man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Wilco - Cousin
Os norte americanos Wilco de Jeff Tweedy são um dos projetos mais profícuos do universo indie e alternativo atual. Não cedem à passagem do tempo, não acusam a erosão que tal inevitabilidade forçosamente provoca, mantêm-se firmes no seu adn e conseguem, disco após disco, apresentar uma nova nuance interpretativa, ou uma nova novela filosófica que surpreenda os fãs e os mantenha permanentemente ligados e fidelizados. Cousin, o novo álbum dos Wilco, não foge a essa permissa, depois de no ano passado, no registo duplo Cruel Country, a aposta ter sido num travo eminentemente folk, que foi, à época, uma espécie de regresso às origens e aos primórdios da carreira da banda de Chicago, no Illinois.
Cousins vê hoje a luz do dia com a chancela da própria etiqueta da banda, a dBpm. O seu alinhamento de dez canções foi produzido pela galesa Cate Le Bon, que já mexeu em álbuns de nomes como os Deerhunter, Kurt Vile, Tim Presley e John Grant e os seus pouco mais de quarenta minutos oferecem-nos, sem qualquer dúvida, uma manifestação impressiva de que Jeff Tweedy e os seus fiéis companheiros ainda têm muito para dar e, claro, para vender.
Logo a abrir o registo, a espiral elétrica e a vasta miríade de sopros, distorções e insinuações percurssivas que sustentam Infinite Surprise, trazem-nos logo à memória a memorável herança da obra prima da banda de Chicago, o aclamado Yankee Hotel Foxtrot de dois mil e um, ainda hoje, com inteira jutiça, um dos discos essenciais da indie folk rock alternativa contemporânea. Logo de seguida, o piano e as distorções cavernosas de Ten Dead, esclarecem-nos que, de facto, Cousin não será um decalque exaustivo de uma fórmula, mas mais um passo firme e faustoso em frente no enriquecimento do adn de um projeto incomparável no modo como disserta, sem preconceitos e amiúde até de forma irónica, sobre uma América que vive uma contemporaneidade algo perigosa, fraturada em dois extremos dominantes, recentemente espartilhada por um vírus que não não foi fácil de lidar nesse vasto território e ensaguentada de traumas e males raciais, assentes numa sequência nada feliz de décadas e até de séculos de casos mal resolvidos, que remontam ao período da escravatura, o grande motivo da Guerra Civil que o país viveu há pouco mais de duzentos anos e que deixou fantasmas ainda a pairar.
As cordas reluzentes de Leeve e, principalmente, de Evicted, duas canções que obedecem a um modus operandi que aproxima os Wilco de uma psicadelia blues de superior filigrana, que se escuta com aquela intensidade que fisicamente não deixa a anca indiferente, colocam Cousin num eixo mais radiofónico, mas sem deixar de lado a faceta experimental e lisérgica que o grupo tanto preza e que certamente quis que este seu novo trabalho tivesse. É um experimentalismo folk, conduzido por cordas mais acústicas e com um travo de minimalismo lo fi, aspectos que são, como se sabe, traves mestras no percurso discográfico do projeto, marca que o próprio Yankee Hotel Foxtrot tão bem ilustrava em canções como War On War, ou Jesus Etc.. Volto a referir-me à obra prima de dois mil e um porque, de facto, conhecendo minuciosamente a discografia dos Wilco, esse é, sem dúvida, o disco da banda que maior influência terá tido no processo de incubação de Cousin.
Se no início do milénio a fórmula que orientou Yankee Hotel Foxtrot pretendia revolucionar o adn Wilco, pouco mais de duas décadas depois, não há como negar que o propósito foi semelhante. O processo de incubação inicial de Cousin terá tido em mente materializar de modo espedito, uma fórmula interpretativa que originasse canções dominadas por guitarras, mas a exibirem linhas e timbres com um clima marcadamente progressivo e rugoso e onde não faltasse, se necessário, piscares de olhos a climas mais sintéticos, intimistas e jazzísticos, como evidenciam Sunlight Ends e A Bowl and A Pudding, uma visão detalhística aprimorada que temas como I'm Trying To Break Your Heart ou Radio Cure plasmaram, com alma e luz, em dois mil e vinte e um.
Finalmente, o intrigante clima algo hipnótico, mas visceral de Cousin, o tema homónimo, uma canção feita para se escutar de punhos cerrados, a monumentalidade de Pittsburgh, um verdadeiro tratado de sentimentalismo latente e de pura melancolia, uma canção que nos embarca numa viagem lisérgica ímpar e que subjuga momentaneamente qualquer atribulação que no instante da audição nos apoquente e a bonomia complacente da lindíssima balada Soldier Child, enriquecem ainda mais o esplendor de um disco que, colocando na linha da frente o lado mais sensível e emotivo do grupo, deixa no ouvinte a perceção clara que foi espetacular o momento em que os Wilco optaram por ligar a sua faceta experimental mais uma vez a pleno gás para, obtendo um balanço delicado entre o quase pop e o ruidoso e sem nunca descurar aquela particularidade fortemente melódica que costuma definir as suas composições, conseguirem criar uma verdadeira obra-prima que irá certamente figurar, com inteira justiça, num lugar bastante cimeiro dos melhores discos da carreira do projeto.
O amor, a paixão e as suas travessuras, nas quais se incluem críticas mais ou menos veladas a uma América contemporânea cada vez menos socialmente justa e refém dos seus medos, como de certo modo referi acima, sempre foram temáticas bastante importantes para Jeff Tweedy que, servindo-se dos Wilco, nunca deixou de surpreender pelo modo como foi diversificando a sua abordagem a estes conceitos ao longo de mais duas décadas. Do repentismo sincero e inconsciente de Wilco A.M., ao trato leve e sublime em Sky Blue Sky, passando pela imersão em vários psicoativos sentimentais em Yankee Hotel Foxtrot, ou fazendo uma primeira súmula de como sentem e vibram com sentimentos tão intensos, tentada em The Whole Love, os Wilco conseguem, neste Cousin, uma vez mais, a sempre tão desejada visão caricatural daquilo que os move como pessoas e músicos, enquanto enriquecem uma história discográfica, às vezes barulhenta e intensa, outras mais introspetiva e carregada de soul, mas sempre tremendamente criativa e instigadora. Espero que aprecies a sugestão...
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Wilco - Cousin (single)
Os norte americanos Wilco de Jeff Tweedy são um dos projetos mais profícuos do universo indie e alternativo atual. Não cedem à passagem do tempo, não acusam a erosão que tal inevitabilidade forçosamente provoca, mantêm-se firmes no seu adn e conseguem, disco após disco, apresentar uma nova nuance interpretativa, ou uma nova novela filosófica que surpreenda os fãs e os mantenha permanentemente ligados e fidelizados. Cousin, o novo álbum dos Wilco, não fugirá certamente a essa permissa, depois de no ano passado, no registo duplo Cruel Country, a aposta ter sido num travo eminentemente folk, uma espécie de regresso às origens e aos primórdios da carreira da banda de Chicago, no Illinois.
Cousins irá ver a luz do dia com a chancela da própria etiqueta da banda, a dBpm. O seu alinhamento de dez canções foi produzido pela galesa Cate Le Bon, que já mexeu em álbuns de nomes como os Deerhunter, Kurt Vile, Tim Presley e John Grant e será, sem qualquer dúvida, uma manifestação impressiva de que Jeff Tweedy e os seus fiéis companheiros ainda têm muito para dar e, claro, para vender.
O mais recente single divulgado de Cousin é exatamente a composição que dá nome ao disco. Cousin é um tema vibrante, melodicamente algo hipnótico porque assenta num curto trecho melódico, incubado por cordas reluzentes, intenso e repetitivo, que vai sendo adornado por diversos efeitos e arranjos, um modus operandi que aproxima os Wilco de uma psicadelia blues de superior filigrana, que se escuta com aquela intensidade que fisicamente não deixa a anca indiferente. Confere...
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GUM – Saturnia
GUM é um projeto a solo liderado pelo australiano Jay Watson, um músico com ligações estreitas aos POND e aos Tame Impala, que ultimamente tem feito faísca no nosso radar devido aos singles que foi divulgando do seu novo disco, um trabalho intitulado Saturnia, que viu recentemente a luz do dia e que sucede ao registo Out In The World, que o artista lançou em dois mil e vinte.
Saturnia tem a chancela da Spinning Top e nas suas dez canções Jay Watson executa, com elevada mestria, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências, que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop sinfónica de década seguinte, passando por alguns dos detalhes essenciais do jazz, da folk, do R&B e da própria eletrónica. Como é óbvio, existe uma vibe psicadélica incomum, mas prodigiosa, em toda esta amálgama, uma constatação que canções como Race To The Air e Would It Pain You To See?, dois temas com uma toada crescente e progressiva e que colocam todas as fichas num baixo vigoroso e num registo vocal de forte cariz lisérgico, exemplarmente ilustram.
De facto, Saturnia, um álbum repleto de arranjos meticulosos e em que o detalhe é um aspeto essencial, contém instantes que tanto agarram num piano pelas rédeas para indicar o caminho melódico que uma canção deve seguir como, logo a seguir, oferecem à guitarra a primazia nessa demanda. E muitas vezes esse caminho é feito por ambos, cordas e teclas, de mãos dadas, cabendo depois aos sintetizadores, geralmente encharcados em cosmicidade e a sopros e outras cordas, o extraordinário papel de adorno, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchido com um travo de fragilidade e inocência que é, sem dúvida, um dos grandes atributos de Saturnia.
O perfil ecoante e planante de Argentina, um oásis de luminosidade e complacência, ou o carimbo tremendamente rugoso das guitarras que se acotovelam em Muscle Memory, são outros dois bons exemplos da enorme disparidade sonora sagaz de Saturnia, uma evidência que funciona, em simultâneo, como um enorme elogio, porque é neste jogo de aparentes contradições que o ouvinte é instigado, seduzido e prendido a uma audição que vicia. O dedicado e harmonioso dedilhar de uma viola acústica e o falsete ecoante de Jay Watson em Music Is Bigger Than Air e, na mesma toada, a singela e sentida acusticidade de Real Life, são mais duas lindíssimas canções, de forte pendor íntimo e contemplativo, que deixam a nu o tremendo dinamismo de um álbum que se deixa conduzir, como é natural, por muitas das imagens de marca daquele que é o habitual registo psicadélico de projetos conterrâneos que todos conhecemos e que comprovam que a Austrália é um manancial deste espetro sonoro do indie rock, mas também pelo que de melhor a contemporaneidade indie vai oferecendo a Jay. E o bónus é quarenta e dois minutos depois do início da audição ficarmos com a certeza de que Saturnia exala uma luminosidade imponente, ainda mais charmosa e classicista do que essas notáveis referências. Espero que aprecies a sugestão...
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Teenage Fanclub – Nothing Lasts Forever
Trinta anos após o registo de estreia e quatro do excelente disco Here, os icónicos veteranos escoceses Teenage Fanclub, formados por Norman Blake, Raymond McGinley, Francis Macdonald, Dave McGowan e Euros Childs, voltaram em dois mil e vinte e um ao ativo e mais efusivos e luminosos do que nunca, com Endless Arcade, doze canções de um projeto simbolo do indie rock alternativo e que provou, nesse registo, que ainda tem um lugar reservado, de pleno direito, no pedestal deste universo sonoro.
Um ano depois desse belíssimo regresso, ou seja, o ano passado, o projeto escocês voltou a dar sinais de vida com uma nova composição intitulada I Left A Light On, que acabou por ser a primeira amostra de um novo trabalho dos Teenage Fanclub, um disco intitulado Nothing Lasts Forever, que acaba de chegar aos escaparates, com a chancela da Merge Records e da PeMa, etiqueta do próprio grupo.
A ideia de luz é o foco central de um portentoso alinhamento de dez canções que, no seu todo, encarnam um tratado de indie rock com aquele perfil fortemente radiofónico que sempre caracterizou os Teenage Fanclub. De facto, Nothing Lasts Forever, um álbum encharcado em positividade, sorridente melancolia, inocente intimismo e ponderado pendor reflexivo, é um caminho seguro, retílineo e consistente rumo aquele indie rock que provoca instantaneamente sorrisos de orelha a orelha, independentemente do estado de espírito inicial. É um disco cheio de canções leves, melodicamente sagazes e, se forem analisadas tendo em conta o catálogo já vasto do projeto, são imperiosas no modo como, com uma intensidade nunca vista no quinteto, desbravam caminho até uma mescla contundente entre os primórdios da indie folk, a britpop e o melhor rock oitocentista.
Logo a abrir o disco, em Foreign Land, o modo como uma rugosa e épica distorção é trespassada por cordas vibrantes e melodicamente irrepreensíveis, cativa de imediato o ouvinte, ao mesmo tempo que o esclarece devidamente acerca da caraterização do adn que fez dos Teenage Fanclub, ao longo destas décadas, uma banda de pedestal, ou seja, uma referência obrigatória para muitos outros grupos que também procuram o seu lugar ao sol. A guitarra elétrica que acama Tired Of Being Alone é outra imagem de marca e, ao mesmo tempo, um porto seguro para uma canção sentimentalmente desafiante e o piano de I Left A Light On, a prova do apurado ecletismo e da superior sagacidade interpretativa de um quinteto que, por incrível que pareça, pode muito bem estar, à boleia de Nothing Lasts Forever, no pináculo da carreira.
O disco prossegue e no embalo percurssivo de It's Alright, uma canção com um espírito veraneante anguloso, no travo surf punk de Falling Into The Sun, ou na singela acusticidade que atiça a lágrima fácil ao som de Middle Of My Mind, somos afagados por quase quarenta minutos feitos de canções assobiáveis, mas com substância, que dão vida a um bom disco de indie pop rock, feito da mais pura estirpe escocesa. Nothing Lasts Forever é calor e luz, mas ouve-se em qualquer altura do ano. Intenso, poético e cheio de alma, exala um sedutor entusiasmo lírico, uma atmosfera sempre amável e prova que, quando os intérpretes têm qualidade, escrever e compôr boa música não é uma ciência particularmente inacessível. Aliás, para os Teenage Fanclub nunca foi. Espero que aprecies a sugestão...
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Woods - Perennial
Com uma dezena de discos no seu catálogo, os Woods são, claramente, uma verdadeira instituição do indie rock alternativo contemporâneo. De facto, esta banda norte americana oriunda do efervescente bairro de Brooklyn, bem no epicentro da cidade que nunca dorme e liderada pelo carismático cantor e compositor Jeremy Earl e pelo parceiro Jarvis Taveniere, aos quais se junta John Andrews, tem-nos habituado, tomo após tomo, a novas nuances relativamente aos trabalhos antecessores, aparentes inflexões sonoras que o grupo vai propondo à medida que publica um novo alinhamento de canções. E foi isso que sucedeu em dois mil e vinte com Strange To Explain, um álbum que, plasmando tais laivos de inedetismo, entroncou num fio condutor, com particular sentido criativo, enquanto abarcou todos os detalhes que o indie rock, na sua vertente mais pura e noise e a folk com um elevado pendor psicadélico permitem.
Agora, três anos depois desse espetacular registo que figurou na lista dos melhores álbuns de dois mil e vinte para a nossa redação, na décima nona posição, os Woods estão de regresso aos discos com Perennial, um alinhamento de onze canções que acaba de ver a luz do dia com a chancela da Woodsist. Perennial começou por ser incubado na mente de Jeremy e depois os esboços das canções foram aprefeiçoados por toda a banda na casa do músico em Nova Iorque e nos estúdios Panoramic House, sedeados em Marin County, a norte de São Francisco, na Califórnia.
E de facto, como é norma nos Woods, Perennial é mais uma guinada no percurso sonoro do projeto. Mantendo o perfil eminentemente indie folk, trespassado por algumas das principais nuances do rock alternativo contemporâneo, é um disco que, no entanto, coloca elevado ênfase num indisfarçável clima jazzístico. Logo no registo percurssivo do instrumental The Seed, nota-se com clareza essa aposta que rapidamente se percebe que irá ser preponderante nos quase quarenta e cinco minutos do trabalho. Essa canção coloca também a nú a cada vez mais elaborada e eficazmente arriscada filosofia experimental interpretativa de um grupo bastante seguro a manusear o arsenal instrumental de que se rodeia, apostando cada vez mais em composições com arranjos inéditos e que são melodicamente abordados e construídos através de uma perspetiva que se percebe ter resultado de um trabalho aturado de criação que, tendo pouco de intuitivo, diga-se, plasma, com notável impressionismo, a enorme qualidade musical dos Woods. Between The Past, uma belíssima composição nostálgica, solarenga e ecoante, com um elevado travo reflexivo e íntimo, adornada por cordas exemplarmente dedilhadas, uma guitarra encharcada num fuzz fascinante e conduzida por uma bateria enleante, é um exemplo claro dessa aposta que mostra vigor, segurança e enorme cumplicidade. Depois, e ainda na senda dos instrumentais, uma aposta cada vez maior dos Woods e que também comprova este modus operandi abrangente, White Winter Melody afirma com esplendor esta toada mais jazzística e subtilmente experimental. São duas composições que, simultaneamente, nos alegram e nos conduzem à introspeção e que nos mostram uma intenção clara de estabelecer um diálogo sonoro connosco que convide à reflexão, ao mesmo tempo que nos induzem uma sonoridade agradável, sorridente e o mais orgânica possível. Antes disso, o clima psicadélico da melodia hipnótica sintética que sustenta o andamento de Another Side, é outro destaque inevitável num disco que, canção após canção, deslumbra, seduz e instiga, sem o mínimo pudor.
Até ao ocaso de Perennial, a luminosidade ofuscante do efeito cósmico que contantemente se insinua em Sip Of Happiness, o som leve, cativante e repleto de texturas lisérgicas de Little Black Flowers, os efeitos borbulhantes que navegam nas águas calmas de Day Moving On ou o clima sedutor que se estabelece entre sintetizador, viola e bateria em The Wind Again, são outros exemplos bonitos dessa busca por um clima otimista, reluzente e aconchegante, que marca profundamente Perennial.
Um dos traços que mais impressionam na audição de Perennial é a quase presunçosa segurança que os Woods demonstram na criação e na interpretação de canções que, tendo claramente o adn Woods, não são assim tão óbvias para os ouvintes que conheçam com profundidade a carreira do grupo, principalmente quando em Woop o melhor rock oitocentista é objeto de uma bem merecida homenagem. Esta sagacidade e esta altivez servem para aumentar ainda mais a pontuação de um trabalho que, sendo eminentemente crú e envolvido por um doce travo psicadélico, passeia por diferentes universos musicais sempre com superior encanto interpretativo e sugestivo pendor pop, traves mestras que melodicamente colam-se com enorme mestria ao nosso ouvido e que justificam, no seu todo, que este seja um dos melhores registos do já impressionante catálogo de uma banda fundamental do rock alternativo contemporâneo. Espero que aprecies a sugestão...
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Sun June – Easy Violence & John Prine
Bad Dream Jaguar é o fantástico título do novo trabalho do projeto norte-americano Sun June, um quinteto sedeado em Austin, no Texas e formado por Laura Colwell, Michael Bain, Justin Harris, Sarah Schultz e Stephen Salisbury. Bad Dream Jaguar será o terceiro disco dos Sun June, que se estrearam em dois mil e dezoito com o registo Years, um alinhamento que teve sucessor três anos depois, com o álbum Somewhere.
Bad Dream Jaguar irá ver a luz do dia no final de outubro com a chancela da Run For Cover e Get Enough, uma canção que versa, de acordo com a vocalista Laura Colwell, sobre o sonho impossível que ela guarda dentro de si, de que os The Beatles se irão reunir um dia, foi, como todos certamente se recordam, o primeiro single retirado do seu alinhamento.
Agora, quase um mês depois dessa novidade, há nova extração de composições do alinhamento de Bad Dream Jaguar em formato single e em dose dupla. Refiro-me aos temas Easy Violence e John Prine, respetivamente a sexta e sétima canções do trabalho, duas canções contundentes e fortemente imersivas. Assim, se Easy Violence aposta num piscar de olhos insinuante a algumas das caraterísticas essenciais do melhor R&B contemporâneo, com uma batida hipnótica a ser entrelaçada por vários efeitos enleantes e por um registo vocal bastante sedutor, já John Prine coloca as fichas numa intimidade profundamente melancólica e sentimentalmente tocante, com a voz de Laura e o piano a conjurarem entre si de modo particularmente gráfico. Confere...
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Sparklehorse - Bird Machine
Mark Linkous, o mítico líder dos Sparklehorse, deixou-nos em dois mil e dez, mas continua a estar sonoramente bem vivo, devido a algumas aparições que, de tempos a tempos, materializam-se devido ao vasto arquivo que nos deixou e que continua a ser esmiuçado pelos mais próximos, familiares e amigos. A título de exemplo, o seu habitual colaborador de quando ainda era vivo, Danger Mouse, deu-nos a conhecer, em dois mil e catorze, a canção Ninjarous, já depois de poucos meses depois da morte de Mark ter publicado a compilação Dark Night Of The Soul, que tinha um alinhamento de treze composições e contava com um notável leque de vocalistas: Black Francis dos Pixies, Julian Casablancas dos The Strokes, Vic Chesnutt, Wayne Coyne e os seus The Flaming Lips, Jason Lytle dos saudosos Grandaddy, James Mercer dos The Shins e Broken Bells, Nina Persson dos Cardigans, o sempre prestável Iggy Pop, Gruff Rhys dos Super Furry Animals, Suzanne Vega e o realizador David Lynch, que assinava igualmente as belas fotos que ilustravam o disco.
Quase no natal de dois mil e vinte e dois, todos os fãs dos Sparklehorse tiveram uma extraordinária prenda de natal, um inédito intitulado It Will Never Stop, uma aparição sonora possibilitada pelas mãos generosas de Matt Linkous, o irmão de Mark e que tinha a chancela da ANTI-Records. Esse tema dos Sparklehorse tinha sido tocado pela banda ao vivo em dois mil e sete no evento All Tomorrow Parties e a versão revelada em dezembro tinha sido captada nos estúdios Static King and Montrose Recording e produzida por Matt Linkous, Melissa Moore Linkous e Alan Weatherhead, que também toca guitarra na composição.
It Will Never Stop acabou por ser o primeiro tema revelado de Bird Machine, um disco que tem então a assinatura Sparklehorse a título póstumo. É um alinhamento de catorze canções, com a chancela da ANTI, coproduzido por Alan Weatherhead e que viu recentemente a luz do dia por intermédio do irmão e da cunhada do cantor, Matt e Melissa Linkous, hoje os principais responsavéis pelo espólio de Mark Linkous.
Bird Machine é uma extraordinária obra de arte sonora e, curiosamente, um dos discos mais intensos e luminosos da carreira de um projeto que sempre se abrigou num universo algo depressivo e fatalista. As suas canções gravitam em redor de dois grandes universos sonoros distintos. Algumas das canções do álbum são intensas e de forte cariz lo fi; São composições imediatistas, inebriantes e contundentes, feitas com guitarras encharcadas em eletrificação e com um registo vocal modificado, como é o caso de It Will Never Stop, quase dois minutos que vivem à sombra de um indie rock pujante, experimental, poeirento e ruidoso, pleno de rugosidade, ímpeto e vibração, I Fucked It Up, um épico tratado de punk rock noventista garageiro, Chaos Of The Universe, uma composição com um travo algo progressivo e psicadélico e Listening To The Higsons, um original assinado por Robyn Hitchcock, que fazia parte do álbum Gotta Let This Hen Out!, que o músico britânico, natural de Paddington, nos arredores de Londres, lançou em mil novecentos e oitenta e cinco, aqui revisto com uma tonalidade particularmente crua, minimalista e lo fi, curiosamente imagens de marca inconfundíveis de Robyn Hitchcock, uma das principais influências dos Sparklehorse.
Depois há outros temas que colocam as fichas num perfil mais melancólico e intimista. Uma delas é Evening Star Supercharger, um delicioso tratado de indie rock folk genuíno, luminoso e sorridente e outra é The Scull Of Lucia, tema comandado por uma guitarra dedilhada com tremenda complacência, adornada por metais e por violinos. Hello Lord, um curioso instante de acusticidade confessional, ou Daddy's Gone, uma canção com um perfil mais clássico e até pop, também obedecem a este modus operandi de certo modo mais sentimental e profundo, que esteve sempre na linha da frente da filosofia sonora dos Sparklehorse.
Seja qual for o perfil interpretativo das catorze canções de Bird Machine, a trama geral assenta em guitarras, ora acústicas, ora eletrificadas, amiúde adornadas por diversas sintetizações e detalhes percurssivos, que ganham uma amplitude superior em refrões imponentes, elementos bastante comuns no melhor catálogo indie dos anos noventa do seculo passado. A cereja no topo do bolo do disco acaba por ser o registo vocal de Mark, muito vivo e presente, melancolicamente intenso e a exalar uma genuína entrega a um disco que é um verdadeiro tratado sobre a saudade e uma ode a alguém que era certamente muito especial. Espero que aprecies a sugestão...
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The Natvral – Summer Of No Light
Natural de Nova Jersey, no estado de Princeton, Kip Berman é o líder do projeto que se estreou em dois mil e vinte e um com um aclamado disco intitulado Tethers, que incluía no seu alinhamento de nove canções, vários momentos altos como Why Don't You Come Out Anymore ou Sun Blisters, que chamaram desde logo a atenção da crítica especializada e deixaram o músico norte-americano na retina.
Agora, em dois mil e vinte e três, Kip Berman está de volta com o seu segundo disco à sombra da banda The Natvral, que conta também na sua composição com os músicos Brian Alvarez (bateria), Josh Rumble (baixo), Kyle Forester (teclados) e Mike Brenner (sintetizações). É um trabalho intitulado Summer Of No Light, um alinhamento de nove canções que acaba de ver a luz do dia com a chancela da Painbow Music.
Kip Berman é, certamente, religioso seguidor e fâ acérrimo dos grandes nomes que sustentam a melhor indie folk norte-americana das últimas quatro décadas. As suas novas canções, que enfeitam os pouco mais de trinta e seis minutos de Summer Of no Light, são vibrantes, luminosas, intrumentalmente bastante ricas e diversificadas e o eixo condutor das mesmas, o tronco sonoro em que se sustentam é, claramente, aquela indie folk que pisca o olho com enorme gula à hernaça do melhor rock alternativo, numa mescla que nomes como Kurt Vile ou Damien Jurado abraçam, nos dias de hoje, com enorme deleite e que instituições do tamanho de um Bruce Springsteen ou de um Paul Simon, ajudaram a criar em temos memoráveis e que, diga-se, não são assim tão longínquos.
De facto, Summer Of No Light é um inebriante catálogo de nove canções com um tremendo espírito positivo, encantador e mágico, incubadas por um dos mais promissores novos cantautores e filósofos da América do Norte. São nove relatos impressivos de vivências, que podem ser associadas, facilmente e sem qualquer pudor, à nossa própria existência mundana, encarnados em composições melodicamente irrepreensíveis e instrumentalmente fartas.
Composições como Lucifer’s Glory, a épica e vibrante A Glass Of Laughter e, principalmente, Summer Of Hell, são excelente tratados de indie folk tipicamente americana, que exalam uma luminosidade ímpar enquanto encarnam um piscar de olhos feliz ao adn sonoro mais caraterístico do outro lado do atlântico. São temas que comunicam com o nosso âmago com incrível proximidade, devido a um modus operandi sonoro que, algures entre a penumbra e a luz, sobrevive à boleia de um timbre nas cordas, que tanto pode ser delicado como rugoso e que está bem tipificado numa forma de manobrar melodicamente a guitarra, com um misto de inquietude e de serenidade. É um estilo que se vai aprimorando amiúde com soberbo intimismo, num resutado final que encarna um exercício exemplar de majestosa radiofonia, pleno de uma sofisticação muito própria e de elevado nível no panorama da indie folk contemporânea. Espero que aprecies a sugestão...
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Ben Lee – 2 Songs I Wrote In 1993 And Recorded Last Week
O australiano Ben Lee lançou o registo I'm Fun! no ano transato, mas já tem mais novidades para os seus seguidores. No início do verão deu as mãos a Georgia Maq para gravarem juntos uma cover dos clássico dos The Replacements Androgynous e agora foi a vez de partilhar o microfone com Alex Lahey para dar vida a Cute Indie Girls, uma extraordinária canção que faz parte de um novo EP do músico intitulado 2 Songs I Wrote in 1993 and Recorded Last Week.
De facto, e conforme o título indica, este novo EP de Ben Lee inclui no seu alinhamento temas que o músico natural de Sidney escreveu há cerca de três décadas e que estariam gravadas na gaveta, à espera do momento certo para verem a luz do dia. Assim, além de Cute Indie Girls, este EP 2 Songs I Wrote in 1993 and Recorded Last Week, contém a canção Do I Know You?. Ambas são composições estilisticamente semelhantes, a primeira com um perfil mais folk e a segunda com um travo algo garageiro, mas as duas assentes naquele típico indie rock imediatista e com um perfil eminentemente orgânico e lo-fi, feito de guitarras abrasivas, que oscilam facilmente entre o elétrico e o acústico. Confere...
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Blur – Sticks And Stones
Como os mais atentos certamente sabem, já está nos escaparates há várias semanas o disco mais inspirado que os Blur de Graham Coxon, Damon Albarn, Alex James e Dave Rowntree, nos oferecem desde o extraordinário registo 13 que encerrou o último milenio. O álbum intitula-se The Ballad Of Darren, contém dez canções e sucede ao registo The Magic Whip de dois mil e quinze, materializando o tão badalado regresso à ribalta de uma banda fundamental da música ocidental das últimas três décadas, liderada pelo melancólico e sempre genial, brilhante, inventivo e criativo Damon Albarn, personagem central da cultura pop britânica contemporânea.
Disco inspirado em Darren Smoggy Evans, guarda costas dos Blur há vários anos e ajudante pessoal de Damon Albarn e com uma capa também bastante original, feita a partir de uma fotografia captada em dois mil e quatro por Martin Parr e que ilustra a piscina de uma localidade chamada Gourock, na Escócia, The Ballad Of Darren funciona como uma espécie de tributo a essa personalidade sempre dedicada e leal, ao mesmo tempo que nos recorda que está bem longe do fim a carreira de um grupo ímpar e que está, de pleno direito, no lugar mais alto do pedestal da indústria musical britânica contemporânea.
Foram já vários os singles retirados do alinhamento de The Ballad Of Darren, uma saga que começou na primavera com a divulgação da canção The Narcissist. O lançamento do álbum não interrompe este ciclo de extração de canções do seu catálogo em formato single, já que agora temos a divulgação dos chamados temas extra, que costumam fazer parte das edições de luxo. O mais recente é Sticks and Stones, uma canção cantada por Graham Coxon, à semelhança do que sucedeu em mil novecentos e noventa e nove com a mítica composição Coffee & TV, um dos momentos fundamentais do catálogo dos Blur. Sticks and Stones é uma composição com um toada psicadélica bastante curiosa; Nela, sopros, teclas e diversos efeitos deambulam livremente por uma melodia conduzida por um baixo e por uma guitarra plenos de groove e de firmeza, num resultado final enleante e que nos coloca na senda daquele rock que mistura epicidade e sentimentalismo com indisfarçável harmonia. Confere...