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Suuns – The Breaks

Sexta-feira, 06.09.24

Os Suuns são um dos segredos mais bem guardados do panorama alternativo canadiano. Apareceram em dois mil e sete pela mão do vocalista e guitarrista Ben Shemie, ao qual se juntam, atualmente, Joseph Yarmush e Liam O’Neill. Estrearam-se nos álbuns em dois mil e dez com Zeroes QC e três anos depois chegou o extraordinário Images Du Futur, um trabalho que lhes elevou o estatuto grandemente, tendo merecido enormes elogios, não só no Canadá, mas também nos Estados Unidos e na Europa. Já na segunda metade da última década a dose dupla Hold/Still e Felt manteve a bitola elevada, dois discos que confirmaram definitivamente que estamos na presença de um grupo especial e distinto no panorama indie e alternativo atual.

SUUNS Announce New Album 'The Breaks', Share New Single - Our Culture

Em dois mil e vinte e quatro os Suuns continuam a enriquecer o seu catálogo com um novo disco intitulado The Breaks. É o sexto compêndio da carreira do trio sedeado em Montreal e acaba de ver a luz do dia, com a chancela da Joyful Noise Recordings.

Tomo de oito canções exemplarmente buriladas e encharcadas com o já habitual ambiente místico, nebuloso, exemplarmente caótico e tremendamente orgânico que alimenta o catálogo dos Suuns, The Breaks abre as hostilidades com cândura, imagine-se, à boleia de Vanishing Point, canção perfeita para servir de banda sonora para uma início de manhã tranquila, de preferência de um dia sem rumo ou planos. É um perfil sonoro bastante intimista e até sentimental que volta a impressionar quase no ocaso do disco, em Doreen, tema que encontra no minimal mas aconchegante dedilhar de uma guitarra o braço direito do registo vocal envolvente de Ben, dupla que depois cede o pódio a um jogo subtil, mas intrincado, de diversas interseções sintéticas, com um intenso travo progressivo e experimental.

Pelo meio, os Suuns dedicam-se a demonstrar, com irrepreensível criatividade, uma mestria interpretativa que estes verdadeiros músicos e filósofos exalam com superior requinte na sedutoramente intrigante Fish On A String, no eletronoise pop apimentado de Rage, ou na impetuosidade atmosférica bastante peculiar e climática de Road Signs and Meanings, o âmago de The Breaks

O registo eminentemente experimental e intuitivo do tema homónimo, composição que se projeta num conjunto de rugosas e abrasivas sintetizações, com uma base sonora bastante peculiar e climática, ora banhadas por um doce toque de psicadelia narcótica a preto e branco, ora consumidas por uma batida com um teor ambiental denso e encorpado e o perfil abrasivo, mas tocante, de Wave, tema agregado em redor de um sintetizador artilhado de diversos efeitos cósmicos e de um registo vocal robotizado clemente, rematam com superior quilate o conteúdo magistral de um disco em que quem mais ordena é uma peculiar e distinta pafernália de ruídos sintéticos, mas em que o modo como as cordas espreitam no meio desse minucioso caos, não é notoriamente obra do mero acaso, algo bem vincado, por exemplo. na já referida Doreen.

Masterizado por James Plotkin e produzido por Adrian Popovich, The Breaks é música futurista para alimentar uma alquimia que quer descobrir o balanço perfeito entre idealismo e conflito e que aos poucos, para o conseguir, acaba por revelar uma variedade de texturas e transformações que configuram uma espécie de psicadelia suja, assente numa feliz união entre o orgânico e o sintético, simbiose com uma certa tonalidade minimalista mas que costura todas as canções do álbum, sem excessos e onde tudo é moldado de maneira controlada. Novamente assertivos e capazes de romper limites, os Suuns oferecem-nos, entre belíssimas sonorizações instáveis e pequenas subtilezas, um portento sonoro de invulgar magnificiência, um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, disponível para quem se deixar enredar numa espécie de armadilha emocionalmente desconcertante, feita com uma química interessante e num ambiente despido de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:45

The Smile - Foreign Spies vs Zero Sum

Quinta-feira, 29.08.24

Cerca de oito meses depois do excelente registo Wall Of Eyes, o segundo álbum do trio formado por Thom Yorke e Jonny Greenwood, o chamado núcleo duro dos Radiohead e Tom Skinner, baterista do Sons of Kemet, os The Smile estão de regresso aos discos ainda em dois mil e vinte e quatro com Cutouts, um alinhamento de dez canções gravado em Oxford e nos estúdios Abbey Road no mesmo período em que foi nicubado Wall Of Eyes. Produzido por Sam Petts-Davies, Cutouts conta com arranjos de cordas assinados pela London Contemporary Orchestra e terá a chancela, como é habitual nos discos dos The Smile, da XL Recordings.

The Smile announce new album 'Cutouts' with two singles 'Foreign Spies' and  'Zero Sum'

Já neste mês de agosto os The Smile começaram por chamar a nossa atenção com as canções, Don’t Get Me Started e The Slip e agora estão de novo em escuta no nosso espaço por causa de Foreign Spies e Zero Sum, mais duas composições que vão, certamente, fazer parte do alinhamento de Cutouts.

Foreign Spies versa sobre a aparência de um mundo perfeito e a realidade perturbadora que se pode esconder por trás dele e, sonoramente, assenta num perfil eminentemente sintético, com alguns sintetizadores cósmicos e um registo vocal melancólico a criarem um belo exercício de eletrónica ambiental. Quanto a Zero Sum, é uma sátira à confiança que todos depositamos na informática e no mundo virtual e oferece-nos quase três minutos de rock frenético, com uma personalidade eminentemente orgânica. Guitarras abrasivas e um baixo corpulento são os ingredientes essenciais de uma canção com um elevado travo punk. Confere Foreign Spies, Zero Sum e o artwork de Cutouts...

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publicado por stipe07 às 10:05

Meltt – Within You, Within Me (Bayonne Remix)

Quinta-feira, 15.08.24

Oriundos de Vancouver, no Canadá, os Meltt têm já uma assinalável reputação no país natal, como uma das bandas que melhor replica aquele rock majestoso e de forte cariz progressivo, enquanto não renega contactos mais ou menos estreitos com outros espetros sonoros, com particular destaque para a eletrónica ambiental, a música de dança e o próprio R&B. Já com um vasto catálogo em mãos, surpreenderam a nossa redação o ano passado com Another Quiet Sunday, um EP com cinco canções que valeram bem a pena destrinçar.

Within You, Within Me (Bayonne Remix) | Meltt

Um dos grandes destaques desse EP era o tema Within You, Within Me, uma canção tremendamente nostálgica, delicada e contemplativa, que acaba de ser revista pelo projeto Bayonne, encabeçado pelo músico e compositor norte-americano Roger Sellers, natural de Austin, no Texas. Esta remix de Within You, Within Me ofereceu ao original um perfil sonoro ainda mais charmoso, com a guitarra e a bateria a replicarem repetitivamente um trecho melódico simples mas orelhudo, ao qual vão sendo induzidos arranjos percussivos e outras nuances das mais variadas proveniências, num resultado final imponente e que não deixa de conter uma simplicidade marcante. Confere a remix assinada por Bayonne e o original...

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publicado por stipe07 às 11:17

Pond – So Lo (Andrew VanWyngarden Remix)

Quinta-feira, 08.08.24

Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, regressou aos discos em junho último com Stung!, um alinhamento de catorze canções, que teve a chancela da Spinning Top e que foi cuidadosamente dissecado pela nossa redação.

Pond Drop "So Lo (Andrew VanWyngarden Remix"

Um dos maiores destaques de Stung! é, sem dúvida, So Lo, a quarta canção do alinhamento do disco, uma composição conduzida por uma guitarra insinuante que debita um riff metálico fulminante e com um baixo exemplar no modo como acama uma batida com um groove tremendamente sensual. Além das cordas, diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, são outros ingredientes que alimentam So Lo, um estrondoso compêndio de funk rock cheio de fuzz e de acidez.

Agora, cerca de dois meses depois do lançamento do disco, é divulgada uma espetacular remistura de So Lo, assinada por Andrew VanWyngarden, uma das duas caras metades dos MGMT que, recordo, também já têm em dois mil e vinte e quatro um espetacular disco em carteira intitulado Loss Of Life.

Andrew VanWyngarden ofereceu a So Lo um cunho ainda mais anguloso do que o original, incubando um extraordinário tratado de eletropop, vigoroso, insinuante, sexy e cheio de funk, tremendamente dançável e divertido e sem deturpar a essência melódica da canção. Confere...

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publicado por stipe07 às 12:07

Rui Gabriel – Compassion

Sexta-feira, 26.07.24

Nascido na Venezuela, com a infância vivida na Nicarágua e emigrante nos Estados Unidos, primeiro em Nova Orleães, onde fez parte da banda punk Lawn e agora sedeado em Fort Wayne, no Indiana, Rui Gabriel acaba de se estrear nos discos com um álbum intitulado Compassion, dez canções coproduzidas por Nicholas Corson e que refletem sobre estas mudanças do músico na sua vida, as pessoas que o marcaram e que, no fundo, abordam a transição para a vida adulta.

Rui Gabriel's Wise Yet Innocent Debut, 'Compassion' - SPIN

Compassion é um capítulo eufórico e radiante de abertura de carreira de um músico que promete criar uma epopeia estilística sonora que vai privilegiar e colocar sempre em declarado ponto de mira, apostamos, a herança do melhor indie rock alternativo da década de noventa do século passado. Mas não se pense que esta nossa impressão é depreciativa, no que concerne à predisposição de Rui Gabriel, na hora de criar e compôr, se dedicar apenas a um processo criativo de recorte e colagem de influências, sem induzir um cunho próprio e algo inédito. Logo a abrir o disco, as cordas acústicas, o piano e o violoncelo que adornam com mestria Dreamy Boys e, no ocaso do álbum, em Money, a batida sintética planante, exemplarmente acompanhada pelo piano e pelo baixo, uma trama que nos remete para a melhor herança de uns Primal Scream, entroncando no leque de influências preferencial do autor, comprovam a abrangência das mesmas e o modo como o músico consegue, navegando num leque tão vasto, arquitetar o seu adn sonoro, com subtileza, arrojo, desenvoltura e superior habilidade criativa.

De facto, é essa a grande ideia que transparece da audição de Compassion, uma capacidade superior de abrir um leque muito específico e esticá-lo o mais possível, sem que se parta. O rugoso perfil folk de Church of Nashville, uma canção que os Wilco não se importariam nada de terem criado nos dias de hoje, o travo psicadélico de Target, induzido por uma melodia sintética hipnótica, uma batida vibrante, diversos detalhes percussivos, o clima cósmico tremendamente dançante e anguloso de Change Your Mind e o fuzz insinuante de uma guitarra e o timbre solarengo e surf lo fi das cordas vibrantes que sustentam Summertime Tiger, comprovam que este músico dá razão a quem considera que o melhor indie rock alternativo não é nada mais nada menos do que aquele rock que consegue agregar pitadas daqui e de acolá, com subtileza, arrojo, desenvoltura e superior habilidade criativa, algo que sucede neste álbum de estreia de Rui Gabriel com ímpar sabedoria.

Em suma Compassion tem como grande atributo conseguir, umas vezes com indisfarçável subtileza e outras com esplendoroso requinte, unir, congregar, construir e desconstruir e sublinhar todo um universo de géneros e estilos que influenciam o autor e que, curiosamente, ou talvez não, no fundo também demarcam as fronteiras do melhor cancioneiro norte americano alternativo atual. Uma grande estreia de um projeto que promete imenso. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:48

Tiago Vilhena - Tempo Para Chillar

Sexta-feira, 19.07.24

O músico e compositor Tiago Vilhena, que já foi George Marvison noutro projeto e membro dos Savana, estreou-se nos lançamentos discográficos há quase meia década com Portugal 2018, um trabalho que tinha a chancela da Pontiaq e que era cantado quase na sua totalidade em português. Portugal 2018 continha dez composições filosóficas e relaxadas, introspetivas e reveladoras, sendo um registo com um forte cunho ativista, mas também um álbum fantástico porque retratava profetas, dilemas da morte e da vida, poções e milagres.

Foto Promo_Cred Carolina Pinheiro.jpeg

Agora, em pleno verão de dois mil e vinte e quatro, Tiago Vilhena regressa ao nosso radar devido a uma música que pode ser de verão, mas também, de inverno. O tema chama-se Tempo Para Chillar e, sonoramente, assenta num perfil estilístico com um forte pendor vintage, com uma percussão vincada, o registo vocal ecoante adocicado e diversas sintetizações pueris a iludirem-nos com uma espécie de despreocupação inócua, que resulta, na verdade, de um processo de experimentação tremandamente criterioso e bem sucedido e que tem os anos oitenta do século passado em aguçado ponto de mira. Importa ainda referir que a canção culmina num solo de trompete que faz sentir um pouco do mundo jazz, faceta pouco explorada pelo artista até agora.

De facto, e de acordo com o próprio autor, Tempo Para Chillar serve para dançar e sorrir, sozinho ou rodeado de pessoas. Fácil de ouvir sem deixar de lado o carácter, o experimentalismo e a essência da música alternativa. O tema surgiu como forma de criar uma banda sonora para aquele mundo perfeito que todos idealizamos. Uma música para viver a melhor vida que temos. Tão perfeita que para ser abordada em palavras precisa de metáforas e de comparação ao mundo dos sonhos. Na verdade, não é mais do que uma justificação para chillar. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:53

Washed Out - Notes From A Quiet Life

Sexta-feira, 05.07.24

Dono de obras-primas do calibre do excelente tratado de lisergia que sustenta o longa duração de estreia Within Without (2011) e do psicadélico e inebriante álbum Paracosm (2013), o projeto Washed Out, do multi-instrumentista norte-americano Ernest Greene, um dos nomes fundamentais, a par de Neon Indian ou Toro Y Moi, da nova chillwave, não dava sinais de vida desde o buliçoso e intrigante registo Purple Noon, editado em dois mil e vinte. No entanto, esse hiato de quatro anos chegou ao fim com Notes From a Quiet Life, o novo disco do autor e compositor, que acaba de chegar aos escaparates, com a chancela da Sub Pop Records.

WASHED OUT – MISTER MELLOW (Lo-Fi/Electronica – US) – umstrum||music

Disco muito marcado pela mudança de Greene, um músico natural da Georgia, da cidade capital desse estado, Atlanta, para uma zona mais rural, Macon, Notes From A Quiet Life retrata, ao mesmo tempo, um amor que ficou para trás. São dez intrincadas canções, encharcadas em versos melancólicos, adornados por sintetizações pulsantes, que se servem de uma pafernália instrumental sintética vasta, encarnando pouco mais de quarenta minutos irresistivelmente belos, feitos de uma pop nostálgica e sonhadora, com um elevado travo oitocentista.

Notes From A Quiet Life é um disco excelente para nos hipnotizar e para nos levar a refletir sobre o estado atual do nosso âmago, acabando por funcionar como um eficaz soporífero que nos leva para longe de uma realidade que é, tantas vezes, pouco agradável e que precisa destes momentos de escape e destes locais de refúgio para assentar ideias e decidir novos rumos.

É, de facto, impossível não ficarmos imunes a qualquer sentimento menos positivo e não nos sentirmos cheios, preenchidos e felizes ao som desta estética sintética de forte travo vintage, que acrescenta ao catálogo do autor novas nuances que alargam o seu espetro sónico, cada vez mais focado nas pistas de dança e em ambientes onde o digital se sobrepõe claramente ao orgânico.

Enquanto exercício de auto reflexão sobre aquilo que é a existência e a evolução pessoal humana, um exercício mental quase sempre fatigante, Notes From A Quiet Life é um refúgio ideal também para o descanso e a para um encontro íntimo com paz e tranquilidade, sendo capaz capaz de nos levar rumo às profundezas de um imenso oceano de hipnotismo e letargia, enquanto estabelece uma multiplicidade de novos caminhos ao autor e testa sonoridades e experimentações sem que Greene receie ser apontado como uma espécie de terrorista sonoro, porque também é de coerência que este disco vive. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 17:02

POND - Stung!

Sábado, 29.06.24

Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, está de regresso as discos com Stung!, um alinhamento de catorze canções, que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Spinning Top.

Pond - Stung! | Reviews | Clash Magazine Music News, Reviews & Interviews

O início da carreira dos POND foi particularmente marcante, pelo modo como da psicadelia, à dream pop, passando pelo shoegaze e o chamado space rock, nos deliciaram com a mistura destas vertentes e influências sonoras, sempre em busca do puro experimentalismo e com liberdade plena para irem além de qualquer condicionalismo editorial que pudesse influenciar o processo criativo de um grupo. O disco Man It Feels Like Space Again, editado em dois mil e dezasseis e já, à época, o sexto da carreira da banda australiana, terá sido o expoente máximo desta filosofia estilística que tinha no fuzz rock a sua pedra de toque, talvez a expressão mais feliz para caraterizar o caldeirão sonoro que os Pond reservaram para nós no início da sua carreira. No entanto, a partir do sucessor deste trabalho, o álbum The Weather, lançado no ano seguinte, percebeu-se logo, e um pouco à imagem do que sucedia com a discografia dos Tampe Impala, que as agulhas iriam começar a virar rumo a territórios menos orgânicos e que aquele modus operandi sonoro que fez escola nos anos oitenta e que misturava funk, com pop, R&B, new wave e jazz e que terá tido em Prince o seu expoente máximo, começava a ser influência declarada dos POND no momento de entrarem em estúdio para compôr.

9, lançado em dois mil e vinte e um, sucessor de The Weather e antecessor deste Stung!, confirmou essa tendência, com canções como America's Cup, Human Touch ou Czech Locomotive a aprimorarem um som cada vez mais camaleónico e a colocarem um pouco de lado aquelas guitarras alimentadas por um combustível eletrificado que inflama raios flamejantes que cortam a direito, feitas, geralmente, de acordes rápidos, distorções inebriantes e plenas de fuzz e acidez e que eram a grande imagem de marca dos POND na fase inicial da carreira. Stung! acaba por ser consequência óbvia desta nova fase evolutiva dos POND, com as catorze canções do seu alinhamento a não deixarem de contar com as cordas como sustento importante, mas colocando-as num plano menor, nomeadamente ao nível dos arranjos e dos adornos, cabendo aos sintetizadores e aos teclados o papel principal no que concerne ao arquétipo das composições, quer rítmico, quer melódico.

Logo em Constant Picnic, fica óbvio esta busca de uma certa lisergia sintética planante que calcorreia ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de elevada acessibilidade e abrangência, sem deixar de homenagear, com elevada epicidade, aquela filosofia psicadélica e sensualmente charmosa com que os anos setenta e oitenta do século passado nos brindaram. (I’m) Stung, o segundo tema do alinhamento do álbum, não deixa de contar com uma guitarra encharcada com um riff metalico fulminante, que trespassa uma viola acústica vibrante, uma bateria vigorosa e repleta de variações rítmicas, mas são diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, os principais ingredientes que alimentam uma canção opulenta, vigorosa, majestosa e instrumentalmente repleta de detalhes inebriantes e cheios de fuzz e de acidez.

A partir daí, se  no eletropunk blues enérgico e libertário de Neon River e, um pouco adiante, de Boys Don't Crash, temos dois fulminantes exercícios de fusão entre o orgânico e o sintético, em So Lo volta a haver uma guitarra que se insinua enquanto debita um riff metálico fulminante, acompanhada por um baixo exemplar no modo como acama uma batida com um groove tremendamente sensual, mas voltam a ser diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, o grande sustento de um estrondoso compêndio de funk rock. Depois, se Black Long pisca o olho a territórios mais progressivos e experimentais, numa espécie de viagem esotérica setentista e se Sunrise For The Lonely e Elf Bar Blues são dois curiosos exercícios de pop eletrónica contemplativa, temas como a majestosa e intrincada Edge Of The World Pt.3, um portentoso exercício de rock progressivo flamejante encharcado com sintetizadores abrasivos e Fell From Grace With The Sea, uma composição que tem num clemente piano a sua grande força motriz, atestam o exercício sensorial a que o disco nos convida incessantemente e mostram o imenso potencial de energia que estas composições recheadas de marcas sonoras rudes, suaves, pastosas, imponentes, divertidas e expressivas, às vezes relacionadas com vozes convertidas em sons e letras e que atuam de forma propositadamente instrumental, nos proporcionam.

Até ao ocaso de Stung!, o instante de eletrofolk psicadélica O'UV Ray e o travo soul jazzístico de Elephant Gun, cimentam a elevada bitola qualitativa de Stung!, um disco que nunca deixa de transparecer, ao longo da sua audição, uma sensação de euforia e de celebração, num alinhamento que tanto ecoa e paralisa, como nos faz dançar como se não houvesse amanhã, sempre no meio de uma amálgama assente numa programação sintetizada de forte cariz experimental e que nos embarca numa demanda triunfal de insanidade desconstrutiva e psicadélica. Se quisermos escutar Stung! com a dedicação que o registo merece, devemos estar cientes de que no som dos POND não há escapatória possível de uma ode imensa de celebração do lado mais estratosférico, descomplicado e animado da vida. Espero que aprecies a sugestão...

 

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publicado por stipe07 às 11:11

Coldplay – feelslikeimfallinginlove

Segunda-feira, 24.06.24

Três anos depois de Music Of The Spheres, os britânicos Coldplay já estão a ultimar o sucessor, um registo intitulado Moon Music, produzido por Max Martin e que deverá ver a luz do dia a quatro de outubro. Moon Music deverá cimentar ainda mais o estatuto dos Coldplay como uma banda de massas da pop e da cultura musical, perfil artístico que o projeto liderado por Chris Martin tem cultivado, em especial na última década.

Coldplay Release New 'Moon Music' Song 'Feelslikeimfallinginlove'

De facto, as propostas mais recentes dos Coldplay têm gravitado muito em torno de uma certa exuberância sonora, que mescla uma enorme variedade de estilos que vão sendo bem sucedidos comercialmente, nomeadamente a eletrónica e aquele rock épico, de forte cariz radiofónico e repleto de sintetizações.

feelslikeimfallinginlove, o primeiro single divulgado do alinhamento de Moon Music, entronca nestas permissas, mesmo tendo, liricamente, na linha da frente um lado muito intimista, simples e humano. Sonoramente, o cruzamento entre guitarras e sintetizadores originou mais uma canção com elevada epicidade e, como tem sido norma, claramente pensada para se tornar em mais um hino que resulte em concertos de estádio. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:14

Wand - JJ

Quarta-feira, 19.06.24

Os Wand são uma banda norte americana, oriunda de Los Angeles e liderada por Cory Hanson, um músico que toca regularmente com Mikal Cronin e os Meatbodies. Tocam um indie punk rock psicadélico, progressivo, experimental e fortemente aditivo e Ganglion Reef, o disco de estreia, editado em dois mil e catorze, foi um marco e uma referência para os amantes do género. No ano seguinte, Golem, o sempre difícil segundo disco, tinha no fuzz rock a sua pedra de toque, talvez a expressão mais feliz para caraterizar o caldeirão sonoro que os Wand reservam para nós.

Asal Shahindoust

Agora, quase uma década depois, os Wand regressam ao nosso radar à boleia de JJ, o mais recente avanço divulgado de Vertigo, o disco que a banda tem pronto para colocar nos escaparates muito em breve e que sucede ao álbum Laughing Matter, editado em dois mil e dezanove.

JJ é uma intrincada e intimista canção, uma espécie de upgrade de adição psicotrópica com elevada lisergia. Sintetizadores munidos de um infinito arsenal de efeitos e sons originários das mais diversas fontes instrumentais, reais ou fictícias, uma secção rítmica feita com um baixo pulsante e uma bateria com um forte cariz étnico, que é várias vezes literalmente cortada a meio por riffs de guitarra, numa sobreposição instrumental em camadas, onde vale quase tudo, é a essência sonora de uma desarmante canção, que também não descura um forte sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de acessibilidade que se saúda. Um belo regresso destes Wand!

Confere JJ e o vídeo do tema assinado por Vernon Chatman e o coletivo lilfuchs, o artwork e a tracklist de Vertigo e Smile, o primeiro single do disco, tema que os Wand divulgaram em maio...

Hangman
Curtain Call
Mistletoe
JJ
Smile
Lifeboat
High Time
Seaweed Head

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publicado por stipe07 às 16:43






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