man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Sigur Rós - ÁTTA
Os islandeses Sigur Rós são provavelmente os maiores responsáveis pela geração a que pertenço se ter aproximado da música erudita ou de quaisquer outras formas de experimentação e de estranhos diálogos que possam existir dentro do campo musical. Ultimamente viviam numa espécie de hiato, pelo menos como banda, mas, finalmente, onze anos depois de Valtari, estão de regresso aos discos com ÁTTA, o oitavo disco do projeto, um alinhamento de dez canções produzido por Paul Corley e que é, de acordo com a própria banda, o trabalho mais emotivo e íntimo de todos os álbuns que já compuseram.
Gravado em diferentes estúdios espalhados por vários continentes, em Abbey Road (Londres), no estúdio da banda em Sundlaugin e em diversos estúdios nos Estados Unidos da América, ÁTTA (que significa oito em islandês) é simultaneamente estranho e familiar para quem conhece e ouve afincadamente esta banda há aproximadamente duas décadas, algo que não é, diga-se, inédito numa projeto que logo desde Von, o primeiro álbum, se concentrou na produção de discos que, mesmo próximos, organizam-se e funcionam de modo distinto. O resultado final é uma discografia que se renova, capítulo após capítulo, acabando sempre por partilhar um novo sentimento ou proposta, ao mesmo tempo que utiliza uma fórmula básica, mas riquíssima, que serve de combustível a cada novo catálogo. E esse combustível parece-nos ser, mais do que o modus operandi, uma necessidade intensa que este trio tem de, com generosidade, convicção, impressionismo e patriotismo, plasmar a sua visão física e espiritual relativamente ao país de origem e, a partir daí, do mundo que os rodeia e no qual, por acaso, também, vivemos.
ÁTTA é, portanto, um novo marco e um passo em frente, seguro e maduro, na discografia dos Sigur Rós. Em quase uma hora, o trio avança, talvez definitivamente, rumo à musica de cariz mais clássico e erudito, deixado para trás as guitarras inflamadas em agrestes distorções e uma imponência percurssiva, tantas vezes inigualável, que só o baterista Orri Páll Dýrason sabia como replicar, para se deleitar com um manuseamento tremendamente delicado, despudoradamente calculado e indisfarçadamente belo, do sintético, mesmo se trombones, violinos, harpas ou trompetes continuem a fazer parte da equação, exemplarmente tocados, na sua maioria, pela orquestra contemporânea de Londres. No entanto, é curioso o modo como mesmo através desta guinada conceptual e interpretativa, os Sigur Rós continuam a manter intacto aquele adn muito próprio e único que nos transporta sempre para a típica paisagem vulcânica islandesa, fria e inóspita, já que, à semelhança da restante discografia do trio, este alinhamento é para ser escutado como um único bloco de som, compacto, hermético e aparentemente minimalista, mas rico em detalhes, experiências, nuances e paisagens, como é, num obrigatório e feliz paralelismo, um país tão belo, intrigante e rico como a Islândia.
ÁTTA é, então, um deleite de sons com forte inspiração em elementos paisagísticos, uma imagem de marca Sigur Rós em que a pouca acusticidade orgânica que ainda subsiste, entrelaça-se com texturas eletrónicas particularmente intrincadas, que conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar melodias com uma beleza sonora que nos deixa muitas vezes boquiabertos. O disco avança, música após música, e dificilmente nos apercebemos de quando começa um tema e acaba outro. Os momentos de (quase) silêncio abundam e mesmo esses são detalhísticamente muito ricos. A ímpar delicadeza comovente que nos submerge em Glóð, o manancial sintético com poderes encantatórios que sustenta Blóðberg, enquanto convida o nosso âmago a dar primazia aos nossos sonhos em detrimento da velocidade vertiginosa em que todos vivemos e que Skel também ajuda, qual ABS em forma de orquestra, a abrandar, a suprema espiritualidade que exala de Mór, a pura adrenalina soporífera que nos injeta com pó de ignimbrite em Andrá e, principalmente, o modo como Klettur nos eleva à categoria de protagonistas e de seres escolhidos para a condução até ao caminho maior, deste mundo que nos foi oferecido, por geração espontânea ou por obra do divino, não se sabe muito bem, mas que estando ainda escondido no fundo de um lago gelado que se formou há milhares de anos nas profundezas de uma escura, mas intacta e nunca explorada caverna e de onde nunca saiu, agora explode, finalmente, rumo ao espaço celestial, ao som desta imponente canção, são instantes obrigatórios de um álbum que, mesmo tendo trechos sonoros que sabem a tormento e a desolação e que são impossíveis de ignorar, até por causa da beleza dos mesmos, quer queiramos, quer não, facilmente mexe com todos os nossos sentidos, nos arrepia e nos dá momentos momentâneos de pura felicidade!
ÁTTA surpreende todos aqueles que consideravam que este trio formado por Kjartan Sveinsson, Jónsi e Georg Holm já não teria capacidade de criar alinhamentos conceptualmente tão portentosos como Ágætis Byrjun ou Takk. Mas, imensamente mais importante que isso, é um regresso feliz dos Sigur Rós à boa forma e mostra que a espera de mais de uma década valeu bem a pena. ÁTTA vale, reforço uma vez mais, pelo todo e a audição individual de uma única canção, descontextualiza-o, até porque cria ao nosso redor, instantaneamente, uma espécie de névoa celestial. Como é apanágio dos Sigur Rós, cada ouvinte é livre para absorver o seu conteúdo do modo que mais lhe convier. Pessoalmente, ÁTTA soube-me, na dúzia de vezes que já ouvi o disco nos últimos quatro dias, a uma expressão sublime de contradições e a uma materialização assustadoramente real do modo como a sagacidade de três mentes inspiradas consegue feitos únicos e inolvidáveis, demonstrando que é possível a convivência saudável entre ordem e caos, amor e ódio, paz e guerra, presença e ausência, neste mundo tão agreste e cinzento em que vivemos e que a própria capa do registo quer, de algum modo, fazer-nos recordar. O perigo em que vivemos é tal nos dias de hoje, que até uma das obras mais sublimes da natureza, o arco-íris, sendo confiada nas nossas mãos, corre o risco de se incendiar. Espero que aprecies a sugestão...
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José Tornada - Wild Promises
A dupla lusa Los Waves, formada por José Tornada e Jorge da Fonseca, tem merecido destaque por parte da nossa redação na última década, porque, quando surge com novidades, consegue dar sempre nas vistas devido à sonoridade única e até algo inovadora, tendo em conta o panorama musical nacional. Recordamo-nos particularmente do disco de estreia, lançado em dois mil e catorze. Intitulava-se This Is Los Waves So What? e continha onze canções dominadas pelo rock festivo e solarengo, mas onde a eletrónica também tinha uma palavra importante a dizer, já que os sintetizadores conduziam, quase sempre, o processo melódico, de modo a replicar uma sonoridade que impressionou pelo charme vintage.
No final da última primavera, em junho, José Tornada, um dos membros da dupla Los Waves, chamou a nossa atenção com um single intitulado Visions, que viu a luz do dia em formato EP e que antecipava o disco de estreia do músico, um álbum intitulado Love, Hope, Desire and Fear, que nasce da busca de uma essência e de uma identidade sonora e que irá ver a luz do dia a trinta de setembro. O trabalho irá ter como ponto de partida o piano, e influências de artistas como Ryuichi Sakamoto e Philip Glass, contando com a participação do violinista norte-americano Nathaniel Wolkstein e da poetisa alemã Roses Sabra, cuja voz dá corpo à história que envolve o álbum. Continuando a parafrasear o press release de Wild Promises, o último single retirado do alinhamento de Love, Hope, Desire and Fear, o texto e a voz foram elementos preponderantes na composição do disco, pois para José Tornada houve o objectivo de humanizar e dar coesão ao disco como se de uma peça única se tratasse. Além do autor passar por vários estilos musicais, oscilando entre o piano a solo, neo-classico orquestrado, minimal e ambiente, todas as faixas têm uma linha fluente que as liga, sendo um trabalho que pode ser ouvido do ínicio ao fim como uma faixa continua. Através da simplicidade melódica, de peças com métrica de “canção” e do uso de voz, poesia e sintetizadores, Love, Hope, Desire and Fear pretende quebrar a barreira e o preconceito que existem em relação à música clássica tradicional e erudita.
Relativamente a Wild Promises, é uma peça de piano íntima, em que o autor tenta capturar o sentimento de espectativas e promessas que todos fazemos a nós próprios. O piano suave do verso é uma metáfora para a esperança interior e incerteza, enquanto o crescendo final é a realização de todas essas espectativas.
Não termino sem recordar que, à semelhança do que redigi em junho quando a nossa redação divulgou o single Visions, José tornada é um pianista, compositor e produtor, que descobriu o seu interesse pela música e melodia desde muito cedo. É através dos jogos de consola japoneses dos anos noventa e de Claude Debussy que começa a explorar o piano e a reproduzir pequenos trechos melódicos dos mesmos. Aos dezanove anos desiste do curso de arquitectura e muda-se para Londres para perseguir uma carreira na música. Lá dá os seus primeiros concertos e faz as primeiras composições para filmes e televisão. Warner Bros, BBC, FOX, MTV, AXN, VH1 e CBS são algumas das produtoras que fazem parte do portfólio de Tornada. É também em Londres que edita os primeiros discos através da Urban Outfitters UK, Rimeout Records Japan e na Optimus Discos Portugal.
Com este seu disco de estreia José Tornada volta a redescobrir o interesse pela música clássica e instrumental, voltando ao ponto de partida, a simplicidade melódica da sua infância. É com esta premissa, a de explorar a música no seu estado mais simples e puro, que se isola na ruralidade do Alentejo durante um ano para compor o seu primeiro álbum de música clássica. A viver num pré-fabricado de 15m2, rodeado de ovelhas, começa a construir a sua identidade e a sua interpretação do que é a música clássica contemporânea: influenciado pelas bandas sonoras de jogos e animes da sua infância, pela cadência de Carlos Paredes e os acordes de Radiohead descobertos na adolescência e pela experiência de produção e composição adquirida em idade adulta. As influências e experiências do seu passado recente trazem ao seu trabalho uma sensibilidade pop mantendo a profundidade e a simplicidade na composição, arranjo e produção. Confere...
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José Tornada - Visions EP
A dupla lusa Los Waves, formada por José Tornada e Jorge da Fonseca, tem merecido destaque por parte da nossa redação na última década, porque, quando surge com novidades, consegue dar sempre nas vistas devido à sonoridade única e até algo inovadora, tendo em conta o panorama musical nacional. Recodamo-nos particularmente do disco de estreia, lançado em dois mil e catorze. Intitulava-se This Is Los Waves So What? e continha onze canções dominadas pelo rock festivo e solarengo, mas onde a eletrónica também tinha uma palavra importante a dizer, já que os sintetizadores conduziam, quase sempre, o processo melódico, de modo a replicar uma sonoridade que impressionou pelo charme vintage.
Agora, quase no verão de dois mil e vinte e dois, chamou a nossa atenção um dos membros da dupla Los Waves, o José Tornada. Ele está prestes a lançar um disco a solo intitulado Love, Hope, Desire and Fear, que foi antecipado com a divulgação do single Visions, em formato EP.
Assim aproveitando e citando a nota de lançamento do single, recordemos que pianista, compositor e produtor, José Tornada descobre o seu interesse pela música e melodia desde muito cedo. É através dos jogos de consola japoneses dos anos noventa e de Claude Debussy que começa a explorar o piano e a reproduzir pequenos trechos melódicos dos mesmos. Aos dezanove anos desiste do curso de arquitectura e muda-se para Londres para perseguir uma carreira na música. Lá dá os seus primeiros concertos e faz as primeiras composições para filmes e televisão. Warner Bros, BBC, FOX, MTV, AXN, VH1 e CBS são algumas das produtoras que fazem parte do portfólio de Tornada. É também em Londres que edita os primeiros discos através da Urban Outfitters UK, Rimeout Records Japan e na Optimus Discos Portugal.
Com este seu disco de estreia José Tornada volta a redescobrir o interesse pela música clássica e instrumental, voltando ao ponto de partida, a simplicidade melódica da sua infância. É com esta premissa, a de explorar a música no seu estado mais simples e puro, que se isola na ruralidade do Alentejo durante um ano para compor o seu primeiro álbum de música clássica. A viver num pré-fabricado de 15m2, rodeado de ovelhas, começa a construir a sua identidade e a sua interpretação do que é a música clássica contemporânea: influenciado pelas bandas sonoras de jogos e animes da sua infância, pela cadência de Carlos Paredes e os acordes de Radiohead descobertos na adolescência e pela experiência de produção e composição adquirida em idade adulta. As influências e experiências do seu passado recente trazem ao seu trabalho uma sensibilidade pop mantendo a profundidade e a simplicidade na composição, arranjo e produção.
Assim, o resultado final de toda esta trama é o já citado álbum Love, Hope, Desire and Fear, um alinhamento que nasce desta busca de uma essência e uma identidade sonora e que será certamente analisado por cá num futuro próximo, tendo como porta de entrada a canção Visions, uma peça de piano com métrica de “canção” cuja composição vai buscar influências a artistas como Ryuichi Sakamoto e Philip Glass. Confere...
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André Carvalho - Karelu
O contrabaixista e compositor André Carvalho continua a tirar enormes dividendos de Lost In Translation, o quarto álbum da sua carreira, que viu a luz do dia a quinze de outubro pela editora americana Outside in Music e que conta com os apoios da Fundação GDA, Antena 2, Companhia de Actores e do Teatro Municipal Amélia Rey Colaço.
Desta vez fá-lo com o single Karelu, o sétimo tema do alinhamento do registo, uma composição que, de acordo com o press release do seu lançamento, tem como título uma palavra que procura dar nome àmarca deixada na pele por se usar algo apertado, ou seja, a canção assenta sobre uma ideia quasi leit motiv que se repete ao longo do desenvolvimento do tema. Uma ideia repetitiva como se tratasse de algo que desse uma certa comichão.
Nesta composição, Karelu, de forte pendor jazzíatico e experimental, que soa a uma espécie de feliz e inspirado momento de improviso e que já conta com um vídeo assinado por Pedro Caldeira, além deJosé Soares, André Matos e o próprio André Carvalho, é possível ouvirmos no trompete o convidado especial João Almeida.
Lost In Translation foi gravado, misturado e masterizado pelo engenheiro de som Tiago de Sousa com quem Carvalho trabalhou nalguns dos seus discos anteriores e o artwork foi desenvolvido pela designer Margarida Girão. Lost In Translation conta também nos créditos com o saxofonista José Soares e o guitarrista André Matos, músicos com quem tem colaborado intensamente nos últimos anos, mas também, como acabámos de verificar, o jovem trompetista João Almeida. Confere...
Site: https://www.andrecarvalhobass.com/
Facebook: https://www.facebook.com/carvalhobass/
Instagram: https://www.instagram.com/andrecarvalho.bass/
Twitter: https://twitter.com/acarvalhobass
Spotify: https://open.spotify.com/artist/1E8eyZqM2L6tQTWwHQeDsO?si=WktWy50wR16sGqKkrQLTDw
Bandcamp: https://andrecarvalho.bandcamp.com/
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Yann Tiersen – Kerber
Criado e gravado no The Eskal, o estúdio que construiu em Ushant, a ilha onde mora e que se localiza a trinta quilómetros da costa oeste da Bretanha, no Mar Céltico, Kerber é o nome do novo disco do compositor francês Yann Tiersen, um compêndio sonoro com a mesma designação de uma capela situada nessa mesma ilha e, no fundo, um disco conceptual porque mapeia mapeia sonoramente a paisagem que circunda a casa do autor.
Kerber é um verdadeiro oásis de beleza e melancolia, neste presente tão inquietante que nos assola, um mundo eletrónico de magníficas texturas, altamente envolvente e cuidadosamente construído. Nele, as teclas penetrantes do piano fundem-se com paisagens sonoras ondulantes, à medida que Tiersen explora as possibilidades criativas que um ano de isolamento lhe proprocionou, ainda por cima numa ilha em que o impossível é conseguir viver de um modo frenético ou massificado.
Kerber é, pois, o retrato de uma ilha em sete telas sonoras lindíssimas legendadas em bretão, mas também a almofada reconfortante que o autor criou para se recostar enquanto usufrui de uma paisagem única e que, pelos vistos, é incrivelmente capaz de trazer à tona uma diversidade rica e infinita de ideias musicais.
Logo a abrir o disco, Kerlann funicona como uma espécie de apresentação do esqueleto de Kerber e, no fundo, como uma espécie de personificação do corpo principal da própria ilha. Depois, em Ar Maner Kozh, através do movimento oscilante que os detalhes eletrónicos fazem em redor de um acordeão sublime e um registo percurssivo sagaz e no modo como em Kerdrall piano e sino nos afagam, de modo simples mas muito eficaz, visualizamos, caso queiramos e com notável grau de impressionismo, as diferentes paisagens que dão forma ao local que serviu de inspiração ao registo. Os tambores que mal se ouvem em Ker al Loch e o piano que neste tema flui como um curso contínuo de água, com reflexos e tons que se alteram pela ação de impressionantes sons modulares que agitam a sua textura com brilho repentino, podem muito bem servir para dar vida à cadência da luz que ilumina La Jument, o farol a oeste de Ushant e um dos ex-libris da ilha.
Registo claramente instintivo e onde o piano, como seria de esperar, é rei e senhor, Kerber é um notável marco de evolução compositória e sinfónica na carreira de Yann Tiersen. É um disco em que a tradicional definição de música clássica pode ser utilizada, sem receio, para embrulhar o seu conteúdo, mas que, no interior, esconde uma diversidade enorme de entalhes sintéticos e percurssivos que encontram eco na melhor eletrónica atual. É, em suma, um poderoso retrato de um homem em sintonia perfeita com a natureza e a sua beleza rude, oferecendo-nos uma visão única desta simbiose perfeita. Espero que aprecies a sugestão...
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André Carvalho - Uitwaaien
O contrabaixista e compositor André Carvalho está de regresso aos lançamentos discográficos com Lost In Translation, o quarto álbum da sua carreira, que irá ver a luz do dia a quinze de outubro pela editora americana Outside in Music e que conta com os apoios da Fundação GDA, Antena 2, Companhia de Actores e do Teatro Municipal Amélia Rey Colaço. Lost In Translation foi gravado, misturado e masterizado pelo engenheiro de som Tiago de Sousa com quem Carvalho trabalhou nalguns dos seus discos anteriores e o artwork foi desenvolvido pela designer Margarida Girão. Lost In Translation conta também nos créditos com o saxofonista José Soares e o guitarrista André Matos, músicos com quem tem colaborado intensamente nos últimos anos, mas também o jovem trompetista João Almeida.
Alguma vez quiseram dizer algo mas não encontraram a palavra certa? É esta a questão que André Carvalho nos quer colocar com Lost In Translation, um disco surpreendente porque se inspira em palavras que existem em determinadas línguas, mais de dez, como o sueco, o holandês, o Urdu e o Wagiman (uma língua que é apenas falada por duas pessoas no mundo inteiro), mas que são intraduzíveis. Segundo o autor, por vezes a palavra está mesmo na ponta da língua mas, outras vezes, simplesmente não existe uma palavra… Ou, pelo menos, na nossa língua. Carvalho continua, dizendo que, por mais fascinante que a língua Portuguesa seja, sempre teve dificuldade em expressar certas ideias usando apenas uma palavra. E, mesmo que soubesse todo o léxico, tem a certeza que este problema persistiria.
Sonoramente, Lost In Translation é a materialização de uma busca incessante por novas sonoridades, que tem levado André Carvalho a explorar algumas áreas musicais tais como o jazz, a música improvisada, a música experimental e a música contemporânea dita erudita. Por isso, não será de estranhar que coabitem neste quarto registo do autor composições que exploram diferentes sonoridades, tempos, silêncio, espaço, cores, dinâmicas, texturas e ruídos. Sobre esta dinâmica de criação, André esclarece-nos que quis usar uma instrumentação diferente da que usou nos outros três álbuns. Paralelamente, idealizava um grupo sem bateria, onde o espaço e o respeito pelo silêncio fosse uma constante. E, com vista a perseguir uma sonoridade contemplativa, intimista e ao mesmo tempo crua, algo que imaginava com bastante clarividência, tentei usar elementos colorísticos e texturais, para além dos tradicionais elementos musicais como a melodia, harmonia e ritmo.
Uitwaaien é o primeiro single divulgado de Lost In Translation, uma composição com um título que, na língua de origem, a holandesa, significa sair para passear num dia ventoso, com o intuito de espairecer e relaxar a cabeça. Aliás, sobre Uitwaaien André Carvalho refere que quando escreveu a canção imaginou algo contemplativo mas ao mesmo tempo com uma certa tensão, já que o significado de Uitwaaien remete para uma acção libertadora. Acrescentou que usando um tempo lento, desenvolveu várias secções contrastantes em que as melodias principais são calmas, em oposição à secção de solos que é inquietante e áspera.
Uitwaaien já tem direito a um vídeo filmado pelo realizador Pedro Caldeira no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço em Dezembro do ano passado. Confere...
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Moby – Reprise
O músico e produtor nova iorquino Moby tem nove álbuns na última década, vivendo uma das fases mais inspiradas e produtivas de uma já longa e respeitável carreira, que tem feito dele um dos expoentes maiores da eletrónica do novo milénio. E o novo passo que Moby deu neste percurso inigualável é uma compilação de versões de alguns dos seus maiores sucessos, concretamente treze, com novos arranjos e uma filosofia eminentemente acústica, com a ajuda da Budapest Art Orchestra. Esse disco chama-se Reprise, viu a luz do dia à boleia da Deutsche Grammophon e além da orquestra já referida, também conta com as participações especiais de Gregory Porter, Jim James (My Morning Jacket), Mindy Jones, Víkingur Ólafsson, Kris Kristofferson e Skylar Grey, entre outros.
Em Reprise, Moby imprime uma dinâmica interpretativa com elevado cariz orquestral e progressivo, que dá um aspecto ainda mais magnificiente ao já robusto catálogo que revisita, algo só possível devido à escolha dos intérpretes, especialistas na replicação de ambientes negros, mas plenos de soul. De facto, com um arranque de carreira memorável à boleia de Play, ainda o melhor disco da sua discografia, foi com elevada dose de ansiedade que se aguardava nesta redação Reprise, até porque há várias canções desse álbum mítico que são alvo de revisão neste trabalho. E as expetativas não são defraudadas porque Reprise contém uma tremenda sensibilidade e está cheio de melodias bastante aditivas. Mesmo revisitando originais, o alinhamento transporta consigo um ideário, quer sonoro, quer lírico e poético muito vincado e consegue tocar o ouvinte e deixá-lo a refletir sobre esta contemporaneidade tão conturbada e perigosa que testemunhamos, quer para a nossa espécie quer para o futuro sustentado do planeta em que vivemos.
Mesmo com o adn típico de uma orquestra clássica, Reprise não deixa de poder ser catalogado também como um infatigável corpo eletrónico que revela as suas diferentes camadas sonoras enquanto o acústico e o elétrico, a pop e a soul, o rock e a chillwave se entrelaçam sem pudor e enleados por um incisivo clima melancólico que combina bem com a essência de Moby, um especialista na replicação de ambientes negros, mas também de assombros orquestrais intensos e belos. Espero que aprecies a sugestão...
01. Everloving (Reprise Version)
02. Natural Blues (Feat. Gregory Porter And Amythyst Kiah) (Reprise Version)
03. Go (Reprise Version)
04. Porcelain (Feat. Jim James) (Reprise Version)
05. Extreme Ways (Reprise Version)
06. Heroes (Feat. Mindy Jones) (Reprise Version)
07. God Moving Over The Face Of The Waters (Feat. Víkingur Ólafsson) (Reprise Version)
08. Why Does My Heart Feel So Bad (Feat. Apollo Jane And Deitrick Haddon) (Reprise Version)
09. The Lonely Night (Feat. Mark Lanegan And Kris Kristofferson) (Reprise Version)
10. We Are All Made Of Stars (Reprise Version)
11. Lift Me Up (Reprise Version)
12. The Great Escape (Feat. Nataly Dawn, Alice Skye And Luna Li) (Reprise Version)
13. Almost Home (Feat. Novo Amor, Mindy Jones And Darlingside) (Reprise Version)
14. The Last Day (Feat. Skylar Grey And Darlingside) (Reprise Version)
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Sigur Rós – Stendur æva
Os islandeses Sigur Rós são provavelmente os maiores responsáveis pela geração a que pertenço se ter aproximado da música erudita ou de quaisquer outras formas de experimentação e de estranhos diálogos que possam existir dentro do campo musical. Ao lado da conterrânea Björk, este projeto não apenas colocou a Islândia no mapa dos grandes expoentes musicais, como definiu de vez o famigerado pós rock, género que mesmo não sendo de autoria da banda, só alcançou o estatuto e a celebração de hoje graças, em grande parte, ao rico cardápio instrumental que este grupo conseguiu alicerçar nas mais de duas décadas que já leva de existência.
Agora, sete anos depois do último disco da banda, o aclamado Kveikur, os Sigur Rós voltam a fazer mossa com Odin’s Raven Magic, um disco orquestral ao vivo, que conta com as participações de vários músicos do país da banda, nomeadamente Maria Huld Markan Sigfúsdóttir do projeto Amiina, Hilmar Örn Hilmarsson e Steindór Andersen e que é inspirado num poema medieval islandês chamado Edda e que retrata um banquete de deuses marcado por presságios agoirentos sobre o fim do mundo. Já agora, a primeira interpretação desta verdadeira banda sonora de um poema sucedeu um par de vezes, há já dezoito anos, em dois mil e dois, no evento Reykjavik Arts Festival. Este lançamento em disco de Odin’s Raven Magic, que vai acontecer a quatro de dezembro à boleia do consórcio Krunk vs Warner, teve os arranjos assinados por Kjartan Sveinsson e por Sigfúsdóttir, da banda Amiina e capta uma performance no La Grande Halle de la Villette, em Paris, em setembro de dois mil e quatro.
Stendur æva (stands alive) é o mais recente tema divulgado deste novo registo dos Sigur Rós que faz uma súmula desse concerto em Paris, uma composição efervescente e onde todas as opções instrumentais, predominantemente sintéticas e minimalistas, mas também fortemente orgânicas e dominadas pelas cordas e pelos sopros da orquestra participante, se orientaram de forma controlada. A canção é marcada por um loop hipnótico conferido por um curioso xilofone construído a partir de fragmentos de pedra rudemente talhados, da autoria do escultor Páll Guðmundsson. A partir dessa base, os restantes elementos instrumentais, a voz profunda de Andersen e o falsete de Jonsi vão conjurando entre si até se aglutinarem num clímax sereno, mas bastante emotivo, resultando, no seu todo, num salutar grau de epicidade, sendo a audição da composição uma experiência auditiva de forte pendor metafísico e sensorial. Confere Stendur æva e a tracklist de Odin’s Raven Magic...
1. Prologus
2. Alföður orkar
3. Dvergmál
4. Stendur æva
5. Áss hinn hvíti
6. Hvert stefnir
7. Spár eða spakmál
8. Dagrenning
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Ed Harcourt – Drowning In Dreams
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Grutera - Fica Entre Nós
Será a quatro de maio e à boleia da Planalto Records que irá ver a luz do dia Aconteceu, o quarto disco do projeto Grutera, assinado por Guilherme Efe, um músico nascido em pleno verão de mil novecentos e noventa e um e que, segundo reza à lenda, chegou ao nosso mundo todo nu, careca, sem dentes e cheio de sangue da barriga de sua mãe. As más línguas também referem que na altura o músico ainda não sabia tocar guitarra, porque não tinha unhas, mas provavelmente já sabia que era isso que faria o resto da sua vida, ainda que paralelamente tivesse qualquer outra atividade, mais ou menos lícita, mais ou menos nobre, com que fizesse mais ou menos dinheiro.
Guilherme começou a sua carreira artística a tocar guitarra em bandas de metal, depois descobriu os recônditos prazeres da guitarra clássica e percebeu que seria por aí que iria conseguir alcançar a tão almejada fama, riqueza e sucesso, que tanto ambicionava desde o ventre materno, ou pelo menos, fazer música que o emocionasse e que melhorasse alguns minutos da vida de alguém que a ouvisse.
O percurso discográfico de Guilherme começou há cerca de oito anos com Palavras Gastas, no ano seguinte chegou aos escaparates o registo Sempre e dois anos depois viu a luz do dia Sur Lie, o antecessor deste Aconteceu, que foi gravado numa pequena adega, em casa dos pais do músico e que quebra um hiato de meia década, tendo começado a ser incubado em Braga desde dois mil e dezassete, com a ajuda de Tiago e Diogo Simão, que já tinham tido um papel preponderante nos três trabalhos anteriores deste projeto Grutera.
Fica Entre Nós é o primeiro single divulgado de Aconteceu, uma instrumental dedilhado divinamente à guitarra e que versa sobre a cumplicidade, um sentimento que pode ser entre duas pessoas como entre pessoas e as suas tradições. O próprio vídeo da canção tem essa faceta bem impressa, ao mostrar uma necessidade cada vez mais premente de conservar costumes e preservar espaços e gentes locais. Gentes que, muitas vezes, se vêm expulsas das suas raízes pela força do turismo e dos interesses económicos, que tanto podem ter de bom como de mau, se não existir um equilíbrio. Confere...
CONCERTOS
5 de Abril/ Festival Santos da Casa, Coimbra
4 de Junho/ Maus, Hábitos, Porto
5 de Junho/ Clav Sessions, Vermil
13 de Junho/ CAE Sever do Vouga
25 de Setembro/ Casa da Cultura, Setúbal
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