man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
North Atlantic Oscillation – The Third Day
Os North Atlantic Oscillation são uma banda natural de Edimburgo, na Escócia e que se move entre o post rock, o rock progressivo e a eletrónica. Um dos segredos mais bem guardados da Kscope, estrearam-se nos discos em 2010 com Grappling Hooks e dois anos depois voltaram a surpreender com Fog Electric, um excelente sucessor. Agora, no final de outubro, chegou aos escaparates The Third Day, o terceiro álbum de uma banda atualmente formada por Sam Healy, Ben Martin e Chris Howard.
Não é tarefa simples catalogar estes North Atlantic Oscillation já que do rock progressivo à pop atmosférica, passando pela eletrónica, é vasta a teia sonora que abarcam, havendo apenas em comum, à medida que vão variando pelas paisagens que sustentam as suas canções, um forte e saudável cariz psicadélico. Em Third Day, este exercício de demanda por diferentes territórios é uma realidade insofismável e ao longo do seu alinhamento escuta-se uma hora de música magnífica, distribuída por dez canções que nos permitem aceder a uma outra dimensão musical com uma assumida pompa sinfónica e inconfundível, sem nunca descurar as mais básicas tentações pop e onde tudo soa utopicamente perfeito.
Procurando fazer uma espécie de paralelismo entre as origens do grupo e a temática que mais os inspira, escutar The Third Day é um pouco como embarcar numa viagem por um oceano multicolorido que parece não encontrar fronteiras dentro daquela pop eletrónica que explora paisagens sonoras expressionistas, através das teclas do sintetizador e de uma percurssão orgânica, as grandes referências instrumentais neste processo de justaposição de vários elementos sonoros. A verdade é que não falta uma certa acidez psicotrópica dotada por este arsenal instrumental diferenciado e por uma clareza melódica épica, aspetos que servem para engrandecer e ampliar o cariz emotivo da maior parte das canções do disco, tão vasto como o oceno onde este trio navega, feito das tenebrosas águas frias que abastecem o Mar do Norte.
Há no disco temas puramente instrumentais e outros que não dispensam a presença da voz e canções que se estendem de tal modo que as duas vertentes são abastecidas por um referencial distinto, como se houvesse quase duas canões na mesma. August ou When To Stop são dois instantes onde o grupo consegue definir o melhor contraste entre as diferentes referências sonoras que o orientam, acabando por as sublimar com mestria e fazer com que se destaque a emoção, sempre que a voz surge e corta com o caráter mais sombrio e dramático da componente instrumental.
Elsewhere acaba por ser a canção que faz a melhor súmula deste modus operandi que faz jus à fama que estes North Atlantic Oscillation possuem. A canção mostra um equilibrio perfeito entre as componentes instrumentais orgânica e sintética, além de sustentar-se numa melodia particularmente assertiva; As guitarras distorcidas, a voz pulsante e os efeitos de teclado deliciosos, originaram uma estrutura musical onde tudo se movimenta de forma sempre estratégica, como se cada mínima fração do tema tivesse um motivo para se posicionar dessa forma.
A grandiosidade dos North Atlantic Oscillation também fica plasmada no modo como colocam a nú aquela melancolia que é tão caraterística de ambientes mais frios e rudes. Em A Little Nice Place, a tensão vocal e os efeitos por detrás inauguram o notável desfile do lado mais introspetivo do grupo, que se repete em Wires e Pines of Eden, outras duas canções onde a melancolia é comandada, no caso da primeira por uma bateria tremendamente jazzística e na segunda por sons de guitarra, que aliados a outras cordas e ao piano, dão um tom fortemente denso e contemplativo ao tema, com a voz a trazer a oscilação necessária para transparecer uma elevada veia sentimental.
O oposto é audível, por exemplo, em Penrose, um tema que mostra como eles conseguem ser luminosos e transmitir uma mensagem forte, mesmo que a voz esteja ausente. Já o intervalo de ruídos e de atmosferas que se escutam em Do Something Useful é claramente inspirada nos Pink Floyd, como se estivessem eles a navegar numa viagem oscilante por um mar alucinogénico, que busca uma psicadelia que se lança sobre o avanço lento mas infatigável de um corpo eletrónico que também usa a voz como camada sonora e When To Stop é uma forma bastante colorida e doce de terminar um alinhamento de um disco difícil de ouvir para quem não tem por hábito apreciar estruturas sonoras mais ambientais e psicadélicas, mas que é um portento de sensibilidade e optimismo, a transbordar de um amor que definitivamente nos liberta.
Há uma forte dinâmica criativa no seio deste projeto que aposta em várias abordagens sonoras, mas sempre magistrais, numa conversa coerente que celebra a natureza dinâmica da combinação instrumental e explora um método de abordagem criativa, que permite a concordância e a discordância, por sua vez, num alinhamento que impressiona pela atmosfera densa e pastosa mas libertadora e esotérica que transporta. The Third Day é um disco muito experimentalista, mas tem também uma estrutura sólida e uma harmonia constante. É estranho mas pode também não o ser. É a música no seu melhor. Espero que aprecies a sugestão...
01. Great Plains II
02. Elsewhere
03. August
04. A Nice Little Place
05. Penrose
06. Do Something Useful
07. Wires
08. Pines Of Eden
09. Dust
10. When To Stop