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The KVB – Happy Xmas (War Is Over)

Sábado, 21.12.24

Quem também não ficou imune à febre natalícia foram, imagine-se, os londrinos The KVB de Nicholas Wood e Kat Day, que olharam com especial bom gosto para o clássico Happy Xmas (War Is Over), uma canção de 1971, assinada pelo mítico casal John Lennon & Yoko Ono, com a ajuda do coro the Harlem Community.

The KVB - First Avenue

Sem colocar em causa a essência do original, os The KVB, atualmente, uma das melhores bandas a apostar na herança do krautrock e do garage rock, aliados com o pós punk britânico dos anos oitenta, criaram uma versão um pouco mais densa, progressiva e cósmica do que o original, mas que não coloca em causa o espírito que Lennon e Yoko quiseram recriar há pouco mais de meio século, nem o adn dos próprios The KVB. Uma conjugação improvável que, neste caso, foi muito bem sucedida. Confere...

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publicado por stipe07 às 13:47

Wings Of Desire – Shut Up And Listen EP

Quinta-feira, 05.09.24

A dupla britânica Wings Of Desire é natural da cidade de Stroud, no sul de Inglaterra e junto da fronteira com o Pais de Gales. Chamaram a atenção da crítica o ano passado com o disco Life Is Infinitive, uma coleção de treze canções que a banda tinha lançado anteriormente online e que teve a chancela da WND Recordings.

Wings of Desire command us to "Shut Up And Listen" on their new EP - EARMILK

Um ano depois desse álbum, a dupla formada por James Taylor e Chloe Little está de regresso com um novo EP intitulado Shut Up & Listen, um tomo de quatro temas que tem um cariz benemérito, já que a receita da venda de uma edição limitada do registo em formato cassete irá reverter para uma associação da cidade natal chamada The Long Table, que ajuda diariamente com refeições pessoas carenciadas.

Quando a efervescência nebulosa das guitarras que conduzem o tema que dá nome a este EP entram pelos nossos ouvidos, somos transportados para um gloriosa herança sonora enérgica e que sustentou, na década de oitenta do século passado, uma forma de fazer rock que olhava com particular gula para uma certa tonalidade psicadélica, que tinha também um forte travo cinematográfico. E. de facto, a música destes Wings Of Desire tem essa capacidade imediata de fazer ressurgir da mente de quem os escuta, cadeias de eventos, mais ou menos extraordinários e que, muitas vezes, não são mais do que desejos recalcados, ou medos e anseios que o nosso âmago guarda a sete chaves. 

Com uma temática bem vincada e que procura encarnar uma espécie de aviso contra o niilismo e a ignorância, alimentados cada vez mais por uma distopia digital que ameaça perigosamente a Mãe Terra, através de massas automatizadas e influenciadores algorítmicos que nos poderão levar para um futuro distópico, Shut Up And Listen impressiona por este ponto de vista algo apocalítico em que o universo e a Terra estão a já a exibir as suas próprias formas de vingança bíblica, na forma de inundações, furacões, tremores de terra ou explosões solares. No entanto, canções como Forgive and Forget (Reprise), composição que os Arcade Fire não menosprezariam ter no seu catálogo, também nos dão um laivo de esperança no futuro, porque enquanto existirmos como espécie, também haverá lugar para o amor e para a compreensão relativamente ao outro.

Assim, este aviso constante relativamente a uma possível destruição iminente, é-nos suavemente entregue com melodias vibrantes, recriadas não só pelas já referidas guitarras, mas também por sintetizadores planantes, que incubam portentos de krautrock com um groove hipnotizante, verdadeiros orgasmos de rock progressivo, vigorosos mas também melancólicos, onde não falta um forte apelo ao airplay radiofónico, mas também à introspeção pura e dura. Este EP é, de facto,  um verdadeiro soporífero, feito de versos fortes e cantantes e refrões gritantes, verdadeiros hinos de estádio que nos mostram que ainda podemos viver neste mundo a tentar melhorar o nosso eu, em busca de uma efémera perfeição. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:46

Wings Of Desire - OUTTAMYMIND

Sábado, 15.06.24

A dupla britânica Wings Of Desire é natural da cidade de Stroud, no sul de Inglaterra e junto da fronteira com o Pais de Gales. Chamaram a atenção da crítica o ano passado com o disco Life Is Infinitive, uma coleção de treze canções que a banda tinha lançado anteriormente online e que teve a chancela da WND Recordings.

Wings of Desire Announce New EP, Share New Song 'OUTTAMYMIND' - Our Culture

Um ano depois desse álbum, a dupla formada por James Taylor e Chloe Little está de regresso com um novo EP intitulado Shut Up & Listen, um tomo de quatro temas que irá ver a luz do dia a trinta de agosto e que tem um cariz benemérito, já que a receita da venda de uma edição limitada do registo em formato cassete irá reverter para uma associação da cidade natal chamada The Long Table, que ajuda diariamente com refeições pessoas carenciadas.

OUTTAMYMIND, tema que encerra o alinhamento de quatro canções de Shut Up & Listen, é o primeiro single retirado do EP: É uma canção que versa sobre o conceito de reincarnação, a existência de vidas paralelas e quantas podemos viver e como podemos melhorar o nosso eu, uma após outra, em busca de uma efémera perfeição. Sonoramente é uma composição expansiva e emocionante, em que sintetizadores planantes e guitarras abrasivas, incubaram um portento de krautrock com um groove hipnotizante, um orgasmo de rock progressivo, vigoroso mas também melancólico, onde não falta um forte apelo ao airplay radiofónico, mas também à introspeção pura e dura.

Confere o vídeo de OUTTAMYMIND e o artwork e a tracklist do EP Shut Up & Listen...

 

Shut Up And Listen!
Forgive & Forget
Some Old Place I Used To Know
OUTTAMYMIND

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publicado por stipe07 às 17:19

DIIV – Frog In Boiling Water

Terça-feira, 28.05.24

Meia década depois de Deceiver, os DIIV de Zachary Cole-Smith, Andrew Bailey, Colin Caulfield e Ben Newman estão de regresso aos discos com Frog In Boiling Water, o quarto compêndio de originais da carreira da banda nova-iorquina que se estreou em dois mil e doze com o extraordinário álbum Doused. Com Chris Coady nos créditos da produção, Frog In Boiling Water tem dez canções e viu a luz do dia muito recentemente, com a chancela da Fantasy.

Albums Of The Week: Diiv | Frog In Boiling Water - Tinnitist

Banda com pouco mais de uma década de existência, os DIIV imprimiram desde o início no seu adn alguns atributos essenciais que, assentes num garage rock que dialoga incansavelmente com o surf rock e que incorpora, nessa trama, doses indiscretas de uma pop suja e nostálgica, nos têm conduzido a um amigável confronto entre o rock alternativo de cariz mais lo fi com aquela pop particularmente luminosa e com um travo a maresia muito peculiar.

Frog In Boiling Water não renega totalmente esta essência, porque a marca das guitarras está bem presente, mas oferece aos DIIV uma apreciável guinada conceptual, já que os coloca na senda daquele rock com elevado travo shoegaze, feito de cordas sujas e tremendamente abrasivas, acamadas por um baixo imponente, mas discreto. A voz de Zachary sempre ecoante e um registo percussivo geralmente arrastado e simultaneamente hipnótico, são outros atributos transversais a todo o registo, com os sintetizadores a conferirem a toda a trama os indispensáveis adornos, além de ajudarem as canções a terem a alma e a filosofia desejadas.

De facto, logo no modo como em In Amber a guitarra inicial é cercada por outra repleta de riffs incandescentes e abrasivos, percebe-se o passo em diante que os DIIV dão com Frog In Boiling Water que, ao invés de envergonhar o catálogo do grupo, engrandece-o. De facto, rapidamente nota-se que este disco amplifica ainda mais a faceta oitocentista que instigou sempre o quarteto no momento de compor e de criar. Instrumentalmente nota-se um superior cuidado com os detalhes e a busca constante de majestosidade e têmpera são uma constante. Conceitos como densidade, nostalgia, crueza e hipnotismo, assaltam a nossa mente canção após canção, sempre com elevada essência pop e um acerto melódico que nunca vacila.

Brown Paper Bag, um incrível oásis de complacência e de infinitude cavernosa feitas de punhos cerrados à sombra de uma guitarra com uma distorção intrigante e um registo melódico impetuoso, o perfil tremendamente nostálgico de Raining On Your Pillow, uma canção que impressiona pelo modo como um timbre metálico da guitarra cria um contraste imensurável com o discreto perfil sintético que acama o tema, a mescla feliz entre um grunge rugoso e um shoegaze intenso de forte cariz lo fi no tema homónimo, uma canção que ironiza sobre o modo como o nosso mundo poderá estar prestes a implodir devido ao seu próprio peso, a nebulosa pujança de Reflected, o portento de indie krautrock repleto de nostalgia e crueza que é Somber The Drums e, a rematar de modo grandioso Frog In Boiling Water, o vigoroso clima melancólico que exala da intrincada e tremendamente detalhística monumentalidade que sustenta Fender On The Freeway, completam o ciclo de um disco homogéneo e em que sombra, rugosidade e monumentalidade se misturam entre si com intensidade e requinte superiores, através da crueza orgânica das guitarras, repletas de efeitos e distorções inebriantes e de um salutar experimentalismo percurssivo em que baixo e bateria atingem, juntos, um patamar interpretativo particularmente turtuoso, enquanto todos juntos obedecem à vontade de Zachary de se expôr, uma vez mais, sem receios e assim afugentar definitivamente todos os fantasmas interiores que o vão consumindo e que carecem constantemente de exorcização.

Frog In Boiling Water é, em suma, um incondicional atestado de segurança, de vigor e de superior capacidade criativa dos DIIV, que conceberam um lugar mágico que, mesmo sendo abastadamente ruidoso e sonoramente atiçador, não deixa de conter um toque de lustro de forte pendor introspetivo e que nos provoca um saudável torpor, devido à sua atmosfera densa e pastosa, mas também libertadora e esotérica. Acaba por ser um compêndio de canções que não nos deixa iguais e indiferentes após a sua audição, desde que dedicada, também por causa do seu perfil intenso e catalisador. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:51

Fujiya And Miyagi – Slight Variations

Quinta-feira, 20.10.22

Três anos depois de Flashback, os britânicos Fujiya And Miyagi têm um novo disco nas lojas. Chama-se Slight Variations e viu a luz do dia recentemente com a cancela da Impossible Objects of Desire, a própria etiqueta da banda.

New Body Language' by Fujiya & Miyagi | New Album, 'Slight Variations' -  It's Psychedelic Baby Magazine

Slight Variations é um portentoso acrescento ao já valioso compêndio de um projeto com mais de década e meia de atividade e que se foi assumindo, à boleia desse vasto e riquíssimo catálogo discográfico, como um dos grupos mais relevantes do cenário indie britânico, pelo modo exímio como tem vindo a misturar alguns dos melhores aspetos do rock alternativo com a eletrónica de cariz mais progressivo.

A trama mantem-se em Slight Variations e nas suas dez composições, que têm uma tonalidade um pouco mais introspetiva que o habitual, como se os Fujiya And Miyagi quisessem fazer um disco de dança, mas para que não gosta propriamente de dançar. Os temas são, na generalidade, luminosos e animados, têm na performance vocal um elevado trunfo, mas o álbum também impressiona pela vertente rítmica, que é, sem sombra de dúvida, um dos atributos maiores dos Fujiya And Miyagi. Além destes dois aspetos vitais, o disco também é majestoso no modo como exexuta uma simbiose feliz entre elementos orgânicos e sintéticos, com cordas e sintetizações planantes a entrecuzar-se com elevada astúcia entre si.

Em suma, Slight Variations oferece-nos, com elevado grau de impressionismo, todo o ideário sonoro que tem guiado a carreira deste projeto britânico, através da simbiose entre as batidas graves e palmas, a voz sussurrada de Best e o groove de um teclado retro, ao qual se juntam amiúde efeitos metálicos percurssivos com uma declarada essência vintage. É uma filosofia interpretativa que, numa mescla entre electropop, disco e o clássico krautrock alemão setentista, nos proporciona um dos alinhamentos mais dançáveis do ano, mesmo que à primeira audição essa caraterística não pareça muito evidente. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 21:41

LNZNDRF – II

Terça-feira, 16.02.21

Depois de cerca de meia década de uma longa e penosa espera, já viu finalmente a luz do dia II, o novo registo de originais do super grupo LNZNDRF, que junta Ben Lanz e Aaron Arntz dos Beirut e Scott e Bryan Devendorf dos The National. Abrigado pela Rough Trade, II é um daqueles excelentes instantes sonoros que merecem figurar em lugar de destaque na indie contemporânea, criado por um quarteto que parece tocar submergido num mundo subterrâneo de onde debita música através de tunéis rochosos revestidos com placas metálicas que aprofundam o eco de composições que impressionam pelo forte cariz sensorial.

Resultado de imagem para LNZNDRF

II abre as hostilidades com um piano tocado em surdina, mas que rapidamente perde a vergonha e se deixa contagiar por uma incontida avidez que sobrevoa um baixo rugoso que vai rodando numa espiral continua e agregando cada vez mais detalhes sonoros, uns sinistros outros reluzentes, das mais diversas proveniências, sejam elas acústicas, percurssivas ou sintéticas. É The Xeric Steppe, uma indisfarçável busca por um clímax que por volta do quarto minuto se manifesta, através da bateria vigorosa de Bryan Devendorf, um baixo corpulento e uma tenebrosa guitarra, numa composição que acaba por nos esclarecer o estilo e marca de um disco que será, até ao seu ocaso, um verdadeiro orgasmo de rock com um cariz fortemente ambiental, mas também amplamente progressivo. Esta receita volta a deslumbrar-nos alguns minutos depois, de forma menos efusiva, mas igualmente burilada, em Cascade, um cenário idílico para os apreciadores do rock progressivo mais climático e lisérgico.

No entanto, o rock alternativo, na sua essência mais pura e imesiva, é um dos pontos mais fortes de II e um claro avanço relativamente ao antecessor homónimo, patente em algumas das melhores canções do registo. Por exemplo, em Brace Yourself debatemo-nos com um rock pleno de personalidade e força, onde é forte a dinâmica entre uma opção percurssiva arritmada exemplarmente acompanhada por um baixo que parece ser brotar da própria natureza e por um registo vocal efusivo, num encadeamento que nos obriga a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador. Uma receita mais nostálgica e na qual uma guitarra de forte cariz oitocentista assume relevância clara, mas mantendo a opção estilística por um registo sempre crescente, aprimora-se em You Still Rip, canção que rapidamente nos envolve numa espiral de sentimento e grandiosidade, patente também no modo como a voz também se assume como membro pleno do arsenal instrumental, não havendo, como se percebe, regras ou limites impostos para a inserção da mais variada miríade de arranjos, detalhes e ruídos. Finalmente, Chicxulub, um instumental que poderia muito bem ter tido a assinatura dos DIIV, é uma verdadeira trip deambulante proporcionada por um baixo pouco meigo no modo como incorpora doses indiscretas de uma pop suja e nostálgica e Ringwoodite ascende, nas asas de guitarras joviais e orgulhosamenre orgânicas, ao éden da melhor pop, que também se embrenha por todos os poros de Glaskiers, duas fabulosas composições que não se envergonham de dar as mãos a alguns dos pilares essenciais daquele krautrock de forte cariz sensorial.

Gravado em inspiradas jam sessions durante o outono de dois mil e dezanove, nos Estúdios Public Hi-Fi, em Austin, no Texas, II navega num universo fortemente cinematográfico e imersivo e aos seu conteúdo deve atribuir-se um claro nível de excelência, não só devido aos diferentes fragmentos que os LNZNDRF convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam e que da eletrónica, à pop, passando pelo rock progressivo criaram uma relação simbiótica bastante sedutora, mas também porque, embarcando nessa feliz demanda, também não deixaram de partir à descoberta de texturas sonoras que se expressaram com intensidade e requinte superiores, nomeadamente num transversal piscar de olhos objetivo aquela crueza orgânica que aqui faz questão de viver permanentemente de braço dado com o experimentalismo e em simbiose com a psicadelia. Para já, o momento discográfico maior de dois mil e vinte um. Espero que aprecies a sugestão...

LNZNDRF - II

01. The Xeric Steppe
02. Brace Yourself
03. You Still Rip
04. Cascade
05. Chicxulub
06. Ringwoodite
07. Glaskiers
08. Stowaway

 

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publicado por stipe07 às 16:27

I LIKE TRAINS – Kompromat

Terça-feira, 29.09.20

Já com um histórico de quase duas décadas, visto terem iniciado as lides musicais em dois mil e quatro, os I LIKE TRAINS de Guy Bannister, Alistair Bowis, Simon Fogal, David Martin e Ian Jarrold, têm um novo disco intitulado Kompromat, uma coleção de nove canções que sucedem ao excelente The Shallows, de dois mil e doze e que, uma vez mais, refletem sobre o estado atual do mundo em que vivemos, nomeadamente a conjuntura politica atual, uma imagem de marca sempre muito presente neste grupo natural de Leeds.

I LIKE TRAINS share new single & video "Dig In"- Album 'KOMPROMAT' out Aug  21st via Atlantic Curve - Circuit SweetCircuit Sweet

Se The Shallows versava sobre a relação do homem com as máquinas e, mais especificamente, o modo como a internet está a reescreve a realidade, Kompromat é a materialização de uma visão impressiva feroz relativamente a um mundo que, segundo este projeto, está cada vez mais perigoso, por causa da ascenção dos populismos de direita, com a figura de Trump à cabeça, mas com Boris Johnsson a ser também diretamente visado na crítica, assim como a suposta influência russa em diferentes atos eleitorais. Aliás, Kompromat é uma expressão russa que significa material comprometedor, no sentido de haver um propósito claro de fornecer informações sobre um político, empresário ou outra figura pública, de modo a criar publicidade negativa, chantagem e extorsão sobre ele. De acordo com o grupo, quer estas duas figuras politicas, quer alguns governos, são diretamente responsáveis por toda uma campanha de desinformação que está a tomar conta dos media a nível global e que visa a eliminação de qualquer tipo de crítica ou alternativa a uma forma de governar que protege cada vez mais o capitalismo, tornando as sociedades menos solidárias e quem as governa menos atentos aqueles que mais sofrem e que não têm acesso às benesses de uma sociedade de consumo que divide para reinar.

O single The Truth, uma majestosa canção feita com aquele rock que impressiona pela rebeldia com forte travo nostálgico e que contém uma sensação de espiral progressiva de sensações, que tantas vezes ferem porque atingem onde mais dói, é o âmago desta filosofia estética de Kompromat, porque é frequente imensas vezes já não se ter muito bem a noção de onde reside a verdade, tão voraz é o nosso consumo de informação nesta era digital, sendo possivel entender e interpretar de modo diferenciado as muitas narrativas que vão invadindo o nosso feed.

Sonoramente, Kompromat obedece ao ADN que tem tipificado a carreira dos I LIKE TRAINS, assente num punk rock de forte cariz progressivo, com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas sem descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, abertamente nebulosa e cinzenta. Essa atmosfera é percetivel no perfil detalhista das distorções das guitarras, no vigor do baixo, nos sintetizadores vibrantes e, principalmente, num registo percurssivo compacto, que funciona com a amplitude necessária para dar às canções uma sensação plena de epicidade e fulgor.

De facto, Kompromat é uma súmula rara de um pós punk anguloso, um passeio emocionante e encadeado, com cada tema a personificar um ataque bombástico aos nossos sentidos, um incómodo sadio audível logo no riff abrasivo de A Steady Hand e que se vai aprimorando num fluxo constante e paciente e onde não falta, imagine-se, um leve toque de graciosidade.

A sensibilidade do efeito metálico abrasivo de uma guitarra que corta fino e rebarba, em Desire Is A Mess, as reverberações ultra sónicas de Dig In e, principalmente, a rispidez visceral extremamente sedutora e apelativa de A Man Of Conviction e a arquitetura sonora variada e sempre crescente de The Truth, um longo tema, mas nada monótono, cheio de mudanças de ritmo, com a junção crescente de diversos agregados e que atinge o auge interpretativo numa bateria esquizofrénica e fortemente combativa, mas incrivelmente controlada, num resultado de proporções incirvelmente épicas, são outros momentos incríveis de um disco sarcástico, mas também atencioso e terno,  em que tudo resulta de forma coesa, inclusive o ruído abrasivo, que aqui em vez de magoar, fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

I LIKE TRAINS - Kompromat

01. A Steady Hand
02. Desire Is A Mess
03. Dig In
04. PRISM
05. Patience Is A Virtue
06. A Man Of Conviction
07. New Geography
08. The Truth
09. Eyes To The Left (Feat. Anika)

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publicado por stipe07 às 17:54

The Notwist - Ship EP

Quarta-feira, 26.08.20

Considerados por muitos como verdadeiros pais do indie rock, os The Notwist, liderados pelos irmãos Archer, estão de regresso aos lançamentos discográficos com Ship, um EP que acaba de ver a luz do dia à boleia da Morr Music, etiqueta alemã, sendo o primeiro sinal de vida do projeto em seis anos. Recordo que em dois mil e catorze este grupo alemão incrível lançou o disco Close to The Glass, um tomo de onze canções assentes numa eletrónica cheia de elementos do krautrock, mas que também passava pelo hip hop mais negro, o indie rock e o jazz progressivo, um verdadeiro caldeirão sonoro onde cada elemento foi cuidadosamente tratado e que estava minuciosamente carregado de vida.

The Notwist prep new EP & album, share “Ship” ft. Saya of Tenniscoats

Já com um novo longa duração prometido ainda este ano, os The Notwist afagam-nos, para já, um pouco a alma e acalmam as expetativas desse longa duração, com três excelentes novos temas em que, seja entre o processo dos primeiros arranjos, até à manipulação geral dos cerca de doze minutos do EP, tudo soa muito polido, notando-se a preocupação por cada mínimo detalhe, o que acaba por gerar num resultado muito homogéneo e bem conseguido.

Abrindo, como seria de esperar, com o single homónimo do registo, uma canção que conta com a participação vocal da japonesa Saya, vocalista da banda Tenniscoats e que impressiona pelo rigor percurssivo, percebe-se, logo à partida, que Ship EP será um registo tremendamente hipnótico. Nesta canção, a batida seca que lateja sem cessar, enquanto é constantemente rodeada por uma espiral sintetizada repetitiva e diversas aparições de uma guitarra que se insinua sempre à espreita do momento ideal para explodir em riffs e distorções incontroláveis, são nuances típicas de um grupo exímio a tricotar, sem receio do risco, os alicerces fundamentais de um rock que se entrega a toda o universo sonoro alternativo, sem se alimentar apenas da clássica tríade guitarra, baixo e bateria.

Depois, a incomensurável diversidade sónica que, entre luminosas cordas, efeitos cósmicos, uma bateria embaladora e guitarras metálicas, dá sentido e cor ao sublime experimentalismo de Loose Ends e, para rematar, o forte pendor espiritual e reflexivo do instrumental Avalanche, são mais duas canções que carimbam, de modo indelével, a sagacidade e a sensação catártica de um alinhamento curto mas impressivo, criado por uns The Notwist hábeis a convidar-nos a uma real libertação de sentimentos ou emoções reprimidas, ao som das suas canções. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 21:20

The Notwist – Ship

Quarta-feira, 05.08.20

The Notwist - Ship

Considerados por muitos como verdadeiros pais do indie rock, os The Notwist, liderados pelos irmãos Archer, estão de regresso aos lançamentos discográficos com Ship, um EP que irá ver a luz do dia ainda durante este mês de agosto, à boleia da Morr Music, etiqueta alemã, e que será o primeiro sinal de vida do projeto em seis anos. Recordo que em dois mil e catorze este projeto alemão único lançou o disco Close to The Glass, um tomo de onze canções assentes numa eletrónica cheia de elementos do krautrock, mas que também passava pelo hip hop mais negro, o indie rock e o jazz progressivo, um verdadeiro caldeirão sonoro onde cada elemento foi cuidadosamente tratado e que estava minuciosamente carregado de vida.

Para antecipar o lançamento deste EP, ao qual se seguirá, ainda de acordo com a banda, um novo longa duração ainda em 2020, os The Notwist acabam de divulgar o single homónimo do registo, uma canção que conta com a participação vocal da japonesa Saya, vocalista da banda Tenniscoats e que impressiona pelo rigor percurssivo, assente num registo tremendamente hipnótico, devido a uma batida seca que lateja sem cessar, enquanto é constantemente rodeada por uma espiral sintetizada repetitiva e diversas aparições de uma guitarra que se insinua sempre à espreita do momento ideal para explodir em riffs e distorções incontroláveis, algo que acaba por não acontecer. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:31

Psychic Markers – Psychic Markers

Sexta-feira, 29.05.20

Naturais de Londres e formados por Steven, Leon, Alannah, Lewis e Luke, os Psychic Markers são uma banda de indie rock que mistura a psicadelia e o punk com alguns dos melhores detalhes do rock experimental e do krautrock de raízes setentistas. Abrigados pela insuspeita Bella Union, acabam de editar um extraordinário registo homónimo, uma espécie de cápsula temporal que nos transporta com superior requinte e elevada dose de letargia até às fundações de praticamente tudo aquilo que define o melhor rock cósmico e lisérgico contemporâneo.

Psychic Markers's stream on SoundCloud - Hear the world's sounds

A peculiar e distinta receita de Psychic Markers é muito eficaz e quer a fórmula, quer as intenções conceptuais do disco, ficam claras, logo no modo progressivo como Where Is The Prize? se abastece de um vastíssimo arsenal de projeções sintéticas, amiúde anárquicas, mas de elevado pendor narcótico. Logo depois, em Silence In The Room, a batida hipnótica e o trespasse que ela sofre com teclas de forte cariz vintage, amplia a sensação de descolagem da realidade e de entrada numa espécie de universo paralelo, uma impressão firme e transversal às dez canções polidas do álbum que, no seu todo, assentam também em riffs de guitarra viscerais, nas batidas pulsantes, um baixo muitas vezes frenético e em sintetizadores muito direcionados para o krautrock.

Após tão desafiante início, ficamos definitivamente rendidos ao registo com Pulse, composição com uma atmosfera algo tenebrosa e, por isso, bastante desafiante, mas tabém com Enveloping Cycles, um instante de indie rock psicadélico verdadeiramente extraordinário, assente numa melodia grandiosa e espacial, envolvida em camadas de guitarras distorcidas e sintetizadores incisivos e luminosos. Logo a seguir, Sacred Geometry aponta para caminhos ainda mais experimentais e simultaneamente etéreos, com a primazia da percurssão e da acústica a mostrar uns Psychic Markers fortemente ecléticos e inspirados na criação de melodias que se entranham com invulgar mestria nos nossos ouvidos, mesmo quando, um pouco à frente, a guitarra elétrica distorce-as dando-lhes um teor ainda mais grandioso e épico. Até ao ocaso do disco, não há como não deixar de exaltar também Clouds, um segredo feito de punk rock puro e duro muito bem guardado, que sobe emocionalmente, de degrau em degrau, até uma espécie de climax, enquanto recebe vários efeitos sintetizados, sem que a bateria amansse a batida.

Em Psychic Markers é possível aceder a canções oriundas de uma outra dimensão musical, com uma assumida e inconfundível pompa sinfónica, típica das propostas indie de terras de Sua Majestade e sem nunca descurar as mais básicas tentações pop e onde tudo soa utopicamente perfeito. Há uma beleza enigmática nas composições destes Psychic Markers, feita com belas orquestrações que vivem e respiram lado a lado com as distorções e arranjos mais agressivos, enquanto projetam no ouvinte inúmeras possibilidades e aventuras, assentes num misto de pop, psicadelia, rock progressivo e soul. Espero que aprecies a sugestão...

Psychic Markers - Psychic Markers

01. Where Is The Prize?
02. Silence In The Room
03. Pulse
04. Enveloping Cycles
05. Sacred Geometery
06. A Mind Full And Smiling
07. Irrational Idol Thinking
08. Juno Dreams
09. Clouds
10. Baby, It’s Time

 

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publicado por stipe07 às 21:32






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