man on the moon
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Los Waves - This Is Los Waves So What?
Depois do EP Got A Feeling, a dupla lusa Los Waves, formada por José Tornada e Jorge da Fonseca e que tem dado nas vistas devido à sonoridade única e até algo inovadora, tendo em conta o panorama musical nacional, está de regresso com This Is Los Waves So What?, o longa duração de estreia da dupla, que foi produzido entre Londres (Gun Factory Studios) e Lisboa (Elephant Studios) por James Wiseman e conta com Bruno Santos no baixo. This Is Los Waves So What? tem sido escutado por cá com insistência, um trabalho sobre o qual Man On The Moon teve oportunidade de conversar com os Los Waves, como podes conferir adiante.
Recordo que os Los Waves começaram a carreira em Londres, em 2011, onde deram os primeiros concertos em salas icónicas como o Old Blue Last, Cargo e Camden Barfly e nesse mesmo ano, lançaram os primeiros EP’s Golden Maps e How Do I Know, que deram logo que falar na imprensa, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos. Rapidamente atravessaram o Oceano Atlântico, onde conseguiram colocar músicas em vários canais de televisão, nomeadamente a a MTV, FOX, AXN e CBS, com destaque para a participação em bandas sonoras de séries como Gossip Girl, Jersey Shore (com a música Golden Maps) ou Mentes Criminosas (com a música Got A Feeling).
Com distribuição por cá pela Sony Music Portugal e nos Estados Unidos e no Reino Unido a cargo da Summer Filth Records, This Is Los Waves So What? são onze canções dominadas pelo rock festivo e solarengo, mas onde a eletrónica tem também uma palavra importante a dizer, já que os sintetizadores conduzem, quase sempre, o processo melódico, de modo a replicar uma sonoridade que impressiona pelo charme vintage .
Os riffs de guitarra harmoniosos e a percurssão vincada de Hyperflowers e Modern Velvet abrem-nos uma janela imensa de luz e cor e convidam-nos a espreitar para um mundo envolvido por uma psicadelia luminosa, fortemente urbana, mística, mas igualmente descontraída e jovial, que vai estar sempre presente durante os quase quarenta minutos que dura o disco. As guitarras metálicas de Strange Kind Of Love, um dos singles já retirados de This Is Los Waves So What?, conduzem uma música que, de acordo com o press release do lançamento, fala daquele amor que faz o mundo girar, parte de uma história de amor não correspondido para nos falar de outros tipos de amor. O amor vem assim sob a forma de todas as coisas, da simplicidade que enche a alma de uma forma natural, como a luz que refracta no prisma, como os últimos raios de luz que enchem a íris numa tarde de verão, sob a influência e o calor das leis universais.
Mas This Is Los Waves So What? não fica por aqui e tem outros destaques interessantíssimos. Se em Golden Maps os Los Waves nivelam com elevada bitola qualitativa as suas experiências eletrónicas, em Still Kind Of Strange How Days Won’t Go By, o jogo de sedução que se estabelece inicialmente entre o orgão e a bateria, acaba por chamar a atenção da guitarra, que pouco depois junta-se e todos mostram como as belas orquestrações podem viver e respirar lado a lado e harmoniosamente com distorções e arranjos mais agressivos.
A busca de diferentes ambientes e a capacidade dos Los Waves em abarcar um leque aprofundado de referências fica plasmada em Your World e Jupiter Blues, dois temas do disco que merecem audição cuidada. No primeiro, os Los Waves piscam o olho descaradamente ao indie rock dançável e anguloso nova iorquino e à energia do punk que se alia com alguns laivos de eletrónica que, neste caso, casaram impecavelmente com a voz, que, já agora, ao longo do disco evidencia uma elevada elasticidade e a capacidade de reproduzir diferentes registos e dessa forma atingir um significativo plano de destaque. Quanto a Jupiter Blues, atravessa o atlântico para o lado de cá, mas até à assumida pompa sinfónica e inconfundível e que nunca descurava as mais básicas tentações pop e que fez escola no cenário indie britânico na década de noventa, com Oasis, Spiritualized e Primal Scream a serem aqui referências óbvias. Pelo meio, os xilofones e a percurssão tribal de Got A Feeling, dão ao conjunto final mais um toque de luminosidade e cor, a canção que acabou há cerca de um ano atrás por colocar os Los Waves num merecido plano de destaque do panorama indie musical.
Em onze canções com uma sonoridade impar, em This Is Los Waves So What? é possível absorver a obra como um todo, mas entregar-se aos pequenos detalhes que preenchem o trabalho é outro resultado da mais pura satisfação, como se os Los Waves quisessem projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte em cada canção do alinhamento. Conforme me confessaram na entrevista que podes conferir abaixo, o grupo não consegue única e simplesmente ficar por um estilo, houve uma preocupação em não fazer algo que fosse normal e tentaram que as musicas tivessem algo de diferente que fique retido pelas boas razões. Missão cumprida! Espero que aprecies a sugestão...
Hyperflowers
Modern Velvet
Strange Kind Of Love
Golden Maps
Darling
Still Kind Of Strange How Days Won’t Go By
Your World
Got A Feeling
Jupiter Blues
How Do I Know
Belong (Sister)
Depois de vos ter entrevistado há já quase um ano devido ao EP Got A Feeling, o que mudou nos Los Waves? Ainda têm tempo para fazer skate e surfar ou a música ocupa totalmente os vossos dias?
Por acaso não fazemos surf nem andamos de skate há algum tempo, se bem que seja dito que nunca fomos nenhuns prós na coisa, este ano andámos um pouco em sines no verão, temos uns cruisers e dão para descontraír. Este processo todo do album e dos videoclips também nos tirou bastante tempo livre. O surf e o skate foram de alguma forma trocado por futebol nestes meses.
This Is Los Waves so What? parece-me um título fantástico para um disco de estreia e bastante apelativo. Sabe a uma espécie de grito de revolta, uma daquelas entradas em grande no palco em início do espetáculo, de forma tão ruidosa que desperta logo o espetador mais incauto. É isso que vocês pretendem com o vosso trabalho de estreia? Causar um forte impacto? Como esperam que seja recebida a vossa música?
Por acaso o nome foi pensado no sentido de assumir uma atitude despreocupada, o facto de o album ter tantas músicas diferentes seria um problema para a maior parte das bandas e ainda o é na industria em geral, é dificil vender um produto disperso, mas para nós não faz sentido de outra forma, não conseguimos simplesmente ficar por um estilo. E sim o título também foi pensado no sentido de causar impacto, há sempre uma preocupação em não fazer algo que fosse normal ou apenas mais uma coisa, de certa forma achamos que apesar de serem "orelhudas", tentámos que as musicas tivessem algo de diferente que fique retido pelas boas razões
Quando conversámos há um ano atrás, confessaram-me que, neste disco, pretendiam, além da indie pop com influências da new wave e do psicadelismo, explorar sonoridades mais existências e mais calmas. À medida que iam gerando This Is Los Waves So What?, preocuparam-se em experimentar e compor de acordo com as vossas preferências, ou também tiveram o foco permanentemente ligado na vertente mais comercial? No fundo, em termos de ambiente sonoro, o que idealizaram para o álbum inicialmente, correspondeu ao resultado final ou houve alterações de fundo ao longo do processo?
Fomos sempre idealizando coisas muito muito diferentes ao longo do processo, o facto de sermos ouvintes recreativos de outras bandas faz com que em muitos momentos no empolguemos e digamos alto "EIA ..epa que cena temos que ter um ambiente assim", mas claro que até chegar lá existe todo um processo de sound design que pode correr muito mal ou muito bem e normalmente nunca se consegue o que se quer, mas é durante esse processo que nascem novas coisas que acabam por ser utilizadas, penso que isso aconteceu imenso ao longo do álbum.
Temas como Hyperflowers e Strange Kind Of Love também apontam a um universo mais próximo do indie rock, o que me parece, de algum modo, inédito nos Los Waves, tendo em conta, principalmente, o conteúdo do EP Got A Feeling. Concordam com esta minha perceção?
Sim é verdade, lá está, nós ouvimos tantas coisas tão diferentes em termos de género que é normal tocar nesses pontos, neste momento sinceramente já não sabemos nós proprios onde nos inserimos, isso é mau e bom ao mesmo tempo, talvez no segundo album façamos algo muito mais inesperado mas que para nós seja a única coisa que faça sentido.
Sempre senti uma enorme curiosidade em perceber como se processa a dinâmica no processo de criação melódica. Numa banda com vários elementos, geralmente há sempre uma espécie de regime ditatorial (no bom sentido), com um líder que domina a parte da escrita e, eventualmente, também da criação das melodias, podendo os restantes músicos intervir na escolha dos arranjos instrumentais. Como é numa dupla como a vossa? Acontece tudo naturalmente e de forma espontânea em jam sessions conjuntas, ou um de vocês domina melhor essa componente?
Nunca fizemos uma única jam session na nossa vida. Os temas são compostos por mim (Jorge) e pelo Zé, em casa, muitas vezes separadamente. Eu faço as letras e normalmente apareço com melodias de voz e sketches de acordes e a partir daí construímos a música.
Liricamente, este disco deverá ser ainda muito fruto das longas viagens que fizeram em tempos pela América do Sul e pelo Índico, presumo… No que diz respeito à escrita das letras, o que mais vos inspira? E, já agora, qual é a dinâmica da dupla nesse aspeto?
As letras aparecem de forma estranha, nunca percebi muito bem como, mas de certa forma é sempre algo que é quase inconsciente e no fim acabam por bater demasiado certo, parece coincidência. De facto todos os processos de criação artistica são estranhos neste ponto, parece que já tudo existe num mar de informação universal que está noutra dimensão e nós através de processos de semi-abstração mental conseguimos chegar a esses lugares. Mas claro que serão também fruto de experiências. Nunca escrevi sobre nada em concreto de forma consciente, ou sobre temas que nao têm directamente a ver comigo, e noto que ao longo do álbum a letras foram passando de uma temática mais holistica para algo mais relacional, emocional, urbano. Este processo acompanhou naturalmente uma viragem mais rock que fizémos a certo ponto.
This Is Los Waves So What? foi produzido por James Wiseman. Como surgiu a possibilidade de trabalhar com uma verdadeira referência? Que peso teve no produto final?
De facto é uma ajuda enorme e uma mudança desde os primeiros EP's que foram gravados num laptop em condições miseráveis, ter acesso a um estúdio e a fazer as coisas como toda a gente faz. Foi um privilégio para nós. Conhemos o James em Londres, ele faz colaborações constantes com artistas portugueses mais na onda do jazz e fado - embora ele só ouça Black Keys!
Como estão a decorrer os concertos de apresentação do disco? E onde podemos ver os Los Waves a tocar num futuro próximo?
Vamos apresentar o disco no dia 13 de Novembro no Sabotage em Lisboa , 14 de Novembro no Maus Hábitos no Porto e 15 no Texas Bar em Leiria!
Para terminar, outra curiosidade… Quais são as três bandas atuais que mais admiram?
Ice Age, Mando Diao, Devendra Banhart.