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Preoccupations – Arrangements

Terça-feira, 13.09.22

Estar permanentemente na linha da frente da reinvenção do rock deve ser uma preocupação constante para os Preoccupations e ainda bem! Como os mais atentos saberão, trata-se de um projeto canadiano formado por Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, que já se chamou Viet Cong ainda nesta vida e que volta a distribuir jogo com Arrangements, um portentoso alinhamento de sete canções, o primeiro lançado pela etiqueta do próprio grupo que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.

Preoccupations Announce New Album Arrangements, Share New Song “Ricochet”:  Listen | Pitchfork

De facto, quatro anos depois do registo New Material, os Preoccupations voltam a querer estar na vanguarda da indução de novas nuances e conceitos estilísticos a um género sonoro demasiado abrangente para se poder dizer que são diminutas as possibilidades de lhe acrescentar algo de novo e diferente. Há sempre algo de novo a dar ao rock e a partir do momento em que ele se abriu à própria evolução tecnológica, sem estar preso às amarras da famosa tríade guitarra, baixo e bateria, ainda mais comprido é o espetro que pode ser burilado. E depois, o ruído, uma componente fundamental do melhor rock, quer se queira, quer não e que muito diz a este quarteto, é também uma espécie de poço sem fundo no que diz respeito à margem de manobra que pode dar a quem se predispuser a manupulá-lo com perícia e, diga-se, sentido melódico. E nos dias de hoje, poucas são as bandas que o conseguem fazer melhor que os Preoccupations e, ainda por cima, com elevado sentido pop.

Arrangements é, portanto, um tratado feliz e extraordinariamente bem concebido no modo como utiliza tudo aquilo que é aparentemente apenas rugoso e abrasivo, para passar a ser audível com deleite e de modo harmonioso, mesmo que, a instantes, pareça algo minimal. Por exemplo, canções como Slowly, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia, mas também Death Of Melody ou Ricochet, que filosoficamente se debruçam sobre o futuro da humanidade, provam, uma vez mais, o modo como este quarteto é contundente a abordar certas questões da nossa contempraneidade que inquietam e assustam, nomeadamente a constante imoralidade de determinadas instituições que, infelizmente, não nos dão a confiança merecida Estando repletas de guitarras encharcadas em distorções metálicas e efeitos ecoantes intensos e que também impressionam pelo registo percussivo enleante e encorpado, não só plasmado numa bateria seca, mas também num baixo imponente, nomeadamente na marcação rítmica, são temas que depois afagam-se em primorosas sintetizações que, dando-lhes o indispensável tempero, acamam a rudeza eficazmente, provando o modo exímio como este quarteto faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.

Não há, na música dos Preoccupations, uma busca pela indução no ouvinte de estados de alma límpidos, puros e aconchegantes e esse é, mesmo que alguns discordem, um dos grandes atributos deste projeto de Calgary. Arrangements cimenta essa permissa que fere porque atinge o âmago, servindo-se de uma matriz sonora algo esquizofrénica e fortemente combativa, mas que frutifica novos detalhes numa mistura de post punk com shoegaze que é, essencialmente, uma fórmula pessoal e onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, mas como mais um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Tudo isto é uma marca qualitativa de superior calibre porque traduz um saudável experimentalismo e uma espécie de catarse onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética, que fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:07

Chad VanGaalen – World’s Most Stressed Out Gardener

Segunda-feira, 29.03.21

Foi há poucos dias e por intermédio da Sub Pop Records que chegou aos escaparates World’s Most Stressed Out Gardenero novo trabalho do canadiano Chad Van Gaalen, um alinhamento de treze canções gravado, misturado e produzido pelo próprio nos seus estudios Yoko Eno Studio em Calgary, Alberta e masterizado por Ryan Morey em Montreal, no Quebeque.

Chad VanGaalen: 5 Albums That Changed My Life | TIDAL Magazine

Antes de tecer considerações sobre o conteúdo do alinhamento de World’s Most Stressed Out Gardener, é, como habitual, importante contextualizar o autor desta magnífica obra musical e esclarecer que Chad é, acima de tudo, um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que ele idealizou. E basta ouvir World’s Most Stressed Out Gardener para perceber que, realmente, Chad comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada.

Esta filosofia sonora aventureira começou a ganhar forma sem rodeios em Infiniheart (2004) e Soft Airplane (2008), trabalhos que apostaram numa sonoridade folk eminentemente acústica e orgânica, mas a partir de Diaper Island (2011) e com mais vigor em Shrink Dust (2014) e Light Information (2017), o estilo foi aprimorado com um arsenal sintético cada vez mais diversificado, tendência que se mantém em World’s Most Stressed Out Gardener, um disco eclético, complexo e de audição verdadeiramente desafiante, mas altamente recompensadora.

Se dúvidas ainda existiam, World’s Most Stressed Out Gardener, o oitavo disco do autor e que tem este nome porque o músico gosta de cultivar vegetais no seu quintal e comê-los crus, como um animal no pasto, prova que é mesmo a eletrónica o terreno onde hoje musicalmente VanGaalen se move com maior conforto, utilizando-a até para reproduzir muitos dos sons mais orgânicos que podemos escutar neste álbum. Sintetizadores e teclados são a matriz do arsenal bélico com que o canadiano nos sacode e traduz em grande parte destas treze canções, que materializam, na forma de música, visões alienadas de uma mente criativa que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo. A visão apocalítica que nos oferece com a sua voz profusa e decadente sobre o futuro do mundo na lindíssima balada Nothing Is Strange, ou o frenesim roqueiro que avalia os diferentes níveis de realismo de alguns pesadelos em Nightwaves, são bons exemplos desta escrita e composição emocionalmente ressonante e que parte também, muitas vezes, de premissas absurdas, como sucede na sua visão de uma pêra mágica em Golden Pear, ou uma curiosa busca por uma espada de samurai perdida, plasmada em Samurai Sword, uma das canções mais bonitas do disco. Aliás, a própria criatura mutante que estampa a capa deste World’s Most Stressed Out Gardener, é também uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por VanGaalen ao longo da sua carreira e que parece ser alvo de uma espécie de súmula neste seu mais recente cardápio, um festim de canções pop ruidosas, exemplarmente picotadas e fragmentadas e que penetram profundamente no nosso subconsciente.

A trama adensa-se à medida que o álbum floresce nos nossos ouvidos, com a fantasia coalhante do rock estridente de Spider Milk, o clima sci-fi oitocentista dos instrumentais Earth From a Distance e Plant Musica energia alienígena positivamente agressiva de Starlight e o krautrock sombrio de Inner Fire, a servirem-se dos sonhos do autor como matéria-prima por excelência, para consolidar um verdadeiro jogo de texturas e distorções, em suma, um notável passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da sua existência pessoal e que nos oferece neste World’s Most Stressed Out Gardener, o disco mais estranho e abrasivo, mas também feliz, da sua carreira. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 10:34

Preoccupations - New Material

Quinta-feira, 29.03.18

Matt Flegel e Mike Wallace são dois músicos já habituados a recomeços no que concerne a projetos musicais. Depois de terem feito parte dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou saudades no universo sonoro alternativo, incubaram os extraordinários Viet Cong, um coletivo que fez furor há três anos com um disco homónimo que foi considerado por esta redação como o melhor do ano, em 2015. Este nome tão sugestivo da banda acabou por não sobreviver à crítica, muita dela oriunda do importante mercado discográfico local e, por isso, a dupla viu-se na necessidade de se reinventar de novo, surgindo agora sobre a capa dos Preoccupations, um coletivo onde à dupla se juntam os guitarristas Scott Munro e Daniel Christiansen, que já os acompanhavam nos Viet Cong. New Material é o registo discográfico que dá o pontapé de saída a esta nova vida do projeto, dez canções alicerçadas num post punk labiríntico de elevado calibre e abençoado pela chancela da insuspeita Jagjaguwar, uma das principais editoras independentes norte-americanas.

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Disco cheio de canções que assentam quase sempre numa guitarra com um rugoso efeito metálico particularmente aditivo e um baixo imponente, acompanhados por uma bateria falsamente rápida, como é o caso de Espionage, o tema que abre o disco, New Material remete-nos, no imediato, para aquele rock que impressiona pela rebeldia com forte travo nostálgico e por aquela sensação de espiral progressiva de sensações, que tantas vezes ferem porque atingem o âmago. A psicadelia oitocentista que dá as mãos ao punk é outra nuance importante deste alinhamento com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, texturas melódicas e expansivas, mas também aquele pendor lo fi com uma forte veia experimentalista. É uma matriz sonora percetivel na distorção das guitarras, no vigor do baixo de Matt Flengel e, principalmente, na bateria de Wallace, muitas vezes algo esquizofrénica e fortemente combativa. Aliás, este instrumento é frequentemente chamado para a linha da frente na arquitetura sonora de New Material, ficando com as luzes da ribalta e um elevado protagonismo na percussão tribal de Decompose e no modo como as suas variações rítmicas introduzem o efeito da guitarra em Solace. Já que falamos em efeitos da guitarra, um dos grandes tiques identitários que trespassa toda a discografia destes músicos é, claramente, a sensibilidade do efeito metálico abrasivo da guitarra que corta fino e rebarba eque é audível em Decompose, um som que se ouvia frequentemente em Viet Cong, geralmente em contraste com a pujança do baixo. O resultado era uma elevada amplitude épica, presente em melodias que nos levavam rumo ao rock alternativo de final do século passado, mas que agora ganha contornos um pouco mais futuristas. E isso sucede porque nos Preoccupations Floegel e Wallace colocam os sintetizadores também em posição de elevado destaque, sendo Disarray uma boa canção para se perceber esta alteração estilística que combina post punk com shoegaze, uma fórmula pessoal e muito deles e onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, mas como mais um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Aliás, na já referida Solace e em Compliance os solos e riffs da guitarra de Scott e Daniel, exibem linhas e timbres com um clima marcadamente progressivo e rugoso, com os teclados a tornarem-se numa mais valia no modo como adornam este garage rock, ruidoso e monumental e o harmonizam, tornando-o agradável aos nossos ouvidos, ou seja, fazem da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.

A viagem lisérgica que o quarteto nos oferece nas reverberações ultra sónicas de New Material, fazem deste compêndio um agregado instrumental clássico, despido de exageros desnecessários e amiúde apoteótico. É uma demonstração clara do modo como este coletivo se disponibiliza corajosamente para um saudável experimentalismo que não os inibe de se manterem concisos e diretos, à medida que constroem os diferentes puzzles que dão substância às canções. No final, tudo resulta de forma coesa e o ruído abrasivo proporcionado por esta catarse onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética, fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

 Preoccupations - Espionage

01. Espionage
02. Decompose
03. Disarray
04. Manipulation
05. Antidote
06. Solace
07. Doubt
08. Compliance

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publicado por stipe07 às 17:31

Chad VanGaalen – Light Information

Sexta-feira, 15.09.17

Editado no passado dia oito de setembro, por intermédio da Sub Pop Records, Light Information é o novo trabalho de Chad Van Gaalen, um canadiano natural de Calgary e um músico, autor e compositor de quem já sentia saudades, nomeadamente dos seus devaneios cósmicos. Desaparecido depois de em 2010 ter editado o excelente Diaper Island, andou, pelos vistos, a aprender a usar o pedal steel, além de ter trabalhado na banda desenhada de ficção científica Translated Log Of Inhabitants, surpreendeu a crítica e os fãs três anos depois com o excelente Shrink Dust e agora, no final deste verão, oferece-nos mais trinta e oito minutos de excelente música indelevelmente marcada pela parentalidade, uma novidade feliz na vida do ser humano VanGaalen.

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Chad é um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que ele idealizou. Assim, as suas composições refletem, com alguma minúcia, estados de alma e os contextos que definem o seu momento, através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada. Esta matriz sonora mais aventureira começou a ganhar forma no antecessor de Shrink Dust, o tal Diaper Island, já que antes disso, em Infiniheart (2004) e Soft Airplane (2008), apostou numa sonoridade folk eminentemente acústica e orgânica. Agora, em Light Information, o autor confronta-nos com uma luminosidade algo inédita, mostrando-se vivo e estranhamento empático e exuberante no modo como comunica connosco.

Sendo a eletrónica o terreno onde musicalmente VanGaalen se move com maior conforto, Chad acaba por olhar com mais atenção para a indie pop movida a cordas reluzentes, nomeadamente no modo como em Mind Hijacker's Curse recria uma toada pulsante e algo épica movida através de uma batida enérgica e um efeito sintetizado cósmico a cheirar ao universo de um Bowie por todos os poros e na leveza de Pine and Clover ao oferecer-nos um cândido instante de blues folk acústica particularmente embaladora e intimista. Acabam por ser dois exemplos antagónicos de uma filosofia comum que busca uma maior assertividade no modo como se serve do habitual formato canção para atingir uma maior variedade de fãs, mesmo que em instantes como a soturna psicadelia de Host Body ou a sobriedade acústica mas indisfarcavelmente punk de Faces Lit, o músico se mantenha fiel aos seus genes, reproduzindo aqui alguns dos sons mais orgânicos que podemos escutar no seu cardápio.

Sintetizadores e teclados, são apenas uma pequena parte do arsenal bélico com que ele nos sacode e traduz, na forma de música, a mente criativa que nele vive e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente. Se You Fool é um exercício de manifestação óbvia daquilo que nos faz mudar o facto de sermos pais, enquanto coloca já a nú alguns detalhes que justificam o cariz psicadélico e aventureiro que anima Chad, com as guitarras de Broken Bell, apresentadas logo a seguir, a reforça-se o novo enquadramento da obra, cheia de fragmentos de sons sintetizados e distorcidos, versos hipnóticos e vozes com forte pendor lo fi, mas também subtis instantes melódicos de pura subtileza e encantamento. Chega-se ao ocaso e em Static Shape, ao conferirmos uma nuvem de distorções leves e acolhedoras, enquanto a lisergia sintetizada em que se acomodam cria paisagens sonoras verdadeiramente alucinogénicas, ficamos convencidos da enorme beleza e criatividade impressas num disco que buscou novos estímulos, de forma mais ponderada, com todos os arranjos e detalhes a terem sido certamente ponderados de forma muito cuidada, pois só assim se entende o audível aconchego da profusão de sons e de ruídos e poeiras sonoras que o trespassam, sempre com sentido e ordem, já que tudo parece encaixar devidamente e percebe-se diferentes colagens e sobreposições de sons.

Light Information é, portanto, um verdadeiro jogo de texturas e distorções controladas pelos nossos ouvidos. Um passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da sua existência pessoal, mas sem nunca se entregar ao exagero, até porque é explícita a toada experimental que ocupa este compêndio verdadeiramente obrigatório. Espero que aprecies a sugestão...

Chad VanGaalen - Light Information

01. Mind Hijacker’s Curse
02. Locked In The Phase
03. Prep Piano + 770
04. Host Body
05. Mystery Elementals
06. Old Heads
07. Golden Oceans
08. Faces Lit
09. Pine And Clover
10. You Fool
11. Broken Bell
12. Static Shape

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publicado por stipe07 às 13:40

Landfork - Koreatown Station

Terça-feira, 26.05.15

A viver atualmente em Calgary, no Canadá, Jon Gant é Landfork, uma espécie de alter-ego de um músico que tem na chamada synth pop uma grande paixão. Por isso, a sonoridade do projeto assenta num forte predomínio da eletrónica e dos sintetizadores. Descobri-o quando editou em agosto de 2013 Nights At The Kashmir Burlesk, um trabalho que sucedeu a Tiománaí, o disco de estreia do projeto, editado em outubro de 2011. No passado dia oito de julho de 2014 Landfork editou Trust, o seu terceiro álbum e já está de volta com Koreatown Station, o quarto tomo de uma exemplar carrreira discográfica onde a mistura lo fi e os sintetizadores que definiam a magia da pop há uns trinta anos atrás, são reis e senhores do respetivo conteúdo.

Parece fácil vislumbrar o período aúreo da synth pop dos anos oitenta à boleia da aúrea nostálgica que circunda a música de Landfork. Basta escutar-se a toada épica e reconfortante de Wild Love ou o charme de Staring At The Movie, para se perceber o modo como o autor se movimenta confortavelmente pelos meandros da pop mais introspetiva, mas a percussão frenética da bateria, o efeito em eco da voz e os flashes sintetizados de California Gold ou o sintetizador rugoso de Running Wild, continuando a replicar com enorme bom gosto os traços identitários e mais melancólicos da pop de cariz eminentemente eletrónico, também mostram vigor e um interessante apelo às pistas de dança, não faltando aqui material sonoro capaz de nos fazer abanar a anca. 

Koreatown Station acaba por viver da busca de equilibrio entre estes dois pólos previsivelmente opostos, com o núcleo duro do trabalho a ser um enorme oceano de sons e ecos que nos convidam à auto análise interior, mas que também não descuram a busca de sons de outras latitudes mais quentes. O processo de composição melódica acaba por se sustentar tendo os teclados como maiores protagonistas, em redor dos quais foram surgindo diferentes efeitos e arranjos, muitas vezes dominados por cordas e por uma percussão bastante inspirada.

Com a espiral sintetizada e o baixo de Can't Stop a piscarem já o olho a alguns dos traços identitários da génese do punk rock mais sombrio e o tema homónimo a espreitar ambientes mais progressivos e pesados, o groove e a natureza contagiante do arsenal instrumental de Grey Bandana acaba por funcionar como uma súmula deste agregado de tendências, quer rítmicas, quer melódicas que revivem o que de melhor se podia escutar há uns bons trinta anos, feitas por um artista que além de tocar todos os instrumentos de base, também manuseiam o sintetizador.

Afundado num colchão de sons eletrónicos e que satirizam de certa forma a eletrónica retro, feita com VHS, Landfork leva-nos num passeio divertido, mas também introspetivo, cheio de charme e bom gosto por uma década ímpar no cenário musical conjugando e recriando com distinção o que de melhor foi feito numa época em que era proporcional o abuso da cópula entre os sintetizadores e o spray para o cabelo. Mas em abono da verdade, também fará algum sentido afirmar que poderão estar aqui algumas pistas interessantes sobre o próximo de parte da eletrónica. Espero que aprecies a sugestão...

 

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publicado por stipe07 às 21:15

Viet Cong – Viet Cong

Quinta-feira, 22.01.15

Os Viet Cong são uma banda formada por Matt Flegel e Mike Wallace, dois músicos dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou saudades no universo sonoro alternativo. À dupla juntou-se, entretanto, Scott Monty Munro e Danny Christiansen. No último verão os Viet Cong editaram, através da Mexican SummerCassette, um EP que incluia no seu alinhamento Static Wall, uma incrível canção que nos levava numa viagem do tempo até à psicadelia dos anos setenta e agora, pouco mais de meio ano depois, chegou finalmente o primeiro longa duração do grupo, um compêndio com sete novas canções, que viu a luz do dia por intermédio da conceituada Jagjaguwar.

Viet Cong's self-titled album comes out on Jan. 20.

O punk rock dos Viet Cong tem uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva e não descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, percetivel na distorção das guitarras, no vigor do baixo de Matt Flengel e, principalmente, na bateria de Wallace. Este instrumento é frequentemente chamado para a linha da frente na arquitetura sonora de Viet Cong, ficando com as luzes da ribalta e um elevado protagonismo em várias canções, com particular destaque logo para a percussão tribal de Newspaper Spoons e, no epílogo, para o modo como é tocado em Death, como vamos ver adiante.

É perigoso dizer-se que os Viet Cong são apenas e só mais uma banda de punk rock, apesar de Continental Shelf, um dos singles já retirados de Viet Cong, ser um espetacular tratado sonoro aditivo do género, rugoso e viciante, até porque, em Bunk Buster, a sensibilidade do efeito metálico abrasivo de uma guitarra que corta fino e rebarba, em contraste com a pujança do baixo e a amplitude épica da melodia, que nos leva rumo ao rock alternativo dos anos novemtna e os solos e riffs da guitarra de Scott e Daniel, em Silhouettes, a exibirem linhas e timbres com um clima marcadamente progressivo e rugoso, alicerçado num garage rock, ruidoso e monumental, também se exibem no cardápio deste coletivo.

No fundo, o que os Viet Cong fazem é combinar algum do melhor post punk atual com o shoegaze, numa fórmula já pessoal e muito deles, onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, sendo, principalmente, um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Fazer barulho também é uma arte que nem todas as bandas dominam, mas os Viet Cong sabem como harmonizá-lo e torná-lo agradável aos nossos ouvidos, fazendo da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo. A viagem lisérgica que o quarteto nos oferece nas reverberações ultra sónicas de March Of Progress, inicialmente à boleia de uma melodia hipnótica sintetizada, depois por um efeito luminoso em tudo semelhante ao som da harpa e, finalmente, num agregado instrumental clássico, despido de exageros desnecessários mas apoteótico, é a demonstração cabal do modo como este coletivo se disponibiliza corajosamente para um saudável experimentalismo que não os inibe de se manterem concisos e diretos. Além deste exemplo, a arquitetura sonora variada e sempre crescente de Death, um longo tema, mas nada monótono, cheio de mudanças de ritmo, com a junção crescente de diversos agregados e que atinge o auge interpretativo numa bateria esquizofrénica e fortemente combativa, mas incrivelmente controlada, num resultado de proporções incirvelmente épicas, é algo bem capaz de proporcionar um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, a quem se deixar enredar na armadilha emocionalmente desconcertante que os Viet Cong construiram neste tema.

O efeito robótico da voz na inspirada e soporífera Pointless Experience e o modo como esse registo cola no timbre algo agudo e cru da bateria e no rigor inflamado do baixo, mostra ainda mais atributos e elevada competência no modo como os Viet Cong separam bem os diferentes sons e os mantêm isolados e em posição de destaque, durante o processo de construção dos diferentes puzzles que dão substância às canções, mas depois, no resultado final, tudo resulta de forma coesa e o ruído abrasivo fascina e seduz.

Viet Cong é uma estreia em grande estilo de um coletivo irreverente e inspirado, uma irrepreensível coletânea que aposta numa espécie de hardcore luminoso, uma hipnose instrumental abrasiva e direta, mas melodiosa e rica, que nos guia propositadamente para um mundo criado específicamente pelo grupo, onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética. Esta cuidada sujidade ruidosa que os Viet Cong produzem, feita com justificado propósito e usando a distorção das guitarras como veículo para a catarse é feita com uma química interessante e num ambiente simultaneamente denso e dançável, despida de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...

Viet Cong - Viet Cong

01. Newspaper Spoons
02. Pointless Experience
03. March Of Progress
04. Bunker Buster
05. Continental Shelf
06. Silhouettes
07. Death

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publicado por stipe07 às 21:16

Landfork - Trust

Quinta-feira, 14.08.14

A viver atualmente em Calgary, no Canadá, Jon Gant é Landfork, uma espécie de alter-ego de um músico que tem na chamada synth pop uma grande paixão. Por isso, a sonoridade do projeto assenta num forte predomínio da eletrónica e dos sintetizadores e conta com a ajuda de Derek Wilson, nas teclas, nas atuações ao vivo. Descobri-o quando editou em agosto de 2013 Nights At The Kashmir Burlesk, um trabalho que sucedeu a Tiománaí, o disco de estreia do projeto, editado em outubro de 2011. Agora, no passado dia oito de julho, Landfork está de regresso com Trust, o seu terceiro álbum, onde consegue, de novo, chamar a atenção dos nossos ouvidos com a mistura lo fi e os sintetizadores que definiam a magia da pop há uns trinta anos atrás.

Com a pop sintetizada a servir de força motriz para a composição e com uma escrita bastante autobiográfica, Trust está carregado com elementos sonoros onde a herança de nomes como os Fischerspooner à cabeça e alguns ecos dos Joy Division e, naturalmente, dos New Order, são uma evidência, que se entende quando o próprio musico confessa que o disco começou a ser pensado depois de ter passado a ouvir música de dança no terraço de um hotel mexicano e, nesse instante, ter-se sentido invadido por uma avassaladora vontade de também compôr material sonoro para abanar a anca, mas que replicasse alguns dos traços identitários e melancólicos da música pop de cariz mais eletrónico. Dois dias depois dessa experiência curiosa, Landfork regressou ao Canadá, instalou-se durante duas semanas no The Banff Centre for the Arts e com um pequeno gravador portátil e alguns instrumentos começou a trabalhar no conteúdo de Trust.

Há excelentes momentos contemplativos e festivos em Trust e o disco vive um pouco da busca de equilibrio entre estes dois pólos previsivelmente opostos, com o núcleo duro do trabalho a ser um enorme oceano de sons e ecos que nos convidam à auto análise interior, mas que também não descuram a busca de sons de outras latitudes mais quentes. O processo de composição melódica acaba por se sustentar tendo os teclados como maiores protagonistas, em redor dos quais foram surgindo diferentes efeitos e arranjos, muitas vezes dominados por cordas e por uma percussão bastante inspirada.

Trust conta com as participações especiais de Jamie Fooks (Jane Vain and the Dark Matter, Shematomas) e de Ryan Sadler (Teledrome, Thee Thems) e está disponivel no bandcamp de Landfork, com a possibilidade de doares um valor pelo mesmo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 22:12

Viet Cong - Cassette EP

Domingo, 13.07.14

Uma das melhores surpresas do ano são os Viet Cong, uma banda formada por Matt Flegel e Mike Wallace, dois músicos dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou saudades no universo sonoro alternativo e aos quais se juntam Scott "Monty" Munro e Danny Christiansen. No passado dia oito de julho os Viet Cong editaram, através da Mexican SummerCassette, um EP que inclui no seu alinhamento Static Wall, uma incrível canção que nos leva numa viagem do tempo até à psicadelia dos anos setenta, assim como o restante alinhamento de sete canções.

Logo no início, em Throw It Away, ao revisitarem a herança dos Rolling Stones, percebe-se que estes Viet Cong não têm receio de mostrar a capacidade intrínseca que possuem para replicar a psicadelia que surgiu na década de sessenta e adicionar outras sonoridades atuais, mais coloridas e aprimoradas. Logo de seguida, Uncouscious Melody faz uma revisão dessa psicadelia, mas numa busca pontos de encontro com o rock clássico, proposto há mais de quatro décadas por gigantes desse espetro sonoro que se entregaram ao flutuar sonoro da lisergia.

O EP prossegue repleto de surpresas e Oxygen Feed inflete em direção à mesma época, mas através de uma pop luminosa tão solarenga como o verão de Calgary, onde a banda reside. E enquanto a música avança e depois Static Wall e a sintetizada Structureless Design encaixam no mesmo ambiente sonoro, deixamo-nos ir com eles enquanto nos cruzamos com os veraneantes cor de salmão e de arca frigorífica na mão, que buscam uma qualquer praia onde depois do pôr do sol cabe uma fogueira que se acende noite dentro e onde existe um vidrão que irá ficar cheio, enquanto a areia se confunde com as beatas que proliferam, numa festa feita de cor, movimento e muita letargia.

Quem acha que ainda não havia um rock n' roll tresmalhado e robotizado nos anos sessenta ou que a composição psicotrópica dos substantivos aditivos que famigeravam à época pelos estúdios de gravação não deixaria raízes para que no futuro se instalasse uma onda revivalista em redor da sonoridade que daí brotava, deve ouvir atentamente Dark Entries porque ficará certamente impressionado com a contemporaneidade vintage nada contraditória dos acordes sujos e do groove da guitarra e da voz sintetizada de Matt, a grande força motriz de um EP dotado de uma maturidade particular, com canções que pretendem hipnotizar, com a firme proposta de olhar para o som que foi produzido no passado e retratá-lo com novidade, mas com os pés bem fixos no presente. Criativo e coerente, Cassette parece ser um EP que será melhor compreendido no futuro próximo e, enquanto tal não sucede, resta-nos viajar e delirar ao som das suas canções. Espero que aprecies a sugestão... 

01 Throw It Away
02 Unconscious Melody
03 Oxygen Feed
04 Static Wall
05 Structureless Design
06 Dark Entries
07 Select Your Drone

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publicado por stipe07 às 17:48

Viet Cong - Static Wall

Sexta-feira, 27.06.14

Viet Cong

Uma das melhores surpresas do ano são os Viet Cong, uma banda formada por Matt Flegel e Mike Wallace, dois músicos dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou suadades no universo sonoro alternativo.

No próximo dia oito de julho os Viet Cong vão editar através da Mexican Summer, Cassette, um EP que irá incluir no seu alinhamento Static Wall, uma incrível canção que nos leva numa viagem do tempo até à psicadelia dos anos setenta, uma sonoridade que já tinha ficado patente em outros dois temas editados em stembro do ano passado no bandcamp do grupo e partilhados abaixo. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:04

Chad VanGaalen – Shrink Dust

Terça-feira, 13.05.14

Editado no passado dia vinte e nove de abril, por intermédio da Sub Pop Records, Shrink Dust é o novo trabalho de Chad Van Gaalen, um canadiano natural de Calgary e um músico, autor e compositor de quem já sentia saudades, nomeadamente dos seus devaneios cósmicos. Desaparecido depois de em 2010 ter editado o excelente Diaper Islandandou, pelos vistos, a aprender a usar o pedal steel, além de ter trabalhado na banda desenhada de ficção científica Translated Log Of Inhabitants.

Antes de tecer algum tipo de comentário sobre o conteúdo do alinhamento de Shrink Dust é importante contextualizar o autor desta magnífica obra musical e esclarecer que Chad é, acima de tudo, um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que ele idealizou. E basta ouvir Shrink Dust para perceber que, realmente, Chad comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada. Esta matriz sonora mais aventureira começou a ganhar forma no antecessor de Shrink Dust, o tal Diaper Island, já que antes disso, em Infiniheart (2004) e Soft Airplane (2008), apostou numa sonoridade folk eminentemente acústica e orgânica.

Assim, hoje a eletrónica é o terreno onde musicalmente VanGaalen se move com maior conforto e utiliza-a mesmo para reproduzir os sons mais orgânicos que podemos escutar no seu cardápio. Sintetizadores e teclados, são apenas uma pequena parte do arsenal bélico com que ele nos sacode e traduz, na forma de música, a mente criativa que nele vive e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo, sendo a criatura mutante que estampa a capa do disco, uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por VanGaalen ao longo da sua carreira e que parece ser alvo de uma espécie de súmula em Shrink Dust

É naturalmente possível fazer uma paralelismo entre o seu trabalho como músico e como ilustrador de banda-desenhada; ambos são indissociáveis e Shrink Dust contém alguns temas que poderão fazer parte da banda sonora da versão animada da obra que ilustrou recentemente. O álbum inicia com uma toada calma, mas Cut Off My Hands coloca já a nú alguns detalhes que justificam o cariz psicadélico e aventureiro que anima Chad, com as guitarras de Where Are You, apresentadas logo a seguir, a reforçar o novo enquadramento da obra, cheia de fragmentos de sons sintetizados e distorcidos, versos hipnóticos e vozes com forte pendor lo fi, carregadas de eco e manipuladas digitalmente. Chad parte em busca de diferentes estímulos, de forma aparentemente arcaíca, mas todos os arranjos e detalhes terão sido certamente ponderados de forma muito cuidada, pois só assim se entende o audível aconchego da profusão de sons e de ruídos e poeiras sonoras, muitas sem sentido de ordem aparente, que se encontram em Shrink Dust. Mesmo em instantes com uma toada folk mais country, minimal e contemplativa, como na já referida Cut Off My Hands e em Lila e Weighted Sin, tudo encaixa devidamente e percebe-se diferentes colagens e sobreposições de sons.

Outra sequência algo inesperada, mas que só atesta a genialidade de Chad, é Leaning On Bells e All Will Combine, duas extraordinárias canções onde o artista pisca o olho ao rock psicadélico, com as guitarras a deixarem-se envolver numa nuvem de distorções leves e acolhedoras, enquanto a lisergia sintetizada em que se acomodam cria paisagens sonoras verdadeiramente alucinogénicas.

Shrink Dust é, portanto, um verdadeiro jogo de texturas e distorções controladas pelos nossos ouvidos. Um passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da mortalidade, mas que até convida às pistas de dança, sem nunca se entregar ao exagero, até porque é explícita a toada experimental que ocupa este compêndio folk de enorme beleza espacial. Espero que aprecies a sugestão...

Chad VanGaalen - Shrink Dust

01. Cut Off My Hands
02. Where Are You?
03. Frozen Paradise
04. Lila
05. Weighed Sin
06. Monster
07. Evil
08. Leaning On Bells
09. All Will Combine
10. Weird Love
11. Hangman’s Son
12. Cosmic Destroyer

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publicado por stipe07 às 21:47






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