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Fontaines D.C. – Romance

Sábado, 24.08.24

Dois anos depois de Skinty Fia, o curioso título do disco que os irlandeses Fontaines D.C. lançaram na primavera de dois mil e vinte e dois, a banda formada pelo vocalista Grian Chatten, os guitarristas Carlos O’Connell e Conor Curley, o baixista Conor Deegan, o contrabaixista Conor Deegan III no contra-baixo e o baterista Tom Coll, apostou em não colocar rédeas na sua veia criativa e está de regresso ao formato longa-duração, à boleia de Romance, um alinhamento de onze canções que viu a luz do dia com a chancela da XL Recordings, a nova etiqueta do grupo.

Fontaines DC review, Romance: Leaves post-punk in its dust and roars off  into broad new horizons | The Independent

Skinty Fia era um disco de contestação, um trabalho muito marcado pela realidade económica e social de uma Irlanda que oferecia poucas oportunidades de futuro para as gerações mais jovens. Era um álbum eminentemente político, que personificava ironicamente o ponto de vista de um bem sucedido irlandês que, de modo algo corrosivo, em forma de elogio fúnebre, se congratulava com o país onde vivia e o orgulho que sente no seu (in)sucesso, mesmo que deitasse para trás das costas questões tão prementes como a política climática ou a milenar e fraterna herança histórica da Irlanda.

Romance afaga essa filosofia conceptual, voltando-se para temáticas mais pessoais e sensitivas, enquanto, sonoramente, em contra-mão, amplia o percurso ambicioso e eclético do projeto, que no trabalho mais ambicioso e complexo da carreira materializa uma bem sucedida fusão de géneros, que oscilam entre o rock alternativo noventista, o rock progressivo, o hip-hop e aquela eletrónica que aposta em texturas eminentemente densas e pastosas. O punk rock, uma das imagens de marca do período inicial da carreira dos Fontaines D.C., não é colocado inteiramente de lado em Romance, mas tem um perfil mais marginal, servindo essencialmente como adorno em algumas canções.

Logo a abrir o registo, o perfil inicialmente intimista e depois cavernoso do tema homónimo marca a tal rutura com uma herança que sempre se fez notar por uma filosofia estilística de choque com convenções e normas pré-estabelecidas. A partir daí está dado o mote para uma parada sonora com onze robustas canções, que mantêm o já habitual grau superior de rugosidade dos Fontaines D.C., mas que, no geral, são menos imediatas, intuitivas e cruas do que as de Skinti Fia. Começa por fazer mossa na anca o tom épico, mas também algo sinistro e inquietante de Starbuster, uma canção inspirada num ataque de pânico que Chatten viveu na famosa estação ferroviária londrina St. Pancras e tinha uma sonoridade algo sinistra e inquietante. Depois, Here's The Thing prova o modo feliz como o projeto conseguiu olhar para a herança do melhor indie rock da última década do século passado, à boleia de guitarras abrasivas e cruas e de um registo melódico algo intuitivo, mas repleto de guinadas rítmicas, tudo rematado por um baixo exemplar no modo como acama um perfil interpretativo com elevado espírito garageiro.

Este início prometedor e bem sucedido, mantém-se no assalto bem sucedido à herança do melhor rock clássico em Desire e na subtileza hipnótica das guitarras que acamam diversos violinos em In The Modern World, uma composição com uma essência pop assinalável. Depois, a acusticidade tipicamente british de Bug e de Motorcycle Boy, duas canções que despertam na nossa mente, de imediato, a melhor herança dos manos Gallagher, a cosmicidade lisérgica de Sundowner, canção repleta de sintetizações pastosas que nao defraudam o superior desempenho interpretativo da guitarra de Carlos O’Connell e o superior tom alternativo noventista de Favourite, uma verdadeira canção de amor, que reflete sobre a rapidez com que esse sentimento nos leva da euforia à tristeza, sem meio-termo, rematam um álbum que é um desfilar efusiante e esplendoroso dos atributos maiores do quinteto, mas que também possibilita ao seu catálogo, obter uma subida alguns degraus acima na sua bitola qualitativa.

Numa época do vale tudo, custe o que custar e seja contra quem for e em que a individualidade se deixa facilmente manietar, quase sem se aperceber, pelas solicitações dos media e das redes sociais, Romance puxa pelo nosso lado mais emocional e sensível e faz com que nunca nos esqueçamos que o amor, a solidariedade e a compaixão pelo próximo fazem parte da natureza humana. Ao fazê-lo, comprova também que os Fontaines D.C. não são, nem devem ser, mais vistos como um cometa que passa, brilha no momento e que depois corre o risco de ser esquecido no ocaso do tempo e do espaço negro e profundo, mas que são, já e com pleno direito, uma das melhores bandas do rock alternativo mundial contemporâneo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:46

Porches – Itch

Quarta-feira, 03.07.24

Aaron Maine é a mente que lidera o projeto Porches, sedeado em Pleasantville, nos subúrbios de Nova Iorque, com quase uma década de vida. Porches tem já um interessante catálogo de discos, inaugurado em dois mil e dezasseis com o registo Pool, ao qual se sucederam The House, em dois mil e dezoito, Ricky Music, em dois mil e vinte e, mais recentemente, All Day Gentle Hold, em dois mil e vinte um.

Aaron Maine Of Porches On His Beauty Routine | Into The Gloss

No início da primavera a nossa redação partilhou uma canção intitulada Rag, o primeiro sinal de vida desde All Day Gentle Hold, novidade que parecia anunciar um disco novo de Porches para breve. Essa previsão confirmou-se no final de maio com o anúncio de um novo álbum do projeto, um registo de originais intitulado Shirt, que irá chegar aos escaparates a dezanove de setembro com a chancela da Domino Recordings.

Depois de também já termos divulgado Joker, a oitava composição do alinhamento de Shirt, hoje chega a vez de escutarmos Itch, o sétimo tema do disco. Se Rag assentava num indie rock cru e intenso, com um perfil noventista bastante vincado e Joker numa filosofia estilística com um curioso travo folk, Itch coloca as fichas num perfil mais minimal, orgânico e sujo, com o grunge em declarado ponto de mira. Confere Itch e o vídeo do tema dirigido por Nick Harwood, que já tinha tomado as rédeas dos filmes que ilustram Rag e Joker...

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publicado por stipe07 às 18:46

SPRINTS - Letter To Self

Segunda-feira, 08.01.24

Formados em dois mil e dezanove, os irlandeses SPRINTS de Karla Chubb (vocalista), Colm O’Reilly (guitarrista), Jack Callan (baterista) e Sam McCann (baixista), são uma das grandes sensações deste já vertiginoso início sonoro de dois mil e vinte e quatro. Sedeados em Dublin, apostam num indie rock incisivo, cru e imponente, à sombra de um catálogo interessante de influências que abraçam os cânones essenciais do grunge, do garage e do gótico, estilos que se cruzam e se mesclam sem receios nas suas criações sonoras, nomeadamente num alinhamento de onze canções intitulado Letter To Self, produzido por Daniel Fox e que viu a luz do dia por estes dias, com a chancela da City Slang.

Sprints: Letter to Self review — the explosive Irish band join a thriving  scene

Cada vez é mais difícil escutar um disco e sermos, no imediato, trespassados pelo seu conteúdo e tal suceder sem apelo nem agravo. Letter To Self é um forte, seco e contundente murro no estômago, um registo que nos recorda que a música ainda consegue surpreender e que ainda há esperança para quem já não acredita que é possível agitar as águas com algo de sustancialmente diferente do que o habitual e, melhor do que isso, inovador. Os SPRINTS não inventaram nenhuma fórmula nova, não descobriram a pólvora, como se costuma dizer, mas constate-se, em abono da verdade, que foram tremendamente eficazes no modo como sugaram para o seu âmago um leque de influências bem delineado e, dando-lhe um cunho pessoal que se transformou rapidamente em adn indistinto, criaram, logo na estreia, uma verdadeira obra-prima, porque é disso que Letter To Self se trata.

Logo a abrir o disco, na guitarra abrasiva e no modo como a bateria cresce em Ticking até à explosão eufórica rebarbada que é depois afagada pela voz de Karla, fica explícita a cartilha destes SPRINTS. Depois, em Heavy, com um ímpeto de imediatismo e de urgência indisfarçáveis e nos braços de uma melodia algo hipnótica e sombria, torna-se ainda mais óbvio o receituário que nos é aplicado, atingindo terrenos algo progressivos em Cathedrals, um festim punk que racha de alto a baixo qualquer convenção ou alicerce. Shaking Their Hands ainda tenta, sem sucesso felizmente, afagar um pouco a toada, através de um clima mais íntimo e clemente, mas o hino de estádio Can't Get Enough Of It, o travo psicadélico de Adore Adore Adore e, principalmente, o modo principesco como em A Wreck (A Mess) e Up And Comer o ruído torna-se sinónimo de coerência, enquanto estabelece uma relação íntima conosco que preenche, esclarecem-nos que este naipe de composições foi pensado para satisfazer até à exaustão a ânsia de todos aqueles que procuram projetos sonoros que fujam ao apelo radiofónico e que, simultaneamente, ofereçam ao rock novos fôlegos e heróis.

Neste disco ímpar, fabuloso, potente e visceral, o modus operandi é, portanto, coerente, claro, incisivo e explicito; Canção após canção é a guitarra que dá o mote, depois a bateria vai ao encontro dela, chocando os dois, muitas vezes, de frente e o baixo faz depois o trabalho sujo de contrabalançar e impôr ordem nessa luta satânica, mas que nunca se mostra desigual, entre cordas e baquetas. Em resultado disso, crueza, vigor, monumentalidade e destreza interpretativa andam sempre de mãos dadas, em quase quarenta minutos que se escutam, como tem que ser, com os punhos cerrados, o queixo altivo e as ancas desgovernadas. A energia e a vibração são constantes e enquanto isso sucede, exorcizamos demónios, enfrentamos os nossos medos e atiramos para trás das costas as nossas hesitações, gritando letras que falam das agruras típicas de quem entra na vida adulta e nem sempre sabe como lidar com os dilemas do amor, o peso da desilusão, as angústias do amanhã ou as marcas que o ontem nos deixou e que teimam em não passar.

Letter To Self é um disco que seduz, instiga e maravilha pela crueza e pela espontaneidade do rock que exala e que contendo aspetos identitários deslumbrantes de todo o espetro sonoro acima identificado, agrega-os com enorme mestria, ao mesmo tempo que define o adn de uma banda que vai ser, apostamos, referência e inspiração para outras. E quando esse patamar se atinge, um pódio ao alcance de poucos, mas que os SPRINTS já ocupam, estamos, obviamente, na presença de uma referência incontornável do indie rock atual. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:01

Pixies – Dregs Of The Wine

Segunda-feira, 12.09.22

Dois mil e vinte e dois tem sido um ano particularmente profícuo para os Pixies. No final do inverno divulgaram uma cançao intitulada Human Crime, em junho último o single There's A Moon On, algumas semanas depois a composição Vault Of Heaven e agora chega a vez de conferirmos mais um tema desta banda americana de rock alternativo formada em Boston, Massachusetts, em mil novecentos e oitenta e seis. A canção intitula-se Dregs Of The Wine e, tal como as antecessoras, fará parte de um disco chamado Doggerel, que chegará aos escaparates daqui a duas semanas, com a chancela da BMG.

Pixies – “Dregs Of The Wine”

De acordo com a própria BMG, Doggerel será um álbum maduro mas visceral, de folk macabro, pop festivo e de um rock brutal, assombrado pelos fantasmas dos negócios e das indulgências, conduzido à loucura pelas forças cósmicas e visualizando vidas onde Deus não providenciou. E, de facto, se, por exemplo, a toada enérgica e vibrante das guitarras que arquitetavam There's A Moon On, além de ilustrarem uns Pixies a tentarem honrar o som roqueiro e lo fi do passado, também mostrava um salutar alinhamento com as tendências mais recentes do campo sonoro em que o quarteto se movimenta, uma permissa particularmente impressiva que se repetiu, com nuances mais sombrias e requintadas, em Vault Of Heaven, agora, em Dregs Of The Wine, os Pixies mostram-se ainda mais arrojados, colocando o melhor grunge noventista em declarado ponto de mira.

Dregs Of The Wine é o primeiro tema criado pelo guitarrista Joey Santiago e comprova, em suma, que Doggerel será um disco explosivo, vibrante e que não será uma obra unicamente saída da mente criativa de Black Francis, mas antes uma feliz conjugação de esforços, que inclui o produtor Tom Dalgety (Royal Blood, Ghost) e as contribuições ímpares, quer no processo de escrita, quer no arquétipo das canções, dos restantes membros da banda, o guitarrrista Joey Santiago, como já referi realtivamente a Dregs Of The Wine, o baterista David Lovering e a baixista Paz Lenchantin. Confere...

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publicado por stipe07 às 12:06

The Family Rain – Memorabilia

Sábado, 08.05.21

Os The Family Rain são uma banda de blues rock, com um percurso de uma década, que inclui um breve hiato de cerca de três anos pelo meio. Formado pelos pelos irmãos William, Ollie e Timothy Walter, este projeto tem no seu cardápio três EPs, diversos singles e um disco de estreia intitulado Under The Volcano, lançado ainda antes da separação em 2016.

On the radar: The Family Rain | MusicRadar

Há cerca de dois anos a banda anunciou nova reunião nas redes sociais e, entretanto, parece vir a caminho também um novo disco deste projeto oriundo de Bath, no sudoeste de Inglaterra. Memorabilia, um portento de indie trash rock lo fi de forte travo grunge, assente em guitarras abrasivas e um registo percurssivo estonteante, é o novo single do trio, um verdadeiro tratado de impetuosidade garageira, pleno de nostalgia, com o melhor do rock dos anos noventa em claro e anguloso ponto de mira. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:29

Dinosaur Jr. – Sweep It Into Space

Quarta-feira, 05.05.21

Se não for por mais nenhum motivo válido, dois mil e vinte e um ficará invariavelmente na história por marcar o regresso dos míticos Dinosaur Jr. de J Mascis, Lou Barlow e Murph aos discos. Recordo que o trio gravou alguns álbuns míticos no século passado, nomeadamente nos anos oitenta e surpreenderam-nos a todos quando se reuniram novamente já neste século, há quase década e meia, tendo editado desde então discos como Beyond (2007), Farm (2009), I Bet On Sky (2012) e Give A Glimpse Of What Yer Not (2016), que se concentram, naturalmente, em guitarras bastante eletrificadas e com uma identidade vincada, uma bateria frenética e um baixo sempre omnipresente, mesmo que não esteja na primeira linha da condução melódica e, o mais importante, numa jovialidade e numa luminosidade festivas que se saúdam e que atestam o habitual excelente humor e positivismo destes três músicos, nuance que se mantém em Sweep It Into Space, o novo disco dos Dinossaur Jr, lançado pelas mãos da JagJaguwar, no passado dia vinte e três de abril.

Dinosaur Jr.'s 'Sweep It Into Space' Review: An Exuberant Musical  Affirmation

Produzido por Kurt Vile, Sweep It Into Space tem logo em I Ain't, tema que evoca o simples desejo de companheirismo musical que definiu a reunião desta banda, todas as marcas identitárias de um perfil interpretativo que foi sempre imagem de marca de um trio que nunca deixou de colocar na linha da frente uma indispensável radiofonia, sem deixar de tocar no âmago de quem os escuta com superior atenção e devoção. Essa coerência prossegue na deliciosa rugosidade da guitarra de I Met The Stones, na taciturna To Be Waiting, na animada Take It Back e na radiosa I Ran Away, sendo Garden, um verdadeiro clássico de rock pulsante, a composição em que o disco atinge um pináculo interpretativo de superior quilate.

Importa referir que, num disco sempre consistente e orelhudo, as vocalizações de Mascis, geralmente de cariz algo aspero e lo fi, mantêm a bitola habitual assente numa interpretação vocal que, contendo o espírito rebelde e a atitude punk do intérprete, nunca deixam de conter uma indispensável faceta melódica e harmoniosa. De facto, Mascis mistura bem a sua voz com as letras e os arranjos das melodias, o que faz com que o próprio som da banda contenha sempre harmonia e delicadeza, mesmo no meio da distorção, até porque, felizmente, o red line das guitarras mantém-se pujante no cardápio sonoro dos Dinosaur Jr., mesmo com a modelagem mais folk que inevitavelmente Vile conferiu ao som global do disco e que é mesmo da sua co-autoria quando toca cordas em I Ran Away. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:47

Surfer Blood – Carefree Theatre

Sexta-feira, 02.10.20

Parece que ainda foi ontem, mas já tem mais de uma década de vida Astro Coast, o extraordinário registo de estreia dos Surfer Blood e que colocou esta banda oriunda da Flórida no mapa e fez dela, logo à partida, como uma das mais promissoras e merecedora de justas odes, álbum após álbum, num percurso discográfico inatacável no que diz respeito ao valor qualitativo do mesmo. Caso dúvidas ainda persistissem sobre isso em algumas mentes mais desatentas ao fenómeno musical indie norte-americano, Carefree Theatre, o novo álbum deste grupo atualmente formado por John Paul Pitts, Tyler Schwarz, Mike McClear e Lindsey Mills é a demonstração suprema de que este é um dos projetos mais luminosos e otimistas do cenário indie alternativo global dos últimos anos, tendo os Surfer Blood sabido, por exemplo, superar com inegável capacidade de superação a trágica morte do guitarrista Thomas Fekete, um dos fundadores da banda, que sofria de um tipo raro de cancro, em dois mil e dezasseis.

Surfer Blood com novo álbum… “Carefree Theatre” – Glam Magazine

De facto, escuta-se Carefree Theatre e existe no álbum uma luz radiante constante, uma boa disposição encharcada de charme e uma elevada e deliciosa dose de otimismo e celebração. Mesmo nos dois temas finais, a reflexiva Dewar e a nostálgica Rose Bowl, um tema que recorda um daqueles momentos da nossa vida que nunca esquecemos e que gostaríamos que se eternizasse, essas sensações positivas mantêm-se à tona e nunca vacilam.

Em canções que se esfumam mais rápido que um cigarro e que desfilam numa sequência estonteante e de tirar o fôlego, são variados os destaques do trabalho. Assim, da toada inicialmente rugosa mas depois fortemente orquestral de Dessert Island, à empatia ensolarada de Karen e ao frenesim pop do tema homónimo, passando, pouco depois, pelo piscar de olhos da distorção das guitarras ao rock mais progressivo em In the Tempest’s Eye e, no ponto alto do disco, pelo energia otimista que exala de Summer Trope, o alinhamento de Carefree Theatre escorre sem conceder espaço para a depressão, o recolhimento e a nebulosidade.

São vários os elementos que contribuem decisivamente para esta descrição tão elogiosa do álbum e uma delas é, sem sombra de dúvida, a voz de John Pitts, um importante fator para todo um positivismo saudável que acaba por ditar uma indisfarçável aproximação com o ouvinte, até porque, melodicamente, é quem decide a maioria dos rumos sonoros que as diferentes canções têm, mesmo que abundem várias camadas de distorção nos alicerces das mesmas. Seja como for e apesar da tal importância da voz, as guitarras são também um dos principais atributos de Carefree Theatre e imprescindíveis para o seu dinamismo. Tocadas pelo mesmo Pitts e por Mike McClear, são extremamente criativas e diversificadas, num registo que parece ter sido pensado para soar bem nos nossos ouvidos, com naturalidade e sem exageros desnecessários, num resultado final verdadeiramente feliz e inspirado.

Catalogados frequentemente como uma banda de surf rock, provavelmente pelos tais desatentos que mencionei acima, os Surfer Blood têm neste Carefree Theatre o disco menos surf rock da carreira, dvendo ser colocado sem receio e de modo cimentado bem no centro do espetro do puro e clássico indie rock, não deixando até de em determinadas distorções e apontamentos, quer do baixo, quer da guitarra, de piscar o olho a espetros sonoros tão variados como o punk ou o próprio garage rock.

Disco tremendamente confiante, dinâmico, altivo, lúcido, objetivo, direto e incisivo e com um forte cariz radiofónico, Carefree Theatre inspira os Surfer Blood a manterem-se fiéis ao seu adn e a não hesitarem nem por um instante na sua louvável cruzada de busca incessante do melhor estilo sonoro, num percurso cheio de energia criativa, marcad, amiúde, por uma angústia quase inofensiva, mas que neste caso está repleto momentos altos e de notável esplendor e júbilo. Espero que aprecies a sugestão... 

Surfer Blood - Carefree Theatre

01. Dessert Island
02. Karen
03. Carefree Theatre
04. Parkland (Into The Silence)
05. In the Tempest’s Eye
06. In My Mind
07. Unconditional
08. Summer Trope
09. Uneasy Rider
10. Dewar
11. Rose Bowl

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publicado por stipe07 às 18:00

Fontaines D.C. – Televised Mind

Quarta-feira, 01.07.20

Um dos discos mais aguardados em dois mil e vinte é, claramente, o novo trabalho dos irlandeses Fontaines D.C., uma das bandas mais excitantes do indie rock atual, um registo intitulado A Hero's Death e que será o segundo da banda de Dublin formada por Carlos O'Connell, Conor Curley, Conor Deegan III, Grian Chatten e Tom Coll, sucedendo ao espetacular registo de estreia do grupo, intitulado Dogrel, lançado o ano passado.

Produzido por Dan Carey, A Hero's Death irá ver a luz do dia no ocaso dia do próximo mês de julho pela Partisan Records e a semana passada, como certamente se recordam, foi destaque neste espaço o single homónimo e o tema I Don't Belong, duas amostras que fizeram por cá adivinhar, desde logo, um disco com onze enraivecidas canções, assentes num punk rock de elevado calibre e com uma forte toada abrasiva, como se exige a um projeto que sempre se fez notar, desde dois mil e dezassete, por uma filosofia estilística de choque com convenções e normas pré-estabelecidas.

Televised Mind, a nova canção que veio a público nas últimas horas do alinhamento de A Hero's Death, confirma e reforça tais impressões. A canção, com o adn típico dos Fontaines D.C., é um convite direto à dança e ao movimento, apelo assente em guitarras combativas e um registo percussivo vibrante e claramente marcado, tema que, de acordo com vocalista dos Fontaines D.C., Grian Chatten, reflete sobre a câmara de eco e como a personalidade é arrancada pela aprovação circundante. As opiniões das pessoas são reforçadas por um acordo constante e somos roubados da nossa capacidade de nos sentirmos errados. Nunca recebemos realmente a educação de nossa própria falibilidade. As pessoas fingem estas grandes crenças para parecerem modernas, em vez de chegarem independentemente aos seus próprios pensamentos.

Numa época do vale tudo, custe o que custar e seja contra quem for, os Fontaines D.C. parecem mais uma vez apostados em fazer mossa e agitar as mentes mais desprevenidas e incautas com composições plenas de chama nas veias e com um travo nostálgico em que a herança de nomes como os The Clash e os Ramones,  mas também os Suicide, os Nirvana e os The Beach Boys, se fazem notar com elevado grau de impressionismo. Confere...

Fontaines D.C. - Televised Mind

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publicado por stipe07 às 11:15

Fontaines D.C. – A Hero’s Death vs I Don’t Belong

Segunda-feira, 22.06.20

Um dos discos mais aguardados em dois mil e vinte é, claramente, o novo trabalho dos irlandeses Fontaines D.C., uma das bandas mais excitantes do indie rock atual, um registo intitulado A Hero's Death e que será o segundo da banda de Dublin formada por Carlos O'Connell, Conor Curley, Conor Deegan III, Grian Chatten e Tom Coll, sucedendo ao espetacular registo de estreia do grupo intitulado Dogrel, lançado o ano passado.

Produzido por Dan Carey, A Hero's Death irá ver a luz do dia no ocaso dia do próximo mês de julho pela Partisan Records e quer o single homónimo quer o tema I Don't Belong, são duas amostras do alinhamento do registo já divulgadas, que fazem adivinhar um disco com onze enraivecidas canções, assentes num punk rock de elevado calibre e com uma forte toada abrasiva, como se exige a um projeto que sempre se fez notar, desde dois mil e dezassete, por uma filosofia estilística de choque com convenções e normas pré-estabelecidas.

Numa época do vale tudo, custe o que custar e seja contra quem for, os Fontaines D.C. parecem mais uma vez apostados em fazer mossa e agitar as mentes mais desprevenidas e incautas com composições plenas de chama nas veias e com um travo nostálgico em que a herança de nomes como os The Clash e os Ramones,  mas também os Suicide, os Nirvana e os The Beach Boys, se fazem notar com elevado grau de impressionismo. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:31

Nothing – GEORGE (A Live Part Time Punks Session, Los Angeles 12.07.2019) EP

Quinta-feira, 04.06.20

Editado em dois mil e catoze, Guilty of Everything foi o trabalho de estreia dos Nothing, uma banda de Filadélfia, que logo nesse primeiro disco clarificou deambular entre a dream pop nostálgica e o rock progressivo amplo e visceral. Após essa estreia, o grupo foi, com mais dois registos no catálogo, Tired Of Tomorrow e Dancing On The Blacktoop, impressionando audiências com um som cativante e explosivo, sempre com fuzz nas guitarras e o nível de distorção no red line, oferecendo, a quem os quisesse ouvir, o melhor da herança do rock alternativo de finais do século passado, suportada por nomes tão fundamentais como os My Bloody Valentine ou os Smashing Pumpkins, só para citar algumas das influências mais declaradas do grupo.

Music: Nothing: 'George' (A Part Time Punks Session) | Punknews.org

Instrumentalmente muito rico, GEORGE (A Live Part Time Punks Session, Los Angeles 12.07.2019), o novo EP dos Nothing, é mais um documento essencial para se perceber a progressão do quarteto, um alinhamento de quatro temas, nos quais se inclui uma versão do clássico Sex And Candy, de Marcy’s Playground, em que apesar da primazia das guitarras, também conta com algumas sintetizações que conferem ao som do EP uma toada muito rica e luminosa e um travo pop que ajuda a amenizar o cariz mais sombrio do rock que replicam quer em Zero Day, quer em (HOPE) Is Another Word With A Hole In It.

A voz é um dos detalhes mais assertivos do EP; Ela sopra na nossa mente e envolve-nos com uma toada emotiva e delicada, contrastante com a rudeza das distorções, provocando, apesar do ruido sombrio das guitarras, um cocktail delicioso de boas sensações. Geralmente em reverb, numa postura claramente lo fi, ela é uma consequência lógica das opções sonoras do grupo e um elemento importante para criar o ambiente soturno e melancólico pretendido.

EP com forte cariz social, bastente atual e claramente de intervenção, GEORGE (A Live Part Time Punks Session, Los Angeles 12.07.2019), contém um certo charme vintage que busca o feliz encontro entre sonoridades que surgiram há décadas e se foram aperfeiçoando ao longo do tempo e ditando regras que hoje consagram as tendências mais atuais em que assenta o indie rock com um cariz fortemente nostálgico e contemplativo, mas também feito com os punhos cerrados e a apelar ao nosso lado mais selvagem e cru. Espero que aprecies a sugestão...

Nothing - GEORGE (A Live Part Time Punks Session, Los Angeles 12.07.2019)

01. Zero Day
02. (HOPE) Is Another Word With A Hole In It
03. The Dead Are Dumb
04. Sex And Candy (Originally By Marcy’s Playground)

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publicado por stipe07 às 11:45






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