvir imenso Small Black, Jagwar Ma, Metronomy e Midlake, estes sim nomes mais consentâneos com o conteúdo sonoro dos três temas que podemos escutar no soundcloud de Lockhart.
Neste momento o músico e produtor discute com algumas etiquetas e editoras o destino destas e de outras canções, não estando, para já, prevista qualquer edição física ou digital de um álbum ou EP. Por outro lado, Lockhart está também a trabalhar na conclusão do novo disco de Frank Rabeyrolles (Double U, Franklin), que será editado em abril do próximo ano. Irá também, brevemente, tocar com ele ao vivo.
Portanto, algures entre o eletropop dos Fischerspooner e uma toada mais minimal e chillwave, típica de uns Metronomy, está este projeto Lockhart, ao qual me manterei muito atento. Confere...
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CocoRosie – Tales Of A Grass Widow
A dupla CocoRosie está de regresso com Tales of A Grass Widow, álbum editado no passado dia vinte e sete de maio via City Slang. Recordo que o último álbum de Bianca e Sierra Casady, Grey Oceans, foi editado em 2010 com o selo da Sub Pop. Contas feitas, a partir de agora as CocoRosie somam cinco trabalhos de longa duração em quase dez anos de actividade.
Bianca e Sierra são norte americanas mas estão instaladas há já algum tempo na glamourosa capital francesa. Essa opção fez com que a sonoridade do projeto tivesse sempre um cariz mais europeu, digamos assim, do que propriamente o som típico da pop do outro lado do atlêntico. Como seria de esperar, é a pop que dita regras em Tales Of A Grass Widow, através de um som que mistura elementos eletrónicos com o chamado freak folk, com um resultado maduro e muito coeso.
E coesão talvez seja realmente uma boa palavra para definir este disco atmosférico; Durante a sua audição somos levados para um mundo paralelo repleto de rudimentos folclóricos, sempre conduzidos pelas vozes da dupla. Por exemplo, After The Afterlife mistura um coro de vozes femininas a uma batida eletrónica misturada com um baixo o que provoca um efeito particularmente estranho. No entanto, no meio destes aspectos supostamente divergentes temos uma boa canção. Broken Chariot traz o mesmo clima angelical mas desta vez com flautas andinas, o que transforma a canção num bom acompanhamento para instantes de meditação. Aliás são os instrumentos pouco usuais que tornam este disco ainda mais interessante. Além dessas flautas, em Gravediggress, o primeiro single retirado do álbum, há um xilofone que, conjugado com a voz, faz da canção um dos momentos mais delicado e sinceros de Tales Of A Grass Widow.
Outro belo momento do disco é Tears for Animals, uma canção com um baixo muito marcado e a dar sinal de si nos momentos certos; Com a participação especial de Antony Hegarty, ele e as duas irmãs interagem muito bem, o que resulta num ótimo contraste entre a voz teatral do primeiro e as interpretações delicadas da dupla. A pergunta indagatória do you have love for the humankind? ecoa durante toda a música e de algum modo vicia. Outro tema onde há um dueto de vozes masculinas e femininas com os mesmos protagonistas é Poison, igualmente com um resultado final emotivo e intenso
No meio de todas estas particularidades instrumentais, da cândura e da teatralidade das vozes e de alguns sonhos estranhos, acaba por criar-se em Tales Of A Grass Widow, em pano de fundo, uma sonoridade muito climática, soturna e relaxante, num disco que, não sendo particularmente brilhante, também não cansa e não compromete e, apoiado numa espécie de limbo meditativo, flui com particular satisfação nos nossos ouvidos. Espero que aprecies a sugestão...