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LNZNDRF – LNZNDRF

Segunda-feira, 15.02.16

Coletivo fundamental do indie rock deste século, os norte americanos The National têm sabido potenciar e expressar a enorme veia criativa dos seus membros noutros projetos paralelos, que devem o sucesso obtido não só ao símbolo de qualidade intrínseco à presença de um membro dessa banda nos créditos, mas também, e principalmente por isso, por causa da superior qualidade do conteúdo sonoro que é criado. Assim, se em 2015 Matt Berninger e Bryce Dessner uniram-se a Brent Knopf dos Menomena para formar os EL VY e se Bryan Devendorf deu as mãos a Danny Seim, dos mesmos Menomena e a Dave Nelson (David Byrne, St. Vincent, Sufjan Stevens), para incubar os Pfarmers, agora foi a vez dos irmãos Scott e o mesmo Bryan Devendorf unirem-se a Ben Laz dos Beirut, para criar os LNZNDRF, um projeto que se estreou hoje mesmos nos discos, com um homónimo editado à boleia da conceituada 4AD.

Se os EL VY apostam as fichas todas na voz grave de Berninger, conjugada com arranjos bastante melódicos, refrões simples e versos acessiveis, componentes que em Return To The Moon, o álbum de estreia, ofereceram-nos uma explícita toada mais pop e luminosa do que o habitualmente escutado nos The National, ampliada também por boas guitarras e alguma sintetização, já Gunnera, o registo inicial dos Pfarmers, é um compêndio de canções de cariz fortemente ambiental, sustentado por várias camadas de sopros sintetizados, uma espiral pop onde não falta o marcante estilo percurssivo de Devendorf, ou algum do cardápio de efeitos que Danny apresentou nos Menomena, mas onde tudo é filtrado de modo bastante orgânico, amplo e rugoso. LNZNDRF acaba por seguir um pouco esta linha mais experimental, em oito canções que se sustentam numa orgânica particularmente minimal, mas profunda e crua, um universo fortemente cinematográfico e imersivo, já que estes LNZNDRF parecem tocar submergidos num mundo subterrâneo de onde debitam música através de tunéis rochosos revestidos com placas metálicas que aprofundam o eco das melodias e dão asas às emoções que exalam desde as profundezas desse refúgio bucólico e denso onde certamente se embrenharam, pelo menos na imaginação, para criar composições que impressionam pelo forte cariz sensorial.

Logo em Future You debatemo-nos com um som esculpido e complexo, onde é forte a dinâmica entre um enorme manancial de efeitos e samples de sons que parecem ser debitados pela própria natureza e a tríade baixo, guitarra e bateria, num encadeamento que nos obriga a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador. A mesma receita, mas de modo ainda mais grandioso e hipnótico, repete-se em Beneath The Black Sea, canção que impressiona pela cândura inicial das teclas, mas que depois se desenvolve e simultaneamente nos envolve, numa espiral de sentimento e grandiosidade, patente também nos efeitos e no frenesim da guitarra e numa bateria inebriante, com a voz a fazer aqui a sua primeira aparição, funcionando e sussurrando também como membro pleno do arsenal instrumental, não havendo, como se percebe, regras ou limites impostos para a inserção da mais variada miríade de arranjos, detalhes e ruídos.

De facto, estes LNZNDRF são mais um bom exemplo de uma banda capaz de ser genuína no modo como manipula o sintético, de modo a dar-lhe a vida e a retirar aquela faceta algo rígida que a eletrónica muitas vezes intui, convertendo tudo aquilo que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos ou linhas de guitarra dispersas em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico. Os feitos que borbulham de MT Storm, uma canção onde os flashes metálicos projetados pelas teclas em várias direções, a percussão robusta, uma distorção de guitarra imponente e um falsete impiedoso e suplicante criam um cenário idílico para os apreciadores do rock progressivo mais enérgico e libertário, a insanidade desconstrutiva em que alicerçam as camadas de sons das guitarras, do baixo e dos detalhes percussivos que dão vida a Kind Things, o tema mais acessível e comercial do disco e com uma deliciosa pitada psicadélica a escorrer por todos os seus poros e a incontestável beleza e coerência dos detalhes orgânicos das cordas e dos flashes sintetizados que nos fazem levitar no instrumental Hypno-Skate rumo a um universo invulgarmente empolgante e sensorial justificam, sem qualquer sombra de dúvida, a atribuição de um claro nível de excelência aos diferentes fragmentos que os LNZNDRF convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam e que da eletrónica, à pop, passando pelo rock progressivo criam uma relação simbiótica bastante sedutora, enquanto partem à descoberta de texturas sonoras que podem muito bem servir de referência para projetos futuros.

A indulgência folk que ressalta da luz emanada pelas cordas de Monument e, numa direção oposta, o krautrock rugoso de Samarra, um ribeiro sonoro por onde confluem vários sons da mais diversa estirpe e de diferentes proveniências, mas todos cheios de vida e prestes a desaguar na Terra Prometida idealizada pelos LNZNDRF, ditam o ocaso de um disco que foi entalhado no ventre da terra mãe e de onde brotou para se tornar na banda sonora perfeita de um território tremendamente sensorial, assente numa arrebatadora coleção de trechos sonoros cuja soma resulta numa grande obra linda e inquietante. Certamente que tudo isto terá resultado de uma simbiose corajosa e sem entraves ou inibições, entre três músicos que  acabaram por ser aquele detalhe orgânico que dá alma a todas as ligações de fios e transístores que tiveram que estabelecer nestas oito canções e que transportam um infinito catálogo de sons e díspares referências que parecem alinhar-se apenas na cabeça e nos inventos nada óbvios de cada um deles e de todos em conjunto. Espero que aprecies a sugestão...

LNZNDRF - LNZNDRF

01. Future You
02. Beneath The Black Sea
03. Mt Storm
04. Kind Things
05. Hypno-Skate
06. Stars And Time
07. Monument
08. Samarra

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publicado por stipe07 às 18:35






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