man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Bon Iver – SABLE, EP
Seis anos depois do disco i,i, Justin Vernon, que assina a sua música como Bon Iver, está finalmente de regresso aos nossos holofotes à boleia de SABLE um novo EP do músico norte-americano, um alinhamento de três canções gravadas entre dois mil e vinte e dois mil e vinte e três nos seus estúdios April Base Recording Studio, no Wisconsin e que acaba de ver a luz do dia, com a chancela da Jagjaguwar.
Segurando aos ombros década e meia de uma carreira recheada de momentos intensamente ricos, Bon Iver tem sempre à sua espera elevadas expetativas por parte dos seus seguidores mais devotos e do público em geral, nomeadamente quando coloca nos escaparates novas canções, independentemente do formato das mesmas. SABLE, mesmo tendo uma quantidade tão limitada de temas, é, sem qualquer sombra de dúvida, um verdadeiro manjar dos deuses para quem aprecia esta cartilha sonora que tem na folk acústica o seu grande sustento, mas que também olha para alguns dos detalhes essênciais da eletrónica ambiental contemporânea e até do próprio jazz com uma certa gula.
Sendo, então, logo à partida, um registo tão sedutor, SABLE ainda ganha maior relevância quando se percebe, na primeira audição, que marca o regresso de Bon Iver aos primórdios da sua carreira, que era marcada por um perfil sonoro eminentemente minimalista e até algo cru, mas sempre profundamente emotivo e tocante, nuances que estavam bem presentes, por exemplo, em For Emma, Forever Ago, o disco de estreia do artista, lançado em dois mil e sete. E esse é, em suma, o registo sonoro que sustenta SABLE, que conta nos créditos da produção com o experiente Jim-E Stack.
SPEYSIDE, um charmoso portento de acusticidade intimista, que impressiona pelo modo como o dedilhar complacente das cordas e a voz única de Vernon conseguem uma proximidade muito íntima com o ouvinte, é o exemplo perfeito deste modus operandi irresistível, que derrete os mais incautos e cuja codificação está, muitas vezes, apenas ao alcance daqueles que sabem o que é ter tido um coração partido e o quanto custa recuperar dessa e de outras agruras que a vida constantemente nos coloca, sem nenhuma cicatriz e completamente incólume. Talvez seja este o motivo pelo qual a música de Bon Iver, sendo tão simples e direta, mas também reveladora e inspiradora, cativa tanto e preenche a alma de muitos. Depois, a constante rejeição do músico pelos holofotes e o modo como defende causas sociais e ambientais de forma tão acérrima, ajuda ainda mais a apimentar esta relação entre artista e plateia que SABLE vai certamente cimentar.
Mas SABLE não é apenas e só sobre dor, solidão e perca. THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS é uma das canções mais otimistas e inspiradores que tivemos a oportunidade de escutar nesta redação nos últimos tempos, com o timbre delicado das cordas e a sobreposição vigorosa que impôe a uma batida rugosa, a conferirem à composição uma tonalidade simultaneamente intimista e encorajadora. É uma espécie de convite convicto a um cerrar de punhos perante uma circunstância qualquer que tenha sido dolorosa e a um olhar em frente seguro e que deixe para trás, definitivamente, um ciclo de dor e de auto comiseração que não beneficia certamente ninguém. Depois, a finalizar o EP, o travo a resiliência e a renascimento que exala AWARDS SEASON, apimentando por um som semelhante ao de um vento uivante que se escuta no fundo da voz de Vernon, enquanto deambula um piano e diversas sintetizações cavernosas e uma colagem feliz de sopros, é o remate final de cerca de doze minutos que solidificam o tal cariz mágico e inédito da obra de um artista que continua a ser dos melhores a materializar uma mescla híbrida bem sucedida entre dois universos distintos, o acústico orgânico e o sintético, uma simbiose que, como se comprova, é de possível conciliação e com resultados frutuosos.
SABLE é, em suma, uma tremenda encarnação sonora de maturidade, clareza e confiança, pensada, quiçá, para tratar a tristeza com um ligeiro sorriso, representando bem todo o arco sentimental que abastece a mente sempre aberta de Bon Iver que, uma vez mais, expressa, sem rodeios, alguns recortes dolorosos e metáforas da sua existência, incubando, assim, mais um acervo acessível e encantador na sua carreira. Espero que aprecies a sugestão...
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Wings Of Desire – Shut Up And Listen EP
A dupla britânica Wings Of Desire é natural da cidade de Stroud, no sul de Inglaterra e junto da fronteira com o Pais de Gales. Chamaram a atenção da crítica o ano passado com o disco Life Is Infinitive, uma coleção de treze canções que a banda tinha lançado anteriormente online e que teve a chancela da WND Recordings.
Um ano depois desse álbum, a dupla formada por James Taylor e Chloe Little está de regresso com um novo EP intitulado Shut Up & Listen, um tomo de quatro temas que tem um cariz benemérito, já que a receita da venda de uma edição limitada do registo em formato cassete irá reverter para uma associação da cidade natal chamada The Long Table, que ajuda diariamente com refeições pessoas carenciadas.
Quando a efervescência nebulosa das guitarras que conduzem o tema que dá nome a este EP entram pelos nossos ouvidos, somos transportados para um gloriosa herança sonora enérgica e que sustentou, na década de oitenta do século passado, uma forma de fazer rock que olhava com particular gula para uma certa tonalidade psicadélica, que tinha também um forte travo cinematográfico. E. de facto, a música destes Wings Of Desire tem essa capacidade imediata de fazer ressurgir da mente de quem os escuta, cadeias de eventos, mais ou menos extraordinários e que, muitas vezes, não são mais do que desejos recalcados, ou medos e anseios que o nosso âmago guarda a sete chaves.
Com uma temática bem vincada e que procura encarnar uma espécie de aviso contra o niilismo e a ignorância, alimentados cada vez mais por uma distopia digital que ameaça perigosamente a Mãe Terra, através de massas automatizadas e influenciadores algorítmicos que nos poderão levar para um futuro distópico, Shut Up And Listen impressiona por este ponto de vista algo apocalítico em que o universo e a Terra estão a já a exibir as suas próprias formas de vingança bíblica, na forma de inundações, furacões, tremores de terra ou explosões solares. No entanto, canções como Forgive and Forget (Reprise), composição que os Arcade Fire não menosprezariam ter no seu catálogo, também nos dão um laivo de esperança no futuro, porque enquanto existirmos como espécie, também haverá lugar para o amor e para a compreensão relativamente ao outro.
Assim, este aviso constante relativamente a uma possível destruição iminente, é-nos suavemente entregue com melodias vibrantes, recriadas não só pelas já referidas guitarras, mas também por sintetizadores planantes, que incubam portentos de krautrock com um groove hipnotizante, verdadeiros orgasmos de rock progressivo, vigorosos mas também melancólicos, onde não falta um forte apelo ao airplay radiofónico, mas também à introspeção pura e dura. Este EP é, de facto, um verdadeiro soporífero, feito de versos fortes e cantantes e refrões gritantes, verdadeiros hinos de estádio que nos mostram que ainda podemos viver neste mundo a tentar melhorar o nosso eu, em busca de uma efémera perfeição. Espero que aprecies a sugestão...
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Wilco – Hot Sun Cool Shroud EP
Os norte americanos Wilco de Jeff Tweedy são um dos projetos mais profícuos do universo indie e alternativo atual. Não cedem à passagem do tempo, não acusam a erosão que tal inevitabilidade forçosamente provoca, mantêm-se firmes no seu adn e conseguem, disco após disco, apresentar uma nova nuance interpretativa, ou uma nova novela filosófica que surpreenda os fãs e os mantenha permanentemente ligados e fidelizados. Cousin, o álbum que os Wilco lançaram o ano passado, não fugiu a essa permissa, assim como o novo EP do projeto, um tomo de seis canções intitulado Hot Sun Cool Shroud, que serve para comemorar os trinta anos de carreira do grupo de Chicago, mas também o verão, o calor e o prazer físico que o sol indubitavelmente transmite.
O formato EP sempre fez parte da história da carreira dos Wilco, mas quase sempre serviu de apêndice aos álbuns que a banda ia lançando. Talvez o melhor exemplo disso seja o EP More Like the Moon, que em dois mil e três fez parte das edições de luxo e promocionais de Yankee Hotel Foxtrot.
Hot Sun Cool Shroud parece ter uma filosofia diferente, não só por causa do hiato temporal relativamente ao último longa duração, mas também, e principalmente, porque a própria estrutura e sonoridade do seu alinhamento parece obedecer ao que a banda de Jeff Tweedy costuma encarnar em disco. Assim, há uma homogeneidade sonora, assente em canções diretas, com um elevado travo orgânico e em que as guitarras assumem o comando estilístico e melódico, mas também uma temática transversal ao registo, o calor, o verão e o sol.
Logo a abrir o EP, em Hot Sun, uma contundente espiral elétrica, acamada por um baixo vigoroso, marca, com elevado virtuosismo, os pouco mais de dezassete minutos do registo. Enquanto Tweedy versa sobre o prazer físico que o sol lhe provoca, um timbre metálico repetitivo, hipnótico e enleante assume as rédeas e, simultaneamente, traz-nos logo à memória a memorável herança da obra prima da banda de Chicago, o aclamado Yankee Hotel Foxtrot de dois mil e um, ainda hoje, com inteira justiça, um dos discos essenciais da indie folk rock alternativa contemporânea. Pouco depois e a seguir ao orgasmo grunge que se escuta em Livid, a psicadelia folk de superior filigrana que nos embala em Ice Cream, pôe em campo a faceta experimental e lisérgica que os Wilco tanto prezam e que certamente quiseram que este EP também tivesse.
O momento maior de Hot Sun Cool Shroud está em Annihilation, uma aprimorada visão detalhística, quer ao nível das cordas, quer da percussão, daquilo que deve estar presente na estutura de uma boa canção de indie rock, que tanto queira exalar uma vertente radiofónica, como climas marcadamente progressivos e rugosos e onde não falte, também, um sempre indispensável piscar de olhos a climas eminentemente experimentais e inéditos.
O intrigante pendor lisérgico de Say You Love Me, uma composição que olha com gula para a herança do melhor catálogo dos famosos fab four, é a proposta que os Wilco nos deixam de banda sonora para um pôr do sol perfeito, rematando assim um mini disco que se tivesse mais duas ou três composições de semelhante calibre, encarnaria, certamente, uma verdadeira obra-prima que mereceria figurar, com inteira justiça, num lugar bastante cimeiro dos melhores discos da carreira do projeto. Espero que aprecies a sugestão...
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No Good With Secrets - Tour Tape EP
Madison James é um profícuo músico norte-americano, natural de New Jersey, membro da banda de Ogbert The Nerd, que lançou recentemente um disco intitulado What You Want, mas também o grande responsável por um curioso projeto a solo chamado No Good With Secrets, que acaba de divulgar um EP com seis canções na plataforma bandcamp, depois do registo de originais Another Side, que editou há pouco mais de um mês.
Os seis temas de Tour Tape EP distribuem-se por três originais e o mesmo número de versões, Casual, um original de Chappell Roan, Kelly, um dos temas fundamentais do catálogo dos The Pains Of Being Pure At Heart e Kiss Me, uma canção assinada por Sixpence None The Richer, em mil novecentos e noventa e sete.
Madison James é um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utiliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que ele idealizou. E basta ouvir estas seis canções para perceber que, realmente, Madison comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de punk folk psicadélico, com uma considerável vertente experimental associada.
Esta filosofia sonora aventureira ganha forma e estilo através de um arsenal sintético bastante diversificado, mas que também não dispensa cordas e diferentes recursos percussivos, mas é mesmo a eletrónica o terreno onde este artista se move com maior conforto, utilizando-a até para reproduzir muitos dos sons mais orgânicos que podemos escutar neste EP.
Tour Tape EP é, em suma, uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas pelo ideário sonoro pretendido para este projeto No Good With Secrets e que parece ter o propósito de materializar uma espécie de súmula do cardápio que preenche o âmago de Madison. Assim, o que temos é, basicamente, um espetacular festim de canções pop ruidosas, exemplarmente picotadas e fragmentadas e que penetram profundamente no nosso subconsciente. Tour Tape EP é eclético, complexo e de audição verdadeiramente desafiante, mas altamente recompensadora. Espero que aprecies a sugestão...
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Wings Of Desire - OUTTAMYMIND
A dupla britânica Wings Of Desire é natural da cidade de Stroud, no sul de Inglaterra e junto da fronteira com o Pais de Gales. Chamaram a atenção da crítica o ano passado com o disco Life Is Infinitive, uma coleção de treze canções que a banda tinha lançado anteriormente online e que teve a chancela da WND Recordings.
Um ano depois desse álbum, a dupla formada por James Taylor e Chloe Little está de regresso com um novo EP intitulado Shut Up & Listen, um tomo de quatro temas que irá ver a luz do dia a trinta de agosto e que tem um cariz benemérito, já que a receita da venda de uma edição limitada do registo em formato cassete irá reverter para uma associação da cidade natal chamada The Long Table, que ajuda diariamente com refeições pessoas carenciadas.
OUTTAMYMIND, tema que encerra o alinhamento de quatro canções de Shut Up & Listen, é o primeiro single retirado do EP: É uma canção que versa sobre o conceito de reincarnação, a existência de vidas paralelas e quantas podemos viver e como podemos melhorar o nosso eu, uma após outra, em busca de uma efémera perfeição. Sonoramente é uma composição expansiva e emocionante, em que sintetizadores planantes e guitarras abrasivas, incubaram um portento de krautrock com um groove hipnotizante, um orgasmo de rock progressivo, vigoroso mas também melancólico, onde não falta um forte apelo ao airplay radiofónico, mas também à introspeção pura e dura.
Confere o vídeo de OUTTAMYMIND e o artwork e a tracklist do EP Shut Up & Listen...
Shut Up And Listen!
Forgive & Forget
Some Old Place I Used To Know
OUTTAMYMIND
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Frans Asthma – Wait Outside EP
Uma das boas surpresas que entrou nos ouvidos da nossa redação por estes dias chama-se Wait Outside, o novo EP de Frans Asthma, um músico norte-americano, natural do Arizona e que se move tranquilamente em territórios sonoros assentes num indie rock atmosférico, com um elevado travo lo fi e um espírito shoegaze ímpar.
Em pouco mais de oito minutos é possível absorver tranquilamente as quatro canções de Wait Outside, um EP em que sedução e melancolia se confundem e se arrastam, no bom sentido, tranquilamente, nas asas de uma guitarra crua, dedilhada com uma delicadeza muitas vezes surreal e uma simplicidade estonteante e que resulta, mas sem deixar de exalar um vigor e uma energia que mexe com os nossos sentimentos mais íntimos.
Tratam-se, portanto, de quatro temas que expandem no catálogo deste músico novos horizontes no campo da experimentação sonora, enquanto materializa um exercício comunicacional ávido com o lado mais indecifrável do ouvinte, o seu âmago, já que existe um travo cinematográfico intenso nestes oito minutos e um convite claro à introspeção, algo que, garantimos, acaba por suceder inconscientemente. De facto, estas quatro canções têm esse efeito mágico sobre quem as escuta e não se sai incólume da audição de um EP cheio de melodias harmoniosas e luminosas e que não deixam ninguém indiferente à sua passagem. Espero que aprecies a sugestão...
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Woods – Five More Flowers EP
Com uma dezena de discos no seu catálogo, os Woods são, claramente, uma verdadeira instituição do indie rock alternativo contemporâneo. De facto, esta banda norte americana oriunda do efervescente bairro de Brooklyn, bem no epicentro da cidade que nunca dorme e liderada pelo carismático cantor e compositor Jeremy Earl e pelo parceiro Jarvis Taveniere, aos quais se junta John Andrews, tem-nos habituado, tomo após tomo, a novas nuances relativamente aos trabalhos antecessores, aparentes inflexões sonoras que o grupo vai propondo à medida que publica um novo alinhamento de canções. E foi isso que sucedeu em dois mil e vinte e três com Perennial, um álbum que, plasmando tais laivos de inedetismo, entroncou num fio condutor, com particular sentido criativo, já que, mantendo a tónica num perfil eminentemente indie folk, foi trespassado por algumas das principais nuances do rock alternativo contemporâneo e colocou um elevado ênfase num indisfarçável clima jazzístico.
Agora, pouco mais de meio ano depois de Perennial, os Woods estão de regresso em formato EP com Five More Flowers, um tomo de cinco canções que foram gravadas durante as sessões de Perennial, mas que ficaram de fora do alinhamenrto do registo. São cinco composições que sobrevivem à custa de um experimentalismo sonoro eminentemente contemplativo e que, entre o indie rock e a folk, exalam um elevado travo psicadélico.
Melodias com um perfil sonoro eminentemente acústico, jogos de vozes que se intersetam entre si continuamente e delicados apontamentos sonoros apadrinhados por teclas e cordas, colocam a nú a elaborada e eficazmente arriscada filosofia experimental interpretativa de um grupo bastante seguro a manusear o arsenal instrumental de que se rodeia e que aposta cada vez mais em composições com arranjos inéditos e que são abordados e construídos através de uma perspetiva que se percebe ter resultado de um trabalho aturado de criação que, tendo pouco de intuitivo, diga-se, plasma, com notável impressionismo, a enorme qualidade musical dos Woods.
Assim, se o EP dá o pontapé de saída com Day Before Your Night, pouco mais de quatro minutos feitos com um som leve, cativante e repleto de texturas lisérgicas, a seguir, Lay With Luck, uma belíssima composição nostálgica, solarenga e ecoante, com um elevado travo reflexivo e íntimo, adornada por cordas exemplarmente dedilhadas, uma guitarra encharcada num fuzz fascinante e conduzida por uma bateria enleante, é um exemplo claro dessa tal aposta que mostra vigor, segurança e enorme cumplicidade. Depois, e ainda na senda dos instrumentais, uma nuance cada vez maior dos Woods e que também comprova este modus operandi abrangente, Stinson Morning, afirma com esplendor esta toada mais jazzística e subtilmente experimental.
Em suma, este EP além de servir de complemento eficaz e aditivo a um disco que tinha uma intenção clara de estabelecer um diálogo sonoro com o ouvinte que convidava à reflexão, ao mesmo tempo que nos induzia uma sonoridade agradável, sorridente e o mais orgânica possível, comprova aquela quase presunçosa segurança que os Woods demonstram na criação e na interpretação de canções que, tendo claramente o adn Woods, não são assim tão óbvias para os ouvintes. E isso acontece, e ainda bem, porque este projeto é exímio a passear por diferentes universos musicais sempre com superior encanto interpretativo e sugestivo pendor pop, enquanto se assume cada vez mais como uma banda fundamental do rock alternativo contemporâneo. Espero que aprecies a sugestão...
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Django Django – Somebody’s Reality & High Line
Três anos depois do registo Glowing In The Dark e do lançamento de uma mão cheia de remisturas e outros temas avulso, disponíveis no bandcamp do projeto, os londrinos Django Django de Dave Maclean, Vincent Neff, Tommy Grace e Jimmy Dixon, estão de regresso aos nosso radar devido ao lançamento de um EP de sete polegas, em formato vinil e digital, que contém os temas Somebody's Reality e High Line.
Estes dois novos temas dos Django Django sobrevivem à custa de uma eletrónica apurada, contando também com a inspirada contribuição do baixo de Isobella Burnham em High Line. Os dois temas são, uma vez mais, a constatação de que este é um projeto tremendamente criativo no modo como arquiteta canções feitas com uma pop angulosa, proposta por quatro músicos que, entre muitas outras coisas, tocam baixo, guitarra, bateria e cantam, sendo isto praticamente a única coisa que têm em comum com qualquer outra banda emergente no cenário alternativo atual.
Somebody's Reality é um oásis de cândura sintética levitante. É uma canção repleta de detalhes e nuances que vão deambulando em redor de uma batida algo hipnótica, adornada por um detalhe sintetizado cósmico repetitivo, com uma proeminente toada vintage. Já High Line é um curioso instrumental com a duração de pouco mais de dois minutos com um travo ambiental anguloso, arquitetado em sintetizações com um sóbrio pendor experimental e com uma cadência encharcada com um groove que apela instantaneamente à dança. Confere...
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TOLEDO – Popped Heart EP
How It Ends foi o maravilhoso disco que a dupla nova iorquina TOLEDO, formada por Dan Alvarez e Jordan Dunn-Pilz, lançou em dois mil e vinte e dois, um registo que teve direito a uma reedição de luxo na primavera do ano passado e que, além do alinhamento original de doze músicas, continha mais alguns inéditos e demos de várias canções que faziam parte do álbum. A dupla ainda não anunciou um novo registo de originais dos TOLEDO em formato longa duração, mas está de volta com um EP de quatro canções intituado Popped Heart.
Em pouco mais de dezito minutos, os TOLEDO oferecem-nos em Popped Heart uma luminosa, efusiante e emotiva coleção de canções pop que, como In Yr Head (1818) tão bem demonstra, contêm um forte pendor eletrónico feito de sintetizações cósmicas e de uma batida vigorosa, nuances que sustentam cinco melodias felizes e cativantes, que vão sendo adornadas por diversos arranjos metálicos percussivos e pelo já habitual registo vocal da dupla, de elevado pendor etéreo, ecoante e adocicado.
Jesus Bathroom é outra curiosa canção deste EP, um tema com fortes reminiscências na melhor pop setentista e que reluz no modo como sobrevive e deslumbra através de sintetizações vibrantes e uma bateria e um baixo vigorosos, enquanto Lindo Lindo, uma composição com um perfil eminentemente jazzístico, aposta num groove e numa irreverência que Say! de certo modo mantém, mas através de um perfil mais etéreo e lo fi.
EP colorido, tocante e charmoso, Popped Heart contém, como seria de esperar, um forte pendor temperamental, enquanto recria, com minúcia e mestria, um ambiente muito peculiar, feito com cor, sonho e sensualidade, catapultando os TOLEDO para um patamar qualitativo sólido, inteligente e feito de um irrepreensível bom gosto. Espero que aprecies a sugestão...
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Sun Kil Moon – Birthday Girl EP
Sun Kil Moon, o projeto atual do cantor e compositor Mark Kozelek, que ficou conhecido por ter sido o líder dos carismáticos Red House Painters, é um dos projetos que constam na listagem da melhor indie folk contemporânea e um dos mais queridos para a nossa redação. Cada novidade de Sun Kil Moon é tragada por cá com delícia e minúcia, algo a que não foge à regra Birthday Girl, um delicioso compêndio de três canções, em formato EP, com a chancela da Caldo Verde Records.
Assim que começamos a escutar as cordas que conduzem Birthday Girl, o tema que dá nome ao EP, ficamos boquiabertos com a exuberância e o dramatismo melódicos que a canção exala, enquanto Mark disserta sobre as memórias de um amor da juventude e de alguns acontecimentos marcantes que essa relação deixou bem impressos na sua memória. Logo a partir dessa experiência ímpar e curiosa, que o marcou em tempos, um aspeto habitual da narrativa de Mark, somos abanados e convidados, sem aviso prévio, a um subtil abanar de ancas, à boleia de Mark Kozelek Died Happy While Fishing, uma hipnótica e inebriante composição, com um curioso travo de epicidade que nos oferece sensações algo inquietantes, mas também acolhedoras. Finalmente, The Call Of The Wild, encarna um instante folk luminoso, algo buliçoso, até, com a voz sussurrante de Mark a contar-nos mais uma história marcante do seu passado, enquanto cordas e um sintetizador travam uma amigável luta enleante, enquanto carimbam um charmoso e indesmentível bom gosto sonoro.
Birthday Girl EP encarna um belíssimo compêndio sonoro, onde a simplicidade melódica coexiste com uma densidade sonora suave que transborda uma majestosa e luminosa melancolia que, diga-se, sabe tremendamente bem nesta altura do ano. Espero que aprecies a sugestão...