man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Local Natives – Time Will Wait For No One
Quase quatro anos depois do excelente disco Violet Street e dois do EP Sour Lemon, os Local Natives de Taylor Rice regressaram em dois mil e vinte e dois com novas canções. Começaram a safra em julho desse ano com os temas Desert Snow e Hourglass, que não traziam ainda atrelado o anúncio de um novo disco da banda de Los Angeles, uma incógnita que se manteve ainda no final de outubro com Just Before The Morning, o último tema divulgado pelo projeto californiano em dois mil e vinte e dois. No entanto, o novo disco da banda norte-americana veio a confirmar-se, já este ano. É um registo intitulado, Time Will Wait for No One, produzido por John Congleton e que viu a luz do dia a sete de julho, com a chancela da Loma Vista.
Time Will Wait for No One foi, de acordo com o próprio Taylor Rice, incubado num período de metamorfose dos Local Natives. É um disco muito marcado pela questão pandémica e em que, além de importantes eventos familiares no seio do grupo, já que alguns membros da banda experimentaram a paternidade, exprime um elevado desejo de mudanças sonoras e de experimentar novas abordagens instrumentais no seio da banda, depois do sucesso que foi Violet Street.
E, de facto, são poucas as semelhanças entre a filosofia sonora do antecessor, um trabalho que plasmou um cruzamento feliz entre eletrónica e indie rock, à boleia de uma vasta heterogeneidade de elementos instrumentais que deram vida a excelentes abordagens ao lado mais sentimental e frágil da existência humana, traduzidas em inspirados versos e numa formatação primorosa de diferentes nuances melódicas, frequentemente numa mesma composição e este Time Will Wait for No One, um álbum com uma atmosfera sonora mais enérgica, mas também com instantes de densidade algo inéditos no percurso discográfico deste grupo. NYE, será, talvez, a canção que melhor marca a ruptura com a filosofia de Violet Street porque, mesmo apostando, como é norma nos Local Natives, nas cordas como grande elemento agregador, quer da melodia, quer do andamento, fá-lo com uma predisposição diferente e desde logo mais frenética e selvagem, até. A camada sintética que acama o baixo e a guitarra em Just Before The Morning, canção repleta de variações rítmicas, é outro exemplo de uma demanda, neste Time Will Wait For No One, por um som mais explosivo e épico, sensação ampliada pelo modo como as vozes se sobrepôem e jogam entre si de modo a apurar o forte cariz sentimental do tema. Depois, o modo como em Paradise, uma lindíssima composição, sentimentalmente tocante, o falsete clemente de Rice se abraça ao piano com uma química inquebrável, mas nada piegas, é outro detalhe que comprova não só a maturidade já alcançada pela banda, mas também a vontade de se atirarem a universos ainda mais clássicos sem descurarem a obediência fiel ao perfil algo elétrico que nunca desapareceu do catálogo do grupo, exemplarmente plasmada no modo vitorioso como as guitarras acabam por tomar de assalto o protagonismo instrumental desta canção que encerra o álbum.
O efeito ecoante e intimista que sustenta Empty Mansions, a deliciosa cascata de efeitos sintéticos que tentam disfarçar a acusticidade de Desert Morning e a harmoniosa identidade falsamente minimalista que define Featherweight, acabam por ser os momentos em que Time Will Wait For No One, sem deixar de ser deslumbrante e efervescente, se torna mais melancólico, reflexivo e intrincado, mas sem perder a tal essência inédita que os Local Natives lhe quiseram conferir relativamente ao seu passado discográfico.
Time Will Wait for No One é, claramente, um daqueles trabalhos em que uma banda resolve voltar a baralhar e a dar de novo, fazendo-o sem renegar, como é óbvio, o seu passado, mas querendo, com muita força e criatividade, explorar novos caminhos e possibilidades. Assim, neste registo impecavelmente produzido, o quinteto continua a caminhar dentro de uma atmosfera bem delineada e de uma constante proximidade entre as vertentes lírica e musical, algo que ficou logo bem patente logo em Gorilla Manor, a obra de estreia que alicerçou definitivamente o rumo sonoro do grupo, mas o percurso é agora feito num ambiente mais efervescente, opção que demonstra, com objetividade, uma maior consciência musical e um modus operandi ainda mais renovado, emotivo e delicioso. Seja como for, os Local Natives nunca deixarão de se soterrar em variadas emanações sumptuosas e encaixes musicais sublimes, que sobrevivem muito à custa de uma complexidade e uma riqueza estilística ímpares, caraterísticas que fazem muitas vezes parecer que uma mesma composição dos Local Natives resulta de uma colagem simbiótica de diferentes puzzles com tonalidades e características diferentes, uma agregação que tanto pode ser feita por sobreposição, como se estivessemos a escutar dois temas em simultâneo, um por cima do outro, ou por sequência. No dia em que este projeto norte-americano deixar de o fazer, será o seu fim, mas é um facto indesmentível que Time Will Wait for No One oferece ao grupo caminhos de futuro quase infinitos e isso é, por si só, motivo de enorme celebração para quem segue com devoção este projeto, como é o nosso caso. Espero que aprecies a sugestão...