Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Dayzed – Wake Up The Sun

Quinta-feira, 09.11.23

Dayzed é o título de um projeto a solo encabeçado por Josh Prendergast, um músico natural de Melbourne e que se estreou em dois mil e dezassete com um promissor EP intitulado Haze. Agora, no início do verão australiano e do nosso inverno, Dayzed estreia-se no formato longa-duração à boleia de Wake Up The Sun, um belíssimo alinhamento de nove canções que estão estruturalmente balizadas num indie rock abrangente, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop oitocentista e ao espírito alternativo da década seguinte, a última do século passado, sempre com um ímpar espírito shoegaze.

Logo a abrir o registo, o isntrumental que lhe dá nome, escancara o ouvinte num universo sonoro muito peculiar e que alimenta as ilusões de Josh, um claro romântico sonhador que, adivinha-se, vibra com a possibilidade de um mundo mais luminoso, otimista e prazeiroso e menos rotineiro, ruidoso e enevoado. O timbre estridente agudo ecoante da guitarra é, desde logo, uma imagem de marca, que se torna fulgurante na subtilmente arrastada introdução de Tidal Gaze, composição que apresenta, finalmente, o modo impositivo como o autor coloca a sua voz ao serviço de uma trama sonora que quer deixar uma marca indelével no ouvinte, proporcionando-lhe, inicialmente, um apenas aparente caos, mas que rapidamente se torna num exercício auditivo exultante e retemperador.

Como é habitual nos projetos australianos que nos vão chegando aos ouvidos, há algo de majestoso, épico e ecoante na música de Dayzed, certamente fruto da imensidão de um continente ímpar que parece inspirar particularmente a recriação de composições sonoras com uma vibe psicadélica incomum e sempre prodigiosa, diga-se. Mesmo o travo folk de Quicksand deixa-se envolver por cascatas quase incontroladas de sintetizações que, com uma toada crescente e progressiva, ampliam-se no modo como acamam diversos arranjos das mais variadas proveniências, acústicas, eletrificadas e sintéticas. Depois, o reverb da guitarra que sustenta, de modo despudorado, Sometimes, assenta num buliçoso travo grunge, que ajuda a ampliar a sensação de abrangência e de epicidade de um álbum que está, de facto, repleto de arranjos meticulosos e em que o detalhe é um aspeto essencial, mesmo que o ruído seja um fator preponderante na equação, ao longo dos quase quarenta minutos que a sua audição dura. Essa sensação mantém-se, logo a seguir, em Now You Know, uma canção que contém instantes que tanto agarram no tal efeito metálico agudo ecoante da guitarra pelas rédeas para indicar o caminho melódico que o tema deve seguir, como, logo a seguir, oferecem a outra guitarra plena de fuzz e a cascatas de sintetizações estridentes a primazia nessa demanda. Aliás, pouco depois, On The Run, repete esta curiosa impressão.

Want It All acaba por ser a cereja no topo do bolo Wake up The Sun, no modo como, através de um perfil simultaneamente dançante e garageiro, deixa a nu a elevadíssima perícia interpretativa de Josh com a guitarra, mas também com o baixo, evidência que o travo punk lo fi da hipnótica Tunnel Vision atesta com semelhante, ou até superior, mestria.

Banda sonora perfeita para um fim de tarde proolongado e com o sol de frente a dizer-nos adeus, mais do que o dealbar da manhã que o título do disco sugere, Wake Up The Sun quase que nos transporta rumo a essa rotineira jornada cósmica natural que encerra os dias. É um disco imponente, mas também repleto de fragilidades e emoções que consomem todos e cada um de nós, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchido com um travo de fragilidade e inocência que é, sem dúvida, um dos grandes atributos de Wake Up The Sun. Uma grande estreia de um projeto sagaz, porque é numa espécie de jogo de aparentes contradições entre luz e rugosidade que o ouvinte é, ao longo da sua audição, instigado, seduzido e prendido a um alinhamento que vicia. Espero que aprecies a sugestão...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:05

Cool Sounds – 6 Or 7 More

Segunda-feira, 29.08.22

O coletivo australiano Cool Sounds fez furor em dois mil e dezasseis quando se apresentou ao mundo com um extraordinário registo de estreia intitulado Dance Moves, uma notável coleção de canções pop que tinham no catálogo de bandas como os Talking Heads ou os Roxy Music declaradas influências. Dois anos depois os Cool Sounds viraram agulhas para territórios que calcorream o típico indie rock de cariz eminentemente lo-fi, com o registo Cactus Country, sempre com Dainies Lacey ao leme, o único membro da formação original que ainda permanece no agora sexteto Cool Sounds e a grande força motriz da banda.

Cool Sounds – 'Bystander' review: Melbourne six-piece ponder the world's  problems on their best album yet

Em dois mil e vinte e um as guitarras mantiveram-se na linha da frente estilística do grupo com o disco Bystander, que já tem sucessor, um trabalho intitulado Like That, que irá chegar aos escaparates a sete de outubro com a chancela da Chapter Music.

6 Or 7 More é o mais recente single divulgado de Like That, uma composição que Lacey confessa inspirar-se numa mescla entre os catálogos dos The Clash e de Jessie Ware e que, de facto, no funk anguloso da guitarra que conduz o tema, no baixo vibrante que marca o seu ritmo e nos arranjos sintetizados que o adornam, consegue, na nossa opinião tal desiderato, através de uma espécie de dance punk bastante charmoso e contundente. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:43

Husky - Meteorite

Quinta-feira, 26.08.21

Foi há já fez anos que fez furor nesta redação Forever So, um álbum dos australianos Husky, uma banda natural de Melbourne e formada, à altura, por Husky Gawenda (voz, guitarra), Gideon Preiss (teclados), Evan Tweedie (baixo) e Lucas Collins (bateria) e que figurou na lista dos melhores álbuns do ano para esta redação, graças a treze maravilhosas canções que formavam, no seu todo, uma espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas de outro tempo, salpicada com melodias acústicas bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provavam a sensibilidade desta banda para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana.

Husky - Meteorite Tour Tickets at Gasometer Bandroom (Collingwood, VIC) on  Thursday, 9 December 2021

Agora, quase no ocaso do verão de dois mil e vinte e um, os Husky voltam à carga com Meteorite, uma lindíssima canção, quente e intimista, repleta de delicadas camadas de sons e ritmos, um registo que exala uma forte vibe setentista, à boleia de um buliçoso piano lisérgico e um registo vocal tremendamente adoçicado, que comprova o já público amor que os Husky confessam sentir pela pop clássica, celebrizada por nomes tão influentes como Leonard Cohen, Paul Simon, The Doors, ou os Beach Boys. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:41

Courtney Barnett – Rae Street

Terça-feira, 13.07.21

Três anos depois do registo Tell Me How You Really Feel, que na altura sucedeu a Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, o feliz título do arrebatador disco de estreia, a australiana Courtney Barnet está de regresso em dois mil e vinte e um ao formato longa-duração com Things Take Time, Take Time, um alinhamento de dez canções produzido por Stella Mozgawa (Warpaint, Cate Le Bon, Kurt Vile) em Sidney e Melbourne e que irá ver a luz do dia a doze de novembro próximo, por intermédio do consórcio Mom+Pop Music/Marathon. Foi um disco concebido durante o período de confinamento, que Barnett aproveitou para se embrenhar a fundo na filmografia de Agnes Varda e Andrei Tarkovsky, leituras de livros e pinturas em aguarelas.

Courtney Barnett Announces New Album Things Take Time, Take Time for  November 2021 Release, Shares Video for “Rae Street” - mxdwn Music

Courtney Barnett tem-se mostrado na sua carreira bastante hábil no modo como expôe aqueles pequenos detalhes da vida comum e do seu próprio quotidiano e os transforma, na sua escrita, em eventos magnificientes e plenos de substância. E se na estreia, há três anos, procurou um ambiente eminentemente festivo e jovial que nos levasse a colocar o nosso melhor sorriso eufórico e enigmático e a passar a língua pelo lábio superior com indisfarçável deleite, ao som de uma voz doce, uma bateria intensa e uma guitarra que brilhava daqui ao céu, num vaivém musculado e constante, em dois mil e dezoito a opção foi por uma atmosfera menos imediata e um pouco mais intrincada e até amargurada e agressiva.

Rae Street, o primeiro tema revelado do terceiro disco da autora e tema de abertura do mesmo, já com direito a um video dirigido por W.A.M. Bleakley, é uma fantástica balada, conduzida por uma guitarra com um timbre metálico delicioso, uma composição que coloca Barnett numa trilho algo intermédio relativamente aos dois discos anteriores, materializada numa balada com uma filosofia folk com um charme algo displiscente mas feliz. Confere Rae Street e a tracklist de Things Take Time, Take Time...

01 “Rae Street”
02 “Sunfair Sundown”
03 “Here’s The Thing”
04 “Before You Gotta Go”
05 “Turning Green””
06 “Take It Day By Day”
07 “If I Don’t Hear From You Tonight”
08 “Write A List Of Things To Look Forward To”
09 “Splendour”
10 “Oh The Night”

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 11:03

Crayon Fields – All The Pleasures Of The World

Terça-feira, 10.12.19

Crayon Fields - All The Pleasurse Of The World

Os míticos Crayon Fields de Geoff O'Connor são de Melbourne e deram-nos o último registo de originais em setembro de dois mil e quinze. O trabalho intitulava-se No One Deserves You e enquanto não vê sucessor, o quarteto está a preparar uma comemoração em grande dos dez anos de vida de All The Pleasures Of The World, o disco que em dois mil e nove lançou este projeto australiano para o estrelato, à boleia da Chapter Music.

Resultado de imagem para Crayon Fields – All The Pleasures Of The World

All The Pleasures Of The World são pouco mais de trinta minutos de uma simbiose bastante criativa entre a típica folk, com nuances mais clássicas da pop e do indie rock, A reedição de luxo deste belíssimo álbum inclui lados B, instrumentais demos e covers de clássicos de bandas e nomes como os ABBA, Roxette ou Kath Bloom e, entretanto, já podemos conferir o buliçoso baixo e a melodia vibrante da nova roupagem do tema homónimo do registo. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 14:08

City Calm Down – Television

Quarta-feira, 04.09.19

Jack Bourke, Sam Mullaly, Jeremy Sonnenberg e Lee Armstrong são os City Calm Down, um quarteto australiano oriundo de Melbourne e que estreou nos lançamentos discográficos há quase meia década com A Restless House, através da etiqueta I OH YOU. O sempre difícil segundo disco, intitulado Echoes In Blue, viu a luz do dia o ano passado e agora, quase no ocaso deste inconstante verão de dois mil e dezanove, chegou aos escaparates Television, o terceiro compêndio de uma das bandas mais excitantes e inovadoras do cenário indie australiano.

Resultado de imagem para City Calm Down Television

Gravado com a ajuda do produtor Burk Reid (Courtney Barnett, DZ Deathrays, Julia Jacklin) nos estúdios The Grove Studios de Sidney, Television tem dez composições que em pouco mais de meia hora plena de emoção, arrojo e amplitude sonora, nos oferecem, sempre de forma progressiva, um apelo sentido aos nossos sentidos, sugerindo-nos que nos mantenhamos sempre atentos aquilo que a vida e a natureza têm para nos oferecer diariamente e que a pressa, o medo ou o simples desconforto, não deixam que ouçamos. De facto, em canções como as efusivas e muito british Television e Mother, as mais intrincadas e emotivas Visions Of Graceland e A Seat In The Trees, a contemplativa Lucy Bradley, as solarengas Weatherman e New Year's Eve e o single Stuck (On The Eastern), uma canção que sobrevivendo à custa de uma dança incisiva entre baixo e sintetizador, recria com inesperada luminosidade aquela pop punk rock sintética e exultante que causou algum caos capilar na penúltima década do século passado, é constantemente espevitado o nosso lado mais humano e profundo ao som de canções quase sempre assentes num baixo vibrante adornado por uma guitarra jovial e pulsante, teclas inspiradas e uma bateria que nunca se faz rogada no momento de abanar com o nosso âmago.

Disco enérgico, musculado, sonoramente direto, mas liricamente exigente para quem se quiser dedicar a destrinçar toda a carga emotiva e a trama filosófica que os City Calm Down pretenderam colocar no seu dorso, mas também tremendamente apelativo caso a audição tenha um fim meramente recreativo, Television é o melhor trabalho da carreira de um quarteto que pode muito bem vir a ser a próxima grande exportação sonora dos antípodas. Espero que aprecies a sugestão...

City Calm Down - Television

01. Television
02. Visions Of Graceland
03. Mother
04. Stuck (On The Eastern)
05. Lucy Bradley
06. Flight
07. Weatherman
08. Mental
09. New Year’s Eve
10. Cut The Wires

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:41

City Calm Down – Stuck (On The Eastern)

Sábado, 15.06.19

City Calm Down - Stuck (On The Eastern)

Jack Bourke, Sam Mullaly, Jeremy Sonnenberg e Lee Armstrong são os City Calm Down, um quarteto australiano oriundo de Melbourne e que estreou nos lançamentos discográficos há quase meia década com A Restless House, através da etiqueta I OH YOU. O sempre difícil segundo disco, intitulado Echoes In Blue, viu a luz do dia o ano passado e agora, já no próximo verão, chegará aos escaparates Television, o terceiro compêndio de uma das bandas mais excitantes e inovadoras do cenário indie australiano.

Gravado com a ajuda do produtor Burk Reid (Courtney Barnett, DZ Deathrays, Julia Jacklin) nos estúdios The Grove Studios de sidney, Television tem em Stuck (On The Eastern) o primeiro single divulgado, uma canção que sobrevivendo à custa de uma dança incisiva entre baixo e sintetizador, recria com inesperada luminosidade aquela pop punk rock sintética e exultante que causou algum caos capilar na penúltima década do século passado. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 14:20

Confidence Man - Confident Music For Confident People

Quarta-feira, 08.08.18

Foi a insuspeita Amplifire em parceria com a Heavenly Recordings quem teve a honra de colocar nos escaparates Confident Music For Confident People, o álbum de estreia de Confidence Man, um projeto sedeado em Melbourne, na Austrália e que está a dar muito que falar neste verão, sendo considerada uma das bandas mais desinibidas e dançantes que surgiu no universo sonoro indie e alternativo em dois mil e dezoito. Com uma abordagem animada e charmosa ao universo sonoro feito com aquele rock convincente que se mistura com uma eletrónica de apurado faro relativamente às tendências mais contemporâneas e que têm colocado em ponto de mira alguns dos melhores tiques da pop das últimas duas décadas do século passado, este é um disco cheio de groove, um trabalho discográfico perfeito para criar um ambiente festivo único e inédito tendo em conta o som que vai predominando nas pistas de dança atuais.

Resultado de imagem para Confidence Man Confident Music For Confident People

Logo no clima incisivo e luminoso da batida e das nuances rítmicas e vocais de Try Your Luck fica expressa a sonoridade típica de um disco assente numa pafernália de instrumentos eletrónicos bastante heterogénea e peculiar. Os sintetizadores repletos de efeitos cósmicos e as baterias eletrónicas que debitam uma pafernália alargada de timbres, possibilitam-nos dançar de modo acelerado e enérgico em diversos universos míticos que marcam a história mais recente da música de dança. Por exemplo, se o clima punk de Don't You Know I'm In A Band consegue fazer-nos viajar até ao underground nova iorquino de dois mil e uns pozinhos e C.O.O.L. Party aos subúrbios de Brooklyn em plenos anos noventa, já o piano de Catch My Breath suspira por uma remistura efusiva no catálogo de Fatboy Slim, com Out Of The Window a levar-nos até à herança que resultou da onda de Manchester, liderada, no auge, pelos Primal Scream e Fascination a acentuar esse olhar anguloso sobre alguns dos melhores atributos que foram deixados pela britpop de pendor mais psicadélico há umas duas décadas atrás.

As canções de Confident Music For Confident People são, sem dúvida, uma imensa lufada de ar fresco no panorama musical do chamado eletropunk atual. Além de entrarem facilmente no goto e nas ancas chegam para semear discórdia e inquietar os nossos ouvidos. Os Confidence Man disparam ao longo das onze canções do alinhamento do registo, os seus gostos musicais em várias direcções, fazendo-o sem preconceitos nem compromissos, numa mistura explosiva de energia, audácia, irreverência e atitude, salpicada com a indispensável qualidade melódica e uma interessante dose de acessibilidade, dizendo-nos sem qualquer pudor que as pistas de dança podem também ser a salvação e um excelente remédio para muitos dos nossos problemas. Espero que aprecies a sugestão...

Resultado de imagem para Confidence Man Confident Music For Confident People


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 15:12

Courtney Barnett – Tell Me How You Really Feel

Segunda-feira, 02.07.18

Já chegou aos escaparates Tell Me How You Really Feel, o segundo registo de originais da australiana Courtney Barnett, um trabalho produzido pela própria e por Burke Reid e Dan Luscombe e lançado pela Milk! Records, etiqueta da própria Barnett e ainda pela Mom + Pop Music e pela Marathon Artists. Tell Me How You Really Feel sucede a Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, o feliz título do arrebatador disco de estreia de Courtney Barnett, que viu a luz do dia há pouco mais de três anos e que à epoca sucedeu aos EPs I've Got a Friend Called Emily Ferris (2011) e How to Carve a Carrot into a Rose (2013), editados depois conjuntamente em The Double EP: A Sea of Split Peas, em 2013.

Resultado de imagem para Courtney Barnett Tell Me How You Really Feel

No radar da crítica especializada desde o EP A Sea of Split Peas, Courtney Barnett tem-se mostrado nesta última meia década bastante hábil no modo como expôe aqueles pequenos detalhes da vida comum e do seu próprio quotidiano e os transforma, na sua escrita, em eventos magnificientes e plenos de substância. E se na estreia, há três anos, procurou um ambiente eminentemente festivo e jovial que nos levasse a colocar o nosso melhor sorriso eufórico e enigmático e a passar a língua pelo lábio superior com indisfarçável deleite, ao som de uma voz doce, uma bateria intensa e uma guitarra que brilhava daqui ao céu, num vaivém musculado e constante, agora a opção foi por uma atmosfera menos imediata e um pouco mais intrincada e até amargurada e agressiva, com Hopefulessness, tema onde salta ao ouvido o excelente improviso da guitarra, a define, logo à partida, não o clima instrumental do alinhamento, mas, pelo menos, a sua temática algo agreste (No one’s born to hate, We learn it somewhere along the way, Take your broken heart, Turn it into art).

A partir desse prometedor início de alinhamento, no azedume abrasivo de City Looks Pretty, canção que conta com as irmãs Deal dos The Breeders nas vozes secundárias, no turbilhão ruminante da distorção que sustenta Charity, no modo como a autora depreza todos aqueles que a julgam no charme algo displiscente mas feliz de Need A Little Time, no modo tenso como o ruído trespassa a voz no refrão de Nameless, Faceless e, principalmente, na raiva incontida do grunge que arquiteta e agita I’m Not Your Mother, I’m Not Your Bitch fica expresso, de modo sintomático, um certo paradoxo sonoro, uma constante tensão oscilante entre o tédio e a ansiedade, onde o rock e a pop, o doce e o amargo e, enfim, aquilo que é meramente quotidiano e aquilo que é naturalmente poético se entrelaçam.

Álbum repleto de alusões ao desentendimento e ao lado menos radiante do amor, Tell Me How You Really Feel terá como importante propósito mostrar que a vida pode tornar-se num caminho sinuoso, mas que percorrer essa estrada não tem de ser algo vivido em permanente inquietude e depressão, desde que os fantasmas sejam exorcizados no momento certo. Os acordes deambulantes que empoeiram com ruído e frenesim a maioria das canções manifestam instrumentalmente estas experiências de vida sincera e fazem do registo uma jornada espiritual que nos é dada a apreciar e saborear em verdadeira plenitude, nesta contemporaneidade cheia de encruzilhadas e dilemas.. Espero que aprecies a sugestão...

Courtney Barnett - Tell Me How You Really Feel

01. Hopefulessness
02. City Looks Pretty
03. Charity
04. Need A Little Time
05. Nameless, Faceless
06. I’m Not Your Mother, I’m Not Your Bitch
07. Crippling Self Doubt And A General Lack Of Self Confidence
08. Help Your Self
09. Walkin’ On Eggshells
10. Sunday Roast

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 14:10

King Gizzard and the Lizard Wizard - Sketches Of Brunswick East

Quinta-feira, 07.09.17

Quando no início do ano o projeto australiano King Gizzard and the Lizard Wizard de Stu Mackenzie anunciou que iria lançar cinco álbuns em 2017, foram muitos os cépticos que se apressaram a apontar o dedo à impossibilidade deste grupo de rock psicadélico conseguir levar por diante tal desiderato. Mas a verdade é que Sketches Of Brunswick East, treze canções que viram a luz do dia a vinte e cinco de agosto, através da ATO Records, são já o terceiro capítulo desta imponente saga onde detalhes da soul, do jazz, do rock, essencialmente o setentista e sonoridades africanas e até a folk tradicional inglesa se misturam, para dar vida e cor a um alinhamento onde também teve uma importante palavra a dizer Alexander Brettin, outro músico australiano e natural de Brunswick East, bairro dos subúrbios de Melbourne, tal como Stu e fã de Todd Rundgren e Wire, que tem como carapaça pop o projeto Mild High Club.

Resultado de imagem para King Gizzard and the Lizard Wizard 2017

Com os King Gizzard and the Lizard Wizard a contarem já com cerca de uma dezena de discos em carteira, a verdade é que este Sketches Of Brunswick East é já o terceiro trabalho que também conta com a participação dos Mild High Club. E Sketches Of Brunswick East, que também alude ao clássico de Miles Davis, Sketches Of Spainresulta na plenitude, porque é profusamente intensa e feliz esta estreita colaboração entre Stu e Alexander, nomeadamente através da modo como trocam trechos de guitarra acústica, que acabam por servir depois de base a um posterior trabalho de aperfeiçoamento e desenvolvimento por parte dos restantes membros dos King Gizzard and the Lizard Wizard, com o resultado final, mais uma vez, a ser verdadeiramente intenso e contagiante.

O disco inicia com um solo de piano lindíssimo por parte de Brettin, secundado por alguns detalhes percurssivos da autoria do baterista Michael Cavanagh e a partir daí o que se escuta é uma verdadeira espiral entusiasta e multicolorida, que nos colocabem no centro de um tornado que, da psicadelia, à dream pop, passando pelo shoegaze e o chamado space rock, se delicia com a mistura destas vertentes e influências sonoras, sempre em busca do puro experimentalismo e com liberdade plena para ir além de qualquer condicionalismo editorial que possa influenciar o processo criativo de um grupo.

Se ao longo da audição deste álbum parece evidente que tudo aquilo que se pode escutar, dos arranjos às melodias passando pelos diferentes detalhes e samples, é cuidadosamente pensado. É curioso constatar que a busca do caos também pareceu fazer parte da filosofia dominante no processo de construção do arquétipo das várias canções. O jazz experimental acaba por ser a base, mas é muito redutor uma catalogação tão objetiva já que, obedecendo a uma filosofia firme de controle instrumental, quer a homenagem descarada à melhor bossa nova em You Can Be Your Silhouette, assim como os devaneios dos sopros divagantes de Sketches Of Brunswick East II e o modo como em The Spider And Me as variações rítmicas também sobressaiem devido ao modo como as cordas se entrelaçam com a voz, são apenas alguns exemplos felizes que nos remetem para um espetro muito mais vasto e abrangente, onde diferentes estruturas e influências submergem e se acotovelam, quase em uníssono, para conseguirem destaque entre si. É, em pouco mais de trinta minutos, o espraiar indulgente e sereno de uma prévia colocação numa máquina de lavar, num programa que permitiu uma espécie de rotação e sobreposição constante de tudo aquilo que a herança musical contemporânea, de índole eminentemente psicadélica, foi agregando e assimilando ao longo das últimas cinco décadas.

Mais uma vez os King Gizzard and the Lizard Wizard conseguem facultar-nos um acervo de canções único e peculiar e que resulta, certamente, da consciência que Stu, o grande mentor do projeto, tem das transformações que abastecem a música psicadélica atual, enquanto tenta ligar-nos umbilicalmente aquela que considera ser a melhor lista de referências essenciais na parada psicotrópica explicitamente aberta ao experimentalismo que tem inundado os nossos ouvidos ultimamente. Sendo este seu terceiro disco do ano um tratado sonoro de natureza hermética, também não se furta a quebrar algumas regras da pop, nomeadamente na questão da crueza lo fi, e até de desafiar as mais elementares do bom senso, impressionando, assim, pelo arrojo e mostrando-se genial no modo como dá vida a mais um excelente tratado sonoro do melhor revivalismo que se escuta atualmente relativamente ao rock psicadélico do século passado. Espero que aprecies a sugestão...

Sketches of Brunswick East artwork

01. Sketches Of Brunswick East I
02. Countdown
03. D-Day
04. Tezeta
05. Cranes, Planes, Migraines
06. The Spider And Me
07. Sketches Of Brunswick East II
08. Dusk To Dawn On Lygon Street
09. The Book
10. A Journey To (S)hell
11. Rolling Stoned
12. You Can Be Your Silhouette
13. Sketches Of Brunswick East III

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 09:27






mais sobre mim

foto do autor


Parceria - Portal FB Headliner

HeadLiner

Man On The Moon - Paivense FM (99.5)

Man On The Moon · Man On The Moon - Programa 570


Disco da semana 176#


Em escuta...


pesquisar

Pesquisar no Blog  

links

as minhas bandas

My Town

eu...

Outros Planetas...

Isto interessa-me...

Rádio

Na Escola

Free MP3 Downloads

Cinema

Editoras

Records Stream


calendário

Março 2024

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.