man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Slowdive – Everything Is Alive
Foi com a chancela da Dead Oceans que chegou recentemente aos escaparates Everything Is Alive, o quinto e novo álbum dos britânicos Slowdive, verdadeiros mestres e pioneiros do shoegaze e uma referência ímpar do indie rock alternativo, desde que quase no final do século passado, lançaram o excelente registo Pygmalion.
Everything Is Alive sucede ao belíssimo álbum homónimo que o projeto atualmente formado por Nick Chaplin, Rachel Goswell, Neil Halstead, Simon Scott e Christian Savill, lançou em dos mil e dezassete e encarna uma sentida dedicatória à mãe de Goswell e ao pai de Scott, ambos falecidos em dois mil e vinte. Essa realidade justifica o tom algo negro e pesado do registo, nuances que são, neste caso, notáveis atributos, porque os Slowdive conseguem conferir ao alinhamento do disco o necessário tom pesaroso, sem colocar em causa uma sempre indispensável faceta melódica e uma elevada carga de beleza, comprovando que isso também é possível no meio da dor e do aparente caos.
The Slab, por exemplo, é uma boa amostra dessa convivência aparentemente impossível. A canção que encerra o disco é, de facto, um tormento ruidoso quase incomodativo, mas também um oásis de grandeza e de psicadelia. São pouco mais de cinco minutos de contínuo hipnotismo, em que uma simples e repetiva melodia de uma guitarra, acompanhada por um baixo firme e hirto, recebem, sempre de braços abertos, diversas distorções e alguns efeitos planantes, criando, assim, uma laje sonora imponente onde, como é hábito, a voz sempre eficiente na transmissão de melancolia de Neil Halstead encaixa na perfeição. Já canções do calibre de Skin In The Game, um belo tratado de dream pop, calcorreiam territórios um pouco mais esotéricos e sintéticos, que também são do agrado dos Slowdive, já que, mantendo a filosofia adjacente ao registo, mas através de um ângulo diferente de The Slab, encarna um orgasmo soporífero de eletrónica, simultaneamente enevoada e minimalista, mas onde também não faltam camadas de cordas acústicas e elétricas.
De facto, esta simbiose quase impercetível entre o orgânico e o sintético parece ser o novo modus operandi preponderante deste projeto natural de Reading, no condado de Berkshire, que confessou recentemente sentir-se cada vez mais atraído por abordagens sonoras que dêem primazia aos sintetizadores, na definição do arquétipo instrumental das suas composições. Everything Is Alive é, por isso, um passo em frente seguro dos Slowdive rumo a uma abordagem sonora um pouco inédita, tendo em conta o catálogo do quinteto, mas sem deixar de respeitar o seu adn que tem sido pioneiro a provar que a segunda metade da segunda década deste novo século está a ser, pelas circunstâncias atuais e pelo estado algo angustiante deste mundo em que vivemos, perfeita para a assimilação de um indie rock mais contemplativo, melancólico e atmosférico, mas mesmo assim incisivo, não só porque é uma sonoridade que vai ao encontro daquilo que são hoje importantes premissas de quem acompanha as novidades deste espetro sonoro, mas também porque, num período de algum marasmo, esta tem sido uma estética que tem encontrado bom acolhimento junto do público.
Na verdade, na delicadeza percurssiva do teclado que nos hipnotiza em Chained To A Cloud, ou no travo nostálgico arrepiante do punk rock lo fi de Kisses, percebemos o tom multifacetado que é hoje imagem de marca deste projeto britânico que, querendo exalar dor e redenção, consegue também oferecer-nos uma revitalizante dose de esperança e redenção, à boleia de oito canções que, entrelaçando tristeza e gratidão, emergem-nos num universo muito próprio e no qual só penetra verdadeiramente quem se predispuser a se deixar absorver por esta peculiar cartilha. É um paradigma artístico que se firma num falso minimalismo, já que da criteriosa seleção de efeitos da guitarra, à densidade do baixo, passando por uma ímpar subtileza percussiva e um exemplar cariz lo fi na produção, são diversos os elementos que costuram e solidificam um som muito homogéneo e subtil e, também por isso, bastante intenso e catalizador. Espero que aprecies a sugestão...