man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Molly Burch – Daydreamer
Dois anos depois do excelente registo Romantic Images, lançado no verão de dois mil e vinte e um e que na altura sucedeu ao excelente First Flower de dois mil e dezanove, a cantora e compositora Molly Burch está de regresso ao formato longa duração com Daydreamer, o seu quinto trabalho, um registo de dez canções, que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Captured Tracks.
Esta artista natural de Austin, no Texas, sente-se claramente confortável naquele terreno sonoro que se carateriza por ambientes algo nebulosos e jazzísticos e que não descuram uma leve pitada de R&B, tendo sempre como base os cânones fundamentais da melhor indie pop atual, que tem tido quase sempre, nas diversas propostas conhecidas mais relevantes, um cariz retro indisfarçável.
É esta a filosofia estilística que norteia o conteúdo de Daydreamer, um álbum muito confessional, como é apanágio em Molly Burch, até porque procura recriar no seu conteúdo alguns dos momentos mais marcantes da sua infância e adoescência e do processo de descoberta da sua própria intimidade e do modo como aprendeu a lidar e a crescer, no contacto com aqueles que a rodearam, com os seus traumas, frustrações e medos.
Canções como Physical, um portento de sensualidade, ou Daydreamer, composição efusiva, que impressiona pelo modo como o refrão sobrevive em redor de um ritmo repleto de groove, marcado por palmas, um buliçoso piano, várias sintetizações cósmicas e uma guitarra charmosa, são exemplos paradigmáticos de um modus operandi que, no fundo, acaba tabém por ser muito feminino, charmoso e emotivo, mesmo tendo um propósito que, à partida, poderá parecer algo perturbador, já que versa imenso sobre insegurança e vulnerabilidade. Tattoo é outro extraordinário tema que cumpre essa função tão íntima. É uma canção dedicada a Lena Loucks, a melhor amiga da juventude de Molly, que faleceu quando ambas tinham dezanove anos, é outra composição que plasma as virtudes interpretativas da autora enquanto contadora de histórias tão suas, num processo de exorcização certamente consciente e que é transversal a todo o conteúdo de Daydreamer. O próprio vídeo de Tattoo acentua essa tónica saudosista, já que contou, na sua concepção, com a colaboração de Mia Loucks, irmã de Lena e nele vê-se a falecida amiga de Molly em algumas situações do quotidiano, evocando, assim, com ímpar beleza e simplicidade, a memória de alguém que era certamente muito especial.
Daydreamer proporciona ao ouvinte uma experiência auditiva única e que dificilmente o deixará indiferente, caso seja apreciador de ambientes sonoros que não deixam de marcar pelo modo como instigam, porque podem ter um perfil claramente identificativo, mas que sonoramente são brisas amenas que proporcionam uma superior sensação de conforto e de esperança. Espero que aprecies a sugestão...