man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Time For T - Galavanting
Gravado, de acordo com a banda, por acidente e tendo como ponto de partida um conjunto de demos captadas numa carvana durante o ano de dois mil e dezoito, numa viagem ao Algarve, Galavanting é o novo registo de originais dos Time For T, um projeto nacional mas com raízes em Inglaterra, mais concretamente em Brighton. Na sua génese está Tiago Saga, um jovem com genes britânicos, libaneses e espanhóis que cresceu no Algarve. Enquanto estudava composição contemporânea na Universidade de Sussex, Inglaterra, Tiago Saga foi criando a sua própria sonoridade assente na world music e na folk rock anglo-saxónica com outros músicos que foi conhecendo e com quem foi partilhando as mesmas inspirações, nomeadamente Joshua Taylor (baixo), Martyn Lillyman (bateria), Oliver Weder (teclas), os seus parceiros nestes Time For T.
Sucessor do excelente Hoping Something Anything, disco editado no início do outono de dois mil e dezassete, Galavanting tanto deambula pela folk como pelo rock psicadélico e nesse balanço, lá pelo meio, tanto piscam o olho à tropicália, como é o caso das batidas e dos arranjos de Naima e Eyes, como ao próprio jazz, exuberante nos devaneios percurssivos de Pink Marshmallows e no clima enevoado das cordas que conduzem Calling Back, indo também até ao blues experimental em Practically, uma canção com raízes na Índia, aquele rock mais boémio, audível em You Seem Intelligent, um modus operandi melodicamente acessível, sem deixar de exalar profundidade lírica e um charme genuíno.
Gravado e produzido por Juan Torán e misturado por Hugo Valverde, Galavanting representa bem aquele espírito intuítivo, orgânico e crú que carateriza a filosofia criativa destes Time For T que sabem melhor do que ninguém como fazer transparecer musicalmente todas as experiências de vidaque vão moldando a personalidade quer dos músicos quer da própria banda como um todo. Espero que aprecies a sugestão...
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Bat For Lashes - Lost Girls
Já chegou aos escaparates Lost Girls, uma espécie de banda sonora de um filme retro centrado numa personagem chamada Nikki Pink, que vive numa Los Angeles alternativa à que conhecemos e que lidera um gangue velocipédico exclusivamente feminino dessa cidade. A autoria de tão curiosa obre é do projeto britânico Bat For Lashes, viu a luz do dia através da AWAL Recordings e sucede ao enigmático e melancólico registo The Bride, editado há cerca de três anos.
São batidas sintéticas bem vincadas, um baixo encorpado, uma guitarra planante e uma vasta miríade de efeitos cósmicos, que nos fazem perceber, quase sem hesitação, o ideário estético desta nova coleção de canções de um extraordinário projeto que Natasha Khan, uma artista, cantora e compositora oriunda de Brighton, lidera, com notável bom gosto, há pouco mais de uma década. Num resultado final vincadamente oitocentista, Lost Girls escreve uma sentida carta de amor aquele glorioso universo synth pop sci-fi que brilhou esplendorosamente quando eramos miúdos e de certo modo nos moldou, enquanto faz uma súmula interessante e bem idealizada de todo o conteúdo que sustentou a eletrónica nos últimos trinta a quarenta anos. Tal é conseguido com elevado realismo atráves de canções pop bem estruturadas, devidamente adocicadas com arranjos bem conseguidos e que não dispensam a vertente orgânica conferida pelas cordas e pela percussão, tudo envolto com a pulsão rítmica que carateriza a personalidade de Bat For Lashes, que criou neste álbum mais um alinhamento consistente e carregado de referências assertivas e que, diga-se em abono da verdade, tem passado grande parte da sua carreira a olhar sonoramente para o passado, até porque o legado de veteranas do calibre de Kate Bush ou Stevie Nicks são referências declaradas de Natasha.
Canções como Kids In The Dark, uma crónica impressiva e romântica da cidade que nunca dorme e que, como já referi, é nevrálgica no conteúdo do trabalho, os arranjos impregnados de nostalgia e com uma forte vibe atmosférica impressa nas interseções vocais, de The Hunger, as sintetizações dançantes de Feel For You e a doce sedutora melancolia que exala de Mountains e Jasmine acabam por ser sóbrios reveladores do claro charme e misticismo de um disco intimista e que prova a meritória capacidade que este projeto Bat For Lashes tem de se reinventar constantemente num nicho sonoro saturado de propostas e referências. Espero que aprecies a sugestão...
01. Kids In The Dark
02. The Hunger
03. Feel For You
04. Desert Man
05. Jasmine
06. Vampires
07. So Good
08. Safe Tonight
09. Peach Sky
10. Mountain
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Bat For Lashes – Feel For You
Será a seis de setembro que irá chegar aos escaparates Lost Girls, o novo registo de originais do projeto britânico Bat For Lashes, um álbum já com alguns singles divulgados e que nos fazem perceber, quase sem hesitação, o ideário estético desta nova coleção de canções de um extraordinário projeto que Natasha Khan, uma artista, cantora e compositora oriunda de Brighton, lidera, com notável bom gosto, há pouco mais de uma década.
Lost Girls pretende ser uma espécie de banda sonora de um filme retro centrado numa personagem chamada Nikki Pink, que vive numa Los Angeles alternativa à que conhecemos e que lidera um gangue velocipédico exclusivamente feminino dessa cidade. O disco sucederá ao enigmático e melancólico registo The Bride, editado há cerca de três anos e irá ver a luz do dia através da AWAL Recordings. Feel For You é o mais recente tema divulgado da tal fornada de composições já revelada de Lost Girls, uma canção assente numa batida sintética bem vincada, um baixo encorpado, uma guitarra planante e uma vasta miríade de efeitos cósmicos, num resultado final vincadamente oitocentista. Confere...
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The Kooks – Got Your Number vs So Good Looking
Oriundos de Brighton, uma cidade inglesa com uma vida cultural bastante animada, os The Kooks são uma das bandas mais incomprendidas do cenário indie britânico e nunca foram levados demasiado a sério. Com tenra idade começaram a dar nas vistas, havendo mesmo quem os tivesse catalogado de boys band, um grupo de rapazes com um rosto particularmente laroca e que tendo uma boa máquina de produção para trás, tinham apenas que cantar, tocar e... encantar. No entanto, e tendo passado mais de uma década desde a estreia, o grupo tem mostrado trabalho árduo e sério, responsabilidade e criatividade. Se as três primeiras constações não podem merecer qualquer objeção de quem procurar inteirar-se sobre a carreira e o modus operandi da banda e for sério, já a questão da criatividade fica sempre, naturalmente, ao critério de cada um. Mas, também aqui, há que ser coerente e sério e desbravar, sem concessões, uma já apreciável discografia com cinco tomos.
Ainda sem disco novo anunciado e que suceda ao registo Let's Go Sunshine editado o ano passado os britânicos The Kooks têm-se dedicado à divulgação de algumas novas canções recentemente, tendo sido a última So Good Looking, depois de terem-nos revelado a composição Got Your Number há algumas semanas.
Ambos os temas contêm aditivos riffs de guitarra, inspirados e vigorosos, entrelaçados com um dançante toada pop, diversificada e acessível, que dá vida a duas melodias orelhudas que foram alvo de uma produção aberta e notoriamente inspirada e que enriquece bastante o espetro sonoro dos The Kooks, sem trair a identidade de um projeto que não falseia o desejo de se manter no seio das grandes bandas que atualmente mantêm vivo o indie rock alternativo britânico. Confere...
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Fujiya And Miyagi – Flashback
Com já uma década e meia de atividade e assumindo-se, à boleia de um já vasto e riquíssimo catálogo discográfico, como um dos projetos mais relevantes do cenário indie britânico, pelo modo exímio como misturam alguns dos melhores aspetos do rock alternativo com a eletrónica de cariz mais progressivo, os Fujiya And Miyagi resolveram o ano passado revisitar Transparent Things, o disco que editaram há pouco mais de uma dúzia de anos, que continha clássicos do calibre de Ankle Injuries, Collarbone ou Photographer e que os lançou para o estrelato. Agora, um ano depois dessa reedição em vinil do primeiro álbum da banda, os Fujiya And Miyagi lançam-se num novo registo de originais, um trabalho intitulado Flashback, que irá ver a luz do dia no final de maio à boleia da Red Eye Records. Será um disco com sete canções e bastante inspirado na adolescência de David Best e Stephen Lewis, os dois grandes mentores dos Fujiya And Miyagi e das memórias que guardam da Brighton em que cresceram, nos arredores de Londres e do período aúreo do eletro pop e do breakdance em plenos anos oitenta, época em que na Iglaterra trabalhista de Tatcher era cool usar fatos de treino da Nike, sapatilhas da Adidas e saber rodopiar no chão com estilo.
Deste novo álbum dos Fujiya And Miyagi já se conhece o tema homónimo, uma canção que retrata com elevado grau de impressionismo todo o ideário do disco acima referido, através da simbiose entre as batidas graves e palmas, a voz sussurrada de Best e o groove de um teclado retro, ao qual se juntam amiúde efeitos metálicos percurssivos com uma declarada essência vintage. Para já, o single esclarece que David Best, Stephen Lewis, Ed Chivers, Ben Adamo e Ben Farestuedt mergulharão uma vez mais a fundo, dentro da filosofia do trabalho, numa mescla entre electropop, disco e o clássico krautrock alemão setentista. Confere Flashback e o alinhamento e o artwork do disco que terá, como já disse, o mesmo nome...
01. Flashback
02. Personal Space
03. For Promotional Use Only
04. Fear of Missing Out
05. Subliminal
06. Dying Swan Act
07. Gammon
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Time For T - Hoping Something Anything
Gravado ao longo do ano de 2016 nos Spitfire Audio Studios em Londres, produzido pela própria banda e masterizado por JJ Golden (Rodrigo Amarante, Devendra Banhart, Vetiver) em Ventura, California, Hoping Something Anything é o novo registo de originais dos Time for T de Tiago Saga. Refiro-me a um projeto nacional mas com raízes em Inglaterra, mais concretamente em Brighton, por este jovem com genes britânicos, libaneses e espanhóis que cresceu no Algarve. Enquanto estudava composição contemporânea na Universidade de Sussex, Inglaterra, Tiago Saga foi criando a sua própria sonoridade assente na world music e na folk rock anglo-saxónica com outros músicos que foi conhecendo e com quem foi partilhando as mesmas inspirações, nomeadamente Joshua Taylor (baixo), Martyn Lillyman (bateria), Oliver Weder (teclas), os seus parceiros nestes Time For T. Andrew Stuart-Buttle (violino), Harry Haynes (guitarra eléctrica) e Louis Pavlo (teclas) foram outros convidados especiais de um disco que viu a luz do dia a quinze de Setembro último, à boleia da Last Train Records, editora que os Time For T têm em parceria com a banda amiga de Brighton, os Common Tongues.
Banda eclética no modo como abraça diferentes influências e sonoridades, os Time For T tanto deambulam pela folk como pelo rock psicadélico e nesse balanço, lá pelo meio, tanto piscam o olho à tropicália, como é o caso das batidas e dos arranjos de Ronda, como ao próprio jazz, exuberante nos sopros e nas teclas de Back to School, indo também até ao blues experimental em India, aquele rock mais impulsivo e cru, audível em Rescue Plane e ao mais boémio que procura ser melodicamente acessível, sem deixar de exalar profundidade lírica, um ideário concetual que a divertida Wax plasma na perfeição.
Este é, portanto, um compêndio de catorze canções ecléticas, com metade delas compostas logo desde o lançamento do ep homónimo do grupo em janeiro de 2015 e a outra metade inspiradas pela viagem de Tiago Saga à India no início de 2016. Mas, independentemente deste balizar temporal, cada uma delas tem vincada a sua própria identidade, estando todas de certo modo livres daquelas amarras que uma produção demasiado cuidada e límpida muitas vezes causa. Como o disco foi produzido pelos próprios Time For T, os temas acabam por soar aquele charme genuíno que os registos mais orgânicos quase sempre possuem. Ao vivo as versões dos temas não deverão diferir muito, nomeadamente em termos de arranjos e esse é, claramente, outro grande atributo deste Hoping Something Anything, um disco para ser escutado e saboreado num final de tarde relaxante e, de preferência, solarengo, juntamente com um bom chá,quente ou frio. Espero que aprecies a sugestão...
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Bat For Lashes - I Do
A ternurenta simplicidade de I Do é o primeiro tema divulgado por Natasha Khan de Til Death Do Us Apart, o próximo registo de originais do projeto Bat For Lashes, que esta artista, cantora e compositora britânica, oriunda de Brighton, lidera, com notável bom gosto, há praticamente uma década.
Este novo álbum de Bat For Lashes deverá ver a luz do dia a um de julho e um lindíssimo para de sapatos vermelho, publicado na página de Facebook da autora, juntamente com um convite de casamento, deverá ser a capa de uma nova coleção de canções que já é aguardada por cá com enorme expetativa. Confere...
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Grasscut - Everyone Was A Bird
Oriundos de Brighton, os britânicos Grasscut são uma dupla formada por Andrew Phillips e Marcus O’Dair e estão de regresso aos discos com Everyone Was A Bird, o terceiro tomo da carreira do projeto, editado através da Lo Recordings. Se coube essencialmente a Phillips escrever, cantar, produzir e tocar piano, guitarra, baixo, sintetizador, Everyone Was A Bird acabou por ser o trabalho da dupla onde Marcus teve, até agora, um papel mais ativo, já que também toca piano e baixo na maior parte das canções.
Fortemente cinematográficos e imersivos, submergidos num mundo quase subterrâneo de onde debitam música através de tunéis rochosos revestidos com placas metálicas que aprofundam o eco das melodias e dão asas às emoções que exalam desde as profundezas desse refúgio bucólico e denso onde certamente se embrenharam, pelo menos na imaginação, para criar estas oito nove músicas que acresecentam ao seu já notável cardápio, os Grasscut impressionam pela orgânica e pelo forte cariz sensorial das suas canções. Os feitos que borbulham de Islander, canção inspirada numa zona chamada Jersey onde Phillips cresceu e o mapa conciso que o tema cria do espaço escuro e fundo onde este disco foi criado, subsistem à custa de uma mistura feliz entre a eletrónica mais introspetiva e minimal e alguns dos mais preciosos detalhes do post rock, onde não faltam belíssimos violinos, particulamrnte ativos também em Radar. Depois, as teclas do piano, um baixo sempre vibrante e lindísiimas letras, algumas delas inspiradas na obra de Robert Macfarlane, autor do clássico Landmarks, Mountains of the Mind, The Wild Places and The Old Ways, são outros elementos sonoros do álbum que o emblezam particularmente.
Everyone Was A Bird fala do passado dos antepassados desta dupla, é uma busca muito particular das origens e da identidade de ambos, enquanto procuram replicar sonoramente as paisagens naturais onde habitaram os seus antecessores; Escutam-se os sons naturais de Curlews, o piano vintage que conduz a melodia e o registo vocal em coro num assombroso registo em falsete, para pintarmos sem grande dificuldade na nossa mente a tela paisagistíca que inspirou os Grasscut, onde não faltam ribeiros cheios de vida, manhãs dominadas pelo nevoeiro e um frio intenso e revigorante e uma fauna muito particular, com a curiosidade de, num patamar inferior, suportando este quadro idílico, estar o tal universo submerso, escuro e entalhado qase no ventre da terra mãe, expirando por um buraco cravado no solo poeirento toda esta vida feita música, que tanto pode estar ainda em Jersey, como já no estuário de Mawddach, no País de Gales, região de origem da família de Philips e onde a maioria da mesma ainda reside, ou a própria Brighton, que inspirou o conteúdo particularmente profundo e emotivo da balada Snowdown, cantada por Elisabeth Nygård e da pensativa e reflexiva, mas também épica The Field.
O momento mais emocionante, extorvertido e grandioso de Everyone Was A Bird acaba por ser o final com Red Kite, tema onde os Grasscut parecem já querer projetar-se para uma dimensão superior, numa canção cheia de detalhes e sons fortemente apelativos e luminosos, aprofundando a relação intensa que existe neste disco entre música e uma componente mais visual, ao que não será alheio o trabalho de Phillips como criador de bandas sonoras, sendo bom exemplo a sua participação, por intermédio de outro quarteto de que faz parte, no aclamado documentário Piper Alpha: Fire In The Night, que relata os trágicos acontecientos ocorridos no Mar do Norte em Julho de 1988, quando um incêndio numa plataforma petrolífera tirou a vida a cento e sessenta e sete trabalhadores e a elaboração de uma série de filmes de paisagens naturais, da autoria de Roger Hyams e do fotógrafo Pedr Browne, para acompanahrem cada um dos oito temas de Everyone Was A Bird, nomeadamente quando forem tocados ao vivo, sendo projetados durante os concertos dos Grasscut.
Com as participações especiais nas vozes da já referida Elisabeth Nygård, de Adrian Crowley e de Seamus Fogarty e de Aram Zarikian na bateria, Emma Smith e Vince Sipprell nas cordas, Everyone Was A Bird é uma arrebatadora coleção de trechos sonoros cuja soma resulta numa grande melodia linda e inquietante, que nos faz imaginar a beleza daquelas ilhas sem grande esforço e quem se deixar contagiar pela melancolia destes Grasscut será transportado rapidamente para o gélido norte das ilhas britânicas, talvez acompanhado por uma xícara bem quente de chá. Espero que aprecies a sugestão...
01. Islander
02. Radar
03. Curlews
04. Fallswater
05. Halflife
06. Snowdown
07. The Field
08. Red Kite
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Archive – Restriction
Os Archive, um colectivo britânico formado em 1994 por Darius Keeler e Danny Griffiths, estão de regresso aos discos no início de 2015, através da PIAS Recordings, com Restriction, o sucessor de With Us Until You're Dead (2012) e Axiom (2014) e décimo álbum de estúdio de um projeto responsável por alguns dos mais marcantes discos do panorama alternativo dos últimos vinte anos, com destaque para o Londinium de 1996 e Noise de 2004.
Nestas duas décadas os Archive tornaram-se talvez no nome maior da vertente mais sombria e dramática do trip hop. Este Restriction foi produzido por Jerome Devoise, um colaborador de longa data da banda e se With Us Until You're Dead e Axiom trilhavam caminhos que iam da electrónica à soul, passando pela pop de câmara, agora os Archive colocaram as guitarras na linha da frente, ampliaram o volume das distorções e, mesmo sendo um disco que vive essencialmente da eletrónica e dos ambientes intimistas e expansivos, mas sempre acolhedores, que a mesma pode criar, foi acrescentada uma toada mais orgânica, ruidosa e visceral. É deste cruzamento espectral e meditativo que Restriction vive, com doze canções algo complexas, mas bastante assertivas.
Feel It, um dos singles do álbum e Restriction, o tema homónimo, abrem o disco e surpreendem pelo modo como as guitarras, o baixo e a bateria seguem a sua dinâmica natural, mesmo tendo a companhia sempre atenta do sintetizador, que não deixa de rivalizar com o conjunto, mas sem nunca ofuscar o protagonismo da tríade, que conduz os temas para uma faceta mais negra e obscura, tipicamente rock, esculpindo-os com cordas ligas à eletricidade, ao mesmo tempo que a banda exibe uma consciente e natural sapiência melódica.
Kid Corner, outro single já lançado do disco, segue a toada inicial, mas a replicar um certo travo industrial, que a belíssima voz de Holly Martin aprofunda, com uma carga ambiental assinalável, bem patente no modo como as guitarras e a voz se enquadram com a grave batida sintética e repleta de efeitos maquinais. End Of Our Days vem quebrar esse ímpeto inicial, uma canção que nos agarra pelos colarinhos sem dó nem piedade e que nos suga para um universo pop feito com uma sonoridade preciosa, bela, silenciosa e estranha, que se repete um pouco adiante, em Black And Blue, um registo quase à capella, onde esta mesma voz é acompanhada por um orgão e um efeito de uma guitarra que nos afoga numa hipnótica nuvem de melancolia.
Esta lindíssima viagem às pastosas aguas turvas em que mergulha a eletrónica dos Archive ganha contornos de excelência em Third Quarter Storm, um mundo de paz e tranquilidade que nos embala e acolhe de modo reconfortante, proporcionando uma sensação de bem-estar e tranquilidade que nem um potente efeito sintetizado desfaz. O tema faz-nos descolar ao encontro da soul do piano de Half Built Houses, uma canção cheia de imagens evocativas sobre o mundo moderno e encarna o momento alto do trabalho de produção feito em Restriction e o já habitual modo como os Archive conseguem dar vida a belíssimas letras entrelaçadas com deliciosos acordes e melodias minusiosamente construídas com diversas camadas de instrumentos.
A escrita deste grupo britânico carrega uma sobriedade sentimental que acaba por servir de contraponto a uma sonoridade algo sombria, mas onde geralmente nenhum instrumento ou som está deslocado ou a mais e a conjugação entre exuberância e minimalismo prova a sensibilidade dos Archive para expressar pura e metaforicamente as virtudes e as fraquezas da condição humana.
Restriction avança, sem dó nem piedade, com as músicas quase sempre interligadas entre si e em Ride In Squares somos novamente confrontados com um excelente trip hop, de contornos algo sombrios e sinistros, mas bem vincados, feitos com camadas de efeitos sintéticos em cima de uma batida potente e certeira, numa espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas, impregnadas com uma melodia bastante virtuosa e cheia de cor e arrumada com arranjos meticulosos e lúcidos.
Até final, se é o típico trip hop ácido e nebuloso que conduz Crushed, que, já agora, é manietado por efeitos robóticos carregados de poeira e por teclados atiçados com efeitos metálicos e um subtil efeito de guitarra, já em Ladders e Ruination é o rock progressivo feito com uma bateia e um baixo vibrantes e guitarras carregadas de distorção que domina, em oposição ao minimalismo contagiante que paira delicadamente sobre uma melodia pop simples e muito elegante, em Greater Goodbye, uma canção que depois evolui de forma magistral devido ao piano e à batida sintetizada.
Restriction é um álbum tão rico que permite várias abordagens, sendo complexo definir uma faceta sonora dominante, tal é a míriade de estilos e géneros que suscita. É um tratado de fusão entre indie rock, electrónica e outros elementos progressivos, que piscam o olho ao jazz, ao hip-hop e à soul, com pontes brilhantes entre si e com momentos de maior intensidade e outros mais intimistas, levando-nos, dessa forma, ao encontro de emoções fortes e explosivas, de modo honesto e coerente. Os Archive sempre seguiram uma linha sonora complexa e nunca recearam abarcar variados estilos e tendências musicais, mantendo sempre uma certa integridade em relação ao ambiente sonoro geral que os carateriza. Restriction tem alma e paixão, é fruto de intenso trabalho e consegue ter canções perfeitas, com vozes carregadas de intriga e profundidade. Espero que aprecies a sugestão...
01. Feel It
02. Restriction
03. Kid Corner
04. End Of Our Days
05. Third Quarter Storm
06. Half Built Houses
07. Ride In Squares
08. Ruination
09. Crushed
10. Black And Blue
11. Greater Goodbye
12. Ladders
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The Go! Team - The Scene Between
Os britânicos The Go! Team acabam de anunciar o lançamento de um novo disco, o sucessor de Rolling Blackouts (2011), já para próximo o mês de março, através do selo Memphis Industries.
A primeira amostra do registo é The Scene Between, o tema homónimo, um instante de pop lo-fi colorido, repleto de influências orelhudas e suficientemente cativante, em termos melódicos, para nos deixar ansiosos pela audição do restante conteúdo.
Ian Parton, o líder da banda, assumiu as rédeas do processo de composição e produção de The Scene Between e parece querer trazer os The Go! Team de volta aos bons velhos tempos. Confere...