Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Os Melhores discos de 2021 (10 - 01)

Sexta-feira, 31.12.21

10 - Suuns - The Witness

The Witness, o quinto e mais recente disco da carreira dos Suuns, verdadeiros músicos e filósofos, além de não colocar minimamente em causa a herança do projeto, oferece-nos, principalmente ao nível da escrita e da composição, mais um fantástico naipe de canções com um forte cariz impressivo e realístico. Neste alinhamento de oito canções, que tem na sua génese o jazz experimental, explícito, os Suuns refletem sobre a contemporaneidade que os inquieta e os absorve, criando um alinhamento sedutoramente intrigante, bem no centro de um noise rock apimentado, convém também dizê-lo, por uma implícita dose de punk dance. Simultaneamente existencial e sinistro e arrebatadoramente humano, The Witness é, talvez, o disco mais cândido e direto do grupo. Assenta numa definição estrutural quase metódica e, independentemente das diversas abordagens que cada canção contém, tem aquele toque experimental que nos faz crer, logo à primeira audição, que este é um disco colossal, mas também tremendamente reflexivo.

9 - José González - Local Valley

Local Valley é o álbum mais enérgico e diversificado do catálogo de José González. É o primeiro alinhamento em que o músico utiliza ritmos sintéticos em vez da subtileza orgânica percurssiva dos três registos anteriores, sem deixarem de continuar a existir muitas guitarras, como é obrigatório no seu adn, e o primeiro também cantado em mais do que uma língua. É, em suma, um disco multifuncional, intenso e confessional, que nos escancara a porta para a mente de um dos artistas mais humanos da folk atual.

8 - The Dodos - Grizzly Peak

Disco muito coeso, maduro, impecavelmente produzido e um verdadeiro manancial de melodias lindíssimas, Grizzly Peak é muito centrado numa filosofia interpretativa em que sobressai uma intensa dinâmica percurssiva, entrelaçada com cordas faustosas e com uma crueza metálica ímpar. O registo materializa um novo rumo sonoro para os The Dodos, colocando o projeto novamente na senda daquela toada folk que marcou os primeiros trabalhos da dupla, enquanto nos transporta para um universo particularmente melancólico, sensível e confessional.

7 - Courtney Barnett - Things Take Time, Take Time

Fruto desta pandemia que nos assola, Things Take Time, Take Time, tem o condão de nos convidar a um certo recolhimento, mas também a nos tornarmos, em simultâneo, confindentes e bons amigos desta artista cada vez mais impressiva e realista. Fá-lo em dez canções sonoramente assentes na destemida companheira de sempre de Barnett, a guitarra, mas também com os sintetizadores a se quererem mostrar cada vez mais interventivos no catálogo da australiana, assim como o piano. Em suma, testemunha e materializa o cada vez maior ecletismo de Barnett, enquanto oferece ao ouvinte diferentes perspetivas sobre a realidade sociológica e psicológica que abriga a autora. 

6 - The Antlers - Green To Gold

Green To Gold traz consigo uma nova fase criativa do grupo de Brooklyn, promissora, luminosa e empolgante, assente na terna indulgência das cordas e na ardente soul das mesmas. Este sabor vai sendo ampliado, ao longo das dez canções, por portentosos violinos, sopros inspiradíssimos e um efeito metálico na guitarra com um adn muito vincado e pelo modo como este receituário se entrelaça sempre com a cândura vocal de Silberman e com o registo jazzístico da bateria. O resultado final é um alinhamento repleto de nostalgia e que versa quase sempre sobre a inocência que carateriza a esmagadora maioria das memórias da infância.

5 - Helado Negro - Far In

Far In é uma coleção irrepreensível de sons inteligentes e solidamente construídos, um naipe de belíssimas canções que são mais um momento marcante deste músico sedeado em Brooklyn, um alinhamento com forte pendor temperamental e com um ambiente feito com cor, sonho e sensualidade. Nele percebe-se esta filosofia de alguém positivamente obcecado pela evocação de memórias passadas e, principalmente, pela concretização sonora de sensações, estímulos, reações e vivências cujo fato serve a qualquer comum mortal.

4 - Liars - The Apple Drop

The Apple Drop é o disco mais esplendoroso e simultaneamente acessível da carreira dos Liars. Nele, o projeto que é a solo desde dois mil e catorze, altura em que o australiano, radicado em Nova Iorque, Angus Andrew tomou definitivamente as suas rédeas, podemos contemplar um krautrock que mistura eletrónica com rock alternativo, funk, noise rock, avant garde, post punk e quase todas as outras sonoridades que possas imaginar e que cabem num espetro sonoro que podia muito bem personificar a mescla perfeita entre os Radiohead pós Kid A e a melhor herança dos alemães Kraftwerk.

3 - Bill Callahan & Bonnie “Prince” Billy - Blind Date Party

Repleto de convidados de referência e nomes ímpar da indie cotemporânea, Blind Date Party é um exercício criativo ímpar e robusto, quer na concepção, quer no conteúdo, uma homenagem feliz e muito bem sucedida a uma herança e um género sonoro que é muitas vezes negligenciado mas que, bem vistas as coisas, contém os alicerces de toda a diversidade musical que o indie hoje em dia contém. Mesmo sendo uma obra comunitária, confirma a genialidade de dois nomes essenciais da folk norte-americana atual.

2 - Elbow - Flying Dream 1

Flying Dream 1 é um deleite melódico, um registo que brilha, canção após canção, no modo como nos oferece composições irrepreensíveis ao nível da beleza, um portento de majestosidade sonora e um dos trabalhos mais refinados, envolventes e íntimos da discografia dos Elbow, enquanto reflete, mais uma vez, um universo muito pessoal de Garvey, desta vez as memórias e os encantamentos que foram ficando dos seus primeiros anos de vida e que o marcaram para sempre.

1 - Damon Albarn - The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows

Álbum intenso e cinematográfico, The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows explora com minúcia temas como a fragilidade, a perda, a emergência e o renascimento e o seu título é um excerto do poema Love and Memory, de John Clare. O disco mostra um lado experimental que Albarn gosta de explorar com uma delicadeza bem presente e um lado também algo sombrio e questionador, que tão bem o carateriza, em onze canções que pretendem, no seu todo, dar vida a uma peça orquestral inspirada na Islândia, país onde o músico tem assentado arraiais periodicamente nos últimos anos. É um registo, de facto, maravilhoso, que encarna na perfeição o ambiente muito peculiar de uma ilha com caraterísticas únicas, mas que também exibe, a espaços com enorme esplendor, toda a cartografia sonora que faz com que Damon Albarn seja um dos músicos mais ecléticos e completos das últimas duas décadas. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 12:19

Os Melhores discos de 2021 (20 - 11)

Quinta-feira, 30.12.21

20 - Wavves - Hideaway

Produzido por Dave Sitek, baterista e figura talismã responsável pelo sucesso dos TV On The Radio, mas também produtor de nomes como os Yeah Yeah Yeahs ou os Foals, Hideaway oferece-nos um animado alinhamento com um irrepreensível travo noventista, em que surf punk e garage rock se confundem, sem apelo nem agravo, com astúcia e luminosidade, atingindo no âmago o habitual adn dos Wavves, mas conferindo-lhe uma maior bitola qualitativa relativamente à componente melódica, demonstrando, desse modo, que Nathan Williams tem sabido, ao longo do tempo, aprimorar as suas qualidades interpretativas, sem se deixar contagiar por uma vertente mais pop e comercial, que é sempre tentadora para quem, abrindo o olhar para outros horizontes, acaba por ceder à radiofonia e à ditadura implacável do mercado.

19 - LNZNDRF - II

II navega num universo fortemente cinematográfico e imersivo e aos seu conteúdo deve atribuir-se um claro nível de excelência, não só devido aos diferentes fragmentos que os LNZNDRF convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam e que da eletrónica, à pop, passando pelo rock progressivo criaram uma relação simbiótica bastante sedutora, mas também porque, embarcando nessa feliz demanda, também não deixaram de partir à descoberta de texturas sonoras que se expressaram com intensidade e requinte superiores, nomeadamente num transversal piscar de olhos objetivo aquela crueza orgânica que aqui faz questão de viver permanentemente de braço dado com o experimentalismo e em simbiose com a psicadelia.

18 - Jay-Jay Johanson - Rorschach Test

Rorschach Test é um dos momentos maiores do cardápio que o autor sueco asssinou na sua carreira. Todo o alinhamento é um festim de charme e encantamento, um verdadeiro tratado de indie pop, no qual um baixo, amiúde vigoroso e uma profusa míriade de sons intrincados e misteriosos acamam a voz sempre melancólica e sedutora do autor e sustentam uma coleção irrepreensível de arrebatadoras e sensuais melodias, onde não faltam também batidas e efeitos percurssivos de cariz eminentemente experimental.

17 - BirdPen - All Function One

All Function One é um lugar mágico, com um toque de lustro de forte pendor introspetivo, ausente de constrangimentos estéticos, um compêndio de canções que nos ajuda a observar como é viver num mundo onde somos a espécie dominante e protagonista, mas também sujeita às contrariedades mais inesperadas que a mãe natureza implacavelmente nos coloca, um trabalho experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas.

16 - Massage - Still Life

Still Life é um embrulho sonoro com um têmpero lo fi muito próprio, um salutar indie rock com leves pitadas de surf pop, agregado com um espírito vintage marcadamente oitocentista e que esconde a sua complexidade na simplicidade. Está repleto de boas canções que mostram como é bonito quando o rock pode ser básico e ao mesmo tempo encantador, divertido e melancólico, sem muito alarde.

15 - The War On Drugs - I Don't Live Here Anymore

Disco inspirado no modo como devemos optar sempre pela resiliência face ao desesperoI Don’t Live Here Anymore vive conceptualmente, de facto, num universo de diversas dicotomias; Conceitos como amor e dor, casa e fora, escuro e claro, entre outras, escutam-se constantemente, parecendo que querem dar vida a uma espécie de alter-ego, um herói que ficou sem rumo e submerso num vazio existencial profundo e que procura, na audição destas composições, voltar desesperadamente à tona e encontrar de novo um caminho.

14 - They Might Be Giants - Book

Book foi idealizado à boleia de uma filosofia sonora interpretativa que privilegiou exercícios abertos e descomprometidos de excentricidade experimentalista, algo que é, como todos sabemos, um traço típico dos They Might Be Giants e que tem vindo a ser apurado numa notável carreira com cerca de três décadas que parecem confluir neste catálogo de irrepreensíveis canções que, em pouco mais de três minutos, além de nos iluminarem com um travo tremendamente nostálgico e aditivo, também têm inovação e contemporaneidade a rodos.

13 - Efterklang - Windflowers

Windflowers foi um disco criado durante o período pandémico mais agudo, sendo o seu conteúdo bastante marcado por essa circunstância covid, mas também por algumas questões pessoais do trio, uma conjuntura que acabou por criar um clima criativo invulgar no seio dos Efterklang, impulsionando-os para um disco em que acusticidade orgânica e texturas eletrónicas particularmente intrincadas, conjuram entre si, muitas vezes de modo quase impercetível, para incubar uma alinhamento elegante e com uma beleza sonora inquietante.

12 - Fleet Foxes - Shore

Shores é um tapete de luz que se acomoda no nosso íntimo, uma viagem por um imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos, que não sendo a mais feliz, tem nos seus pilares aquilo que de mais genuíno podemos experienciar enquanto seres vivos, que é a vibração do interior desta terra mãe que nos alimenta e que nos quer fazer refletir sobre aquilo que somos hoje e os desafios que nos esperam. Enquanto manifestação artística o disco torna-se revelador por desmascarar sensorialmente toda a pafernália biológica, física e filosófica, por um lado e religiosa, por outro, da sociedade dos nossos dias, colocando perante nós aquilo que realmente deve importar e fazer-nos verdadeiramente felizes, que é a essência harmoniosa do que de mais virgem e intocável existe em nosso redor, o nosso âmago.

11 - Chad VanGaalen - World’s Most Stressed Out Gardener

World’s Most Stressed Out Gardener é uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por VanGaalen ao longo da sua carreira e que parece ser alvo de uma espécie de súmula neste seu cardápio, um festim de canções pop ruidosas, exemplarmente picotadas e fragmentadas e que penetram profundamente no nosso subconsciente. Este disco é um verdadeiro jogo de texturas e distorções, um notável passeio pela essência da música psicadélica, idealizado por um inventor de sons que nos canta as subtilezas da sua existência pessoal e que nos oferece aqui o disco mais estranho e abrasivo, mas também feliz, da sua carreira.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 13:09

Os melhores discos de 2020 (20 - 11)

Domingo, 20.12.20

20 - Sufjan Stevens - The Ascension

The Ascension é uma jornada eletrónica climática e intimista, mas também algo inquietante, feita de um psicadelismo eminentemente experimental. Mesmo contendo alguns dos tiques identitários que marcam uma carreira de quase duas décadas, impressos na intimidade dialogante da sua escrita, que atingiu o apogeu no antecessor que se debruçava sobre o súbito desaparecimento da mãe e na seleção de alguns arranjos e detalhes que ainda têm um travo folk inconfundível, The Ascension oferece-nos, acima de tudo, um vasto e barroco festim eletrónico, justificado em diversas composições recheadas de uma vasta miríade de efeitos, distorções de guitarra, interseções e arranjos que servem bem à medida da imensidão e do silêncio que carateriza o vazio cósmico a que o músico de Chicago nos tem habituado ultimamente.

Sufjan Stevens - The Ascension

01. Make An Offer I Cannot Refuse
02. Run Away With Me
03. Video Game
04. Lamentations
05. Tell Me You Love Me
06. Die Happy
07. Ativan
08. Ursa Major
09. Landslide
10. Gilgamesh
11. Death Star
12. Goodbye To All That
13. Sugar
14. The Ascension
15. America

 

19 - Woods - Strange To Explain

Os Woods são, claramente, uma verdadeira instituição do indie rock alternativo contemporâneo. De facto, esta banda norte americana oriunda do efervescente bairro de Brooklyn, bem no epicentro da cidade que nunca dorme e liderada pelo carismático cantor e compositor Jeremy Earl e pelo parceiro Jarvis Taveniere, tem-nos habituado, tomo após tomo,  a novas nuances relativamente aos trabalhos antecessores, aparentes inflexões sonoras que o grupo vai propondo à medida que publica um novo alinhamento de canções. Mas, na verdade, tais laivos de inedetismo entroncam sempre num fio condutor que tem sido explorado até à exaustão e com particular sentido criativo, abarcando todos os detalhes que o indie rock, na sua vertente mais pura e noise e a folk com um elevado pendor psicadélico permitem. Estes são os grandes pilares que, juntamente com o típico falsete de Jeremy, orientam o som dos Woods e que se mantêm, com enorme primor, em Strange To Explain, um disco eminentemente cru, envolvido por um doce travo psicadélico, enquanto passeia por diferentes universos musicais, sempre com um superior encanto interpretativo e um sugestivo pendor pop.

Woods - Strange To Explain

01. Next To You And The Sea
02. Where Do You Go When You Dream?
03. Before They Pass By
04. Can’t Get Out
05. Strange To Explain
06. The Void
07. Just To Fall Asleep
08. Fell So Hard
09. Light Of Day
10. Be There Still
11. Weekend Wind

 

18 - Destroyer - Have We Met

Have We Met é um disco algo intrincado, mas bastante sedutor, um dobrar de esquina consistente e apurado, mesmo sendo o trabalho recente dos Destroyer que mais se aproxima da herança atmosférica da obra-prima Kaputt (2011). Tal sucede porque é feito por um grupo que também já habituou os seus fãs a um espetro rock onde não faltavam de guitarras distorcidas e riffs vigorosos, mas que opta agora, e mais do que nunca, num claro sinal de maturidade e de pujança criativa, por compôr composições que olham de modo mais anguloso para a eletrónica e para ambientes eminentemente clássicos, fazendo-o com superior apuro melódico. São, portanto, composições conduzidas por uma ímpar diversidade instrumental, com o modo como as teclas do piano são enormes protagonistas, a meias com a guitarra maravilha de Nicolas Bragg, a serem dois trunfos maiores deste modus operandi com elevado charme quilate.

Destroyer - Have We Met

01. Crimson Tide
02. Kinda Dark
03. It Just Doesn’t Happen
04. The Television Music Supervisor
05. The Raven
06. Cue Synthesizer
07. University Hill
08. Have We Met
09. The Man In Black’s Blues
10. Foolssong

 

17 - The Strokes - The New Abnormal

The New Abnormal solidifica e tipifica com ainda maior clareza a filosofia interpretativa deste projeto nova iorquino que depois de ter começado a carreira com um formato sonoro claramente balizado, foi apalpando terreno noutros espetros,  sendo um disco com uma espécie de dupla identidade, porque além de culminar com elevado esplendor um regresso ao punk rock como trave mestra da maioria das composições do disco, aquele rock mais enérgico, direto e incisivo a que nos habituámos no dealbar deste século, permite que este modus operandi seja adornado por uma mescla entre a típica eletrónica underground nova iorquina e o colorido neon pop dos anos oitenta.

The Strokes - The New Abnormal

01. The Adults Are Talking
02. Selfless
03. Brooklyn Bridge To Chorus
04. Bad Decisions
05. Eternal Summer
06. At The Door
07. Why Are Sundays So Depressing
08. Not The Same Anymore
09. Ode To The Mets

 

16 - Bill Callahan - Gold Record

Mais do que um simples registo de canções avulsas e que procuram dissertar abstratamente e filosoficamente sobre o amor ou as agruras ou benesses deste mundo em que vivemos, Gold Record é um compêndio de histórias simples, mas cheias de brilho, intensidade e mérito, porque são concretas. Às vezes, uma coleção bem pensada de histórias simples, contada com as palavras certas e acessíveis e sem desnecessárias preocupações estilísticas, é meio caminho andado para assegurar um registo discográfico de superior quilate. E este é, sem dúvida, o grande trunfo de dez temas que escavam a cultura norte americana para encontrar um tesouro de raízes identitárias, fazendo-o, sonoramente, com a toada eminentemente acústica que define o adn do músico, plasmada num registo interpretativo que privilegia aquele formato canção que vai gradativamente agrupando novos elementos e sons distintos, até um final envolvente e, liricamente, feito com uma sucessão de histórias com as quais todos nós nos identificamos facilmente, já que certamente, apropriando-nos delas e dando-lhes um ou outro retoque, temos impressivos relatos de alguns momentos marcantes da nossa existência pessoal. Este disco com essa notável componente narrativa também comprova, com enorme mestria e refinadíssima acusticidade, a superior capacidade interpretativa de Callahan aos comandos de uma viola, uma espécie de trovador da era moderna, que sussura contos pessoais, enquanto comunica directamente connosco e, ao mesmo tempo, parece que fala consigo próprio.

Bill Callahan -  Gold Record

01. Pigeons
02. Another Song
03. 35
04. Protest Song
05. The Mackenzies
06. Let’s Move To The Country
07. Breakfast
08. Cowboy
09. Ry Cooder
10. As I Wander

 

15 - The Magnetic Fields - Quickies

Vinte anos depois da mítica obra conceptual 69 Love Songs, Stephin Merritt mantém uma insciável gula interpretativa, que alimenta uma espécie de mania das grandezas à qual os fâs dos The Magnetic Fields já se habituaram e que nunca os deixa ficar mal, diga-se na verdade. Quickies, o novo registo deste projeto natural de Boston, no Massachussetts, é mais uma prova inequívoca de toda uma trama com já três décadas de existência, um tomo de vinte e oito canções que enriquece substancialmente o cardápio de um grupo que tem dado ao indie rock experimental norte-americano, registo após registo, uma notoriedade e uma relevância ímpares, através de canções quase sempre assentes em sonoridades eminentemente clássicas, geralmente acústicas e de forte pendor orgânico.

The Magnetic Fields - Quickies

01. Castles Of America
02. The Biggest Tits In History
03. The Day The Politicians Died
04. Castle Down A Dirt Road
05. Bathroom Quickie
06. My Stupid Boyfriend
07. Love Gone Wrong
08. Favorite Bar
09. Kill A Man A Week
10. Kraftwerk In A Blackout
11. When She Plays The Toy Piano
12. Death Pact (Let’s Make A)
13. I’ve Got A Date With Jesus
14. Come, Life, Shaker Life!
15. (I Want To Join A) Biker Gang
16. Rock ‘n’ Roll Guy
17. You’ve Got A Friend In Beelzebub
18. Let’s Get Drunk Again (And Get Divorced)
19. The Best Cup Of Coffee In Tennessee
20. When The Brat Upstairs Got A Drum Kit
21. The Price You Pay
22. The Boy In The Corner
23. Song Of The Ant
24. I Wish I Had Fangs And A Tail
25. Evil Rhythm
26. She Says Hello
27. The Little Robot Girl
28. I Wish I Were A Prostitute Again

 

14 - Jeff Tweedy - Love Is The King

Love Is The King é a mais recente obra discográfica de um compositor que assenta o seu processo criativo numa concepção de escrita que explora bastante a dicotomia entre sentimentos e no modo criativo e refinado como musica as letras que daí surgem, aliando o seu adn pessoal às tendências mais contemporâneas da folk e do rock alternativo. De facto, Love Is The King é um voo picado que o autor faz sobre si próprio, a sua existência e a daqueles que lhe são mais próximos, nomeadamente os seus herdeiros Spencer e Sam. Acaba por ser um disco feito em família, com a participação direta da mesma na sua concepção e definição do conteúdo sonoro e que, como é natural, sendo eminentemente autobiográfico, constitui um exercício sonoro de exorcização de alguns dos demónios, angústias, eventos traumáticos e conflitos interiores de Tweedy. Este é, pois, um alinhamento com um travo melancólico particularmente abundante, mas também um registo quente, positivo e sorridente, um álbum direto, cru, tremendamente orgânico, claramente lo-fi, um impressivo e jubilante tratado folk, dominado por timbres de cordas particularmente estridentes, que abastecem uma constante dicotomia entre sentimentos e confissões.

Jeff Tweedy - Love Is The King

01. Love Is The King
02. Opaline
03. A Robin Or A Wren
04. Gwendolyn
05. Bad Day Lately
06. Even I Can See
07. Natural Disaster
08. Save It For Me
09. Guess Again
10. Troubled
11. Half-Asleep

 
13 - Matt Berninger - Serpentine Prison

Por muitas voltas que Matt Berninger dê à sua carreira musical, seja a solo, seja nos The National ou no projeto El VY, há sempre um tronco comum a todas as suas abordagens artísticas, as ideias de melancolia, de angústia amorosa e de sofrimento mais ou menos profundo devido a esse sentimento único. Serpentine Prison não foge à regra, num registo instrumentalmente riquíssimo e repleto de arranjos das mais diversas proveniências, com uma toada emotiva crescente e na qual cordas e piano se deixam cobrir com mestria por uma nuvem espessa de classicismo e por uma aúrea de sentimentalismo e sensibilidade únicos, impressões ampliadas pela superior delicadeza do registo vocal grave de Berninger, um músico, na sua essência, confessionalmente monocromático e, artisticamente, uma fonte inesperada de soul. Em suma, Serpentine Prison oferece-nos com tremenda nitidez alguns dos maiores medos e inseguranças do autor e Berninger fá-lo aqui tornando-se na própria estrela que interpreta o estilo particulamente cinematográfico de uma escrita sempre tocante, intensa e realista.

Matt Berninger - Serpentine Prison

01. My Eyes Are T-Shirts
02. Distant Axis
03. One More Second
04. Loved So Little
05. Silver Springs (Feat. Gail Ann Dorsey)
06. Oh Dearie
07. Take Me Out of Town
08. Collar Of Your Shirt
09. All For Nothing
10. Serpentine Prison

 

12 - Gorillaz - Sound Machine, Season One: Strange Timez

Song Machine, Season One: Strange Timez, o sétimo álbum dos britânicos Gorillaz, a última materialização e a maior do mais recente e inovador projeto da banda, intitulado Song Machine, uma aventura que tem no seu âmago o enorme Damon Albarn, talvez a única personalidade da música alternativa contemporânea capaz de agregar nomes de proveniências e universos sonoros tão díspares e fazê-lo num único registo sonoro. Melhor álbum dos Gorillaz desde o fabuloso Plastic Beach (2012), Sound Machine, Season One: Strange Timez é um passo seguro e estrondosamente feliz deste projeto, no que concerne ao modo como mais uma vez se reinventa, sem renegar, como seria de esperar, a sua essência. Refiro-me a criar canções onde a experimentação é uma matriz essencial, tem a eletrónica aos comandos, o hip-hop e o R&B na mira, mas também olha para o rock com uma certa gula. E nestas dezassete canções encontramos tudo isto e com um grau de ecletismo nunca visto, estando o centro nevrálgico em redor do qual gravita toda esta diversidade em muita da pop que é mais apreciada nos dias de hoje, principalmente a que tem como origem o lado de lá do atlântico. E uma das facetas mais curiosas das dezassete composições é todas elas conseguirem atingir com enorme mestria o propósito simbiótico entre aquilo que é o som Gorillaz e o adn do convidado desse tema.

Gorillaz - Sound Machine Season One - Strange Timez

01. Strange Timez (Feat. Robert Smith)
02. The Valley Of The Pagans (Feat. Beck)
03. The Lost Chord (Feat. Leee John)
04. Pac-Man (Feat. ScHoolboy Q)
05. Chalk Tablet Towers (Feat. St Vincent)
06. The Pink Phantom (Feat. Elton John And 6LACK)
07. Aries (Feat. Peter Hook And Georgia)
08. Friday 13th (Feat. Octavian)
09. Dead Butterflies (Feat. Kano And Roxani Arias)
10. Désolé (Feat. Fatoumata Diawara) (Extended Version)
11. Momentary Bliss (Feat. slowthai And Slaves)
12. Opium (Feat. EARTHGANG)
13. Simplicity (Feat. Joan As Police Woman)
14. Severed Head (Feat. Goldlink And Unknown Mortal Orchestra)
15. With Love To An Ex (Feat. Moonchild Sanelly)
16. MLS (Feat. JPEGMAFIA And CHAI)
17. How Far? (Feat. Tony Allen And Skepta)

 

11 - Kevin Morby - Sundowner

Sundowner é um relato impressivo e clarividente de uma América claramente dividida entre dois pólos e que talvez, no campo musical, tenha na típica folk o instrumento mais eficaz de busca de pontes entre tão vincado antagonismo. Kevin Morby vem, disco após disco, aprimorando um modus operandi bem balizado, que se define por opções líricas em que dominam ambientes nublados, intimistas e reflexivos e um catálogo sonoro emimentemente delicado e fortemente orgânico, sem artifícios desnecessários, ou uma artilharia instrumental demasiado intrincada. E é este, claramente, o travo geral de Sundowner, um disco minimalista, que procura a interação imediata, mas também profunda, com o ouvinte e que tem no piano e nas cordas as armas de arremesso preferenciais. Kevin Morby é sagaz no modo como vai, disco após disco, subindo degraus no que concerne ao conteúdo qualitativo dos seus registos, fazendo-o com segurança e altivez, nunca beliscando uma apenas aparente dicotomia entre aquilo que é a grandiosidade da sua filosofia criativa e o modo minimal, simples e direto como a expôe, através de canções repletas de beleza, sensibilidade e conteúdo.

Kevin Morby - Campfire

01. Valley
02. Brother, Sister
03. Sundowner
04. Campfire
05. Wander
06. Don’t Underestimate Midwest American Sun
07. A Night At The Little Los Angeles
08. Jamie
09. Velvet Highway
10. Provisions

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 23:25

Perfume Genius - Set My Heart On Fire Immediately

Quarta-feira, 20.05.20

Já chegou aos escaparates Set My Heart On Fire Immediately, o quinto registo de originais de Mike Hadreas aka Perfume Genius, um registo de treze canções produzido por Blake Mills, habitual colaborador do artista e que sucede ao muito aclamado álbum No Shape, com quase três anos de existência.

With Set My Heart On Fire Immediately, Perfume Genius makes a home ...

Figura ímpar e até central da indie pop contemporânea de Seattle, o norte-americano Mike Hadreas tem sabido, como mais ninguém, como conciliar o seu conturbado e problemático universo pessoal, com o processo de criação artística que tem desenvolvido e que tem o firme propósito de exorcizar muitos dos demónios que o atormentam, de modo a seguir de modo feliz a sua permanência neste mundo repleto de estereótipos e especialista na rotulagem simplista, baseada em primeiras impressões.

Assim, há quase uma década que Perfume Genius oferece-nos momentos sonoros que, sendo essencialmente soturnos e abertamente sofridos, ampliam continuamente, disco após disco, as suas virtudes como cantor e criador de canções impregnadas com uma rara honestidade, já que, como de algum modo já referi, são profundamente autobiográficas e, ao invés de nos suscitarem a formulação de um julgamento acerca das opções pessoais do artista e da forma vincada como as expõe, optam por nos oferecer esperança enquanto se relacionam connosco com elevada empatia. Set My Heart On Fire Immediately não foge de tais permissas, proporcionando-nos mais um emotivo e exigente encontro com o âmago do autor e toda a intrincada teia relacional que ele estabelece com um mundo nem sempre disposto a aceitar abertamente a diferença e a busca de caminhos menos habituais para o encontro da felicidade plena, até porque ele coloca-se permanentemente a linha da frente de uma questão muito em voga no meio artístico norte-americano, relacionada com a transsexualidade, cada vez mais uma arma de arremesso felizmente eficaz contra a opressão da direita conservadora.

Disco que tanto aposta numa filosofia performativa que privilegia um aparato tecnológico amplo, mas também repleto de instantes orgânicos de profunda acusticidade e rara beleza, Set My Heart On Fire Immediately, começou a ser idealizado logo após a edição de No Shape e importa ressalvar que Hadreas, durante este intervalo entre os dois discos, também criou os temas Eighth GradeBooksmart e13 Reasons Why, para a banda sonora do filme The Goldfinch e participou em diversas colaborações, com especial destaque para a que o juntou com a coreógrafa Kate Wallich e com a companhia de dança The YC, num bailado contemporâneo e numa performance ao vivo, intituladaThe Sun Still Burns Here. Estas experiências profissionais fora da esfera Perfume Genius acabaram por ter reflexo no conteúdo final deste novo trabalho do músico, que nos oferece o alinhamento mais coeso, límpido,  intenso, intimista e despojado da sua discografia.

Assim, se neste registo temos canções, como On The Floor, que tantos nos levam numa intensa viagem no tempo até á melhor pop oitocentista, à boleia de guitarras algo divagantes e com efeitos metálicos bastante charmosos, mas também Moonbend, um soporífero frenesim sintético, outras, nomeadamente Whole Life, um tema assente num ilustre piano, assim como as harpas e os violinos de Leave, as cordas empoeiradas e o fuzz de Describe, a melhor canção do álbum, e a exuberância percurssiva de Without You, oferecem-nos aquele pendor mais rugoso e impulsivo que carateriza, com igual peso, os caminhos de expressão musical inéditos da discografia e das formas de Hadreas se revelar a quem quer conhecer a sua personalidade. No final deste equilíbrio perfeito, temos o disco mais consistente e feliz do músicom, um registo que lança os holofotes não só sobre Mike, mas também sobre nós próprios, já que ajuda ao contacto e à tomada de consciência de muito do que guardamos dentro de nós e tantas vezes nos recusamos a aceitar e passamos a vida inteira a renegar. Espero que aprecies a sugestão...

Perfume Genius - Set My Heart On Fire Immediately

01. Whole Life
02. Describe
03. Without You
04. Jason
05. Leave
06. On The Floor
07. Your Body Changes Everything
08. Moonbend
09. Just A Touch
10. Nothing At All
11. One More Try
12. Some Dream
13. Borrowed Light

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 14:56

Washed Out – Too Late

Quarta-feira, 15.04.20

Dono de obras-primas do calibre do excelente tratado de lisergia que sustenta o longa duração de estreia Within Without (2011) e do psicadélico e inebriante álbum Paracosm (2013), o projeto Washed Out, do multi-instrumentista norte-americano Ernest Greene, um dos nomes fundamentais, a par de Neon Indian ou Toro Y Moi, da nova chillwave, não dava sinais de vida desde o buliçoso e intrigante registo Mister Mellow (2017). No entanto, esse hiato de três anos parece ter já um fim com a divulgação de Too Late, uma canção que, para já, surge isoladamente, à boleia da Sub Pop Records, sem atrelar a edição prevista de um álbum, mas que pode muito bem ser um ponto de partida para novo compêndio deste músico natural da Georgia.

Washed Out Releases New Song And Video “Too Late” - Paste

Em Too Late a batida dançante, os detalhes percussivos orgânicos e os flashes irradiantes sintetizados transportam-nos de imediato para o universo sonoro típico de Washed Out e já nem queremos olhar para trás porque entramos em contado direto com uma praia ensolarada à beira de uma floresta tropical, à boleia de uma pop sonhadora, excelente para nos hipnotizar e que acaba por funcionar como aquele eficaz soporífero que nos leva para longe de uma realidade tantas vezes pouco agradável, como tem sido a mais recente.

Por falar nisso, chamo também a atenção para o vídeo do tema; O mesmo foi feito com diversos filmes que os fãs do músico lhe enviaram depois de uma solicitação deste, que queria, de algum modo, recompensar os seus seguidores pelas agruras provocadas por este período difícil de confinamento, envolvendo-os diretamente no seu trabalho e homenageando também, desse modo, o nosso esforço coletivo. Confere...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:48

Os melhores discos de 2019 (10-01)

Segunda-feira, 30.12.19

10 Swimming Tapes - Morningside

 Morningside está coberto por uma aúrea de sensibilidade e fragilidade romântica indisfarçáveis, aspectos que potenciam enormemente a elevada bitola qualitativa de uma estreia auspiciosa e extraordinariamente jovial, um disco que seduz pela forma genuína e simples como retrata eventos e relacionamentos de um quotidiano rotineiro e fantástico e excelente para ser escutado num dia de sol acolhedor como os que certamente nos aguardam para muito em breve.

9 The Proper Ornaments - Six Lenins

Six Lenins é um daqueles discos em que se vai, num abrir e fechar de olhos, do nostálgico ao glorioso, numa espécie de indie-folk-surf-suburbano, feito por intérpretes de um arquétipo sonoro que exala um intenso charme. É um disco extraordinariamente jovial, uma sedutora demonstração de superior clarividência por parte de um projeto que soube sobreviver ao caos e que, fruto do empenho e da superior capacidade criativa dos seus membros, merece, claramente, uma outra posição de relevo no universo sonoro indie e alternativo.

The Proper Ornaments - Six Lenins

01. Apologies
02. Crepuscular Child
03. Where Are You Now
04. Song For John Lennon
05. Can’t Even Choose Your Name
06. Please Release Me
07. Bullet From A Gun
08. Six Lenins
09. Old Street Station
10. In The Garden

8 Cold Showers - Motionless

Os Cold Showers são assumidamente seguidores e fiéis depositários de nobre herança do período aúreo do punk rock mais sombrio e neste seu novo trabalho espraiam todo o virtuosismo que existe no seu seio, relativamente a este período temporal. Acabam por situar-se numa espécie de meio termo entre o rock clássico, a eletrónica, o shoegaze e a psicadelia (...) e o alinhamento de Motionless acaba por ter uma homonegeidade que se saúda amplamente, com o disco a rugir nos nossos ouvidos e a deixar-nos à mercê do fogo incendiário em que se alimenta. É, portanto, uma obra grandiosa e eloquente, um disco a preto e branco, mas pleno de ruido, com tudo aquilo que de melódico o ruído pode tantas vezes conter e que pode ser também um elemento importante para criar um ambiente de rara frescura e pureza sonora.

Cold Showers - Motionless

01. Tomorrow Will Come
02. Shine
03. Measured Man
04. Motionless
05. Sinking World
06. Faith
07. Dismiss
08. Every Day On My Head

7 Vetiver - Up On High

Registo em que se sente à tona uma curiosa e sensação de positivismo, bom humor e crença em dias melhores, Up On High é capaz de nos colocar no rosto aquele nosso sorriso que nunca nos deixa ficar mal, enquanto nos ajuda, por exemplo, a finalmente traçar uma rota sem regresso até aquele secreto desejo que nunca tivemos coragem de realizar. De facto, a música de Vetiver é perfeita para nos fazer descolar da vida real muitas vezes confusa e repleta de precalços, aterrando-nos num mundo paralelo que espicaça as sensações mais positivas e bonitas que alimentam o nosso íntimo e que, entre a luz e a melancolia, realizam-se, provando que Andy sabe como ser um conselheiro espiritual sincero e firme e que tem a ousadia de nos querer guiar pelo melhor caminho, sem mostrar um superior pretensiosismo ou tiques desnecessários de superioridade.

Vetiver - Up On High

01. The Living End
02. To Who Knows Where
03. Swaying
04. All We Could Want
05. Hold Tight
06. Wanted, Never Asked
07. A Door Shuts Quick
08. Filigree
09. Up On High
10. Lost (In Your Eyes)

6 Local Natives - Violet Street

Violet Street eleva o quinteto para um novo patamar instrumental mais arrojado, mantendo-se, no entanto, a excelência nas abordagens ao lado mais sentimental e frágil da existência humana, traduzidos em inspirados versos e a formatação primorosa de diferentes nuances melódicas numa mesma composição, duas imagens de marca do projeto. Num cruzamento feliz entre eletrónica e indie rock, Violet Strret sobrevive numa vasta heterogeneidade de elementos e nuances que caraterizam cada um dos tema de um registo que, quanto a mim apenas peca pelo curto alinhamento. Tal fartura de tiques serve para justificar não só a coerência de Violet Street, até porque cada canção parece introduzir e impulsionar a seguinte, numa lógica de progressão, mas, principalmente, para clarificar a enorme riqueza e complexidade de um disco de enorme beleza e que deve ser apreciado com cuidado e real atenção. 

Local Natives - Violet Street

01. Vogue
02. When Am I Gonna Lose You
03. Cafe Amarillo
04. Munich II
05. Megaton Mile
06. Someday Now
07. Shy
08. Garden Of Elysian
09. Gulf Shores
10. Tap Dancer

5 The High Dials - Primitive Feelings

As duas metades de Primitive Feelings estão repletas de texturas sonoras que privilegiam um punk rock algo sujo e lo fi, mas onde também não faltam texturas eletrónicas particularmente pulsantes e contemporâneas e com um elevado groove e um espírito shoegazenuances que se saúdam num projeto particularmente inovador e reputado na esfera indie canadiana. (...) Este trabalho, no seu todo, no seu todo, potencia a fama destes The High Dials, não só devido à bitola qualitativa e criativa deste novo capítulo de um catálogo discográfico que é já riquissímo, mas também por causa da superior capacidade que têm de fazer o nosso espírito facilmente levitar e provocar no âmago de quem os escuta devotamente um cocktail delicioso de boas sensações.

4 DIIV - Deceiver

Deceiver não sacode a toalha da mesa de toda a trama anterior que os DIIV criaram, quer em Oshin, o disco de estreia, quer em Is The Is Are, mas é um claro passo em frente rumo a sonoridades algo diferentes e mais abrangentes. (...) É um disco em que sombra, rugosidade e monumentalidade se misturam entre si com intensidade e requinte superiores, através da crueza orgânica das guitarras, repletas de efeitos e distorções inebriantes e de um salutar experimentalismo percurssivo em que baixo e bateria atingem, juntos, um patamar interpretativo particularmente turtuoso, enquanto todos juntos obedecem à vontade de Zachary de se expôr sem receios e assim afugentar definitivamente todos os fantasmas interiores que o consumiram durante tantos anos e que parecem finalmente ter sido plenamente exorcizados. (...) Este é um daqueles excelentes instantes sonoros que merecem figurar em lugar de destaque na indie contemporânea, principalmente pelo modo como faz um piscar de olhos objetivo aquela crueza orgânica que vive permanentemente de braço dado com o experimentalismo e em simbiose com a psicadelia.

DIIV - Deceiver

01. Horsehead
02. Like Before You Were Born
03. Skin Game
04. Between Tides
05. Taker
06. For The Guilty
07. The Spark
08. Lorelai
09. Blankenship
10. Acheron

3 Vampire Weekend - Father Of The Bride

Father Of The Bride centrou-se na busca de interseções apuradas entre a herança pop do último meio século, com especial ênfase para o período sessentista dominado pela exuberância das cordas, mas também pelo uso das teclas de um modo menos clássico e mais experimental. (...) No meio de toda uma diversidade e ecletismo, importa ainda referir a aposta em algumas da principais tendências estilísticas da eletrónica atual, (...) com uma vasta inserção de arranjos de cordas e outros de origem sintética a pairarem sobre (...) todo um receituário que também cruza batidas e ritmos com funk e alguns dos arquétipos essenciais do rock progressivo setentista, rematados por detalhes de cordas de forte indole orgânica. Toda esta trama conceptual faz movimentar um trabalho que se divide constantemente entre a simplicidade e a grandeza dos detalhes, um registo entregue, de forma experimental e criativa à busca algo incessante de melodias com um forte cariz pop e radiofónico, mas sem deixarem de piscar o olho ao universo underground e mais alternativo que foi quem sustentou e ajudou os Vampire Weekend, no início da carreira, a obterem a notoriedade que hoje os distingue.

Vampire Weekend - Father Of The Bride

01. Hold You Now (Feat. Danielle Haim)
02. Harmony Hall
03. Bambina
04. This Life
05. Big Blue
06. How Long?
07. Unbearably White
08. Rich Man
09. Married In A Gold Rush (Feat. Danielle Haim)
10. My Mistake
11. Sympathy
12. Sunflower (Feat. Steve Lacy)
13. Flower Moon (Feat. Steve Lacy)
14. 2021
15. We Belong Together (Feat. Danielle Haim)
16. Stranger
17. Spring Snow
18. Jerusalem, New York, Berlin

2 Efterklang - Altid Sammen

Assim que se inicia a audição de Altid Sammen, (...) cria-se ao nosso redor, instantaneamente, uma espécie de névoa celestial, com o falsete etéreo de Casper, que canta pela primeira vez em dinamarquês num álbum dos Efterklang, a olhar para o interior da nossa alma e a incitar os nossos desejos mais profundos, como se cavasse e alfinetasse um sentimento em nós, enquanto o piano amplifica ainda mais este inusitado momento de agitação elegante e introspetiva. Se tal visão celestial é replicada, algumas faixas depois, na explosiva inquietude dos sopros que encorpam a suplicante Hænder Der åbner Sig, o modo como o baixo e a secção rítmica nos arrastam em Supertanker e, de modo mais intenso, em I Dine øjne, são nuances que nos obrigam a esquecer tudo o que nos rodeia e a refugiar-nos numa espécie de feliz isolamento auto imposto. Ainda mal refeitos dessa injeção de pura adrenalina soporífera, levamos nos olhos, literalmente, com o irresistível lacrimejar que nos proporciona Uden Ansigt (...), uma jóia verdadeiramente preciosa que arrebata toda a dose de melancolia que temos guardada dentro de nós, esvaziando-nos e deixando-nos naquela letargia típica de quando se dorme e se está acordado, uma dormência que se acentua e que despoleta a nossa capacidade de sonhar de olhos abertos em Verden Forsvinder e que finalmente nos afaga e nos permite repousar em paz na suprema espiritualidade que exala de Under Broen Der Ligger Du, um dos temas melodicamente mais felizes de Altid Sammen. Ao longo da carreira, o som dos Efterklang não foi sempre estanque e a opção por um alinhamento de contornos eminentemente clássicos acaba por ser um passo lógico (...) e este Altid Sammen acaba por funcionar como uma espécie de catarse de toda uma carreira feita de constante mudança e evolução, materializada num disco cheio de sentimentos, emocionalmente profundo e que quando termina deixa-nos com a sensação que acabou-nos de passar pelos ouvidos algo muito bonito, denso e profundo e que, por tudo isso, deixou marcas muito positivas e sintomas claros de enorme e absoluto deslumbramento.

Efterklang - Altid Sammen

01. Vi Er Uendelig
02. Supertanker
03. Uden Ansigt
04. I Dine øjne
05. Hænder Der åbner Sig
06. Verden Forsvinder
07. Under Broen Der Ligger Du
08. Havet Løfter Sig
09. Hold Mine Hænder

1 - Deerhunter - Why Hasn’t Everything Disappeared?

Mestres de um estilo sonoro bastante sui generis e que mistura alguns dos arquétipos fundamentais do indie rock, sempre com uma componente pop e que possa entroncar numa acessibilidade melódica que nem sempre está na linha da frente das bandas que se movimentam neste espetro sonoro mais underground, os Deerhunter oferecem-nos em Why Hasn't Everything Already Disappeared? mais um conjunto de experimentações sónicas que, não renegando, em alguns instantes, aquela toada lo fi, crua e pujante, feita também de quebras e mudanças de ritmos e momentos de pura distorção, também tentam, dentro de um salutar experimentalismo, adocicar os nossos ouvidos com melodias que misturem acessibilidade, diversidade e intrincado bom gosto, sempre com enorme eficácia. Disco com dez canções com uma identidade muito própria, Why Hasn't Everything Already Disappeared? (...) pressegue uma senda encantatória, frequentemente com uma toada até algo progressiva. Além da base instrumental típica dos Deerhunter, temos composições em que o sintetizador é o elemento chave, (...), outras em que é o piano, de mãos dadas com uma guitarra que às vezes parece planar, quem assume as rédeas (...) e outras em que o colorido do cravo, um dos instrumentos predilectos de Cox, é, claramente, a grande força motriz. Why Hasn't Everything Already Disappeared? é, na verdade, um tratado pop, (...) um álbum onde a personalidade de cada uma das canções demora um pouco a revelar-se nos nossos ouvidos, já que imensos e variados são os detalhes precisos que as adornam. Os Deerhunter vivem no pico da sua capacidade criativa e mostram-se ao oitavo disco mais arrojados do que nunca, mostrando neste Why Hasn't Everything Already Disappeared? que conseguem navegar sem parcimónia em diferentes campos de exploração. Este projeto de Atlanta, na Georgia, prova-nos que a imprevisibilidade continua a ser, felizmente, algo valioso e ímpar no mundo artístico e Bradford Cox, uma das personagens mais excêntricas no mundo da música contemporânea, continua a jogar com essa evidência a seu favor, à medida que apresenta diferentes ideias e conceitos, de disco para disco, tendo, neste caso, excedido favoravelmente todas as expetativas e criado aquele que é já, na minha opinião, o melhor álbum de dois mil e dezanove.

Deerhunter - Why Hasn't Everything Already Disappeared

01. Death In Midsummer
02. No One’s Sleeping
03. Greenpoint Gothic
04. Element
05. What Happens To People?
06. Détournement
07. Futurism
08. Tarnung
09. Plains
10. Nocturne

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 22:42

Os melhores discos de 2019 (20 - 11)

Quinta-feira, 26.12.19

20 Helado Negro - This Is How You Smile

É assim a música de Helado Negro, intensa, palpável, urbana e dominada por um pendor acústico e tipicamente latino (...). Nela sente-se facilmente aquele aspeto geográfico e ambiental tão sul americano em que cidade, praia e floresta tropical amiúde se fundem, neste caso num registo com uma elevada vertente autobiográfica, já que nele Lange desabafa sobre experiências individuais da sua infância e juventude. (...) Cada vez mais confiante, inspirado e multifacetado, Lange continua a aventurar-se corajosamente na sua própria imaginação, construída entre o caribe que o viu nascer e a América de todos os sonhos. Neste This Is How You Smile contorna, mais uma vez, todas as referências culturais que poderiam limitar o seu processo criativo para, isento de tais formalismos, compilar com música, história, cultura, saberes e tradições, num pacote sonoro cheio de groove e de paisagens sonoras que contam histórias que Helado Negro sabe, melhor do que ninguém, como encaixar.

Resultado de imagem para Helado Negro – This Is How You Smile

01. Please Won’t Please
02. Imagining What To Do
03. Echo For Camperdown Curio
04. Fantasma Vaga
05. Pais Nublado
06. Running
07. Seen My Aura
08. Sabana De luz
09. November 7
10. Todo Lo Que Me Falta
11. Two Lucky
12. My Name Is For My Friends

 

 

19 The Growlers - Natural Affair

Frequentemente catalogados com uma banda de surf rock, a sonoridade dos The Growlers vai muito além dessa simples catalogação e Natural Affair é mais uma demonstração cabal dessa permissa. (...) Este é um disco cuja aparente simplicidade e descomprometimento não será obra do acaso, mas a obediência clara a um desejo de criação de uma imagem própria, inerente ao conceito de rebeldia, mas sem descurar um apreço pela qualidade comercial e pela apresentação de um alinhamento de canções que agrade às massas. Os The Growlers têm toda a aparência de conviverem pacificamente com a herança do rock das últimas quatro ou cinco décadas, mas escapam do eventual efeito preverso da mesma e fazem-no com mestria, até porque há uma elevada sensação de espontaneidade num álbum que deve estar no radar de todos aqueles que se interessam por este espetro sonoro.

The Growlers - Natural Affair

01. Natural Affair
02. Long Hot Night (Halfway To Certain)
03. Pulp Of Youth
04. Social Man
05. Foghorn Town
06. Shadow Woman
07. Truly
08. Tune Out
09. Coinstar
10. Stupid Things
11. Try Hard Fool
12. Die And Live Forever

 

18 Strand Of Oaks - Eraserland

São vários os instantes de puro deleite de um disco escrito sob um manto nublado de dúvidas, hesitações e um estado de espírito algo depressivo (...), mas cheio de composições aparentemente minimalistas mas adornadas por camadas sonoras ricas em detalhes implícitos, nunca ofuscam a natural predisposição deste reverendo barbudo para expor tudo aquilo que sente e precisa de expelir com genuína entrega e sensibilidade extrema. Escutar com devoção Eraserland é embarcar numa viagem emocional e emocionante rumo ao fulcro cósmico da mente de Strand Of Oaks (...), um álbum que volta a expandir os territórios deste artista verdadeiramente singular, que replica uma vez mais com mestria um emaranhado de antigas nostalgias e novas tendências, que reproduzem toda a força neo hippie tipicamente rock, mas que também se deixa consumir abertamente tanto pelo experimentalismo punk lisérgico como pela soul.

Strand Of Oaks - Eraserland

01. Weird Ways
02. Hyperspace Blues
03. Keys
04. Visions
05. Final Fires
06. Moon Landing
07. Ruby
08. Wild and Willing
09. Eraserland
10. Forever Chords
11. Cruel Fisherman (Hidden Track)

 

17 The Drums - Brutalism

Brutalism é um alinhamento em que, canção após canção, se sente a vibração a aumentar e a diminuir de forma ritmada e empolgante, com composições com o selo caraterístico daquele rock misterioso e cheio de fechaduras enigmáticas e chaves mestras, mas que, se forem experimentadas com dedicação, acabam por abrir portas para um refúgio perfeito. Depois, ainda há o bónus de podermos conferir a postura vocal de Pierce, mais madura e suculenta do que nunca e particularmente tocante e emocionada em alguns momentos. (...) Registo bem balizado em termos de referências, Brutalism merece dedicação e nota positiva não só pelo encosto a tão importantes referências, particularmente as oitocentistas, mas também por, na minha opinião, mostrar que Pierce é cada vez mais capaz de agarrar em fórmulas bem sucedidas e, procurando nunca se colar demasiado a essa zona de conforto, conseguir criar algo único e genuíno e que, no seu todo, represente a relevância deste projeto nova iorquino no universo indie atual.

The Drums - Brutalism

01. Pretty Cloud
02. Body Chemistry
03. 626 Bedford Avenue
04. Brutalism
05. Loner
06. I Wanna Go Back
07. Kiss It Away
08. My Jasp
09. Blip Of Joy

 

16 Pond - Tasmania

Tasmania é mais um retrato fiel do caldeirão sonoro que os POND reservam para nós cada vez que entram em estúdio para compor. (...) No disco não faltam guitarras alimentadas por um combustível eletrificado que inflama raios flamejantes que cortam a direito, feitas, geralmente, de acordes rápidos, distorções inebriantes e plenas de fuzz e acidez e acompanhadas, desta vez mais do que nunca, por sintetizadores munidos de um infinito arsenal de efeitos e sons originários das mais diversas fontes instrumentais, reais ou fictícias. Para compor o ramalhete não falta ainda uma secção rítmica que aposta, frequentemente, numa sobreposição instrumental em camadas, onde vale quase tudo, mas nunca é descurado um forte sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de acessibilidade enquanto passeamos por uma espécie de jardim contemplativo que nos proporciona um rol de emoções e sensações expressas com intensidade e minúcia, misticismo e argúcia e sempre com uma serenidade extraordinariamente melancólica e bastante impressiva. Com um clima glam muito próprio, Tasmania enche-nos com um espaço sonoro pleno de texturas e fôlegos e onde é transversal uma sensação de experimentação nada inócua e que espelha o cimento das coordenadas que se apoderaram do departamento de inspiração dos POND, sendo o resultado da ambição deste fabuloso projeto australiano em se rodear, cada vez mais, com uma áurea resplandecente e inventiva e de se mostrar mais heterogéneo e abrangente do que nunca.

Pond - Tasmania

01. Daisy
02. Sixteen Days
03. Tasmania
04. The Boys Are Killing Me
05. Hand Mouth Dancer
06. Goodnight, P.C.C.
07. Burnt Out Star
08. Selené
09. Shame
10. Doctor’s In

 

15 Horsebeach - The Unforgiving Current

Uma das boas surpresas do ano são, claramente, estes Horsebeach, mestres no balanço inspirado entre uma rugosidade bastante vincada e plena de groove (...) e aquela dream pop de forte cariz lo fi, conduzida por uma guitarra com um efeito metálico particularmente vibrante, acompanhada por um registo vocal ecoante e uma bateria multifacetada e bastante omnipresente. E é no meio destes dois opostos de The Unforgiving Current (...) que escorre um disco bastante homogéneo, uma perfeita banda sonora de um dia de verão, com quarenta e cinco minutos repletos de boas letras e onde abundam, como seria de esperar, arranjos feitos de detalhes típicos da pop e do punk dos anos oitenta. Disco descontraído, jovial e que carece de audição atenta e dedicada, The Unforgiving Current é um cenário idílico para quem, como eu, aprecia alguns dos detalhes básicos da melhor pop lo fi contemporânea, um oásis de contida elegância que impressiona pelo bom gosto com que cruza vários estilos e dinâmicas sonoras.

Horsebeach - The Unforgiving Current

01. Net Cafe Refuge
02. The Unforgiving Current
03. Dreaming
04. Mourning Thoughts
05. Vanessa
06. Yuuki
07. Trust
08. Unlucky Strike
09. Mother
10. Acting

 

14 Clinic - Wheeltappers And Shunters

Wheeltappers And Shunters é uma ode majestosa ao rock experimental setentista (...) e a receita que os Clinic assumiram em Wheeltappers And Shunters arrancou do seio do grupo o melhor alinhamento que apresentaram até hoje, expresso em doze canções que exaltaram o superior quilate de cada intérprete. Se as guitarras ganham ênfase em efeitos e distorções hipnóticas e se bases suaves sintetizadas, acompanhadas de batidas, cruzam-se com o baixo, também num piscar de olhos insinuante a um krautrock, já o constante enganador minimalismo eletrónico, prova o minucioso e matemático planeamento instrumental de um disco que contém um acabamento que gozou de uma clara liberdade e indulgência interpretativa, dividida entre redutos intimistas e recortes tradicionais esculpidos de forma cíclica e onde tudo se orientou com o propósito de criar um único bloco de som, fazendo do álbum um corpo único e indivisível e com vida própria, onde couberam todas as ferramentas e fórmulas necessárias para que a criação de algo verdadeiramente imponente.Resultado de imagem para Clinic Wheeltappers And Shunters

01. Laughing Cavalier
02. Complex
03. Rubber Bullets
04. Tiger
05. Ferryboat Of The Mind
06. Mirage
07. D.I.S.C.I.P.L.E.
08. Flying Fish
09. Be Yourself / Year Of The Sadist
10. Congratulations
11. Rejoice!
12. New Equations (At The Copacabana)

 

13 Coldplay - Everyday Life

Os Coldplay parecem finalmente apostados em deixar um pouco de lado aquela etiqueta de banda de massas da pop e da cultura musical, feita de exuberância sonora e de uma mescla da enorme variedade de estilos que foram bem sucedidos comercialmente na última década, nomeadamente a eletrónica e o rock repleto de sintetizações, para voltarem a colocar na linha da frente aquele lado mais intimista, simples e humano, o modus operandi que talvez melhor potencie todos os atributos estilísticos e interpretativos que o grupo possui. (...) De facto, parecem querer voltar (...) um pouco àquelas raízes em que o coração de Martin é que impõe a sua lei no conteúdo das canções do quarteto e não aquilo que a exigente radiofonia pede (...). Nos seus dois volumes (...) juntam ao cardápio mais um naipe de canções que funcionará certamente bem em estádio defronte de grandes massas (...), mas o que mais marca este álbum é o facto de expôr alguns dos fantasmas estéticos que sempre acompanharam a carreira discográfica dos Coldplay, que tantas vezes procurou um equilíbrio nem sempre fácil entre o apelo comercial da indústria musical e a vontade destes músicos em ressuscitar antigos arranjos, técnicas e sonoridades.

Coldplay - Everyday Life

01. Sunrise
02. Church
03. Trouble In Town
04. BrokEn
05. Daddy
06. WOTW/POTP
07. Arabesque
08. When I Need A Friend
09. Sunrise/Sunset Interlude #1
10. Sunrise/Sunset Interlude #2
11. Sunrise/Sunset Interlude #3
12. Sunrise/Sunset Interlude #4
13. Sunrise/Sunset Interlude #5
14. Sunrise/Sunset Interlude #6
15. Guns
16. Orphans
17. Eko
18. Cry Cry Cry
19. Old Friends
20. Bani Adam
21. Champion Of The World
22. Everyday Life

 

12 The Flaming Lips - King's Mouth

King’s Mouth, o décimo quinto disco da carreira dos The Flaming Lips (...), é sobre um rei disforme que morre quando tenta salvar o seu reino de uma avalanche de neve apocalíptica, acabando por sucumbir no meio dela. Após a morte, a sua cabeça enorme transforma-se numa espécie de fortaleza de aço pela qual os seus súbditos podem trepar e entrar pela boca, chegando, assim, às estrelas enquanto contemplam toda a imensidão de luzes e cores que em vida esse rei sugou enquanto se tornava maior e atingia a maioridade. Dado este mote lírico, incubado pela mente de um Coyne que é, claramente, um dos artistas mais criativos do cenário indie contemporâneo, (...) King's Mouth afirma-se num bloco de composições que são mais do que partes de uma só canção de enormes proporções, porque além de existir neste alinhamento diversidade e heterogeneidade, cada composição tem um objetivo claro dentro da narrativa, compartimentando-a e ajudando assim o ouvinte a perceber de modo mais claro toda a trama idealizada. King's Mouth conduz-nos, então, numa espécie de viagem apocalíptica, onde Coyne, sempre consciente das transformações que foram abastecendo a musica psicadélica, assume o papel de guia e conta-nos uma história simples, mas repleta de metáforas sobre a nossa contemporaneidade, servindo-se ora de composições atmosféricas, ora de temas de índole mais progressiva e agreste e onde também coabitam marcas sonoras feitas com vozes convertidas em sons e letras e que praticamente atuam de forma instrumental. No final, tudo é dissolvido de forma aproximada e homogénea, através de sintetizadores cósmicos e guitarras experimentais, sempre com enorme travo lisérgico, num resultado final que ilustra na perfeição o cariz poético dos The Flaming Lips, um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-los para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas que só eles conseguem transmitir.

The Flaming Lips - King's Mouth

01. We Dont Know How a´And We Don’t Know Why
02. The Sparrow
03. Giant Baby
04. Mother Universe
05. How Many Times
06. Electric Fire
07. All For The Life Of The City
08. Feedaloodum Beedle Dot
09. Funeral Parade
10. Dipped In Steel
11. Mouth Of The King
12. How Can A Head

 

11 Allah-Las - Lahs

A música dos Allah-Las é algo que se esprai deliciosamente nos nossos ouvidos, sem pressas, arrufos ou complicações desnecessárias. Há uma constante sensação de conforto, calma, quietude e etérea contemplação nas composições deste quarteto e Lahs, o registo mais heterógeneo e completo da carreira do projeto, amplia esta filosofia interpretativa, adocicando-a com novas nuances, nomeadamente aquelas que foram retiradas da lista de arquétipos fundamentais do rock clássico e do alternativo. (...) Os Allah-Las estão atrasados ou adiantados quase meio século, depende da perspetiva que cada um possa ter acerca do conteúdo sonoro que replicam. Se na década de sessenta seriam certamente considerados como uma banda vanguardista e na linha da frente e um exemplo a seguir, na segunda década do século XXI conseguem exatamente os mesmos pressupostos porque, estando novamente o indie rock lo fi e de cariz mais psicotrópico na ordem do dia, são, na minha modesta opinião, um dos projetos que melhor replica o garage rock dos anos sessenta e a psicadelia da década seguinte. (...) Em suma, estamos na presença de um alinhamento com sabor a despedida do sol e do calor, feito de referências bem estabelecidas e com uma arquitetura musical que garante aos Allah-Las a impressão firme de que a sua sonoridade típica conquista e seduz, com as visões de uma pop caleidoscópia e o sentido de liberdade e prazer juvenil que suscita, também por experimentar um vasto leque de referências antigas.

Allah-Las - Lahs

01. Holding Pattern
02. Keeping Dry
03. In The Air
04. Prazer Em Te Conhecer
05. Roco Ono
06. Star
07. Royal Blues
08. Electricity
09. Light Yearly
10. Polar Onion
11. On Our Way
12. Houston
13. Pleasure

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:15

Taïs Reganelli - Tanto Mar (Chico Buarque)

Sábado, 07.12.19

Filha de pais brasileiros, Taïs Reganelli nasceu em Berna, na Suíça, há quarenta e um anos, durante o exílio político de seu pai, o jornalista Wilson Roberto Reganelli, que foi embora do Brasil após a morte de seu companheiro de trabalho, o também jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar. A família viveu na Suíça doze anos antes de voltar definitivamente ao país natal, para Campinas, no interior de São Paulo, quase no ocaso da década de oitenta do século passado.

Resultado de imagem para Taïs Reganelli - Tanto Mar Chico Buarque

Taïs Reganelli iniciou sua carreira ainda na adolescência, cantando em bares, teatros e espaços culturais da cidade, sempre acompanhada de seu irmão mais velho, o violonista Henrique Torres, com quem formou um duo por mais de vinte anos. Em mil novecentos e noventa e nove, fixou-se em Itália onde durante dois anos deu vários concertos com o irmão,  regressando de novo ao Brasil em dois mil e um para cimentar um lugar de relevo no cenário musical do país irmão e dividir o palco com grandes nomes da música popular brasileira. Ao longo desses anos tocou em vários países da América Latina e da Europa, entre eles Nicarágua, Chile, França, Espanha, Bélgica, Holanda, Itália e Portugal. Lançou quatro álbuns de carreira, destacando-se Leve, há oito anos, que ganhou posições de destaque em várias listas dos melhores discos brasileiros desse ano.

Atualmente a cantora e compositora Taïs Reganelli, vive em Portugal, está apaixonada por Lisboa e a explorar a nossa cultura musical e conceitos tão nossos como a saudade e a solidão. Na sequência, a intérprete estreou-se no nosso país com o lançamento do single Vem (Além de toda solidão), um original da Madredeus composto por Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes e que Taïs canta com pronúncia brasileira, dando ao original um cunho muito pessoal e uma identidade diferente da original sob a produção do pianista e compositor Pablo Lapidusas.

Agora, dois meses depois dessa feliz estreia por cá e da revisitação à Madredeus, Taïs Reganelli dá-nos a conhecer outra versão, neste caso de Tanto Mar, um original icónico de Chico Buarque e que é, segundo a autora, uma forma de aproximar ainda mais Portugal e Brasil, com histórias parecidas de luta e resistência durante os períodos em que foram submetidos a regimes ditatoriais.

Com a ajuda novamente de Pablo Lapidusas, Reganelli ofereceu ao original de Buarque uma toada mais roqueira e contemporânea, desconstruindo-o e conseguindo com felicidade um contraponto certeiro entre guitarras distorcidas e a sua voz suave. A presença inicial e a espaços de um sintetizador melodicamente inspirado, ajuda a ampliar o grau de emotividade e o colorido de um tema cujo original fala sobre o nosso vinte e cinco de abril e cuja escolha se entende devido ao facto de a ditadura ser algo muito presente dentro do seio familiar da cantora, como referi acima.

Realizado por Juliana Frug, o video da composição apropria-se, de acordo com o seu press release, de uma profusão de cravos para celebrar um dos principais acontecimentos de Portugal, ocorrido em 25 de abril de 1974. A ideia foi produzir um clipe conceitual, apenas com cravos e água (simbolizando o mar que separa os Continentes), interpretando assim toda a letra, afirma Taïs. A cartela de cores foi pensada de acordo com as cores das bandeiras do Brasil e de Portugal com algumas pequenas variações de tons, acrescenta Juliana Frog.

Importa ainda referir que o concerto de lançamento deste single está marcado para dia 14 de dezembro, às 21h, no AveNew, em Lisboa. Confere...

Web: https://www.taisreganelli.com/

Facebook: https://www.facebook.com/taisreganellioficial/

Instagram: https://www.instagram.com/taisreganelli/

YouTube: https://www.youtube.com/user/taisreganelli    

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 14:06

Taïs Reganelli - Vem (Além de toda solidão)

Terça-feira, 08.10.19

Filha de pais brasileiros, Taïs Reganelli nasceu em Berna, na Suíça, há quarenta e um anos, durante o exílio político de seu pai, o jornalista Wilson Roberto Reganelli, que foi embora do Brasil após a morte de seu companheiro de trabalho, o também jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar. A família viveu na Suíça doze anos antes de voltar definitivamente ao país natal, para Campinas, no interior de São Paulo, quase no ocaso da década de oitenta do século passado.

Resultado de imagem para Taïs Reganelli Vem (Além de toda solidão)

Taïs Reganelli iniciou sua carreira ainda na adolescência, cantando em bares, teatros e espaços culturais da cidade, sempre acompanhada de seu irmão mais velho, o violonista Henrique Torres, com quem formou um duo por mais de vinte anos. Em mil novecentos e noventa e nove, fixou-se em Itália onde durante dois anos deu vários concertos com o irmão,  regressando de novo ao Brasil em dois mil e um para cimentar um lugar de relevo no cenário musical do país irmão e dividir o palco com grandes nomes da música popular brasileira. Ao longo desses anos tocou em vários países da América Latina e da Europa, entre eles Nicarágua, Chile, França, Espanha, Bélgica, Holanda, Itália e Portugal. Lançou quatro álbuns de carreira, destacando-se Leve, há oito anos, que ganhou posições de destaque em várias listas dos melhores discos brasileiros desse ano.

Atualmente a cantora e compositora Taïs Reganelli, vive em Portugal, está apaixonada por Lisboa e a explorar a nossa cultura musical e conceitos tão nossos como a saudade e a solidão. Na sequência, a intérprete estreia-se no nosso país com o lançamento do single Vem (Além de toda solidão), um original da Madredeus composto por Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes e que Taïs canta com pronúncia brasileira, dando ao original um cunho muito pessoal e uma identidade diferente da original sob a produção do pianista e compositor Pablo Lapidusas.

Esta versão do single Vem (Além de toda solidão), também já tem direito a um vídeo realizado por Juliano Luccas, captado na capital do nosso país e inspirado na verdade e crueza da interpretação de Jacques Brel no filme da canção Ne me quitte pas. O vídeo mistura imagens de sítios icónicos de Lisboa com cenas de um corpo feminino, acentuando o contraste entre o macro (a imponente arquitetura lisboeta, o mar...) e o micro (o umbigo, uma lágrima que cai...). 

A cantora explica assim o motivo da escolha da canção para o seu primeiro single: Os Madredeus influenciaram muito a minha carreira e sempre incluí suas músicas em meus concertos no Brasil. Quando cheguei aqui (em Lisboa) quis gravar uma canção deles e de que gostava imenso, em homenagem ao país que estava me recebendo.

Depois do lançamento de Vem (Além de toda solidão), Taïs Reganelli prepara a gravação de mais dois singles e vídeos e de um concerto ao vivo no Casino do Estoril, no dia vinte e um de Novembro, às vinte e duas horas. Confere...

Facebook: https://www.facebook.com/taisreganellioficial/

Instagram: https://www.instagram.com/taisreganelli/

YouTube: https://www.youtube.com/user/taisreganelli

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 17:06

Keane – Retroactive EP1

Segunda-feira, 27.05.19

Com uma vasta e bem sucedida carrera de cerca de duas décadas, os britânicos Keane de Tom Chaplin, sempre gostaram de revisitar e dar novas roupagens a alguns dos seus temas mais emblemáticos, sendo a safra mais recente desse exercício de reinterpretação Retroactive EP 1, um tomo de quatro canções, obrigatório para quem é assumido seguidor deste projeto incontornável da história musical contemporânea.

Resultado de imagem para keane – retroactive ep 1

Para quem conhece os Keane e já amou e se desiludiu ao som da voz ternurenta de Tom Chaplin, Retroactive EP 1 é um aconchegante compêndio sonoro, perfeito para tocar nestes finais de tarde ensolarados, enquanto fazemos rewind à fita magnética que guarda algumas das melhores memórias vividas ao som de quatro clássicos únicos e intemporais desta banda britânica. São canções por natureza otimistas, compostas por uma banda que soube sempre fintar as críticas relacionadas com uma face supostamente demasiado radiofónica, melosa e sentimental e que foram criadas num estágio superior de sapiência que, à altura, se colocou à boleia de arranjos tensos, dramáticos e melódicos e dos quais nos apropriámos individual e coletivamente, através de discos tão essenciais para a hitória da pop deste século como Hopes and Fears (2004), Under The iron Sea (2006) ou Perfect Symmetry (2008).

Prestes a lançar novo álbum este ano, quatro das composições  marcantes desse período aúreo dos Keanee podem agora ser degustadas com igual emotividade e prazer, através de uma faceta mais acústica, contemplativa e etérea, mas igualmente melancólica, nostálgica e marcante. Espero que aprecies a sugestão...

Keane - Retroactive EP1

01. Somewhere Only We Know (Sprint Music Series)
02. Bedshaped (Acoustic / Live At The Roundhouse / 2013)
03. Spiralling (Demo)
04. Silenced By The Night (Live / Sea Fog Acoustic Session)

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:53






mais sobre mim

foto do autor


Parceria - Portal FB Headliner

HeadLiner

Man On The Moon - Paivense FM (99.5)

Man On The Moon · Man On The Moon - Programa 570


Disco da semana 176#


Em escuta...


pesquisar

Pesquisar no Blog  

links

as minhas bandas

My Town

eu...

Outros Planetas...

Isto interessa-me...

Rádio

Na Escola

Free MP3 Downloads

Cinema

Editoras

Records Stream


calendário

Março 2024

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.