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mutu - Estado Novo

Sexta-feira, 09.05.25

Projeto bracarense formado em 2020, mutu é um quarteto heterogéneo no que respeita aos gostos e influências dos seus elementos. Da electrónica à música tradicional, passando pelo jazz, o psicadelismo, o fado e o post-rock, tudo se combina num tecido musicalmente moderno e minimalista encimado por uma voz evocativa de uma portugalidade de outrora, transmitindo mensagens que apelam a um sentido crítico sobre importantes problemáticas sociais.

Mutu. Crédito Juliana Ramalho

Os mutu estrearam-se nos discos com o registo A Morte do Artista, que levaram a várias salas míticas do país, nomeadamente o Teatro Circo, o gnration, a Casa da Música e também constaram, o ano passado, do cartaz de vários festivais, nomeadamente o Paredes de Coura e o Primavera Sound, no Porto.

Agora, e já com promessa de disco novo para dois mil e vinte e seis, os mutu estão de regresso à estrada com uma digressão que passou há alguns dias pelo Festival Desecentrar em Este, nos arredores de Braga e que tem como próximos capítulos, o Maus Hábitos no Porto, a dezasseis de maio, Famalicão, no dia trinta de maio, Marinha Grande no dia cinco de setembro e, no dia seguinte, Ourém.

Para esta nova fornada de espetáculos os mutu levam na bagagem um novo single intitulado Estado Novo, que deverá fazer parte do segundo disco do grupo. Canção enleante, com um ímpar perfil clássico, mas sem dispensar uma salutar rugosidade e crueza e tendo como eixo central um piano hipnótico que depois vai recebendo sintetizações inebriantes e outros arranjos das mais variadas proveniências instrumentais, quer orgânicas, quer sintéticas, Estado Novo é um convite à resistência, de um discurso que os mutu consideram que se está a repetir nos dias de hoje por cá e que plasma um crescimento do ultranacionalismo e do fascismo vestido de novas cores, mas a carregar a mesma essência: medo, divisão e manipulação. Sem recursos de censura ou de uma polícia política, a propaganda espalha-se pelas redes sociais e pelos meios de comunicação, num discurso encoberto pelo patriotismo e pelo ódio ao diferente e às ideias novas. Confere...

instagram @mutu.music

facebook @mutu.fb

youtube youtube.com/@mutu.videos

spotify open.spotify.com/artist/6np57AmYU7ZFM0XZdCtG1O

live @ primavera sound porto youtu.be/uA1_GezOHm0

showcase @ porta253 https://youtu.be/IHOGTCUdOVs

 

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publicado por stipe07 às 13:42

Jay-Jay Johanson – Ten Little Minutes

Quarta-feira, 30.04.25

Quatro anos depois do extraordinário registo Rorschach Test, o décimo terceiro álbum de Jay-Jay Johanson, o músico sueco está de regresso ao formato longa duração em dois mil e cinco, com um álbum ainda sem nome divulgado, mas do qual já são conhecidos vários extraordinários avanços, que têm impressionado verdadeiramente a nossa redação.

Jay-Jay Johanson – Mr. Fredrikson – Observador

Jay-Jay Johanson tem já entre mãos um riquíssimo repertório de experimentações sónicas que têm cimentado um percurso sonoro tremendamente impressivo e cinematográfico de um dos nomes mais relevantes da pop europeia das últimas três décadas, um artista com uma carreira ímpar e que merece ser apreciada com profunda devoção. O seu próximo passo discográfico irá, certamente, aprofundar ainda mais o modo convincente como olhamos com gula e gosto para o seu catálogo, com canções como How Long Do You Think We're Gonna Last?, o primeiro aperitivo conhecido em março do álbum e agora Ten Little Minutes a oferecerem-nos essa confiança relativamente ao que aí vem.

De facto, se How Long Do You Think We’re Gonna Last?, alicerçava num piano envolvente, diversos arranjos enleantes e um registo vocal intenso e emotivo, que incubaram uma composição com uma beleza sonora inquietante, Ten Little Minutes tem uma faceta ainda mais íntima e, de certo modo, mais angulosa e vibrante, mesmo que, instrumentalmente, esta canção soe de modo mais simples e minimalista do que a anterior. Em Ten Little Minutes deliciamos os nossos ouvidos com um extraordinário tratado de jazz contemporâneo, com uma bateria subtil e um piano buliçoso, a darem vida a quase quatro minutos, em que delicadeza e sedução se confundem com um charme ímpar. Confere...

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publicado por stipe07 às 13:48

Sun Kil Moon – Wolves

Sexta-feira, 25.04.25

Natural da pequena localidade de Massillon, no Ohio, Sun Kil Moon é o nome do projeto atual a solo do cantor e compositor Mark Kozelek, que ficou conhecido por ter sido o líder dos carismáticos Red House Painters. Este é um dos projetos que constam na listagem da melhor indie folk contemporânea e um dos mais queridos para a nossa redação. Cada novidade de Sun Kil Moon é tragada por cá com delícia e minúcia, algo a que não foge à regra Wolves, um novo single do artista, que surge no nosso radar pouco mais de um mês depois de termos conferido Birthday Girl, um delicioso compêndio de três canções, em formato EP, que tinha a chancela da Caldo Verde Records.

Sun Kil Moon Tickets, 2025 Concert Tour Dates | Ticketmaster

Assim que começamos a escutar a guitarra e a bateria que introduzem Wolves, composição incubada a meias com o coletivo Amoeba, ficamos boquiabertos com o perfil tremendamente jazzístico, boémio e claramente experimental de uma canção que, logo nos primeiros acordes e batidas, se percebe que é, na sua génese, angulosa, quente e visceral.

Com essa experiência ímpar e curiosa que marca os primeiros acordes de Wolves,  somos abanados e convidados, sem aviso prévio, a um subtil abanar de ancas, conduzidos por uma hipnótica e inebriante composição que, sendo algo inquietante, também nos oferece sensações acolhedoras, à medida que as cordas e o sintetizador travam uma amigável luta enleante, enquanto carimbam um tema impregnado, do início ao fim, com um charmoso e indesmentível bom gosto sonoro. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:44

Jay-Jay Johanson – How Long Do You Think We’re Gonna Last?

Sábado, 29.03.25

Quatro anos depois do extraordinário registo Rorschach Test, o décimo terceiro álbum de Jay-Jay Johanson, o músico sueco está de regresso ao formato longa duração em dois mil e cinco, com um álbum ainda sem nome divulgado, mas do qual já é conhecido um extraordinário avanço, um tema intitulado How Long Do You Think We're Gonna Last?, que impressionou verdadeiramente a nossa redação.

Jay-Jay Johanson dévoile le titre inédit "Labyrinth"

Jay-Jay Johanson tem já entre mãos um riquíssimo reportório de experimentações sónicas que têm cimentado um percurso sonoro tremendamente impressivo e cinematográfico de um dos nomes mais relevantes da pop europeia das últimas três décadas, um artista com uma carreira ímpar e que merece ser apreciada com profunda devoção.

Este primeiro aperitivo do seu próximo álbum, o tema How Long Do You Think We’re Gonna Last?, cimenta essa constatação óbvia, alicerçada, neste caso, num piano envolvente, diversos arranjos subtis enleantes e um registo vocal intenso e emotivo, que incubaram uma composição que contém uma beleza sonora inquietante, proporcionada por um artista exímio no modo como, utilizando como instrumento de base o piano e como universos estilísticos prediletos o jazz, o trip hop e a pop, cria sons com forte inspiração em elementos paisagísticos e onde conceitos como majestosidade e bom gosto estão sempre presentes de modo bastante impressivo. Confere...

 

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publicado por stipe07 às 13:43

Andy Bell – Apple Dreen UFO

Sexta-feira, 21.02.25

Um dos discos mais interessantes do cardápio de dois mil e vinte e um e que acabou por, injustamente, passar um pouco despercebido, à época, na nossa redação, foi Flicker, o segundo registo do catálogo de Andy Bell, guitarrista dos The Ride e que também fez parte dos Oasis dos irmãos Gallagher. Flicker, um alinhamento de dezoito canções, teve a chancela da Sonic Cathedral e o mesmo sucederá com Pinbal Wanderer, o novo álbum de Andy Bell, oito canções que irão ver a luz do dia no ocaso da próxima semana.

Andy Bell Announces New LP "pinball wanderer", Airs "i'm in love…"

I’m In Love With A German Filmstar, uma cover de um original de mil novecentos e oitenta dos britânicos The Passion, foi o primeiro single que divulgámos do alinhamento de Pinball Wanderer, no início do ano. Era uma composição efusiante e de elevado travo experimentalista e que contava com as participações especiais vocais de Dot Allison, líder dos One Dove e de Michael Rother, dos lendários Neu!, na guitarra.

Agora chega a vez de escutarmos Apple Dreen UFO, uma composição com um forte cunho jazzístico e experimental. Uma batida insistente, angulosa e ligeiramente arritmada, o dedilhar insinuante de uma guitarra elétrica e o registo vocal ecoante de Bell, conferem ao tema um travo intimista e sensual irrepreensíveis, nuances que não resvalam nem vacilam quando alguns sopros e diversas sintetizações se insinuam e oferecem rugosidade e corpo a uma canção que encarna uma incomensurável diversidade sónica. Confere Apple Dreen UFO e o vídeo do tema assinado por Chris Tomsett...

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publicado por stipe07 às 08:40

Bon Iver – Everything Is Peaceful Love

Domingo, 16.02.25

Seis anos depois do disco i,i, e cerca de quatro meses depois da edição do EP Sable, um alinhamento de três canções gravadas entre dois mil e vinte e dois mil e vinte e três nos estúdios April Base Recording Studio, no Wisconsin, propriedade do autor, Justin Vernon, que assina a sua música como Bon Iver, está finalmente de regresso ao formato longa duração, com SABLE, fABLE, disco que irá ver a luz do dia a onze de abril com a chancela da Jagjaguwar.

Bon Iver drops new single Everything Is Peaceful Love with music video John Wilson watch listen stream SABLE fABLE

pic by Graham Tobert

Com doze canções produzidas pelo próprio Justin Vernon, líder da banda, com a ajuda de Jim-E Stack e gravado nos estúdios acima referidos, SABLE, fABLE será, como o próprio nome indica, uma continuação conceptual do EP anterior e vai começar com os três temas que faziam parte do alinhamento desse registo, Things Behind Things Behind Things, S P E Y S I D E e Awards Season.

No entanto, o nosso destaque hoje vai para Everything Is Peaceful Love, o mais recente single divulgado do álbum. É uma composição que versa sobre a euforia e a alegria da paixão e do amor e que, sonoramente, aposta em diversas nuances percurssivas, que vão deambulando por uma batida sintética algo hipnótica, com vários efeitos ecoantes e o típico falsete de Vernon, a ampliarem o charme e o ambiente sedutor do tema, um verdadeiro manjar dos deuses para quem aprecia uma cartilha sonora que tem na folk acústica o seu grande sustento, mas que também olha para alguns dos detalhes essenciais da eletrónica ambiental contemporânea e até do próprio jazz com uma certa gula. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:04

Memória de Peixe - 03:13

Sábado, 18.01.25

Os lisboetas Memória de Peixe, de Miguel Nicolau, Filipe Louro e Pedro Melo Alves, estão prestes a regressar aos discos com um alinhamento intitulado III, o terceiro da carreira do projeto, um registo que vai ver a luz do dia ainda no primeiro trimestre deste ano com a chancela da Omnichord Records e que sucede aos aclamados álbuns Memória de Peixe (2012) e Himiko Cloud (2016).

Já são conhecidos dois temas do alinhamento de III. O primeiro, Good Morning, foi revelado em setembro último. Agora chega a vez de escutarmos 03:13, uma canção que conta com a participação especial do saxofonista José Soares e que encarna uma celebração sonora do inesperado e um convite a explorar as profundezas do desconhecido.

03:13 leva-nos para a inquietante sensação de ver uma hora recorrentemente, como se uma mensagem nos chegasse de uma realidade alternativa. É neste ambiente surrealista e ficcional que o tema se inspira, à boleia de um cruzamento com beats de jazz experimental e texturas psicadélicas, criando uma atmosfera vibrante e cinematográfica. É, em suma, e de acordo com a nossa redação, um intrincado edifício sonoro eminentemente experimental, contundente, denso e pastoso, mas que também se entranha nos nossos ouvidos de modo particularmente empolgante e sedutor. Confere...

 

 

 

 

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publicado por stipe07 às 16:49

Villagers - A Matter Of Taste

Domingo, 08.12.24

Os irlandeses Villagers são, neste momento, praticamente monopólio da mente criativa de Conor O'Brien e estão já na linha da frente do universo indie folk europeu, pelo modo criativo como replicam o género, carregando-o com o típico sotaque irlandês, ainda por cima oriundos de um país com fortes raízes e tradições neste estilo musical. Com um trajeto musical bastante profícuo nos últimos anos, além de intenso e rico, com momentos discográficos significativos do calibre de Becoming a Jackal (2010), {Awayland} (2013), Darling Arithmetic (2015), The Art Of Pretending To Swim (2018), e The Fever Dream (2021), entre outros, os Villagers ofereceram-nos em maio um álbum intitulado That Golden Time, dez canções que, como certamente se recordam, estavam recheadas de trechos sonoros instrumentalmente irrepreensíveis e com uma delicadeza e um charme inconfundíveis.

Villagers - 'Mountain out of a Molehill' | Nialler9

Quase meio ano depois do lançamento de That Golden Time, os Villagers estão de regresso ao nosso radar à boleia de um par de singles que podem muito bem servir de antecipação a um nvo lançamento discográfico do projeto. O primeiro tema desta fornada foi Mountain Out Of A Molehill, canção com forte pendor cinematográfico que, como certamente se recordam, esteve em alta rotação na nossa redação há algumas semanas.

Agora, quase um mês depois de Mountain Out Of A Molehill, temos a oportunidade de escutar A Matter Of Taste, uma canção vibrante e com um groove bastante apelativo, em que sopros e cordas reluzentes, sustentam um edifício melódico de forte travo jazzístico, adocicado pelo já habitual registo sussurrante vocal de Conor O'Brien, sempre emotivo e profundo, mas também notavelmente doce.

À semelhança do que sucedia com Mountain Out Of A Molehill, A Matter Of Taste é mais uma extraordinária porta de entrada que nos escancara para um universo em que, sem dúvida nenhuma, poderemos vivenciar diferentes sensações, de um modo otimista e festivo, mas tambêm cândido e aconchegante, como é norma no catálogo dos Villagers, cada vez mais maduro e estilisticamente rico. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:07

Damien Jurado – Call Me, Madame

Terça-feira, 03.12.24

O norte-americano Damien Jurado atravessa, claramente, uma das fases mais profícuas da sua já longa carreira. Depois de na primavera de dois mil e vinte e um ter editado o excelente registo The Monster Who Hated Pennsylvania, regressou, no verão do ano seguinte, com um novo disco também monstruoso, intitulado Reggae Film Star e o ano passado editou Sometimes You Hurt The Ones You Hate, o décimo nono registo de originais deste músico e compositor natural de Seattle, um trabalho que, como é habitual neste artista, teve a chancela da Maraqopa Records, a sua própria etiqueta.

Damien Jurado On Writing In Quarantine And 'What's New, Tomboy?' : NPR

Em dois mil e vinte e quatro Jurado tem-se dedicado a lançar alguns temas avulsos em formato single, disponíveis na sua página bandcamp e um deles chamou a nossa atenção. Trata-se de Call Me, Madame, uma canção com direito a duas versões distintas Smoking Version e Non-Smoking Version e que conta com a participação especial do The Everett Assembly, um grupo coral criado pelo próprio Damien Jurado no verão deste ano. O resultado final é imponente e charmoso e de forte travo vintage, potenciado por um processo de gravação eminentemente analógico, com a primeira versão a incidir numa base instrumental eminentemente orquestral e clássica e a segunda a colocar as fichas num clima mais jazzístico. Uma belíssima novidade, com uma sofisticação muito própria e sem paralelo no panorama da indie folk contemporânea, incubada por um dos maiores cantautores e filósofos do nosso tempo. Confere...

01. Call Me, Madame (Smoking Version)
02. Call Me, Madame (Non-Smoking Version)

 

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publicado por stipe07 às 17:33

The Smile – Cutouts

Terça-feira, 08.10.24

Cerca de oito meses depois do excelente registo Wall Of Eyes, o segundo álbum do trio formado por Thom Yorke e Jonny Greenwood, o chamado núcleo duro dos Radiohead e Tom Skinner, baterista do Sons of Kemet, os The Smile estão de regresso aos discos com Cutouts, um alinhamento de dez canções gravado em Oxford e nos estúdios Abbey Road no mesmo período em que foi incubado Wall Of Eyes. Produzido por Sam Petts-Davies, Cutouts conta com arranjos de cordas assinados pela London Contemporary Orchestra e tem a chancela, como é habitual nos discos dos The Smile, da XL Recordings.

The Smile 'Wall of Eyes' Review

Não é qualquer banda que chega ao terceiro registo de originais já com a fama de ser um projeto influenciador e fundamental do universo sonoro em que se movimenta. Como é óbvio, nos The Smile, essa justa chancela deve uma enorme quota parte de responsabilidade à fama que os seus músicos grangearam nos projetos de onde provêm, mas a bitola qualitativa das suas propostas sonoras, já agora, avançando um pouco para o conteúdo de Cutouts e o grau de abrangência e ecletismo das mesmas é, neste caso em concreto, uma verdade indesmentível.

De facto, ao terceiro disco os The Smile continuam a alargar e a enriquecer o espetro do seu catálogo, olhando, desta vez, com maior gula para a eletrónica do que nos dois discos anteriores, muito marcados pela preponderância da secção percussiva, alimentada pelo baixo e pela bateria. Logo a abrir o registo, a dupla Foreign Spies, tema que versa sobre a aparência de um mundo perfeito e a realidade perturbadora que se pode esconder por trás dele e Instant Spalms, oferece-nos a já habitual fina e vigorosa interseção entre o orgânico e o o sintético, de modo exemplarmente burilado, mas com a segunda esfera de influência a assumir a primazia, em duas composições que carregam uma intrincada e sinuosa espiral de arranjos que, na canção de abertura, nos faz planar rumo a uma cosmicidade plena de lisergia e que, no segundo tema, já nos oferece algumas nuances mais consentâneas com territórios que olham para as cordas como fonte importante na indução de detalhes enriquecedores e fundamentais. Este percurso por um trilho sónico que também tem um forte cunho experimental, repete-se um pouco adiante, em Don't Get Me Started, tema em que o dedilhar tranquilo de uma guitarra elétrica e o registo vocal ecoante de Thom Yorke, originam um travo intimista e contemplativo irrepreensíveis, nuances que não resvalam nem vacilam quando alguns detalhes percussivos, um teclado divagante e diversas sintetizações se insinuam e oferecem alguma rugosidade e corpo à canção.

Com Zero Sum o disco arranca para uma direção eminentemente imediata e rugosa, como é norma, aliás, nas melhores propostas do histórico dos The Smile, colocando o jazz como pedra de toque de uma canção que é uma sátira à confiança que todos depositamos na informática e no mundo virtual, enquanto nos oferece quase três minutos de rock frenético, com uma personalidade eminentemente orgânica. Guitarras abrasivas e um baixo corpulento são os ingredientes essenciais de uma canção com um elevado travo punk, receita que se repete, pouco depois, em The Slip, outra composição com uma personalidade mais orgânica, roqueira e vigorosa, com a bateria, o baixo, uma guitarra abrasiva e diversos entalhes sintéticos a incubarem, no seu todo, uma angulosa espiral cósmica hipnotizante, com um elevado travo progressivo e em Colours Fly, outro tema repleto de nuances, pormenores, sobreposições e encadeamentos, num resultado final indisfarçadamente labiríntico e que, mesmo não parecendo, guarda em si também algo de grandioso, comovente e catárquico.

Estilisticamente, as maiores novidades que Cutouts nos oferece, em campos absolutamente díspares, encontram-se em Eyes & Mouth, uma injeção de pura adrenalina soporífera jazzística, que pisca o olho à tropicália, com uma angulosidade nada disfarçada e em Tiptoe, uma espécie de névoa celestial, com o falsete etéreo de Yorke a olhar para o interior da nossa alma e a incitar os nossos desejos mais profundos, como se cavasse e alfinetasse um sentimento em nós, enquanto o piano amplifica ainda mais este inusitado momento de agitação elegante e introspetiva.

Disco que mescla com mestria rock alternativo e eletrónica ambiental, verdadeiras traves mestras no adorno e na indução de cor e alma a um catálogo de canções de forte cariz intimista e que apenas revelam todos os seus segredos se a sua audição for dedicada, Cutouts agrega nas suas dez composições mais um fabuloso conteúdo sonoro, lírico e conceptual, que disserta com gula sobre cinismo, ironia, sarcasmo, têmpera, doçura, agrura, sonhos e esperança, ao mesmo tempo que catapulta os The Smile para um processo de criação cada vez mais livre de qualquer amarra ou constrangimento comercial, sem dúvida o modus operandi que mais seduz três músicos mestres a encarnar aquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:31






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