man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Parquet Courts - Wide Awake!
Lançado a dezoito de maio último por intermédio da Rough Trade Records, Wide Awake! é o novo registo de originais dos norte americanos Parquet Courts, uma banda nova iorquina formada pelos guitarristas Andrew Savage e Austin Brown, o baixista Sean Yeaton e o baterista Max Savage e um dos coletivos do universo indie e alternativo mais aclamados da última meia década, muito por culpa de canções que parecem viajar no tempo e que, disco após disco, vão amadurecendo numa simbiose certeira entre garage rock, pós punk e rock, até se tornarem naquilo que são, peças sonoras que querem brincar com os nossos ouvidos, sujá-los com ruídos intermináveis e assim, proporcionarem uma audição leve e divertida.
Abrigados numa filosofia instrumental que se tem servido fundamentalmente de arranjos sujos e guitarras desenfreadas, às vezes com uma forte índole psicadélica, os Parquet Courts sempre foram uma banda insatisfeita com o seu adn e disposta a potenciar o seu som de acordo com o momento criativo do coletivo, sem grandes preocupações acerca de eventuais limites ou fronteiras relativamente a esse exercício libertário. Tal opção acabou por fazer do cardápio já disponível do grupo, um emaranhado heterogéneo, que ganha ainda maior abrangência neste Wide Awake!, provavelmente o disco mais eclético e abrangente dos Parquet Courts. E isso também sucede porque além de terem criado Wide Awake! na fase mais madura da sua curta, mas já rica, carreira, também é clara a vontade de baterem com ainda maior estrondo às portas de um sucesso que materialize uma superior e merecida exposição do projeto a um número cada vez maior de ouvintes e de críticos. Sendo assim, a missão está cumprida porque este quarteto é, sem sombra de dúvidas, um dos coletivos mais excitantes e inovadores da atualidade, dentro do espetro musical em que se movimenta.
Se logo nos loopings bizarros da insana cartilha de garage folk que costura o punk shoegaze incisivo de Total Football se percebe que, como é norma no projeto, Wide Awake! é um disco muito concentrado no uso das guitarras, logo a seguir, no devaneio psicadélico funk de Violence, regista-se um incremento da importância da sintetização, com as teclas que conduzem a melodia de Before The Water Gets Too High a cimentarem de modo particularmente impressivo esta nuance, à qual não será alheia a escolha de Danger Mouse para a produção do registo.
O modo harmonioso e eficaz como este núcleo parece funcionar também deve muito ao caos aparente que reina no seu seio. Aí, cada um extraí o melhor de si próprio, dentro das suas responsabilidades líricas e instrumentais, mas fá-lo para proveito imediato do todo. Por exemplo, chega-se ao âmago do disco e em Freebird II fica latente uma certa tensão entre aquilo que é essa individualidade de cada um dos executantes do grupo e a mente de Andrew Savage, que canta uma canção escrita pelo próprio e dedicada à sua mãe e onde disserta sobre a importância dela num período da sua vida em que dominou a solidão e a adição a algumas substâncias psicotrópicas. O espírito descontraído e vibrante da vertente instrumental do tema, contradiz, de algum modo, o cariz depressivo do poema, mas este paradoxo é já uma imagem de marca e funciona, como se percebe na composição, na perfeição. Depois, Mardi Gras Beads, o tema mais etéreo e contemplativo de Wide Awake!, dissertando sobre um vocalista de uma banda punk que sonha constantemente em flutuar sobre uma multidão em êxtase, reforça esse paradoxo e a antítese entre aquilo que é a realidade lírica e a materialização sonora de algumas das canções deste alinhamento. Além disso, o groove setentista do punk rock de Normalization, o piscar de olhos assumidamente sexy a um coito efervescente entre o jazz, a bossa nova e a tropicália no tema homónimo e o blues fumarento e sulista do piano de Tenderness, carimbando de modo qualitativamente superior a tal abrangência, mostra-nos que a banda está a mover-se muito rapidamente para um universo sonoro bastante mágico e com um estilo muito vincado e identitário, sendo difícil prever quais serão, daqui para a frente, os próximos passos musicais dos Parquet Courts.
Independentemente de todas as referências nostálgicas e mais contemporâneas que Wide Awake! possa suscitar, este tomo raivoso de canções que mostram os dentes sem receio, possibilita-nos apreciar uns Parquet Courts renovados, enérgicos e interventivos, instalados no seu trabalho mais divertido, mas também ousado, uma sucessão incrível de canções que são passos certos e firmes para um futuro que não deverá descurar um piscar de olhos a ambientes ainda mais experimentalistas, sem colocar em causa esta óbvia e feliz vontade de chegarem a cada vez mais ouvidos. Espero que aprecies a sugestão...