man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Os Melhores discos de 2021 (10 - 01)
10 - Suuns - The Witness
The Witness, o quinto e mais recente disco da carreira dos Suuns, verdadeiros músicos e filósofos, além de não colocar minimamente em causa a herança do projeto, oferece-nos, principalmente ao nível da escrita e da composição, mais um fantástico naipe de canções com um forte cariz impressivo e realístico. Neste alinhamento de oito canções, que tem na sua génese o jazz experimental, explícito, os Suuns refletem sobre a contemporaneidade que os inquieta e os absorve, criando um alinhamento sedutoramente intrigante, bem no centro de um noise rock apimentado, convém também dizê-lo, por uma implícita dose de punk dance. Simultaneamente existencial e sinistro e arrebatadoramente humano, The Witness é, talvez, o disco mais cândido e direto do grupo. Assenta numa definição estrutural quase metódica e, independentemente das diversas abordagens que cada canção contém, tem aquele toque experimental que nos faz crer, logo à primeira audição, que este é um disco colossal, mas também tremendamente reflexivo.
9 - José González - Local Valley
Local Valley é o álbum mais enérgico e diversificado do catálogo de José González. É o primeiro alinhamento em que o músico utiliza ritmos sintéticos em vez da subtileza orgânica percurssiva dos três registos anteriores, sem deixarem de continuar a existir muitas guitarras, como é obrigatório no seu adn, e o primeiro também cantado em mais do que uma língua. É, em suma, um disco multifuncional, intenso e confessional, que nos escancara a porta para a mente de um dos artistas mais humanos da folk atual.
8 - The Dodos - Grizzly Peak
Disco muito coeso, maduro, impecavelmente produzido e um verdadeiro manancial de melodias lindíssimas, Grizzly Peak é muito centrado numa filosofia interpretativa em que sobressai uma intensa dinâmica percurssiva, entrelaçada com cordas faustosas e com uma crueza metálica ímpar. O registo materializa um novo rumo sonoro para os The Dodos, colocando o projeto novamente na senda daquela toada folk que marcou os primeiros trabalhos da dupla, enquanto nos transporta para um universo particularmente melancólico, sensível e confessional.
7 - Courtney Barnett - Things Take Time, Take Time
Fruto desta pandemia que nos assola, Things Take Time, Take Time, tem o condão de nos convidar a um certo recolhimento, mas também a nos tornarmos, em simultâneo, confindentes e bons amigos desta artista cada vez mais impressiva e realista. Fá-lo em dez canções sonoramente assentes na destemida companheira de sempre de Barnett, a guitarra, mas também com os sintetizadores a se quererem mostrar cada vez mais interventivos no catálogo da australiana, assim como o piano. Em suma, testemunha e materializa o cada vez maior ecletismo de Barnett, enquanto oferece ao ouvinte diferentes perspetivas sobre a realidade sociológica e psicológica que abriga a autora.
6 - The Antlers - Green To Gold
Green To Gold traz consigo uma nova fase criativa do grupo de Brooklyn, promissora, luminosa e empolgante, assente na terna indulgência das cordas e na ardente soul das mesmas. Este sabor vai sendo ampliado, ao longo das dez canções, por portentosos violinos, sopros inspiradíssimos e um efeito metálico na guitarra com um adn muito vincado e pelo modo como este receituário se entrelaça sempre com a cândura vocal de Silberman e com o registo jazzístico da bateria. O resultado final é um alinhamento repleto de nostalgia e que versa quase sempre sobre a inocência que carateriza a esmagadora maioria das memórias da infância.
5 - Helado Negro - Far In
Far In é uma coleção irrepreensível de sons inteligentes e solidamente construídos, um naipe de belíssimas canções que são mais um momento marcante deste músico sedeado em Brooklyn, um alinhamento com forte pendor temperamental e com um ambiente feito com cor, sonho e sensualidade. Nele percebe-se esta filosofia de alguém positivamente obcecado pela evocação de memórias passadas e, principalmente, pela concretização sonora de sensações, estímulos, reações e vivências cujo fato serve a qualquer comum mortal.
4 - Liars - The Apple Drop
The Apple Drop é o disco mais esplendoroso e simultaneamente acessível da carreira dos Liars. Nele, o projeto que é a solo desde dois mil e catorze, altura em que o australiano, radicado em Nova Iorque, Angus Andrew tomou definitivamente as suas rédeas, podemos contemplar um krautrock que mistura eletrónica com rock alternativo, funk, noise rock, avant garde, post punk e quase todas as outras sonoridades que possas imaginar e que cabem num espetro sonoro que podia muito bem personificar a mescla perfeita entre os Radiohead pós Kid A e a melhor herança dos alemães Kraftwerk.
3 - Bill Callahan & Bonnie “Prince” Billy - Blind Date Party
Repleto de convidados de referência e nomes ímpar da indie cotemporânea, Blind Date Party é um exercício criativo ímpar e robusto, quer na concepção, quer no conteúdo, uma homenagem feliz e muito bem sucedida a uma herança e um género sonoro que é muitas vezes negligenciado mas que, bem vistas as coisas, contém os alicerces de toda a diversidade musical que o indie hoje em dia contém. Mesmo sendo uma obra comunitária, confirma a genialidade de dois nomes essenciais da folk norte-americana atual.
2 - Elbow - Flying Dream 1
Flying Dream 1 é um deleite melódico, um registo que brilha, canção após canção, no modo como nos oferece composições irrepreensíveis ao nível da beleza, um portento de majestosidade sonora e um dos trabalhos mais refinados, envolventes e íntimos da discografia dos Elbow, enquanto reflete, mais uma vez, um universo muito pessoal de Garvey, desta vez as memórias e os encantamentos que foram ficando dos seus primeiros anos de vida e que o marcaram para sempre.
1 - Damon Albarn - The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows
Álbum intenso e cinematográfico, The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows explora com minúcia temas como a fragilidade, a perda, a emergência e o renascimento e o seu título é um excerto do poema Love and Memory, de John Clare. O disco mostra um lado experimental que Albarn gosta de explorar com uma delicadeza bem presente e um lado também algo sombrio e questionador, que tão bem o carateriza, em onze canções que pretendem, no seu todo, dar vida a uma peça orquestral inspirada na Islândia, país onde o músico tem assentado arraiais periodicamente nos últimos anos. É um registo, de facto, maravilhoso, que encarna na perfeição o ambiente muito peculiar de uma ilha com caraterísticas únicas, mas que também exibe, a espaços com enorme esplendor, toda a cartografia sonora que faz com que Damon Albarn seja um dos músicos mais ecléticos e completos das últimas duas décadas.