man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Elbow - Dis-Graceland 463-465 Bury New Road
Praticamente um ano depois do lançamento de Audio Vertigo, o décimo registo de originais dos Elbow, o grupo formado por Guy Garvey, Craig Potter, Mark Potter e Pete Turner está de regresso com um novo EP, um alinhamento de quatro canções intitulado Audio Vertigo Echo, que chegará aos escaparates em formato digital e vinil de edição limitada, já a seis de junho, com a chancela do consórcio Polydor/GEFFEN.
Há cerca de meio ano, chegou ao nosso radar Adriana Again, o single de apresentação do EP, uma canção angulosa, com um espírito tremendamente explosivo e até algo sufocante e que deixou imensa curiosidade e água na boca relativamente ao restante conteúdo do registo, impressão que se ampliou com Sober, a segunda composição divulgada, há alguns dias atrás, de Audio Vertigo Echo, um tema excitante e, diga-se, sonoramente algo inédito na discografia dos Elbow, porque puxou imediatamente para o nosso imaginário a herança daquele som que em Manchester, a terra natal dos Elbow, no final dos anos oitenta do século passado e início da década seguinte, misturou, com mestria, indie rock, com elementos do acid house, da psicadelia e da melhor pop sessentista, o chamado movimento Madchester, que bandas como os Stone Roses, os Happy Mondays, ou os Primal Scream, exemplarmente recriaram.
Agora, já a poucos dias do lançamento do EP, chega a vez de escutarmos Dis-Graceland 463-465 Bury New Road, o tema que abre o alinhamento de Audio Vertigo Echo. Com um título bastante curioso, trata-se de uma canção pop, na verdadeira acepção da palavra, já que oscila entre um refrão vigoroso e imponente e secções melódicas intermédias repletas de efeitos e detalhes, dos quais se destacam diversos instrumentos percussivos, num resultado final recheado de astúcia e virtuosismo. Os Elbow estão em grande forma e o EP Audio Vertigo Echo vai ser, certamente, um dos grandes marcos discográficos de dois mil e vinte e cinco, nesse formato. Confere...
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The Feelies - Dancing Barefoot vs Barstool Blues
Há mais de quatro décadas a ditar regras e a tornarem-se influência primordial no cenário do indie rock norte americano, os The Feelies estão de regresso aos discos em dois mil e vinte e cinco com Rewind, uma coleção de nove covers abrigadas pela insuspeita Bar None Records e que foram sendo captadas pelo projeto liderado por Glenn Mercer nos anos oitenta e noventa do século passado, período em que lançaram, por exemplo, momentos discográficos tão relevantes como Crazy Rhythms (1980), ou o soberbo disco Only Life (1988). Exceção deste período temporal que abraça Rewind é a versão do clássico dos The Doors, Take It As It Comes, que foi gravada pela banda de Nova Jersei em dois mil e dezasseis.
Com revisitações de composições assinadas por nomes como The Rolling Stones, The Beatles, os já referidos The Doors, ou os The Modern Lovers, merecem para já destaque da nossa redação os dois primeiros temas revelados do alinhamento do registo; Tratam-se de Dancing Barefoot e Barstool Blues, dois originais assinados por Patti Smith e Neil Young e que são revisitados pelos The Feelies tendo em conta a sua habitual filosofia sonora, que se tem abrigado, desde o início, à sombra de uma fórmula de composição muito específica e que faz da luminosidade lo fi das cordas e da criação de melodias aditivas a sua maior premissa. A opção por estes dois verdadeiros clássicos não terá sido certamente inocente, porque quer Patti Smith quer Neil Young têm tudo aquilo que os The Feelies sempre procuraram adicionar ao seu catálogo sonoro, texturas em que sobressaia uma curiosa leveza rugosa que incite os seus ouvintes a viajarem pelos recantos mais amplos de uma América também profundamente selvagem e mística.
Tendo em conta estas duas amostras já reveladas, Rewind será, certamente, mais uma demonstração cabal do modo exímio como os The Feelies, no período áureo da carreira, sentiam à vontade a recriar inflexões e variações, quer de sons quer de arranjos, enquanto navegavam com segurança e vigor nos meandros intrincados e sinuosos de um indie rock que, entre uma toada mais grunge, progressiva e psicadélica e uma leveza pop mais intimista, nunca deixou de exalar um sedutor entusiasmo lírico e uma atmosfera amável, mesmo no meio de algum fuzz ocasional. Confere Dancing Barefoot e Barstool Blues e o artwork e a tracklist de Rewind...
“Dancing Barefoot,” The Patti Smith Group
“Barstool Blues,” Neil Young
“She Said She Said,” The Beatles
“Seven Days,” Bob Dylan (first recorded by Ron Wood)
“Take It As It Comes,” The Doors
“Paint It Black,” The Rolling Stones
“Everybody’s Got Something to Hide Except Me and My Monkey,” The Beatles
“I Wanna Sleep in Your Arms,” The Modern Lovers
“Sedan Delivery,” Neil Young
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DIIV - Return Of Youth
Cerca de um ano depois de Frog In Boiling Water, os DIIV de Zachary Cole-Smith, Andrew Bailey, Colin Caulfield e Ben Newman estão de regresso ao nosso radar à boleia de Return Of Youth, um novo single da banda nova-iorquina que se estreou em dois mil e doze com o extraordinário álbum Doused.
pic by Coley Brown
Tema com um edifício melódico que apela ao mais íntimo de nós e que não descura uma elevada essência pop, Return Of Youth está repleto de diversas nuances orgânicas e sintéticas, com destaque para o timbre metálico das cordas, diversas distorções abrasivas enleantes, um baixo vigoroso e vários efeitos sempre algo cavernosos, que se vão revezando entre si, num resultado final pleno de densidade, nostalgia, crueza e hipnotismo.
Return Of Youth tem, de facto, uma forte marca impressiva, já que a canção foi escrita ainda antes do nascimento do primeiro filho de Cole-Smith, com o propósito de encarnar uma espécie de projeção, tentar recriar aquilo que o autor veria ao seu redor, imaginando que seria os olhos e a mente do seu progenitor. No entanto, acaba também por ter muito presente a tragédia que o músico e a sua família viveram no início deste ano. A casa onde Cole-Smith vivia com a sua companheira e os seus dois filhos, ainda bebés, em Altadena, nos arredores de Los Angeles, foi totalmente destruída pelos terríveis incêndios que assolaram a Califórnia há cerca de cinco meses. Foi um evento bastante traumático para o músico, como é natural, porque, segundo o próprio, com a casa desapareceram também todas as memórias construídas e vividas pelo casal e todos os planos que tinham feito, já que o recheio tinha sido planeado ao pormenor de modo a recriar um mundo muito próprio e aconchegante para os dois bebés. Confere Return Of Youth e o vídeo do tema que mostra a casa do músico em ruínas...
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The Lemonheads - Deep End vs Sad Cinderella
Quase duas décadas depois de um disco homónimo, os The Lemonheads de Evan Dando estão finalmente de regresso ao mesmo formato à boleia de Love Chant, um álbum que deverá ver a luz do dia no início do próximo outono e que certamente nos vai fazer voltar a sentir aquele clima tão caraterístico, que o cenário indie norte-americano replicou com pujança nos anos noventa do século passado.
Criado com a ajuda de Tom Morgan, dos australianos Smudge e com a participação especial de J Mascis na guitarra e de Juliana Hatfield, no baixo, Deep End é o mais recente single divulgado do alinhamento de Love Chant. Nele, a banda de Boston oferece-nos um espetacular tratado de indie punk rock, com guitarras exemplarmente eletrificadas e repletas de distorções abrasivas e um baixo e uma bateria arritmados, mas exemplarmente coordenados, a sustentarem uma composição, onde não faltam solos inebriantes e aquele notável espírito garageiro que nos marcou a todos há cerca de três décadas.
O lado b da edição deste novo single dos The Lemonheads, lançado numa edição limitada de quinhentas cópias em vinil de doze polegadas e em formato digital, é Sad Cinderella, uma feliz recriação de um original de Townes Van Zandt. Nesta recriação, os The Lemonheadas criaram uma belíssima balada, um tributo aos românticos incuráveis, um instante de acusticidade e de intimidade, abrilhantado pela presença vocal da cantora Erin Rae, ao lado de Evan Dando. Confere...
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Old Sea Brigade – Green Tea (feat. Katie Pruitt)
Natural de Atlanta, na Georgia, mas a residir em Nashville, no Tennessee, Ben Cramer encabeça o projeto Old Sea Brigade, um dos nomes fundamentais da indie folk do lado de lá do atlântico. O artista prepara-se para lançar um novo EP intitulado If Only I Knew (Pt. 2), que irá ver a luz do dia a oito de agosto e que sucede ao registo 5am Paradise, que Cramer editou em dois mil e vinte e dois.
(pic by Laura Partain)
Deste novo EP de Old Sea Brigade já foram divulgados os temas According to Planned e Distant Skies. No entanto, o que nos chamou definitivamente a atenção foi o mais recente, uma composição intitulada Green Tea, que conta com a contribuição especial vocal de Katie Pruitt, uma cantora que também é natural de Atlanta. Debruçando-se sobre a força interior que todos precisamos de ter para seguir em frente sempre que perdemos alguém, Green Tea é uma canção intensa, envolvente e comovente, com cordas vibrantes e luminosas a conduzirem uma melodia que sabe à melhor indie folk que se pode ouvir atualmente, porque tem nos fundamentos da sua arquitetura uma coabitação eficaz entre a melhor herança do cancioneiro norte-americano muito sustentado nas cordas e a ascenção de uma instrumentação que também não coloca de parte um arsenal tecnológico cada vez mais diversificado e sofisticado. Confere...
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Wavves – Spun
Os californianos Wavves de Nathan Williams, uma das grandes apostas da Fat Possum Records, estiveram em alta rotação na nossa redação em dois mil e vinte e um com Hideaway, o sétimo álbum deste grupo com praticamente duas décadas de estrada e que, atingindo, à época, este marco temporal importante para bandas contemporâneas, angariaram uma certa maturidade em torno de si, que se confirmou pouco tempo depois com um tema que o grupo também lançou nesse ano intitulado Caviar.
Há pouco mais de dois meses os Wavves tinham regressado ao nosso radar com um novo single intitulado So Long, um lançamento que na altura ainda não trazia atrelado um novo disco do projeto. No entanto, em pleno mês de abril os Wavves divulgaram outra nova canção, chamada Goner e com ela a confirmação dessa novidade. Trata-se de um álbum intitulado Spun, o oitavo da carreira, um registo que vai ver a luz do dia a seis de junho com a chancela da Ghost Ramp Recordings, a etiqueta da própria banda.
Exemplarmente ritmada, com uma bateria e um baixo vigorosos e impulsivos, Goner era um tema enérgico, que impressionava pelo modo como o refrão era destacado do restante tema com mestria. Agora chega a vez de conferirmos o tema homónimo e que também abre o alinhamento do disco. Com um início rugoso e abrasivo, que acaba por se estender ao longo de mais de três minutos encharcados em guitarras distorcidas com intensidade e arrojo, Spun é uma canção vibrante e intensa, um verdadeiro tratado de indie punk pop, melodicamente inspirado, que demonstra que Nathan Williams continua a aprimorar com distinção as suas qualidades interpretativas, olhando sempre e com indisfarçável gula, para a herança do melhor punk rock de início deste milénio. Confere...
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Geckøs – Dance Of The Gecko
Acaba de chegar ao radar da nossa redação um curioso e bastante recomendável novo projeto sonoro intitulado Geckøs, que resulta de uma colaboração intercontinental espontânea, mas claramente feliz, entre três nomes fundamentais da indie folk contemporânea. Falamos de M. Ward, Howe Gelb, líder dos míticos Giant Sand e o multi-instrumentista, de origem irlandesa, McKowski.
Gravado há poucas semanas nos estúdios Dust & Stone, em Tucson, no Arizona, por Gabriel Sullivan e misturado pelo conceituado John Parish, em Bristol, Inglaterra, Dance Of The Gecko é o primeiro resultado vísivel e audível desta parceria, um tema que, algures entre o surrealismo de uns Calexico e a nobreza lírica de um Devendra Banhart, oferece-nos, com particular arrojo, mestria e até um certo psicadelismo, através de violas reluzentes, um baixo sóbrio, mas tremendamente eficaz e elementos percussivos exemplarmente encorporados, uma bela melodia que soa como uma espécie de ponto luminoso intenso, no meio de uma tempestade de areia.
Dance Of The Gecko recria uma paisagem sonora que exala a melhor herança daquela indie folk do lado de lá do atlântico, que foi burilada nas quentes areias do Arizona, no interior de uma América nativa e com intenso perfil místico. Trata-se de uma canção algo sonhadora, uma espécie de acidente mal planeado, mas bem executado que, no modo como toca no âmago de quem a ouve com devoção, acaba por se tornar bastante cinematográfica no modo como inspira e motiva sensações únicas, sendo por isso comunicativa e, consequentemente, próxima e familiar. Confere...
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Baxter Dury – Allbarone
Exatamente dois anos depois do seu último disco, I Thought I Was Better Than You, que sucedeu aos registos Prince of Tears, de dois mil e dezoito e The Night Chancers, de dois mil e vinte e um, o irascível Baxter Dury, filho do icónico Ian Dury, vocalista dos extintos Blockheads, uma das bandas mais importantes do cenário pós punk britânico, está de regresso ao nosso radar à boleia de Allbarone, o tema homónimo daquele que será o seu oitavo disco da carreira e que irá ver a luz do dia a doze de setembro com a chancela da Heavenly Recordings.
Allbarone foi produzido pelo mítico produtor britânico Paul Epworth, que já trabalhou com nomes como Bloc Party, Maximo Park e Adele e terá nove canções. O tema que dá nome ao registo é vibrante e anguloso, como é norma em Dury, oferecendo-nos quase quatro minutos de pop sintética, feita com uma vasta pafernália de sintetizações inebriantes, efusivas e contundentes, que vão trespassando uma batida particularmente angulosa, encarnando um modus operandi declaramente direcionado para as pistas de dança. Confere...
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Matt Berninger – Inland Ocean
Pouco mais de quatro anos após o lançamento de Serpentine Prison, o registo de estreia da sua carreira a solo, Matt Berninger tem já pronto o sucessor, um álbum produzido por Sean O’Brien, intitulado Get Sunk. O disco vai chegar aos escaparates a trinta deste mês, com a chancela da Book Records, uma etiqueta subsidiária da Concord Records e detida pelo próprio Berninger e pelo produtor Booker T. Jones.
Com as participações especiais de Meg Duffy (Hand Habits), Julia Laws (Ronboy), Kyle Resnick (The National, Beirut), Garret Lang, Sterling Laws, Harrison Whitford, Mike Brewer e Walter Martin e Paul Maroon, dos The Walkmen, Get Sunk deverá ser mais um passo em frente na carreira do artista natural de Nova Iorque rumo a territórios sonoros que, nunca renegando o adn essencial do melhor indie rock contemporâneo, procura calcorrear detalhes e nuances com uma abrangência diferente, relativamente ao perfil estilístico que marca o catálogo dos The National.
Bonnet Of Pins foi o primeiro single divulgado do alinhamento de Get Sunk, uma luminosa e imponente canção, que chamou a atenção pela contundência das cordas e pelo frenesim da percurssão. Já em abril chegou a vez de escutarmos Breaking Into Acting, tema que contava com a contribuição especial da acima referida Meg Duffy e que, sonoramente, nos ofereceu um instante tratado de indie folk clássica instrumentalmente rico, texturalmente bastante intimista e que emocionalmente ganhava contornos de excelência e vigor no modo como as vozes dois dois intervenientes se entrelaçam, sem nunca se confundirem, construindo um diálogo intenso e revelador.
Agora, em pleno mês de maio, Matt Berninger proporciona-nos a audição de uma das mais bonitas composições que a nossa redação teve o privilégio de conferir em dois mil e vinte e cinco. Trata-se de Inland Ocean, um tema bastante refinado no modo como assenta num perfil percussivo eminentemente sintético, conferido por uma linha de teclado algo hipnótica que, a espaços, abraça a bateria sem pudores. Depois, guitarras ecoantes, saxofones atrevidos e a voz grave de Berninger, exemplarmente acompanhada por Julia Laws (aka Ronboy), são nuances que acentuam um clima algo melancólico e reflexivo, mas também revelador no modo como nos ensina que, mesmo não sendo fácil aceitar de bom grado deixar ir quem não nos quer, seguir em frente, de punhos cerrados, é sempre, por muito que isso custe, a opção certa a tomar. Confere...
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Preoccupations – Ill At Ease
Pouco mais de dois anos depois do espetacular registo Arrangements, o projeto canadiano Preoccupations, formado por Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, que já se chamou Viet Cong ainda nesta vida e que tem estado permanentemente na linha da frente da reinvenção do rock, volta a distribuir jogo em dois mil e vinte e cinco com Ill At Ease, um alinhamento de oito canções que viu ontem a luz do dia, com a chancela da Born Losers, a etiqueta do próprio grupo, que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.
Mestres em replicar um som de forte cariz urbano e industrial, um perfil interpretativo que ali, algures entre o apogeu do punk rock oitocentista e o enganador ocaso daquele krautrock que ganhou forma e sustento na década anterior, encarnado, à época, num vaivem transatlântico entre Berlim e a costa leste dos Estados Unidos, os Preoccupations são, claramente, um dos projetos mais excitantes da atualidade dentro do espetro sonoro em que se movimentam.
Neste seu novo álbum, logo no frenesim enleante e hipnótico de Focus, um tema vibrante, efusivo e repleto de efeitos sintéticos de forte cariz retro e com uma ímpar tonalidade abrasiva, os canadianos mostram, com vigor, ao que vêm e de que tempero se coze Ill At Ease, um alinhamento de oito canções que mostram o modo impressivo como os Preoccupations voltam a querer estar na vanguarda da indução de novas nuances e conceitos estilísticos a um género sonoro demasiado abrangente para se poder dizer que são diminutas as possibilidades de lhe acrescentar algo de novo e diferente.
De facto, logo nos diversos entalhes percurssivos que dão vida a Bastards, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia e no modo como Ill At Ease, uma canção que reflete sobre aquela sensação que todos já experimentámos de acordarmos e ainda não sabermos muito bem se já acabámos de sonhar e que assenta a sua base melódica, apelativa e radiofónica, numa batida sintética abrasiva, que vai recebendo minuciosamente vários efeitos de elevado travo metálico e guitarras com elevada inspiração oitocentista, como convém a um projeto que coloca o pós punk na linha da frente, deixamos de duvidar que os Preoccupations estão de facto na vanguarda do renascimento de um tipo de sonoridade que diz muito à minha geração, mas que também encantará, certamente, todos aqueles que, não tendo vivido esses tempos, apreciam o modo como hoje também é possível transformar rispidez visceral em algo de extremamente sedutor e apelativo.
Até ao ocaso de Ill At Ease, as cordas ecoantes de Retrograde, inflamadas por diversos efeitos cavernosos, a epicidade fulgurante das guitarras abrasivas que sustentam Andromeda, a bateria seca e os entalhes metálicos que marcam Panic e as primorosas sintetizações que dão indispensável tempero às cordas efervescentes que sustentam dois prodígios melódicos encarnados chamados Sken e Krem2, ficamos convencidos da imponência de um disco transcendente e que fere porque atinge o âmago, mesmo que, a espaços, se sirva de uma matriz sonora algo esquizofrénica e fortemente combativa, mas que, no fundo, purifica e frutifica novos detalhes, nessa tal mistura exemplar entre post punk e shoegaze.
Não há, na música dos Preoccupations, uma busca pela indução no ouvinte de estados de alma límpidos, puros e aconchegantes e esse é, mesmo que alguns discordem, um dos grandes atributos deste projeto de Calgary. Ill At Ease é mais uma marca qualitativa de superior calibre desta permissa, porque traduz um saudável experimentalismo, feito à boleia de um exercício sonoro catárquico, onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, tudo isto aliado a um curioso sentido de estética, que fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...
01. Focus
02. Bastards
03. Ill At Ease
04. Retrograde
05. Andromeda
06. Panic
07. Sken
08. Krem 2