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Os Melhores discos de 2021 (20 - 11)

Quinta-feira, 30.12.21

20 - Wavves - Hideaway

Produzido por Dave Sitek, baterista e figura talismã responsável pelo sucesso dos TV On The Radio, mas também produtor de nomes como os Yeah Yeah Yeahs ou os Foals, Hideaway oferece-nos um animado alinhamento com um irrepreensível travo noventista, em que surf punk e garage rock se confundem, sem apelo nem agravo, com astúcia e luminosidade, atingindo no âmago o habitual adn dos Wavves, mas conferindo-lhe uma maior bitola qualitativa relativamente à componente melódica, demonstrando, desse modo, que Nathan Williams tem sabido, ao longo do tempo, aprimorar as suas qualidades interpretativas, sem se deixar contagiar por uma vertente mais pop e comercial, que é sempre tentadora para quem, abrindo o olhar para outros horizontes, acaba por ceder à radiofonia e à ditadura implacável do mercado.

19 - LNZNDRF - II

II navega num universo fortemente cinematográfico e imersivo e aos seu conteúdo deve atribuir-se um claro nível de excelência, não só devido aos diferentes fragmentos que os LNZNDRF convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam e que da eletrónica, à pop, passando pelo rock progressivo criaram uma relação simbiótica bastante sedutora, mas também porque, embarcando nessa feliz demanda, também não deixaram de partir à descoberta de texturas sonoras que se expressaram com intensidade e requinte superiores, nomeadamente num transversal piscar de olhos objetivo aquela crueza orgânica que aqui faz questão de viver permanentemente de braço dado com o experimentalismo e em simbiose com a psicadelia.

18 - Jay-Jay Johanson - Rorschach Test

Rorschach Test é um dos momentos maiores do cardápio que o autor sueco asssinou na sua carreira. Todo o alinhamento é um festim de charme e encantamento, um verdadeiro tratado de indie pop, no qual um baixo, amiúde vigoroso e uma profusa míriade de sons intrincados e misteriosos acamam a voz sempre melancólica e sedutora do autor e sustentam uma coleção irrepreensível de arrebatadoras e sensuais melodias, onde não faltam também batidas e efeitos percurssivos de cariz eminentemente experimental.

17 - BirdPen - All Function One

All Function One é um lugar mágico, com um toque de lustro de forte pendor introspetivo, ausente de constrangimentos estéticos, um compêndio de canções que nos ajuda a observar como é viver num mundo onde somos a espécie dominante e protagonista, mas também sujeita às contrariedades mais inesperadas que a mãe natureza implacavelmente nos coloca, um trabalho experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas.

16 - Massage - Still Life

Still Life é um embrulho sonoro com um têmpero lo fi muito próprio, um salutar indie rock com leves pitadas de surf pop, agregado com um espírito vintage marcadamente oitocentista e que esconde a sua complexidade na simplicidade. Está repleto de boas canções que mostram como é bonito quando o rock pode ser básico e ao mesmo tempo encantador, divertido e melancólico, sem muito alarde.

15 - The War On Drugs - I Don't Live Here Anymore

Disco inspirado no modo como devemos optar sempre pela resiliência face ao desesperoI Don’t Live Here Anymore vive conceptualmente, de facto, num universo de diversas dicotomias; Conceitos como amor e dor, casa e fora, escuro e claro, entre outras, escutam-se constantemente, parecendo que querem dar vida a uma espécie de alter-ego, um herói que ficou sem rumo e submerso num vazio existencial profundo e que procura, na audição destas composições, voltar desesperadamente à tona e encontrar de novo um caminho.

14 - They Might Be Giants - Book

Book foi idealizado à boleia de uma filosofia sonora interpretativa que privilegiou exercícios abertos e descomprometidos de excentricidade experimentalista, algo que é, como todos sabemos, um traço típico dos They Might Be Giants e que tem vindo a ser apurado numa notável carreira com cerca de três décadas que parecem confluir neste catálogo de irrepreensíveis canções que, em pouco mais de três minutos, além de nos iluminarem com um travo tremendamente nostálgico e aditivo, também têm inovação e contemporaneidade a rodos.

13 - Efterklang - Windflowers

Windflowers foi um disco criado durante o período pandémico mais agudo, sendo o seu conteúdo bastante marcado por essa circunstância covid, mas também por algumas questões pessoais do trio, uma conjuntura que acabou por criar um clima criativo invulgar no seio dos Efterklang, impulsionando-os para um disco em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas, conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar uma alinhamento elegante e com uma beleza sonora inquietante.

12 - Fleet Foxes - Shore

Shores é um tapete de luz que se acomoda no nosso íntimo, uma viagem por um imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos, que não sendo a mais feliz, tem nos seus pilares aquilo que de mais genuíno podemos experienciar enquanto seres vivos, que é a vibração do interior desta terra mãe que nos alimenta e que nos quer fazer refletir sobre aquilo que somos hoje e os desafios que nos esperam. Enquanto manifestação artística o disco torna-se revelador por desmascarar sensorialmente toda a pafernália biológica, física e filosófica, por um lado e religiosa, por outro, da sociedade dos nossos dias, colocando perante nós aquilo que realmente deve importar e fazer-nos verdadeiramente felizes, que é a essência harmoniosa do que de mais virgem e intocável existe em nosso redor, o nosso âmago.

11 - Chad VanGaalen - World’s Most Stressed Out Gardener

World’s Most Stressed Out Gardener é uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por VanGaalen ao longo da sua carreira e que parece ser alvo de uma espécie de súmula neste seu cardápio, um festim de canções pop ruidosas, exemplarmente picotadas e fragmentadas e que penetram profundamente no nosso subconsciente. Este disco é um verdadeiro jogo de texturas e distorções, um notável passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da sua existência pessoal e que nos oferece aqui o disco mais estranho e abrasivo, mas também feliz, da sua carreira.

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publicado por stipe07 às 13:09

Morrissey – This Is Morrissey

Quinta-feira, 19.07.18

Steven Patrick Morrissey mais conhecido por Morrissey, nasceu em Davyhulme a vinte e dois de maio de mil novecentos e cinquenta e nove e juntamente com o guitarrista Johnny Marr formaram o núcelo duro dos The Smiths, uma banda essencial e prioritária no momento de contar a história da pop e do indie rock oitocentista. Com o ocaso dos The Smiths em mil novecentos e oitenta e sete, Morrissey dedica-se a uma bem sucedida carreira a solo que acaba de ser revista com a edição de This Is Morrissey, uma viagem a discos ímpares, logo a começar por Viva Hate. Nessa sua estreia, um trabalho lançado em março de mil novecentos e oitenta e oito, seis meses após a separação dos Smiths, Morrissey contou com as participações especiais de Stephen Street, produtor de álbuns dos The Smiths e do guitarrista Vini Reilly, dos Durutti Column e as músicas Suedehead e Everyday is like Sunday, presentes neste This Is Morrissey, eram dois dos momentos altos desse registo.

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Depois de alguns singles como The Last of the Famous International Playboy, Interesting Drug e November Spawned a monster, chega, em mil novecentos e noventa e um, com a ajuda de Mark E. Nevin, dos Fairground Attraction, Kill Uncle e depois começa uma parceria duradoura com os guitarristas Alain Whyte e Boz Boorer, que incubou os registos Your Arsenal (1992), produzido pelo ex-guitarrista de David Bowie, Mick Ronson e Vauxhall and I em (1994). Em mil novecentos e noventa e cinco vê a luz do dia Southpaw Grammar e dois anos depois o excelente Maladjusted. Segue-se um hiato de pouco mais de meia década e em dois mil e quatro, já abrigado pela Sanctuary Records, lança You Are the Quarry, um disco produzido por Jerry Finn e com grande sucesso junto da crítica e do grande público. Sucedem-se Ringleader of the Tormentors (2006) e Years of Refusal, três anos depois, com o músico a fazer uma longa pausa na carreira.

Este hiato de quase uma década é interrompido o ano passado com o álbum Low In High School, surgindo, ao mesmo tempo e no cinema, um filme sobre a sua infância e juventude. Agora, meio anos depois, é lançado este This Is Morrissey, uma colectânea que junta clássicos de estúdio, temas ao vivo e uma mistura alternativa do grande sucesso Suedehead, um registo que serve, acima de tudo, para nos recordar que, por muito que os anos passem, há na discografia de Morrissey uma espécie de luz que nunca se apaga e que a marca da intemporalidade é uma das principais virtudes das criações sonoras de uma personalidade ímpar do panorama cultural britânico. This Is Morrissey é um conjunto de canções sem mácula, muitas delas conhecemos de cor e cantámo-las em coro ou a sós, mais ou menos ébrios, na matiné de uma discoteca ou à volta da fogueira, ou afundados no sofá a lamentar mais uma desilusão amorosa de difícil digestão. Espero que aprecies a sugestão...

Morrissey - This Is Morrissey

01. The Last Of The Famous International Playboys (2010 Remastered Version)
02. Ouija Board, Ouija Board (2010 Remastered Version)
03. Speedway (2014 Remastered Version)
04. Have-A-Go Merchant
05. Satellite Of Love (Live)
06. Suedehead (Mael Mix)
07. Lucky Lisp (2010 Remastered Version)
08. Whatever Happens I Love You
09. You’re The One For Me Fatty (Live)
10. Jack The Ripper
11. The Harsh Truth Of The Camera Eye (2013 Remastered Version)
12. Everyday Is Like Sunday (2010 Remastered Version)

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publicado por stipe07 às 15:32

Elbow – The Best Of

Sexta-feira, 22.12.17

Uma das bandas fundamentais do cenário indie das duas últimas décadas são, com toda a justiça, os britânicos Elbow de Guy Garvey, uma banda natural de uma pequena localidade inglesa chamada Salford e de regresso aos discos com um Best Of, uma excleente súmula de todo o trabalho discográfico de um grupo honesto, coeso e com uma fleuma muito própria e sua, que tarda em obter no panorama internacional o mesmo reconhecimento que já tem, como projeto de topo, em terras de sua majestade.

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Donos de um som épico, eloquente e que exige dedicação, os Elbow têm em quase duas décadas de carreira verbalizado sonoramente uma necessidade quase biológica de nos elucidar como enfrentar a habitual ressaca emocional que os normais eventos de uma vida em sociedade provocam no equilíbrio emocional de qualquer mortal, razão pela qual são um daqueles grupos com os quais tanta gente acaba por se identificar, principalmente quem, de modo mais ou menos devoto, vai procurando destrinçar a escrita apurada de Garvey.

Mostrando-se, de álbum para álbum, cada vez mais maduros e sempre a fazerem questão de serem profundos e poéticos na hora de cantar a vida, mesmo que ela tenha menos altos que baixos, como quem precisa de viver um período menos positivo e de quebrar para voltar a unir, este quinteto manteve sempre uma sonoridade elaborada que terá tido talvez o momento mais alto da carreira no maravilhoso The Seldom Seen Kid (2008), apesar do extraordinário conteúdo do último compêndio de originais, o Little Fictions, editado a dois de fevereiro deste ano.

Na verdade, os Elbow acertaram sempre, trabalho após trabalho e conseguiram neste Best Of um alinhamento bonito e emotivo, cheio de sentimentos que refletem não só os ditos desabafos de Garvey, mas também a forma como ele entende o mundo hoje e as rápidas mudanças que sucedem, onde parece não haver tempo para cada um de nós parar e refletir um pouco sobre o seu momento e o que pode alterar, procurar, ou lutar por, para ser um pouco mais feliz. Canções como a optimista e orquestral Magnificient (She Says), a luminosidade intimista e charmosa de Mirrorball, a cândura arrebatadora que transborda da emotiva My Sad Captains ou a sedutora reflexão acerca de uma infância que nunca termina, plasmada em Lippy Kidsconstituem a banda sonora ideal para essa paragem momentânea, que para todos nós deveria ser obrigatória e que pode muito bem servir-se deste Best Of, deixando-o ali a tocar, a meio volume e em pano de fundo.

Sempre encantadores, aditivos e simultaneamente amplos e grandiosos e detalhados e impressivos no modo como falam e cantam sobre o amor, no fundo a grande força motriz de toda a pafernália de sensações e acontecimentos que fui descrevendo até aqui, os Elbow provam nesta súmula da sua maravilhosa carreira que possuem uma elevada e excitante veia criativa intacta e genuína a expôr-nos e a desarmar-nos. São, claramente, uma daquelas bandas capazes de criar momentos que, sendo devidamente absorvidos, não deixam de nos provocar aquelas reações físicas que muitas vezes tentamos refrear, porque há quem considere que a cena dos sentimentalismos, do sorriso sem razão aparente e das lágrimas felizes ou infelizes (e aqui há as duas possibilidades) são só para os fracos de coração e de espírito. Quanto a mim, o verdadeiro e o mais recompensador é exatamente o contrário e aqueles que se expôem assim, é que são os fortes... E a música dos Elbow, disco após disco, tem-me ajudado a perceber nas últimas duas décadas como cimentar e vivenciar esta minha certeza, da qual não me envergonho minimamente. Espero que aprecies a sugestão...

Elbow - The Best Of Deluxe Edition

CD 1
01. Grounds For Divorce
02. Magnificent (She Says)
03. Lippy Kids
04. One Day Like This
05. The Bones Of You
06. My Sad Captains
07. Leaders Of The Free World
08. Mirrorball
09. Fugitive Motel
10. New York Morning
11. Great Expectations
12. The Birds
13. Scattered Black And Whites
14. Golden Slumbers

CD 2
01. Any Day Now
02. Fly Boy Blue / Lunette
03. Weather To Fly
04. Station Approach
05. Switching Off
06. Little Fictions
07. This Blue World
08. Kindling (Fickle Flame) (Feat. John Grant)
09. Newborn
10. The Night Will Always Win
11. Starlings
12. Puncture Repair
13. The Loneliness Of A Tower Crane Driver
14. Dear Friends

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publicado por stipe07 às 00:05

STRFKR – Vault Vol. 1 & Vault Vol. 2

Quinta-feira, 20.07.17

Depois do fabuloso Miracle Mile (2013), os norte americanos STRFKR regressaram aos discos no ocaso de 2016, novamente à boleia da Polyvinyl Records, com Being No One, Going Nowhere, o quarto e novo compêndio de canções deste magnífico grupo oriundo de Portland, no Oregon e formado por Josh Hodges, Keil Corcoran, Shawn Glassford e Patrick Morris. Agora, alguns meses depois, o quarteto regressa à carga com uma série de compilações, das quais já se conhecem dois tomos, num total previsto de três. Refiro-me às Vault Vol., volumes de canções que nunca foram editadas pelos STRFKR, autênticas raridades, muitas delas salvas do primeiro computador pessoal já moribundo de Josh Hodges e que nunca foram escutadas por ninguém exterior ao círculo mais íntimo do grupo.

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Estas duas compilações já divulgadas dos STRFKR têm como maior atributo a possibilidade de nos permitir um olhar bastante impressivo e esclarecedor para o outro lado da cortina, acerca do processo criativo de Hodges, enquanto compositor, ele que é a grande força motriz da banda. A partir daí, desde instantes que são apenas e só esparsos devaneios experimentais, até algumas composições que poderiam muito bem ter figurado num álbum dos STRFKR, é diverso e múltiplo o calibre qualitativo do material sonoro disponibilizado.

Não existe grande diferença estilística e conceptual entre os dois volumes já disponibilizados, o que justifica, por si só, a análise de ambos em simultâneo. E neste emaranhado de registos, muitos deles com menos de um minuto e com o charme lo fi típico de uma produção crua e uma gravação arcaica, já que, objetivamente, alguns eram momentos de experimentação, libertação, ou de teste, quer melódico quer instrumental, não deixam de existir aqui algumas canções que merecem destaque. Assim, se os quarenta e quatro segundos bastante harmoniosos de Wasting Away ou os teclados planantes e a batida luminosa de Beat 8 têm potencial para servirem de suporte a uma canção mais longa, o indie rock lo fi e a atmosfera retro de Downer, assim como o cariz acessível, pop e radiante de Stoned 2 e a new wave de forte intensidade e que num misto de nostalgia e contemporaneidade baliza Sound Track, merecem destaque e ruidosa exaltação dentro de todo este agregado que irá, certamente, deixar inebriados os seguidores mais acérrimos dos STRFKR.

Enquanto não chega o terceiro capítulo desta curiosa saga, Vault Vol. 1 & Vault Vol. 2 são suficientes para nos transportar para uma dimensão paralela, até porque os STRFKR gostam de nos levar até onde realidade e ficção em vez de se confundirem estabelecem pontos de contacto e justificam-se mutuamente, no fundo, tal como acontece com alguns dos clássicos cinematográficos de ficção científica que são profundamente impressivos no modo como plasmam, metaforicamente, eventos e situações que inundam o nosso quotidiano. Espero que aprecies a sugestão...

STRFKR - Vault Vol. 1

01. Long Time
02. Eyes In The Back Of Your Head
03. Just Like You
04. Basically
05. Prrrty
06. Keeps Us Together
07. Baby
08. Benine Redux
09. Make Into Something Nice
10. Only Humans
11. Anything At All
12. Rachel
13. Oh Darling
14. I Wanna Hear About That
15. Daylight
16. Boogie Woogie
17. Goofy Shit
18. Flyer
19. So Sexy
20. Gerl

STRFKR - Vault Vol. 2

01. Happy Summertime
02. Hanna
03. Fuck Off
04. Downer
05. Beginner Space
06. Late Again
07. Stoned
08. Queer Bot
09. Sound Track
10. Listen
11. Wasting Away
12. Waiting
13. Best I Ever Had
14. Snow Tires
15. Missing You
16. Laa Loo
17. Pine Tree Smell
18. Jesus Christ Baby
19. Intro Sexton
20. Whateverer
21. Beat 4
22. Beat 8
23. Purple and Black
24. Be Leave
25. Marionette

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publicado por stipe07 às 17:35

Yo La Tengo – Murder In The Second Degree

Sexta-feira, 09.12.16

Nem sempre devidamente divulgados e apreciados, os norte americanos Yo La Tengo são um dos projetos mais influentes do indie rock contemporâneo. Nasceram em 1984 pelas mãos do casal Ira Kaplan e Georgia Hubley (voz e bateria) e Dave Schramm (entretanto retirado) e James McNew e conquistaram-me definitivamente há quase quatro anos com o excelente Fade, uma rodela lançada à boleia da Matador Records.

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Com um cardápio já extenso e que vale a pena descobrir, nele se inclui Yo La Tengo Is Murdering the Classics, um disco de versões gravado em 2006 e sobre o qual os Yo La Tengo afirmavam que tinha como objetivo principal assassinar os clássicos. O truque e a piada repetem-se agora, dez anos depois, com mais uma fornada de músicas alheias, traduzidas pela ótica peculiar deste grupo e onde se incluem temas tão inusitados e esteticamente abrangentes como Hey Ya dos Outkast, Emotional Rescue dos The Rolling Stones, Girl From The North Country de Bob Dylan ou King Kong de Ray Davies. Murder in the Second Degree é o nome deste novo álbum de versões dos Yo La Tengo, quase uma trintena de canções que a banda foi tocando ao vivo na estação de rádio WFMU, entre 1996 e 2003 e que finalmente são editadas com o merecido destaque.

Há bandas que sabem aproveitar a sua maturidade e dialogar com as tendências mais atuais. Assim, é interessante observar como os Yo La Tengo conseguiram este efeito ao longo de vinte e nove anos de carreira e o modo como revisitam alguns dos temas que fazem certamente parte do seu ideário sonoro e dos seus gostos, resulta num alinhamento coeso, com versões cheias de personalidade e interligadas numa sequência que flui naturalmente. Nele não falta o habitual registo vocal dos músicos dos Yo La Tengo em coro, melodias amigáveis e algo psicadélicas, feitas com guitarras distorcidas, mas também momentos mais íntimos e quase silenciosos, onde se canta baixo e existe uma maior escassez instrumental. Acaba por ser uma espécie de narrativa leve e sem clímax, com uma dinâmica bem definida e muito agradável e acabamos, frequentemente, por esquecer que estes temas têm a assinatura de outros projetos.

Com uma variedade de referências e encaixes sonoros que definem o indie rock atual, a banda faz em Murder In The Second Degree uma ode aos seus heróis, ao mesmo tempo que vibram com a típica sonoridade da última década do século passado e as transformações sonoras que experimentaram na década seguinte. Da autoria do cartonista Adrian Tomine, o artwork do disco merece também todo o destaque.Espero que aprecies a sugestão...

Yo La Tengo - Murder In The Second Degree

01. Alley Cat
02. New York Groove
03. Bertha
04. Add It Up
05. To Love Somebody
06. Civilization (Bongo Bongo Bongo)
07. Suspect Device
08. First I Look At The Purse
09. Jailbreak
10. Popcorn
11. Girl From The North Country
12. Build Me Up Buttercup
13. I Wanna Be Free
14. Rock And Roll Love Letter
15. Emotional Rescue
16. Some Velvet Morning
17. The Low Spark Of High-Heeled Boys/Mr. Soul
18. Pay To Cum
19. Never My Love
20. King Kong
21. White Lines (Don’t Do It)
22. Slurf Song
23. Different Drum
24. Crazy
25. Be My Baby
26. Hey Ya!
27. Heart Of Darkness
28. Chantilly Lace + Medley

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publicado por stipe07 às 18:30

Villagers – Where Have You Been All My Life?

Quarta-feira, 13.01.16

Os irlandeses Villagers são, neste momento, praticamente monopólio da mente criativa de Conor O'Brien e estão já na linha da frente do universo indie folk europeu, pelo modo criativo e carregado com o típico sotaque irlandês, como replicam o género, ainda por cima oriundos de um país com fortes raízes e tradições neste género musical. Com um trajeto musical bastante profícuo nos últimos anos, além de intenso e rico, acabaram por resolver agregar alguns dos temas mais significativos de Becoming a Jackal (2010), {Awayland} (2013) e Darling Arithmetic (2015), dando assim origem a Where Have You Been All My Life?, um álbum editado a oito de janeiro último, através da Domino Records e que nos oferece não apenas uma simples compilação de sucessos, mas uma narrativa muito pessoal e autobiográfica de um cantor e compositor extraordinário, que se debruça frequentemente sobre a temática da sexualidade e os desafios emocionais que a questão da sua homossexualidade lhe tem colocado nos anos mais recentes.

Com o apoio inestimável de Richard Woodcraft, um dos elementos fundamentais da retaguarda dos Radiohead e do engenheiro de som Ber Quinn, os Villagers assentaram arraiais nos estúdios RAK, em Londres e regravaram os doze temas do alinhamento de Where Have You Been All My Life?, adaptando os novos arranjos de modo a que fluissem como uma narrativa homogénea e linear, a exata sensação que a audição do álbum nos oferece.

Se temas como Set The Tigers Free ou Everything I Am Is Yours não defraudam a implacável herança folk que foi tipificando o som do Villagers, já o dedilhar de cordas de Darling Aritmethic e de The Souls Serene ou o baixo impulsivo de Memoir oferecem-nos um olhar mais vincado sobre o modo como Conor consegue entrelaçar letras e melodias e adicionar ainda belos arranjos, de forte teor sentimental, caraterísticas que fazem deste coletivo irlandês não só uma referência essencial e obrigatória no género, mas também um bom aconchego para alguns dos nossos instantes mais introspetivos e fisicamente intimistas.

Seja como for, o meu grande destaque deste trabalho acaba por ser, sem dúvida, até pela temática, Hot Scary Summer, uma canção onde o autor canta emotivamente sobre o fim do amor e o lado mais destrutivo desse sentimento (all the pretty young homophobes looking out for a fight); É nesta canção que Conor amplifica inteligentemente o modo como em Villagers fala de si e das suas experiências e esse ênfase, ampliado pela cândura do seu falsete, acaba por fazer com que se dispa totalmente, exalando uma vincada veia erótica.

Terminando com uma lindíssima versão de Wichita Lineman, um original de 1968 da autoria de Glen Campbell, já revisto por nomes importantes como os R.E.M., Where Have You Been All My Life? contém instantes sonoros de superior magnificiência, em que é possível sentirmos que estamos abraçados ao líder desta banda, a partilhar o mesmo espaço físico da mesma, completamente desprovidos de qualquer defesa, enquanto testemunhamos o modo como Conor se entrega a uma aritmética amorosa, onde está em causa não só o modo como gere a sua relação com o amor, mas também consigo mesmo e os seus próprios conflitos emocionais. Espero que aprecies a sugestão...

Villagers - Where Have You Been All My Life

01. Set The Tigers Free
02. Everything I Am Is Yours
03. My Lighthouse
04. Courage
05. That Day
06. The Soul Serene
07. Memoir
08. Hot Scary Summer
09. The Waves
10. Darling Arithmetic
11. So Nave
12. Wichita Lineman

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publicado por stipe07 às 20:51

Kowalski – The Kowalski Archives: 2007 – 2009

Sexta-feira, 25.12.15

Louis Price, Paddy Coon, Tom O'Hara e Paddy Baird são os Kowalski, uma banda irlandesa por cá há cerca de uma década e que acaba de editar uma coleção de canções, disponível para download gratuito, ou com a possibilidade de doares um valor e que faz uma espécie de súmula de alguns dos melhores instantes da fase inicial de uma carreira amplamente reconhecida no país de origem do grupo, mas que carece de uma visibilidade internacional que seria bem merecida.

Mestres em escrever sobre sentimentos e emoções, plasmadas em letras profundas e intensas, que debruçando-se sobre as relações humanas podem, potencialmente, ser fonte de identificação para qualquer um de nós, os Kowalski testam a nossa capacidade de resistência à lágrima fácil com vitórias e derrotas para ambos os lados, mas sempre com a impressão firme no lado de cá da barricada de estarmos perante uma banda extremamente criativa, atual, inspirada e inspiradora e que sabe como agradar aos fãs.

The Kowalski Archives: 2007 – 2009 é, portanto, uma amostra clara do modo como este quarteto abriu as hostilidades de uma carreira que tem dado uma elevada primazia a detalhes tipicamente pop, com as teclas e alguns arranjos sintéticos a surgirem com insistência no edifício das canções, mas sempre agregados à guitarra e a belíssimos efeitos, com um forte cariz etéreo. No entanto, não se pense que o indie rock puro e genuíno não faz parte do cardápio do grupo; Se Phil Cansus é um portento sonoro épico conduzido por guitarras cheias de distorção, Top Body Shot segue a linha com uma superior dose de eletrificação, com Untitled 1, uma das minhas canções preferidas deste disco, a ser aquele indispensável tratado de dream pop que justifica imensas loas a este alinhamento, uma canção que não fica a dever nada aos melhores intérpretes atuais deste subgénero musical.

Outro exemplo maior desta primazia de elementos tipicamente pop de uma coletânea registada maioritariamente ao vivo e com várias sessões intimistas,mas impecavelmente produzido, é Stinck Of Change, outro sinal genuíno do modo assertivo como os Kowalski escrevem com a mira bem apontada ao nosso âmago, plasmando todas as sensações positivas provocadas por esse processo de criação sonora que, no caso deste grupo, deverá ser um momento reconfortante de incubação melódica, também um dos ingredientes indispensáveis para que comecemos a olhar para este grupo com um olhar mais abrangente e dedicado. Espero que aprecies a sugestão...

Kowalski - The Kowalski Archives 2007 - 2009

01. Oh My Good God (Courtyard Sessions – Nov 2007)
02. Stink Of Change (Courtyard Sessions – May 2008)
03. Untitled 1 (Live From Vence – Jan 2009)
04. Phil Cansus (Oh Yeah – Apr 2008)
05. Little House (Courtyard Sessions – May 2008)
06. Jennifer Stringer (Courtyard Sessions – May 2008)
07. New York Games (Courtyard Sessions – Nov 2007)
08. Top Body Shot (BBC live – Feb 2007)
09. Another Plan (Blueroom Live – Sept 2007)
10. What’s In The Bag Boss? (Blueroom Live – Feb 2007)
11. Dawn (Blueroom Live – Mar 2008)
12. Untitled 3 (Live From Vence – Jan 2009)
13. Untitled 2 (Live From Vence – Jan 2009)
14. Untitled 4 (Live From Vence – Jan 2009)
15. Like You Too (Blueroom Live – Mar 2008)

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Fleeting Youth Records Vol. 3

Sábado, 05.09.15

Uma das etiquetas mais interessantes do cenário indie norte americano é a Fleeting Youth Records, editora que é já uma presença habitual neste espaço de crítica e divulgação musical, fruto de uma relação profícua para ambas as partes. Liderada por Ryan Fyr, a etiqueta lançou no início do verão, no seu bandcamp, a terceira compilação do seu cardápio, intitulada Fleeting Youth Records Vol. 3.

Disponível com a possibilidade de doares um valor pela mesma, ou de a obteres gratuitamente, a compilação contém vinte e duas canções e inclui no alinhamento nomes tão interessantes como os Passenger Peru, Van Dale, Kissing Party, Scot Drakula, Loose Tooth, Robot Princess, Van Dale ou Surfin' Mutants Pizza Party, entre outros, bandas e projetos que lançaram trabalhos discográficos nos últimos meses e que foram todos divulgados e analisados neste blogue.
Fleeting Youth Records Vol. 3 está repleto com algum do melhor punk rock, pleno de fuzz, distorção e experimentalismo que se vai fazendo no cenário mais alternativo do outro lado do atlântico, sendo um documento obrigatório para os apreciadores do género e não só. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:31

Dreams Never End - A Tribute To New Order

Sábado, 22.08.15

Qualquer pessoa em uma pista de dança já vibrou com algum sucesso dos New Order, aquela banda de Manchester que nasceu após o suicídio de Ian Curtis, líder dos Joy Division. A publicação brasileira The Blog That Celebrates Itself de Renato Malizia tomou a iniciativa de criar uma compilação de tributo aos New Order, curiosamente, ou talvez não, numa altura em que esta icónica banda britânica está de regresso aos lançamentos discográficos com Music Complete, um álbum que chegará às lojas a vinte e cinco de setembro, à boleia da Mute Records.

Primeiro disco desta banda fundamental e pioneira na mistura de indie rock com a eletrónica sem o baixista Peter Hook, em compensação Music Complete contará com a teclista Gillian Gilbert, esposa do baterista Stephen Morris, de regresso à banda, de onde tinha saído em 2001 para cuidar dos filhos do casal.

A compilação está diponível gratuitamente ou com a posibilidade de doares um valor pela mesma e contém clássicos da banda como Ceremony, Blue Monday, Waiting For The Siren's Call ou Bizarre Love Triangle, revisitados por nomes tão importantes como Babbling April, Ambros Chapel, Pure os DRLNG de Eliza Brown e Martin Newman, bandas que conseguiram respeitar a essência pós-punk dos New Order, com o cunho pessoal e contemporâneo que ofereceram às canções. Estes últimos são mesmo, na minha opinião, o grande destaque deste tributo, pela aúrea mística, intima e marcadamente nostálgica que recriaram em Bizarre Love Triangle. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:33

André Barros - Soundtracks Vol. I

Quarta-feira, 01.07.15

Estudante de direito, André Barros resolveu, em boa hora, aprender a tocar piano, de modo autodidata e numa idade considerada por muitos como tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. O passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumou à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar.

Particularmente apaixonado por música instrumental, André Barros sempre adorou escutar bandas sonoras e a facilidade com que tocou um dos temas de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Yann Tiersen, num piano acústico de uma amiga, acabou por ser o click final para o arranque de uma carreira, feita muitas vezes de improviso e que acaba de ter um enorme fòlego intitulado Soundtracks Vol. I, o seu rerceiro registo de originais e que, gravado entre Lisboa e Paço de Arcos, viu a luz do dia a dezoito de maio, por intermédio da Omnichord Records.

Soundtracks Vol. I contém, entre outros, os temas do filme Our Father, de Linda Palmer, que renderam ao autor um galardão para melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards e que, depois de ter alcançado boas críticas e alguns prémios em vários festivais, chegou também à edição de 2015 do Festival de Cannes.

Músico de excelência e exímio criador de arranjos, quer de teclas quer de cordas, em Soundtracks Vol. 1 André Barros oferece-nos vários temas criados essencialmente para curtas metragens e documentários, com Between Waves a ser a única canção que não é da sua autoria. Refiro-me a um tema de Yuchiro Nakano, com arranjos da autoria de André Barros e que fez parte de uma curta-metragem com o mesmo nome. Depois, há também uma excelente composição intitulada Gambiarras, que conta com a participação especial do escritor Valter Hugo Mãe, que escreveu um poema que o próprio leu, além de uma canção intitulada Flowers On Your Skin, criada propositadamente para o espetáculo de dança contemporânea Short Street Stories.
Trabalho comtemplativo, relaxante e intimista, Soundtracks Vol. I é um admirável compêndio de trechos sonoros, feitos com cordas e pianos que se unem entre si com uma confiança avassaladora, tornando-se absolutamente recompensadores pelo modo como nos transmitem uma paz de espírito genuína, ao memso tempo que conseguem ajudar-nos a materializar visualmente os diferentes cenários que as composições pretendem recriar nos diferentes filmes em que são utilizados. Este é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da ação dos filmes e documentários que utilizam as várias composições do alinhamento, contemplando-os usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião, música com cheiros e cores muito próprios.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental e tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Confere a entrevista que André Barros concedeu a Man On The Moon e espero que aprecies a sugestão...

Gravado em Lisboa e em Paço de Arcos, Soundtracks Vol. 1 é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da ação dos filmes e documentários que utilizam as várias composições do alinhamento, contemplando-os usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião, música com cheiros e cores muito próprios. Como surgiu a ideia de gravar um disco assim?

Agradeço imenso estas palavras! Diria que não houve, inicialmente, qualquer intenção de gravar um disco assim pois aquando da composição das várias bandas sonoras a que estes temas pertencem (portanto, desde final de 2013) eu não antevia que, juntamente com a editora, viríamos posteriormente a tomar a decisão de os compilar num CD e passar a ter esta mostra do meu trabalho nesta área dividida por volumes. No entanto, depois de termos os temas prontos, depois de terminadas as bandas sonoras, tudo fez sentido e dado que continuarei a trabalhar com afinco neste mundo da música para imagem, então que melhor forma de o partilhar com o público do que criar estas compilações ao longo do tempo?

Pessoalmente, penso que Soundtracks Vol. 1  tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Quais são, antes de mais, as tuas expetativas para este teu novo fôlego no teu projeto a solo?

É extraordinário sentir isso, e sinto-me muito grato por até hoje ter recebido um bom feedback deste trabalho de que tanto me orgulho. Espero tão somente que possa continuar a partilhar as minhas criações com as pessoas, seja gravando mais bandas sonoras, seja pelos concertos, seja pelo lançamento de um novo álbum de originais (que não para filmes). Para o fazer, certamente que terei de influenciar positivamente quem escuta o meu trabalho para que possa ter as condições para continuar, e estou convicto de não defraudarei as expectativas de quem, tão gentilmente, tem seguido o meu percurso.

Ouvir Soundtracks Vol. 1 foi, para mim, um exercício muito agradável e reconfortante que tenho intenção de repetir imensas vezes, confesso. Intrigante e melancólico, é realmente um documento que não tem apenas as teclas do piano como protagonistas maiores do processo melódico, com as cordas, quer de violas, quer de violinos, a serem, também, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem. Esta supremacia do cariz fortemente orgânico e vivo que esta miríade instrumental constituída por teclas e cordas por natureza confere à música que replica, corresponde ao que pretendeste transmitir sonoramente neste trabalho?

Sem dúvida! Estes temas, todos eles, vivem muito da intenção aquando da sua interpretação, e não apenas de todo o aparato técnico que montamos quando os criamos em estúdio. Este é um aspecto crucial que influenciará certamente a escuta atenta de quem põe o disco a tocar, é também um aspecto que vou tentando aprimorar a cada trabalho que vou produzindo, sendo que por vezes se pode tornar um desafio enorme partilhar com os músicos exactamente a intenção que pretendo que coloquem em cada frase, mas tudo isto é uma aprendizagem e felizmente vejo-me rodeado de músicos bem talentosos e maduros, apesar da sua (nossa!) juventude!

Em traços gerais, como foram sendo selecionados os filmes e documentários onde se podem escutar estas canções? Recebeste convites para participares na banda-sonora ou tu próprio abordaste alguns realizadores com essa intenção?

Até agora, todos os filmes nos quais tive o prazer de participar com o meu trabalho (tirando somente produções para filmes institucionais e corporativos/publicidade) surgiram graças ao meu trabalho de pesquisa (uma parte fundamental da minha actividade!) que desenvolvo incessantemente, procurando projectos de filmes em fases de pré-produção para os quais acha uma futura possibilidade de vir a integrar enquanto compositor. Uma vez captado o interesse de um realizador/produtores, desenvolvo os contactos por forma a mostrar que consigo atingir a sonoridade que pretendem, enviando demos com base em guiões ou outro material já disponível, até que (nos casos em que fui bem sucedido) recebo a confirmação do outro lado para integrar oficialmente a equipa de produção.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental. Houve, desde o início do processo de gravação, uma rigidez no que concerne às opções que estavam definidas, nomeadamente o tipo de sons a captar no piano e a misturar com as cordas e as vozes, ou durante o processo houve abertura para modelar ideias à medida que o barro se foi moldando?

Sim, há sempre uma certa flexibilidade que me dão durante o processo de amadurecimento dos temas, e que me permite experimentar novos sons ou novos efeitos que poderão enriquecer o resultado final do trabalho. Acredito que tais pormenores, e claro muitos deles apenas perceptíveis se escutados atentamente, acabam por contribuir para uma identidade mais vincada de cada projecto, ajudando-me a enriquecer e a complementar uma melodia.

Além de ter apreciado a riqueza sonora natural, gostei particularmente do cenário melódico das canções, que achei muito bonito. Em que te inspiras para criar as melodias?

Muito obrigado! De facto, tento sempre que o meu trabalho tenha uma boa estrutura melódica pois acabou por ser esta a razão que me levou a entrar no universo da música, da composição... é muito inglório atribuir a este ou outro aspecto/acontecimento o papel de  fonte de inspiração pois será sempre uma resposta subjectiva e incompleta, na medida em que sinto que há uma infinidade de factores de certamente contribuirão para a génese do meu trabalho de composição, muitos deles claramente intuitivos e difíceis de racionalizar!

Valter Hugo Mãe escreveu propositadamente o poema de Gambiarras, um tema em que ele próprio também colabora com a voz. Como surgiu a possibilidade de trabalhar com este escritor ilustre no disco? De quem partiu a iniciativa desta colaboração?

Eu conheci o Valter e enderecei-lhe o convite, sendo que já vinha a amadurecer este tema há algum tempo, e com ele também a ideia de cruzar a poesia (ainda que não declamada, apenas lida) com o este meu trabalho. E quem melhor do que o Valter, que aliás tem imensas colaborações com projectos musicais, para me ajudar a concretizar este devaneio?

Adoro a composição Wounds Of Waziristan, por sinal o single do disco. O André tem um tema preferido em Soundtracks Vol. 1?

É-me sempre difícil responder a esta questão, pois tenho muito carinho por todos os temas do álbum... mas se realmente tivesse de eleger um e distingui-lo como uma espécie de “single” do disco, de facto escolheria precisamente o Wounds of Waziristan pois trata-se do primeiro tema que alguma vez compus para filme, logo terá sempre um espaço especial no meu trajecto e nas minhas memórias!

Em relação ao futuro, após Soundtracks Vol. 1, já está definido o próximo passo na tua carreira?

Continuar a trabalhar nesta área das bandas sonoras pois, para além de me dar imenso prazer, dá-me também um certo conforto financeiro para que me possa continuar a aventurar sem receios nesta indústria! Continuar com os concertos de apresentação tanto deste álbum como do anterior e ir pensando em temas para um eventual álbum a solo (isto é, que não de temas para bandas sonoras).

Em tempos, quando estudavas Direito, resolveste aprender a tocar piano, pelos vistos de modo autodidata, numa idade que muitos podem considerar tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. Como se deu esse click?

Sim! Agradeço a simpatia. Eu já ouvia imensa música instrumental e nomeadamente de bandas sonoras pela altura em que estava perto de terminar o curso de Direito, pelo que um dia lembrei-me de tentar tocar um dos temas da banda sonora do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” de Yann Tiersen... pesquisei no Youtube como tocar o tema e pedi a uma amiga que me deixasse tentar fazê-lo num piano acústico que ela tinha em casa. Quando percebi que o fiz com relativa facilidade, apaixonei-me de imediato pelo toque e pela sonoridade do piano, daí até comprar um piano digital passaram uns dias e desde logo me aventurei no improviso até construir os meus temas!

Depois, o passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumaste à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar. Como é, em traços gerais, o ambiente nesse estúdio? Como foi essa experiência?

Sim, estive naquele estúdio maravilhoso durante 3 meses, no Verão de 2012. Foi uma experiência inesquecível, aprendi imenso, contactei com músicos e técnicos extraordinários e seria ridículo não dizer que foi o concretizar de um sonho poder partilhar aquele ambiente com músicos e projectos que tanto admiro. São todos extremamente profissionais e pessoas muito dedicados a esta arte. Reina a calma e a boa disposição e procura-se sempre a perfeição sonora respeitando-se todo e cada instrumento e músico para que transpareça nas gravações a paixão que se sente pelo que fazem.

 

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publicado por stipe07 às 21:32






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