man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Pond – Man It Feels Like Space Again
São Francisco, na Califórnia e Perth na Austrália, são os dois grande polos atuais do indie rock piscadélico e, oriundos do último, os Pond de Nick Allbrook, Jay Watson, Joseph Ryan, Jamie Terry, um verdadeiro projeto paralelo dos Tame Impala, um dos nomes maiores do género e uma banda obrigatória para todos aqueles que da psicadelia, à dream pop, passando pelo shoegaze e o chamado space rock, se deliciam com a mistura destas vertentes e influências sonoras, sempre em busca do puro experimentalismo e com liberdade plena para ir além de qualquer condicionalismo editorial que possa influenciar o processo criativo de um grupo.
Produzido por Kevin Parker, Man It Feels Like Space Again é o sexto álbum dos Pond, um trabalho lançado no passado dia vinte e três de janeiro por intermédio da Modular e que tem no fuzz rock a sua pedra de toque, talvez a expressão mais feliz para caraterizar o caldeirão sonoro que os Pond reservam para nós e que logo na imponência de Waiting Around For Grace e no festim grandioso de Elvi´s Flaming Star, fica claramente plasmado.
As guitarras são, como seria de esperar, o combustível que inflama os raios flamejantes que cortam a direito e iluminam o colorido universo sonoro dos Pond, feitas de acordes rápidos, distorções inebriantes e plenas de fuzz e acidez. Mas a receita também se compôe com sintetizadores munidos de um infinito arsenal de efeitos e sons originários das mais diversas fontes instrumentais, reais ou fictícias, uma secção rítmica feita com um baixo pulsante e uma bateria com um forte cariz étnico, que é várias vezes literalmente cortada a meio por riffs de guitarra, numa sobreposição instrumental em camadas, onde vale quase tudo, mas nunca é descurado um forte sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de acessibilidade que, por exemplo, Hobo Rocket, o antecessor, não continha tanto, apesar da excelência do seu conteúdo. A delicada sensibilidade das cordas que suporta a cândida melodia do belíssimo instante de folk psicadélica chamado Holding Out For You e a monumentalidade comovente de Sitting Up On Our Crane são dois extraordinários tratados sonors que resgatam e incendeiam o mais frio e empedrenido coração que se atravesse e plasmam, além do vasto espetro instrumental presente no disco, a capacidade que estes Pond também têm para compôr peças sonoras melancólicas e transformar o ruidoso em melodioso com elevada estética pop.
A energia contagiante do eletropunk blues enérgico e libertário, que escorre por todos os poros de Zond, o mais recente single retirado de Man It Feels Like Space Again, um tema que assenta numa voz viciante e numa espiral de sons sintetizados, fortemente lisérgicos e aditivos é, em sentido oposto, outro exemplo claro de toda a amálgama cuidadosamente concebida pelos Pond, ampliada pelo video que é mais uma viagem alucinante filmada por Johnny Mackay, que criou um cenário de artifícios caseiros e adereços imperfeitos, colagens de fundos pintados à mão e um guarda-roupa, no mínimo, original. Já agora, torna-se obrigatório visualizar os videos dos Pond e perceber a forte ligação que existe sempre entre eles e a música, visto estarmos na preença de um coletivo que dá enorme importância à componente visual da sua música, algo que a banda desenhada do artwork do disco também exemplifica.
O álbum avança e depois de em Heroic Shart sermos invadidos por um efeito vocal reverberado que ecoa e paralisa, no meio de uma amálgama assente numa programação sintetizada de forte cariz experimental, Man It Feels Like Space Again prossegue a sua demanda triunfal na insanidade desconstrutiva e psicadélica em que alicerçam as camadas de sons que dão vida a Outside Is The Right Side, canção extremamente dançavel, já que mistura R&B, pop, hip-hop e electrónica, com noção de equilíbrio e um limbo perfeito. Neste instante, quando damos por nós, já completamente consumidos pelo arsenal infinito de efeitos, flashes e ruídos que correram impecavelmente atrás da percussão orgânica e bem vincada que sustentou esse tema, percebemos que não há escapatória possível desta ode imensa de celebração do lado mais estratosférico, descomplicado e animado da vida.
É impossível escutar este trabalho e ficarmos imóveis no recanto mais aconchegante que geralmente nos abriga; Torna-se indispensável deixar que o nosso corpo absorva todas as sensações inebriantes que este disco oferece gratuitamente e, repetindo o exercício sensorial várias vezes, permitirmos que depois se liberte o imenso potencial de energia que estas composições recheadas de marcas sonoras rudes, suaves, pastosas, imponentes, divertidas e expressivas, às vezes relacionadas com vozes convertidas em sons e letras e que atuam de forma propositadamente instrumental proporcionam. Aqui tudo é dissolvido de forma tão aproximada e homogénea, que Man It Feels Like Space Again está longe de revelar todos os seus segredos logo na primeira audição. Por exemplo, o ritmo lento e claramente acústico inicial de Medicine Hat é algo enganador porque a canção é subitamente alvo de um intenso upgrade sonoro, fortemente lisérgico, cósmico e imponente, deixando-nos em suspense relativamente ao que resta ouvir da composição e que acaba por ser uma forte cabeçada que nos agita a mente na forma de um riff melódico assombroso, carregado de distorção e perfeitamente diabólico. O tema homónimo, um imenso instante de rock progressivo, onde os Pond gastam todas as fichas e despejam os trunfos que alicerçam a sua estrutura sonora complexa, é uma canção que sabe claramente a despedida, num cenário verdadeiramente complexo, vibrante e repleto de efeitos maquinais que proporcionam sensações únicas.
Já com um acervo único e peculiar e que resulta da consciência que os músicos que compôem este coletivo têm das transformações que abastecem a música psicadélica atual, os Pond são umbilicalmente responsáveis por praticamente tudo aquilo que move e se move neste género e já se assumiram como referências essenciais para tantos outros. Querendo estar mais perto do grande público e serem comercialmente mais acessíveis, nesta parada psicotrópica explicitamente aberta ao experimentalismo que é Man It Feels Like Space Again, além de não colocarem em causa a sua própria integridade sonora ou descurarem a essência do projeto, propôem mais um tratado de natureza hermética e não se cansando de quebrar todas as regras e até de desafiar as mais elementares do bom senso que, no campo musical, quase exigem que se mantenha intocável a excelência, conseguem conquistar novas plateias com distinção. Os Pond sabem como impressionar pelo arrojo e mesmo que incomodem em determinados instantes da audição, mostram-se geniais no modo como dão vida a mais um excelente tratado sonoro do melhor revivalismo que se escuta atualmente relativamente ao rock psicadélico do século passado. Espero que aprecies a sugestão...
01. Waiting Around For Grace
02. Elvis’ Flaming Star
03. Holding Out For You
04. Zond
05. Heroic Shart
06. Sitting Up On Our Crane
07. Outside Is The Right Side
08. Medicine Hat
09. Man It Feels Like Space Again