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Meltt – Another Quiet Sunday EP

Sábado, 27.05.23

Oriundos de Vancouver, no Canadá, os Meltt têm já uma assinalável reputação no país natal, como uma das bandas que melhor replica aquele rock majestoso e de forte cariz progressivo, enquanto não renega contactos mais ou menos estreitos com outros espetros sonoros, com particular destaque para a eletrónica ambiental, a música de dança e o próprio R&B. Já com um vasto catálogo em mãos, acabam de nos surpreender com Another Quiet Sunday, um EP com cinco canções que vale bem a pena destrinçar.

Meltt Releases New Single “Blossoms” Off Forthcoming EP “Another Quiet  Sunday” Out March 3rd | S.L.R. Magazine

Another Quiet Sunday são dezoito minutos de pura magia, etérea e psicadélica, que nos transporta para um universo sonoro com um adn muito vincado e que encontra as reminiscências estruturais no melhor rock clássico dos anos oitenta. As canções do EP exalam uma sensação de espaço única, aprimorada por um registo vocal leve e arejado, que dá vida a letras propositadamente vagas, permitindo que cada um de nós as interprete do modo que entender.

Guitarras com elevada amplitude, quer ao nível dos efeitos, quer da distorção, explodem em energia e vão ganhando tonalidade e progressão à medida que as canções avançam, sendo esse o arquétipo sonoro essencial de canções que criam paisagens sonoras intensas e onde não falta imensa diversidade, principalmente ao nível das orquestrações e do conteúdo melódico. É uma espécie de odisseia altiva e afirmativa, uma breve, mas intensa, caminhada filosófica e estilística, em que canções do calibre da sumptuosa e planante Blossoms, da vibrante e insinuante Only In Your Eyes, da nostálgica, delicada e contemplativa Within You, Within Me, da orgulhosamente pop It Could Grow Anywhere e da sentimental e cavernosa homónima, justificam todas as odes que se possa oferecer a um registo eminentemente experimental e que tem nas sensações que exala a sua grande força motriz. Espero que aprecies a sugestão...

 

 

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publicado por stipe07 às 16:02

Letting Up Despite Great Faults – Crumble EP

Sexta-feira, 07.04.23

Pouco mais de um ano depois de ter chegado aos escaparates IV, o quarto registo de originais dos Letting Up Despite Great Faults, um coletivo com raízes em Austin, no Texas e formado por Mike Lee (voz, guitarra), Kent Zambrana (baixo), Annah Fisette (voz, guitarra) e Daniel Schmidt (bateria), a banda está de regresso com mais um naipe de canções, que dão vida a um EP intitulado Crumble «, um alinhamento de quatro temas que não desilude os apreciadores daquela indie pop com forte travo shoegaze.

Crumble EP | Letting Up Despite Great Faults

Com uma sonoridade geral simultaneamente vibrante e luminosa, mas também densa e intrincada, Crumble mescla, nas suas quatro composições, diversos modos de interpretar as inúmeras possibilidades que a guitarra elétrica proporciona. Assim, tanto podemos encontrar distorções abrasivas, como efeitos ecoantes, ou então, uma espécie de agregação destas duas nuances, sempre com enorme sentido melódico. Depois, esta grande marca identitária do registo é aprimorada pelo intrigante registo vocal sempre susssurrante e ecoante de Mike Lee e por um baixo vibrante, que nunca descura detalhes típicos da pop e do punk dos anos oitenta. Além disso, uma bateria e uma secção rítmica geralmente aceleradas, como se percebe logo em The Do-Over, mas também na sujidade lo fi da nostálgica e planante Vanity/Losing e, principalmente, na efusiantemente metálica Ricochet, são outros alicerces que sustentam um fantástico tratado de indie noise melódico, que impressiona também porque é claramente diferenciado, contendo, portanto, uma marca identitária muito vincada.

Crumble é, em suma, um EP vibrante e intenso. Os sintetizadores, que também são uma imagem de marca dos Letting Up Despite Great Faults, porque deram sempre um travo muito shoegaze às canções da banda, são, desta vez, substituidos por uma maior primazia dada à orgânica das cordas, fazendo com que estes pouco mais de doze minutos que dura Crumble, exalem um indie pop muito caraterístico, puro e cheio de emoção. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:39

Teen Daze – Fountains Of The World EP

Terça-feira, 04.04.23

Em dois mil e quinze o canadiano Teen Daze chamou a atenção da nossa redação devido a Morning World, o seu quarto registo de originais, um disco que embarcava numa toada eminentemente pop, heterogénea e luminosa, depois de dois anos antes, em Glacier (2013), ter criado ambientes sonoros etéreos e texturas sonoras minimalistas, com um cariz um pouco gélido, de modo a encarnar uma espécie de álbum conceptual que pretendia ser a banda sonora de uma viagem a alguns dos locais mais inóspitos e selvagens do nosso planeta.

Fountains Of The World | Teen Daze

Agora, quase uma década depois, este músico natural de Vancouver e que sempre mostrou um enorme talento para a conceção de composições sonoras bem estruturadas, regressa ao nosso radar devido a um EP intitulado Fountains Of The World. É um alinhamento de quatro canções, que recebeu influências tão curiosas como o italo disco, o house espanhol, ou o acid house, procurando capturar o ambiente e a vibração de atmosferas noturnas e dançantes.

Detalhes como palmas, pianos, um baixo vibrante e um registo percussivo muito marcado, são tiques essenciais de um alinhamento em que sobressai um ambiente fortemente climático e que impressiona pela criatividade com que os diferentes arranjos vão surgindo à tona, enquanto pretende desconstruir, com ímpar experimentalismo, o típico ambiente de um clube noturno e colocar-nos a dançar, sem apelo nem agravo, num convite direto ao convivio e à boa disposição. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:27

We Were Promised Jetpacks – A Complete One-Eighty EP

Sexta-feira, 13.01.23

Dois mil e vinte e um foi um ano marcante na carreira dos We Were Promised Jetpacks. Convertidos num trio desde a saída de Michael Palmer, um dos membros fundadores do projeto, o grupo escocês, atualmente formado por Adam Thompson, Sean Smith e Darren Lackie, lançou, em setembro desse ano, o extraordinário registo Enjoy The View, trabalho que sucedeu ao álbum The More I Sleep The Less I Dream, um alinhamento que, no final do verão de dois mil e dezoito, chamou definitivamente a nossa atenção para este projeto oriundo de Edimburgo.

A Complete One-Eighty – an Interview with We Were Promised Jetpacks – I  Dream of Vinyl

Enjoy The View viu a luz do dia à boleia da Big Scary Monsters e o seu alinhamento de dez canções assentava naquele universo sonoro algo nostálgico que mistura rock e pop, com uma toada noise qb e um elevado pendor shoegaze. Era um disco repleto de canções baseadas numa guitarra rugosa e plena de efeitos metálicos, acompanhada, quase sempre, por uma bateria falsamente rápida, dupla em volta da qual gravitam diferentes arranjos, que ampliam a luminosidade do conjunto final.

Agora, para colocar uma cereja em cima do topo desse bolo intitulado Enjoy The View, os We Were Promised Jetpacks resolveram editar um EP intitulado A Complete One-Eighty EP, um alinhamento de seis temas que contém novas versões e remisturas de alguns dos temas mais emblemáticos do disco acima referido. São novas aproximações e roupagens, de pendor mais clássico e com um maior lustro, que acabaram por resultar da vontade da banda em se entregar ao prazer do trabalho de estúdio, impulsionados pela química que sentiram a tocar na digressão de suporte a Enjoy The View, depois do período pandémico que deixou o grupo um pouco afastado. Andy Monaghan, elemento dos Frightened Rabbit e que acompanhou os We Were Promised Jetpacks no processo criativo que desaguou neste EP, foi também peça preponderante no pulsar de temas que, se por um lado têm um cariz de certo modo mais intimista que os originais, por outro, refletem um brilho, um esmero e uma paciência diferentes.

As remisturas assinadas pelo próprio Andy Monaghan, por Zoe Graham e pelos Manchester Orchestra, carimbam com ainda maior bitola qualitativa essa tal cereja, cheia de vigor e energia, num EP que projeta as inúmeras possibilidades sonoras que a capacidade criativa deste trio contém, ao mesmo tempo que ilustra ser este grupo um membro de pleno direito da premier league rockeira do arquipélago de Sua Majestade. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:15

Mi Mye – my name's wimp vs bow saw and the EQ EP

Quarta-feira, 12.10.22

Comparados constantemente a nomes tão proeminentes como os The National ou os Sparklehorse, os britânicos Mi Mye acabam de oferecer aos seguidores do universo sonoro indie e alternativo, um curioso duplo lançamento e em simultâneo, ou seja, no mesmo dia. É um registo de originais, em formato álbum, de dez canções, intitulado my name's wimp e um ep com cinco composições chamado the bow saw and the eq.

MI MYE SHARE NEW SINGLE 'OK, SO' AND ANNOUNCE FIFTH ALBUM - Circuit  SweetCircuit Sweet

Tendo em conta o conteúdo sonoro destes dois lançamentos, talvez fizesse todo o sentido abordar ambos em separado. No entanto, como os dois não coexistem desse modo, a opção da nossa redação acabou por recair na crítica em simultâneo, mas feita de um modo generalizado, com o cuidado de abarcar a filosofia estilística dos dois trabalhos, mas sem deturpar a essência de cada um.

Se o alinhamento de nove canções de my name's wimp, contém uma indisfarçável radiofonia que procura chegar a um leque alargado de público, sendo Pleas Let Me Fix This a composição que de modo mais impressivo nos coloca na linha da frente do contexto pretendido para o registo, the bow saw and the eq oferece-nos, por outro lado, composições com outro nível açucarado qualitativo, já que, na nossa modesta opinião, ilustram de modo mais fiável e sincero o quanto certeiros e incisivos os Mi Mye, que se dividem entre Wakefield e Leeds, conseguem ser na replicação do ambiente sonoro que escolheram para a sua carreira e que tem o melhor indie rock alternativo de forte cariz lo fi em declarado ponto de mira. Love Holds (When The Back Pain Was Sorted) é uma daquelas canções que dificilmente se escutam no circuito comercial, mas que deixam uma marca forte, plena de profundidade e força, não só por ser instrumentalmente luxuosa, adulta e impressionista, mas também porque é emocionalmente sublime.

Seja como for, a receita é, no fundo, semelhante nos dois cardápios, assentando num registo vocal eminentemente narrativo, na conjugação de sintetizadores de forte cariz retro, com cordas inspiradas, num baixo vigoroso e num perfil percussivo geralmente enleante. O intuito dos Mi Mye nesta dupla triagem terá sido o reencontro com o simples prazer de compôr e criar, tendo apenas como bitola, além da já rica herança da banda, o gosto pessoal do núcleo duro que sente prazer em proporcionar aos seus ouvintes uma espécie de convite à alegria e à celebração em modo canção, mas fazendo-o com uma sofisticação e um hipnotismo verdadeiramente encantadores, além de uma sensação de modernidade indesmentível. my name's wimp e bow saw and the EQ estão disponíveis para download gratuito pela própria banda. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:30

Futurebirds And Carl Broemel – Bloomin’ Too EP

Terça-feira, 20.09.22

Figuras de destaque do rock psicadélico norte-americano, os Futurebirds deram as mãos aos guitarrista e produtor Carl Broemer, figura de relevo dos My Morning Jacket, para, juntos, incubarem um EP com sete canções intitulado Bloomin' Too, um tomo de sete canções que viu a luz do dia a nove de setembro último, com a chancela da No Coincidence Records e que sucede ao EP Bloomin' editado o ano passado com a mesma filosofia, modus operandi e intervenientes.

Futurebirds and Carl Broemel Unveil Fresh Track, “Buffet Days” Off New EP,  Bloomin' Too; Releasing September 9th | Grateful Web

Naturais de Athens, na Georgia, os Futurebirds são um dos nomes mais sonantes e excitantes do indie rock norte-americano contemporâneo. São, claramente, um dos melhores projetos a replicar uma sonoridade muito específica e que se restringe inapelavelmente às fronteiras entre o México e o Canadá, com uma identidade muito vincada e que assenta, essencialmente, na criação de composições bastante ligadas à corrente, através de efeitos indutores e guitarras cheias de fuzz. Geralmente, a aplicação prática criativamente feliz desta doutrina oferece ao ouvinte um clima marcadamente progressivo e rugoso, que não fecha mesmo os aolhos a um garage rock, ruidoso e monumental e que, frequentemente, também vira agulhas para o experimentalismo folk.

De facto, as canções deste EP são todas melodicamente belíssimas e nelas majestosidade e cor são evidências concretas. Sinz And Frenz, um tema composto por Daniel Womack, o líder dos Futurebirds, durante o período pandémico e que era para fazer parte de um disco a solo que o músico estava a incubar quando o surto teve início, é, talvez o tema que melhor condensa todos os atributos sonoros atuais de uma parceria feliz no modo como em mais sete temas, e à semelhança do que fez em dois mil e vinte e um, plasma os notáveis atributos que deve ter uma típica canção rock que quer impressionar pelo seu perfil nostálgico noventista e que habitualmente se serve de um arsenal instrumental que sustenta o rock alternativo mais genuíno para proporcionar ao ouvinte um som que pode ser também lisergicamente bastante apelativo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 21:24

Stuck - Content That Makes You Feel Good EP

Quarta-feira, 03.08.22

Man On The Moon vive essencialmente de novidades, algo que os leitores mais atentos e dedicados já terão reparado, estejamos a falar de lançamentos em formato disco, EP ou single, temporalmente recentes. Mas, de vez em quando, também faz mea culpa e não se inibe de divulgar conteúdo musical relevante já com algum tempo de edição e que, por variadíssimas razões, acabou por escapar ao filtro da nossa redação, naqueles dias, semanas ou meses em que viu a luz do dia.

FLOOD - Stuck Announce New EP “Content That Makes You Feel Good,” Share  First Single Which Makes You Feel Bad

Ora, é examente isso que acontece com um EP chamado Content That Makes You Feel Good, assinado pelos Stuck, uma banda norte-amricana, natural de Chicago e que viu a luz do dia, curiosamente, em agosto do ano passado, com a chancela da insuspeita Exploding In Sound Records.

Logo na estreia, em dois mil e vinte, com o registo Change Is Bad, os Stuck chamaram a atenção para um incrível alinhamento que nos levava numa viagem no tempo até a uma mescla feliz entre a melhor psicadelia dos anos setenta, assente na melhor new wave de uns Devo, com o rock mais cru e abrasivo de finais dos anos oitenta e início dos anos noventa, que nomes como Jesus Lizard, Shellac, tão bem replicaram.

Em pouco mais de doze minutos Content That Makes You Feel Good aprimora esta receita, em cinco rapidíssimas e efusiantes canções que, vertiginosamente, assumem uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, porque até procuram, abordar uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas fazem-no sem descurar um intenso pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, percetivel na distorção das guitarras, no vigor do baixo, espetacular em Playpent Of Dissident, e, principalmente, na pujança da bateria, um instrumento frequentemente chamado para a linha da frente na arquitetura sonora de Content That Makes You Feel Good, com especial destaque para White Lie, a composição mais longa e burilada do registo.

Content That Makes You Feel Good é impulso e intensidade, crueza e imediatismo, músculo e contusão, refluxo e agitação É vigoroso no modo como tematicamente despreza o capitalismo e o cinismo de quem diz que o defende, dispensando tudo aquilo que não precisa, sem se preocupar com as consequências desse egoísmo cíclico. É, no fundo e curiosamente, algo parecido ao paradoxo que a audição deste EP tranmite, com o ruído a não funcionar como um entrave à expansão das canções, mas a ser um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam, provocando, assim, conforto e satisfação, mesmo que o ouvido possa não estar particularmente treinado para lidar com algo tão esquizofrénico e fortemente combativo.

Mérito, pois, para os Stuck, que conseguem manter sempre o arsenal instrumental ao dispôr incrivelmente controlado, num resultado que até parece algo fugaz, mas que merece ser descrito como algo de proporções incrivelmente épicas, até porque, durando apenas doze minutos, é bem capaz de proporcionar um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, a quem se deixar enredar na armadilha emocionalmente desconcertante que este quarteto de Chicago incubou. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:06

António Vale da Conceição - At your service, ma´am EP

Quinta-feira, 30.06.22

António Vale da Conceição é um produtor e músico de Macau, integrante da banda Turtle Giant, agora residente em Portugal e que exerce os papéis de compositor de bandas sonoras e produtor de projectos diversos. O ano passado António Vale da Conceição lançou o seu primeiro álbum de piano Four Hands Piano e realizou e compõs a música para o documentário Beyond the Spreadsheet: The Story of TM1, um documentário que conta a história de vida e contributo tecnológico de Manny Pérez - o génio matemático que criou em mil novecentos e oitenta e três a tecnologia que permitiu ao mundo efectivamente lidar com a complexidade de dados no mundo - A Base de dados Funcional (ou o Excel em esteróides).

At Your Service, Ma'am": António Vale da Conceição edita EP de "batidas  mexidas" e apelos à mudança - Showbiz - SAPO Mag

Agora, em dois mil e vinte e dois, o músico está de regresso com o EP At your service, ma´am, um trabalho que mais parece a banda sonora de um clássico de comédia do que um álbum de canções, encharcado com sopros gritantes, ritmos mexidos e melodias que se alongam. São cinco canções repletas de batidas mexidas e de narrativas que falam sempre de amor, porque um filme tem que ter sempre uma trama de amor. Mas este com apelos à força e à resiliência, à mudança e à aceitação das lutas para que vençamos, juntos.

Os pouco mais de dezassete minutos do EP merecem audição dedicada, não só porque nos revela, com enorme fluidez e expressividade, a singularidade do registo vocal do autor e a sua luminosidade e clarividência instrumental e melódica, mas também porque ilustra uma multiplicidade de mundos e emoções com uma filosofia muito própria e que se amplia após sucessivas audições, tal é o vício que esta mão cheia de temas provoca em quem se deixa imbuir pela sua cartilha sonora e aceita abstrair-se de tudo aquilo que o rodeia enquanto o ouve. No entanto, do alinhamento destaco Love Is The Storm, uma composição que assenta no sentimento exacerbado de Ira, na capacidade que uma emoção tão natural ao Homem, que quando possuído, o torna numa entidade tão “adamastora” quanto poderosa, misteriosa, transformadora, assim como Remedy, um tema que, de acordo com a nota de imprensa, nos apela a não nos contaminarmos pelas sedutoras imagens e sons que nos rodeiam e, ao invés, sermos sãos, verdadeiros e autênticos. O remédio está muitas vezes na não-contaminação, na prevenção, portanto. E por isso, impermeabilizar-mo-nos de venenos (como as fake news, redes sociais, o desejo de fama, egos) é o nosso dever e responsabilidade, como indivíduos e como colectivo.

Em suma, At your service, ma´am é uma experiência de certa forma surreal quando se contextualiza no panorama musical nacional atual. Infelizmente ainda apenas acessível a um grupo não muito amplo de fervorosos e dedicados fãs, o que é uma perfeita e incompreensível injustiça, António Vale da Conceição escreve sem pudores, tem nas letras uma das suas grandes virtudes virtude e arrojo e faz canções com um significado literal nem sempre coerente e facilmente entendível, mas que emparelhadas com guitarras que correm abrasivamente e fogem às fórmulas compositivas de formatos amigos da rádio, resultam na perfeição e originam algo único e de algum modo surreal. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 19:52

Efterklang - Plexiglass EP

Terça-feira, 28.06.22

Foi o ano passado que os dinamarqueses Efterklang protagonizaram uma das transferências mais badaladas da temporada musical, assinando pela City Slang depois de três discos na britânica 4AD. A estreia na etiqueta alemã aconteceu pouco depois com um disco intitulado Windflowers, o sexto da carreira do projeto formado por Mads Brauer, Casper Clausen e Rasmus Stolberg e que, recordo, foi bastante marcado pela circunstância covid, mas também por algumas questões pessoais do trio, uma conjuntura que acabou por criar um clima criativo invulgar no seio dos Efterklang, impulsionando-os para um trabalho em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas, conjuraram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar uma alinhamento elegante e com uma beleza sonora inquietante.

Com a chegada do verão… Efterklang lançam EP surpresa! – Glam Magazine

Agora, em pleno solstício de verão de dois mil e vinte e dois e para marcar essa mesma efeméride que assinala o dia mais longo do ano, os Efterklang voltam à carga, em formato EP, com Plexiglass, cinco inéditos que contêm nos seus créditos contribuições de nomes tão distintos como Karl Hyde, do projeto Underworld e Katinka Fogh Vindelev, entre outros.

Plexiglass é um verdadeiro bouquet de pop charmosa e delicada, mas também vibrante e orquestral, sonoramente perfeita para estes dias em que vivemos num constante limbo entre a marcha do calendário e a discrepância entre esse movimento celeste do nosso planeta e as sensações metereológicas que tal fenómeno cósmico nos tem feito sentir. É um tomo de cinco lindíssimas composições, em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar um registo com uma beleza sonora inquietante, onde não faltam momentos de euforia e celebração, como é o caso de Circles, um tema que nos coloca um enorme sorriso no rosto sem razão aparente e nos enche o peito, mas também instantes de recolhimento íntimo, nomeadamente na lindíssima balada Brænder, construída em redor de um delicado piano. Depois, o perfil eminentemente experimental de Rain Take Me Back Himalaya, uma composição trepidante e que nos deixa em contínuo sobressalto, ou os preciosos detalhes intrigantes, interessantes e exuberantes que se emaranham no perfil percussivo que sustenta Laughing In The Rain, ajudam a compôr o ambiente geral de um alinhamento que voltou a fazer os Efterklang descolarem ainda mais da sua habitual zona de conforto sonora para arriscarem ambientes eminentemente épicos e com uma instrumentalização ainda mais diversificada, ao mesmo tempo que nos proporcionam outra banda sonora perfeita para uma jornada de meditação, onde o brilho da suprema criatividade artística e a típica melancolia nórdica caminham, uma vrez mais, de mãos dadas, em perfeita comunhão. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:51

DIIV - Sometime / Human / Geist EP

Segunda-feira, 27.06.22

Dois mil e vinte e dois é um ano marcante para todos os fãs dos DIIV, já que a banda norte-americana formada por Zachary Cole Smith (voz e guitarra), Andrew Bailey (guitarra), Colin Caulfield (baixo) e Ben Newman (bateria), comemora uma década do lançamento de Oshin o mítico álbum que lançou o grupo natural de Nova Iorque para as luzes da ribalta. E um dos eventos que marca a efeméride é o lançamento do EP Sometime / Human / Geist, um tomo que junta as primeiras três canções que os DIIV gravaram, um ano antes de incubarem Oshin e os respetivos b side, todas alvo de reimpressão recente em formato vinil de sete polegadas, já disponível no bandcamp do grupo.

DIIV Brasil (@DIIV_BR) / Twitter

Este EP é um registo obrigatório para todos aqueles que querem entender o processo evolutivo dos DIIV e o modo como, a darem o pontapé de saída, escavaram as fundações desse Oshin, compêndio que é, ainda hoje, um marco discográfico fundamental do milénio. E, de facto, a audição destas seis composições, que inclui uma curiosa versão de Bambi Slaughter, um original da autoria de Kurt Cobain, esclarece-nos que eram doses indiscretas de uma pop suja e nostálgica que conduzia a um amigável confronto entre o rock alternativo de cariz mais lo fi com aquela pop particularmente luminosa e com um travo a maresia muito peculiar, a grande força motriz do processo criativo do quarteto, bem impressa em Sometime, a primeira canção do grupo a causar furor no mainstream e que também não renegava aproximações mais ou menos declaradas à herança do melhor garage rock de final do século passado, como se percebe em Geist.

Sombra, rugosidade e monumentalidade, misturando-se entre si com intensidade e requinte superiores, através da crueza orgânica das guitarras, repletas de efeitos e distorções inebriantes e de um salutar experimentalismo percurssivo em que baixo e bateria atingem, juntos, um patamar interpretativo particularmente turtuoso, enquanto todos juntos obedecem à vontade de Zachary de se expôr sem receios e assim afugentar definitivamente todos os fantasmas interiores que o vão consumindo, são os pilares fundamentais dos DIIV e estes seis temas merecem figurar num superior lugar de destaque na indie contemporânea, porque são os grandes responsáveis pelo desabrochar triunfante de uma banda indispensável e única. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:31






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