01. Sound And Color
02. Don’t Wanna Fight
03. Dunes
04. Future People
05. Gimme All Your Love
06. This Feeling
07. Guess Who
08. The Greatest
09. Shoegaze
10. Miss You
11. Gemini
12. Over My Head
man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Foxing – Foxing
Em dois mil e vinte e três os aclamados Foxing celebraram uma década do lançamento do seu disco de estreia Albatross, considerado hoje um verdadeiro clássico do emo rock norte-americano contemporâneo. No entanto, a banda formada pelo vocalista Conor Murphy, o guitarrista Eric Hudson, o baterista Jon Hellwig e o baixista Brett Torrence, o mais recente membro, não ficou presa ao passado e tem já um novo disco nos escaparates. É um homónimo com doze canções, produzido e misturado por Hudson, o guitarrista e que viu a luz do dia com a chancela da Grand Paradise.
Foxing sucede ao aclamado álbum Draw Down The Moon, que o grupo natural de St. Louis, no Missouri, lançou em dois mil e vinte e um e mantém o projeto na senda de uma sonoridade que consegue, em pouco mais de alguns segundos, passar do caótico e abrasivo, ao profundamente melancólico e planante, sempre com um travo tremendamente lisérgico, utilizando um processo criativo que tem tanto de inédito e pouco usual, como de profundamente atrativo e catártico. É, na sua génese, uma opção racional focada no uso coerente e intencional do ruido, direcionando-o para um propósito previamente delineado e que olha para o mesmo como uma virtude e uma porta aberta a inúmeras e bem sucedidas possibilidades criativas. De facto, o som dos Foxing incomoda a espaços, também embala em certos períodos, mas a verdade é que, de uma forma ou de outra, nunca deixa de ter em si algo de comovente e instintivamente magnético.
Foxing ganha vida no leitor físico ou digital e logo no perfil simultaneamente lo fi e depois contundentemente cavernoso de Secret History, percebemos, com prontidão, que nos espera uma imponente e vertiginosa parada de emo rock experimental e progressivo, que ganha contornos de excelência no manancial lisérgico de cordas abrasivas, distorções incontroladas e detalhes percussivos da mais variada proveniência de Greyhound, tudo rematado exemplarmente com o inconfundível falsete de Murphy, uma das imagens de marca de todo o alinhamento, diga-se. Depois, Hell 99, a segunda composição do álbum, uma canção vigorosa, crua, caótica, efusiva, rugosa, frenética, contundente e, principalmente, abrasiva, já agora cantada pelo guitarrista Eric Hudson e que reflete sobre a sensação de fadiga extrema e de burnout, amplifica ainda mais o grau de imponência e de profusão sonora e a profunda emotividade lírica do registo, com os gritos de Eric a quererem personificar aquele desejo que todos nós temos, amiúde, de deitar cá para fora tudo aquilo que nos asfixia e abafa.
Com um início tão ofegante, seco e ríspido, chegamos, em Spit, aquele instante em que temos de decidir se ficamos por aqui e não damos nem uma segunda oportunidade ao disco, ou se não resistimos a essa tentação fácil e seguimos em frente, inevitavelmente até ao ocaso de Foxing. E a verdade é que o travo narcótico da canção tem esse efeito de nos prender, até porque a curiosidade em relação ao que ainda poderá vir a seguir, é algo que se sente com uma clareza pouco usual nos dias de hoje.
O eco agudo do som sintetizado repetitivo que introduz Cleaning, a canção com o perfil mais etéreo e experimental do disco, o inesperado travo indie de Barking e os bips percussivos que se cruzam com a bateria na explosiva Kentucky McDonald's parecem conter, nesta sequência, criada certamente para ser o âmago conceptual do registo, uma espécie de código sagrado que, se conseguirmos decifrar, nos faz aceder ao mundo alternativo que os Foxing consideram ser o melhor refúgio e a alternativa mais segura relativamente ao mundo real em que coexistimos.
Imponência e verticalidade na abordagem ao rock mais efusivo e um olhar anguloso a uma salutar epicidade, são também ideias que assaltam o ouvinte mais atento no final da audição de um disco que se assume como um catálogo obrigatório dentro das propostas mais contemporâneas que abordam aquele rock progressivo que tem feito escola no outro lado do atlântico nas últimas três décadas. E diga-se, em abono da verdade, que esta banda norte-americana assume-se, sem qualquer receio e com Foxing, como um projeto porta estandarte de um subgénero do rock que tem tido um airplay cada vez menor depois do período aúreo que viveu no dealbar do novo século, mas que ainda agrega, feizmente, uma legião fiel e devota de seguidores. Espero que aprecies a sugestão...
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Foxing - Greyhound
Em dois mil e vinte e três os aclamados Foxing celebraram uma década do lançamento do seu disco de estreia Albatross, considerado hoje um verdadeiro clássico do emo rock norte-americano contemporâneo. No entanto, a banda formada pelo vocalista Conor Murphy, o guitarrista Eric Hudson, o baterista Jon Hellwig e o baixista Brett Torrence, o mais recente membro, não ficou presa ao passado e tem já um novo disco pronto. É um homónimo com doze canções, produzido e misturado por Hudson, o guitarrista e que vai ver a luz do dia a treze de setembro, com a chancela da Grand Paradise.
Greyhound é o primeiro avanço revelado do alinhamento de Foxing, um disco que sucede ao aclamado álbum Draw Down The Moon, que o grupo natural de St. Louis, no Missouri, lançou em dois mil e vinte e um.
Greyhound é uma imponente e vertiginosa parada de emo rock experimental e progressivo, um manancial lisérgico de cordas abrasivas, distorções incontroladas, detalhes percussivos da mais variada proveniência e o inconfundível falsete de Murphy, caraterísticas bem vincadas de uma identidade sonora muito própria e que define, sem sombra de dúvida, o melhor adn deste quarteto,
São, em suma, pouco mais de oito minutos que contêm uma espécie de código sagrado que, se conseguirmos decifrar, nos possibilita acedermos ao mundo paralelo que os Foxing consideram ser o melhor refúgio e a alternativa mais segura relativamente ao mundo real em que coexistimos. Confere Greyhound e o artwork e a tracklist de Foxing...
Secret History
Hell 99
Split
Greyhound
Barking
Kentucky McDonald’s
Looks Like Nothing
Gratitude
Dead Cat
Dead Internet
Hall Of Frozen Heads
Cry Baby
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Kevin Morby – Dumcane
Ainda não tem meio ano de vida Sundowner, o sexto disco da carreira de Kevin Morby, um músico natural de Lubbock, no Texas e que estava muito marcado pelo regresso do músico a Kansas City, depois de uma temporada a viver em Los Angeles, a sua relação com a também cantora e compositora Katie Crutchfield, do projeto Waxahatchee e a realidade pandémica atual, um triângulo filosófico que também teve o propósito de colocar a América mais profunda no centro das atenções, de acordo com o próprio Morby.
Agora, em plena primavera de dois mil e vinte e um e numa altura em que celebra meia década de vida, Singing Saw, o terceiro disco da carreira de Morby, o músico presenteia-nos com uma versão aprimorada de Dumcane, uma canção gravada durante as sessões de Singing Saw, mas que não fez parte do alinhamento desse registo. É um belíssimo tema, que aprimora, de certa forma, o modus operandi bem balizado do catálogo de Kevin Morby, que se define por opções líricas em que dominam ambientes nublados, intimistas e reflexivos e um registo sonoro emimentemente delicado e fortemente orgânico, sem artifícios desnecessários, ou uma artilharia instrumental demasiado intrincada. E é este, claramente, o travo geral de Dumcane, uma canção minimalista, que procura a interação imediata, mas também profunda, com o ouvinte e que tem nas cordas a arma de arremesso preferencial. Confere...
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Foxing – Nearer My God
Três anos depois do muito recomendável Dealer, os Foxing de Conor Murphy, Ricky Sampson, Jon Hellwig e Eric Hudson, estão de regresso aos discos com Nearer My God, o terceiro registo discográfico do grupo, dez canções que viram a luz do dia a dez de agosto último à boleia da Triple Crown Records e que foram produzidas por Chris Walla, antigo membro dos Death Cab For Cutie.
Imponência e verticalidade na abordagem ao rock mais efusivo e de olhar anguloso a uma salutar epicidade, são duas ideias que assaltam o ouvinte mais atento logo em Grand Paradise, um tema conduzido por guitarras angulares plenas de riffs efusivos e ruidosos e que acaba por ser uma porta de entrada impressiva para um disco que se assume como um dos mais interessantes dentro das propostas recentes que abordam aquele rock progressivo que tem feito escola no outro lado do atlântico nas últimas três décadas. E esta banda de Saint Louis, no Missouri, parece querer assumir-se como porta estandarte de um subgénero do rock que tem tido um airplay cada vez menor depois do período aúreo que viveu no dealbar do novo século.
Nearer My God avança sem concessões no que concerne ao grau de imponência e de profusão sonora e na profunda emotividade lírica do single Slapstick, um tema que fala de dois amigos que dependem um do outro para viverem e o modo como nessa canção o piano se cruza com as guitarras, percebe-se que os Foxing são exímios também no modo como contemplam o mundo que os rodeia e dissertam sobre algumas das suas maiores fraquezas e inquietações. Aliás, Conor Murphy considera que o mundo, tal como o conhecemos, está nas ruas da amargura social e económica e que vivemos todos a bordo de um navio prestes a afundar-se. Esse navio é a sociedade ocidental contemporânea dita civilizada e Nearer My God, tal como o título indica, pode servir como manual de escape ao cataclismo. O falsete à capella nos momentos iniciais de Lich Prince, antes de chegarem as cordas distorcidas e a bateria imponente e o falsete passar a berro, são apenas mais dois sinais sonoros de aviso urgente e, ao mesmo tempo, duas caraterísticas bem vincadas de uma identidade sonora muito própria, um emo rock que, pouco depois, nas sintetizações amarguradas de Five Cups e no frenesim algo cru e intuitivo de Gameshark, uma canção onde os sons de fundo típicos de jogos de computador são uma das suas nuances mais curiosas, se assume como bandeira para quem quiser trilhar outros caminhos menos sinuosos e mais próximos de uma espécie de espiritualidade que os Foxing aconselham vivamente a ser vivenciada caso ainda queiramos escapar da inevitabilidade e contribuir para o bem comum. O eco das batidas de Heartbeat e os bips telegráficos que se cruzam com o piano em Trapped In Dillard’s parecem conter, na sua sequência, uma espécie de código sagrado que, se conseguirmos decifrar, nos possibilita acedermos ao mundo alternativo que os Foxing consideram ser o melhor refúgio e a alternativa mais segura relativamente ao mundo real em que coexistimos. Espero que aprecies a sugestão...
01. Grand Paradise
02. Slapstick
03. Lich Prince
04. Gameshark
05. Nearer My God
06. Five Cups
07. Heartbeats
08. Trapped In Dillard’s
09. Bastardizer
10. Crown Candy
11. Won’t Drown
12. Lambert
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American Wrestlers - Goodbye Terrible Youth
American Wrestlers é um projeto liderado por Gary McClure, um escocês que vive atualmente nos Estados Unidos, em St. Louis, no estado do Missouri. A ele juntam-se, atualmente, Ian Reitz (baixo), Josh Van Hoorebeke (bateria) e Bridgette Imperial (teclados). Tendo Gary crescido em Glasgow, no país natal, mudou-se há alguns anos para Manchester, na vizinha Inglaterra, onde conheceu a sua futura esposa, com quem se mudou, entretanto, para o outro lado do Atlântico.
Depois de em Manchester ter feito parte dos míticos Working For A Nuclear Free City, juntamente com o produtor Philip Kay, um projeto que chegou a entrar em digressão nos Estados Unidos e a chamar a atenção da crítica e a ser alvo de algumas nomeações, a verdade é que nunca conseguiu fugir do universo mais underground acabando por implodir.
Já no lado de lá do atlântico, Gary começou a compôr e a gravar numa mesa Tascam de oito pistas e assim nasceram os American Wrestlers. O projeto deu um grande passo em frente, ao assinar pela insuspeita Fat Possum e daí até ao disco de estreia, um homónimo editado na primavera do ano passado, foi um pequeno passo. American Wrestlers impressionou pelo ambiente sonoro com um teor lo fi algo futurista, devido à distorção e à orgânica do ruído em que assentavam grande parte das canções, onde não faltavam alguns arranjos claramente jazzísticos e uma voz num registo em falsete, com um certo reverb que acentuava o charme rugoso da mesma.
Se essa estreia, já na prateleira lá de casa, nos oferecia uma viagem que nos remetia para a gloriosa época do rock independente, sem rodeios, medos ou concessões, proporcionada por um autor com um espírito aberto e criativo, o sucessor, um trabalho intitulado Goodbye Terrible Youth e que viu a luz do dia em meados de novembro, cimenta essa filosofia vencedora. Mas no modo como, logo em Vote Tatcher, o sintetizador se relaciona com o fuzz da guitarra, esclarece-nos que à segunda rodada Gary libertou-se de uma certa timidez introspetiva, para se apresentar mais luminoso e expressivo. Aliás, isso também percebe-se em Give Up, a primeira amostra divulgada, canção que impressiona pela melodia frenética em que assenta e que oscila entre o épico e o hipnótico, o lo-fi e o hi-fi, com a repetitiva linha de guitarra a oferecer um realce ainda maior ao refrão e as oscilações no volume a transformarem a canção num hino pop, que funciona como um verdadeiro psicoativo sentimental com uma caricatura claramente definida e que agrega, de certo modo, todas as referências internas presentes na sonoridade de American Wrestlers, mas com superior abrangência e cor.
Na verdade, o quarto onde McClure compôs o registo de estreia transformou-se num grande palco, sem colocar em causa aquele clima algo misterioso que define este projeto American Wrestlers, mas oferecendo ao ouvinte uma maior multiplicidade de detalhes e caraterísticas dos vários espetros sonoros que definem o indie rock alternativo. O grunge que exala de So Long, o crescente frenesim psicadélico que nos envolve em Hello, Dear, o fuzz inebriante do baixo de Someone Far Away e o modo como o riff da guitarra ácido e extremamente melódico rebarba de alto a baixo a secção rítmica de Terrible Youth, permitem-nos contemplar todo este charme rugoso que os American Wrestlers replicam hoje melhor que ninguém e dão-nos o mote para um álbum curioso e desafiante, que impressiona pela forma livre e espontânea como os vários instrumentos, mas em especial as guitarras, se expressam, guiadas pela nostalgia e pelas emoções que Gary pretende transmitir. Espero que aprecies a sugestão...
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American Wrestlers - Give Up
American Wrestlers é um projeto liderado por Gary McClure, um escocês que vive atualmente nos Estados Unidos, em St. Louis, no estado do Missouri. Tendo crescido em Glasgow, no país natal, mudou-se há alguns anos para Manchester, na vizinha Inglaterra, onde conheceu a sua futura esposa, com quem se mudou entretanto para o outro lado do Atlântico.
Depois de em Manchester ter feito parte dos míticos Working For A Nuclear Free City, juntamente com o produtor Philip Kay, um projeto que chegou a entrar em digressão nos Estados Unidos e a chamar a atenção da crítica e a ser alvo de algumas nomeações, a verdade é que nunca conseguiu fugir do universo mais underground acabando por implodir.
Já no lado de lá do atlântico, Gary começou a compôr e a gravar numa mesa Tascam de oito pistas e assim nasceram os American Wrestlers. O projeto deu um grande passo em frente, ao assinar pela insuspeita Fat Possum e daí até ao disco de estreia, um homónimo editado na primavera do ano passado, foi um pequeno passo. American Wrestlers impressionou pelo ambiente sonoro com um teor lo fi algo futurista, devido à distorção e à orgânica do ruído em que assentavam grande parte das canções, onde não faltavam alguns arranjos claramente jazzísticos e uma voz num registo em falsete, com um certo reverb que acentuava o charme rugoso da mesma.
Se essa estreia nos oferecia uma viagem que nos remetia para a gloriosa época do rock independente, sem rodeios, medos ou concessões, proporcionada por um autor com um espírito aberto e criativo, o sucessor, um trabalho intitulado Goodbye Terrible Youth e que irá ver a luz do dia em meados de novembro, deverá cimentar essa filosofia vencedora, com Give Up, a primeira amostra divulgada, a impressionar pela melodia frenética em que assenta e que oscila entre o épico e o hipnótico, o lo-fi e o hi-fi, com a repetitiva linha de guitarra a oferecer um realce ainda maior ao refrão e as oscilações no volume a transformarem a canção num hino pop, que funciona como um verdadeiro psicoativo sentimental com uma caricatura claramente definida e que agrega, de certo modo, todas as referências internas presentes na sonoridade de American Wrestlers. Goodbye Terrible Youth será, de certeza, um dos grandes lançamentos do ocaso de 2016. Confere Give Up e o alinhamento do disco...
01 “Vote Thatcher”
02 “Give Up”
03 “So Long”
04 “Hello, Dear”
05 “Amazing Grace”
06 “Terrible Youth”
07 “Blind Kids”
08 “Someone Far Away”
09 “Real People”
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Alabama Shakes - Sound & Color
Escuta-se frequentemente que já não se faz música como antigamente ou que o rock não é mais o mesmo e todos os grupos parecem-se demasiado uns com os outros. Além disso, as gerações que criticam esta suposto atual estado de coisas, visão com a qual discordo, têm sempre uma enorme relutância e um certo preconceito no que concerne às tais novidades que muitas publicações por esse mundo fora procuram transmitir ao grande público, e nas quais naturalmente Man On The Moon humildemente se insere. Seja como for, os norte americanos Alabama Shakes felizmente cá estão, e pela segunda vez, para contrariar as vozes mais pessismistas com Sound & Color, o novo álbum deste grupo de Alabama liderado pela já carismática Brittany Howard e onde rock, funk, soul e blues coexistem em harmonia, influenciando-se mútua e constantemente, sem apelos, perdões ou qualquer agravo.
Dos The Temptations e de Sly and The Family Stone e Otis Redding, ao melhor da motown, passando pela guitarra de Hendrix, está cá tudo o que de melhor a música negra norte americana produziu no último meio século e numa dose qualitativa e abrangente indubitavelmente superior ao cardápio de Boys & Girls, o primeiro disco. Do blues com pitadas de soul de Dunes, à tristeza soul de Guess Who, ou o hardcore de The Greatest, este álbum oferece-nos um verdadeiro passeio por incontáveis décadas, influências e tendências musicais, que apontam para diversas direções e acertam em todas.
Gravado em Nashville, Sound & Color foi produzido pelo reputado jovem Blake Mills, que fez um excelente trabalho, com especial destaque para o modo como ampliou e deu maior vida e autenticidade à guitarra de Heath Fogg, outro dos grandes trunfos destes Alabama Shakes. Canções como a espantosa e épica Gimme All Your Love, o melhor momento do disco, ou o fuzz de Future People, são extraordinários exemplos deste posicionamento mais deslumbrante, seguro e assertivo das cordas, enquanto passeiam pelos diferentes subgéneros sonoros acima referidos. Esta luz constante, esta soul que viaja entre pólos sentimentais opostos num ápice através de um simples dedilhar ou de um toque no pedal e no botão certos, este, em suma e sobretudo, sensual posicionamento do instrumento de Fogg ao longo do alinhamento, que na introspetiva e acústica This Feeling nos arrepia e sacode bem cá no íntimo, nunca perde sentido e fluídez, deixa espaço para que o piano ou a bateria também se mostrem e convence decisivamente pelo modo como a voz de Brittany encaixa com incrível naturalidade nas melodias, numa quimíca que entre silêncio, raiva, dor e calma, cria um som que entre o mestiço e o mitológico, é de difícil catalogação.
O rock está vivo e por este dias passeia confiante e altivo à boleia dos Alabama Shakes, num feliz encontro de décadas e referências musicais, que tendo uma natural toada nostálgica, mas acolhedora, acaba por ser o que de melhor e mais genuíno e novo este género musical tem para oferecer atualmente. Os sons empoeirados vindos de um passado longínquo que se ouvem em The Greatest, ou a ode à melhor herança dos Rolling Stones que sustenta Shoegaze, por exemplo, talvez não sejam mais do que algumas das melhores pistas para o futuro próximo da música contemporânea, oferecidas por um disco sobre o amor e a espiritualidade e que, fisicamente, encarna algumas das melhores sensações que estas duas permissas nos oferecem. Espero que aprecies a sugestão...
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American Wrestlers - American Wrestlers
American Wrestlers é um projeto liderado por Gary McClure, um escocês que vive atualmente nos Estados Unidos, em St. Louis, no estado do Missouri. Tendo crescido em Glasgow, no país natal, mudou-se há alguns anos para Manchester, na vizinha Inglaterra, onde conheceu a sua futura esposa, com quem se mudou entretanto para o outro lado do Atlântico.
Depois de em Manchester ter feito parte dos míticos Working For A Nuclear Free City, juntamente com o produtor Philip Kay, um projeto que chegou a entrar em digressão nos Estados Unidos e a chamar a atenção da crítica e a ser alvo de algumas nomeações, a verdade é que nunca conseguiu fugir do universo mais underground acabando por implodir.
Já no lado de lá do atlântico, Gary começou a compôr e a gravar numa mesa Tascam de oito pistas e assim nasceram os American Wrestlers. Recentemente o projeto deu um grande passo em frente, ao assinar pela insuspeita Fat Possum. Esta etiqueta editou já o single I Can Do No Wrong, uma peça sonora magnífica, principalmente por ser difícil de descrever. O ambiente sonoro que cria tem um teor lo fi algo futurista, devido à distorção e à orgânica do ruído em que assenta. Depois, alguns arranjos claramente jazzísticos e uma voz num registo em falsete com um certo reverb, acentuam o charme rugoso da mesma. E com esta descrição de um tema magnífico está dado o mote para um álbum que nos oferece uma viagem que nos remete para a gloriosa época do rock independente, sem rodeios, medos ou concessões, porporcionada por um autor com um espírito aberto e criativo.
Inspirada numa noticía que Gary leu sobre um doente mental que foi espancado até à morte e pelo respetivo video que circulou com imagens do acontecimento, Kelly, um dos outros destaques de American Wrestlers, é uma belissima ode por parte de Gary a todos os Kellys deste mundo que são vitimas de abusos e de atitudes incompreensiveis, feita com uma melodia frenética que oscila entre o épico e o hipnótico, o lo-fi e o hi-fi, com a repetitiva linha de guitarra e oferecer um realce ainda maior ao refrão e as oscilações no volume a transformar a canção num hino pop, que funciona como um verdadeiro psicoativo sentimental com uma caricatura claramente definida e que agrega, de certo modo, todas as referências internas presentes na sonoridade de American Wrestlers.
Mas se este disco não sobrevive sem estas duas canções, o restante alinhamento não merece ser descurado e exige também audição dedicada. A exploração de uma ligação estreita entre a psicadelia e o rock progressivo, através de um sentido épico pouco comum e com resultados práticos extraordinários em There's No One Crying Over Me Either, assim como o festim sonoro acelerado e difícil de travar de Holy, à boleia de um efeito de guitarra ácido e extremamente melódico, exemplarmente acompanhado pelo piano, pelo baixo e pela bateria e o devaneio folk bastante sentimental de Wild Wonder abrem um disco curioso e desafiante, que impressiona pela forma livre e espontânea como os vários instrumentos, mas em espcial as guitarras, se expressam, guiadas pela nostalgia e pelas emoções que Gary pretende transmitir. Depois, o transe libidinoso que nos oferece a festiva The Rest Of You e a folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada, que domina Cheapshot, são mais dois exemplos felizes do arsenal bélico com que American Wrestlers nos sacode e traduzem, na forma de música, a mente criativa de Gary e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo.
Gary confessou recentemente que apesar de toda a atenção e mediatismo que tem tido com este seu trabalho e que estado umbilicalmente ligado a uma etiqueta tão insuspeita como a Fat Possum, continua a ter dificuldades em pagar as contas vivendo apenas e só da música e que, além da carriera artística, trabalha diariamente, quase de sol a sol, numas docas. Se American Wrestlers não consegue viver apenas e só da música que compôe, algo de muito errado se passa no universo sonoro discográfico e este artista merece claramente uma maior notoriedade e recompensa pelo seu génio criativo. Espero que aprecies a sugestão...
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American Wrestlers - I Can Do No Wrong
American Wrestlers é um projeto liderado por um escocês de identidade desconhecida e que vive atualmente nos Estados Unidos, no estado do Missouri. Tendo crescido em Glasgow, no país natal, mudou-se há alguns anos para Manchester, na vizinha Inglaterra, onde conheceu a sua futura esposa, com quem se mudou entretanto para o outro lado do Atlântico.
Nos Estados unidos começou a compôr e a gravar numa mesa Tascam de oito pistas e assim nasceram os American Wrestlers. Recentemente o projeto deu um grande passo em frente, ao assinar pela insuspeita Fat Possum. Esta etiqueta vai editar o single I Can Do No Wrong, a vinte e sete de janeiro do próximo ano, mas o mesmo encontra-se disponivel no bandcamp da banda, com a opção de o obteres gratuitamente ou doares um valor pelo mesmo.
A canção é uma peça sonora magnífica, principalmente por ser difícil de descrever. O ambiente sonoro que cria tem um teor lo fi algo futurista, devido à distorção e à orgânica do ruído em que assenta. Depois, alguns arranjos claramente jazzísticos e uma voz num registo em falsete com um certo reverb, acentuam o charme rugoso da mesma. Confere...
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Angel Olsen - Burn Your Fire With No Witness
Grande fã de Lou Reed e uma das peças essenciais da banda de Bonnie Prince Billy, Angel Olsen é um dos novos nomes a reter no universo sonoro alternativo. Entre o rock e o grunge dos anos noventa, a folk dos anos setenta e o chamado alt country, Burn Your Fire With No Witness é o disco que apresenta ao mundo esta cantora de vinte e seis anos, que já se tinha estreado nos discos em 2012 com Half Way Home, além de ter também no seu cardápio Strange Cacti, um EP que editou em 2010. Burn Your Fire With No Witness foi produzido por John Congleton, habitual colaborador de Bill Callahan e editado por intermédio da conceituada Jagjaguwar.
Natural do estado norte americano do Missouri, esta norte americana usa como principal combustível do seu processo de composição a temática do amor e vai beber as suas maiores influências ao puro rock assente numa elaborada arquitetura de efeitos da pedaleira e uma voz que surge, bastantes vezes, analógica, distorcida e enigmática, como se pode escutar, neste disco e logo a abrir, num típico tema introdutório chamado Unfucktheworld.
Pouco mais de quarenta anos depois de Joni Mitchell ter surpreendido com a obra prima Blue (1971), Angel usa outros ingredientes sonoros mas estão também aqui os princípios liricos e o ideal temático que a canadiana explorou sabiamente nesse disco e que se relacionavam com a melancolia escancarada de um coração partido.
O pedal da distorção é ligado em Forgiven/Forgotten, uma canção dominada integralmente pelas guitarras à Sonic Youth e que aponta também à herança das gémeas Deal. Mas a interpretação country de Hi-Five, com a voz novamente num registo analógico e distorcido, já nos leva por outros caminhos e mostra-nos que não é só do rock sónico que vive Angel Olsen. Esta tríade abre o disco da melhor forma e coloca a nú diferentes sensações que o amor pode despertar e que tantas vezes oscilam entre o ódio e a paixão e que Olsen traz até nós através de um rock dançante mas que nunca abandona as fronteiras da folk, umas vezes algo inocente, noutros momentos mais sisudo.
O disco prossegue e impressiona novamente quando os conflitos amorosos, tantas vezes impregnados de inebriantes sentimentos de culpa, ficam expostos em baladas como Lights Out e Windows, temas carregados de sentimento e que mostram que o amor, sendo tantas vezes descrito através do martírio alcoólico das palavras, também pode ser cantado com lógica e, como um respiro, terminar sem motivos.
Burn Your Fire For No Witness é a banda sonora perfeita de um romance moderno, o passo certo depois de um relacionamento que não resultou, um conto romântico particular, uma procissão melancólica de canções densas que exorcizam diversos demónios, sustentadas na crueza amarga dos versos e na forma como as guitarras dão um sombreado estético simultaneamente belo e perturbador a este exercício redentor levado a cabo por uma cantora e compositora que, com uma guitarra nas mãos, demonstra uma criatividade efervescente de louvar. Espero que aprecies a sugestão...
01 Unfucktheworld
02 Forgiven/Forgotten
03 Hi-Five
04 White Fire
05 High & Wild
06 Lights Out
07 Stars
08 Iota
09 Dance Slow Decades
10 Enemy
11 Windows