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Nick Cave & The Bad Seeds - Wild God

Segunda-feira, 02.09.24

Já está nos escaparates Wild God, o décimo oitavo registo de originais da carreira de Nick Cave, sempre acompanhado pelos fiéis The Bad Seeds. Wild God foi gravado nos estúdios Miraval Studios, Provence e Soundtree, em Londres, misturado por David Fridmann, produzido pelo próprio Nick Cave, com a providencial ajuda de Warren Ellis e conta com as particpações especiais de Colin Greenwood, dos Radiohead e Luis Almau.

Nick Cave and the Bad Seeds' 'Wild God' is All About Joy

Sucessor do excelente Ghosteen, de dois mil e dezanove, Wild God tem o carimbo da PIAS Recordings e oferece-nos, uma vez mais, um impressionante e comovente testemunho de um músico, a oferenda desinteressada de uma pessoa igual a todas as outras, mas que viveu nos últimos anos a maior dor física e emocional que um ser humano pode vivenciar, a perda de dois filhos. Já em dois mil e dezasseis o álbum Skeleton Tree e o documentário One More Time With Feeling, tinham bem impressas as marcas desse luto que o tem obrigado a questionar-se ininterruptamente e sobre tudo, utilizando a criação musical como uma espécie de exorcização da dor, que se mantém bem viva. Recordo que em julho de dois mil e quinze Arthur Cave, filho de Nick Cave, com quinze anos, morreu na sequência de uma queda acidental de um penhasco de dezoito metros, em Brighton, na Inglaterra e há apemas dois anos Jethro, outro filho seu, com trinta e dois anos, também faleceu.

Wild God parece-nos ser o veículo que Cave utiliza para dar a volta por cima, porque é um disco que nos ajuda, sem qualquer dúvida, a sentir novamente paixão pela vida, dando-nos aquele impulso que às vezes precisamos para seguir em frente depois de uma fase menos positiva da nossa existência. Orquestralmente rico e intenso, exemplarmente burilado, com o piano a estar sempre omnipresente em quase todas as dez músicas do registo, mas também repleto de inebriantes e efusivos arranjos de cordas, sopros e percussivos, Wild God é um exemplar exercício de luxúria sonora, um contundente tratado sonoro no modo como transpira uma farta espiritualidade, que atinge neste caso uma dimensão inédita, devido a uma profundidade que comove, instiga, questiona, e quase esclarece, porque contamina e alastra-se, tornando-se compreensível por todos aqueles que testemunham e sentem na pele tudo o que é aqui descrito, com ímpar grau de realismo, por exemplo, logo a abrir, em Song Of The Lake, tema que nos ensina a todos que podemos ser reis, nem que seja por apenas um dia. São composições ampliadas por subtilezas instrumentais de raro requinte e intensidade e pela voz de Cave, mais grave e nasalada do que nunca e que parece não suspirar mas implorar ao nosso ouvido, com cruel nitidez e assombro.

As letras ajudam a este intimismo, já que além do omnipresente amor, estrondoso no modo como é endeusado em O Wow O Wow (How Wonderful She Is), uma fabulosa canção de amor e em Final Rescue Attempt, tema que nos faz refletir sobre as oportunidades perdidas e como raramente temosdireito a uma segunda oportunidade. Depois, elementos da natureza, como montanhas, cursos de água e árvores, abundam, juntamente com as já habituais referências à divindade e, amiúde, a uma hipotética incompreensão por parte de Deus relativamente ao sofrimento alheio, como é o caso do tema homónimo. Em contraponto, canções como Frogs ou Conversion incorporam todo um sentimento de amargura e mesmo de algum desprezo, mas numa perspetiva essencialmente orgânica, terrena e até racional, sendo temas que, de algum modo, nos esclarecem que Cave está disposto a olhar em frente e a manter-se fiel à crença no amor como sentimento maior.

Disco belo no modo como parece apaziguar o inapaziguável, mas também na forma como inquieta e recria aquela sensação de desespero comum e contínuo que nos assola a todos, enquanto nos oferece um indisfarçável sentido de esperança, Wild God contamina-nos com o bem e faz-nos ter a certeza que nada é irremediável e que o amanhã pode ser sempre um feliz recomeço. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:54






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