man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Les Crazy Coconuts - Les Crazy Coconuts
Com arraiais assentes em Leiria, Adriana, Tiago e Gil formam os Les Crazy Coconuts, uma das maiores lufadas de ar fresco do panorama indie nacional dos últimos tempos, devido a um excelente homónimo lançado recentemente com a chancela da insuspeita Omnichord Records.
(pic, Joaquim Dâmaso - Região de Leiria)
Quando em 2012 Adriana Jaulino terminou a licenciatura e imaginou criar um projeto sonoro e artístico que envolvesse música e sapateado, não fazia ainda a miníma ideia que estava a criar os alicerces de algo que rapidamente e com toda a justiça se tornou num verdadeiro fenómeno musical, sem paralelo por cá. Com estreia na excelente compilação Leiria Calling e depois de terem sido considerados a melhor banda nacional do Festival Termómetro e de estarem na final do concurso Nacional de Bandas da Antena 3 e de terem pisado palcos do NOS ALIVE, Paredes de Coura, o Indie Music Fest ou o Monkey Week, em terras de nuestros hermanos, o longa duração de estreia tornou-se num passo óbvio e esperado já por muitos seguidores e críticos. E a verdade é que as dez canções de Les Crazy Coconuts, homenageando claramente o conceito de programa de rádio de autor e os anos dourados, tanto do sapateado como da rádio, nomeadamente nas décadas de vinte e trinta do século passado norte americano, impressionam pelo charme vintage, mas contêm uma contemporaneidade invulgar que vai beber a alguns dos fundamentos essenciais da pop e do indie rock, com um travo glam fortemente eletrificado, assente em guitarras angulares, feitas de distorções e aberturas distintas, onde não falta um piscar de olhos ao punk. A receita, simples mas eficaz, fica completa com sintetizações impregnadas com indisfarçável groove, com a bateria a colar todos estes elementos com uma coerência exemplar e com uma voz sentida e imponente, a dar substância e cor às melodias, que em temas como Words Unsaid ou Myself, parecem, liricamente, ser pouco ficcionais e quase autobiográficos, com a chancela do Gil, o autor das letras.
Les Crazy Coconuts, quer como nome da banda, quer como opção para título do álbum, acaba por saber, no modo como soa, a uma espécie de grito de revolta colorido, uma daquelas entradas em grande no palco em início do espetáculo, de forma tão ruidosa que desperta logo o espetador mais incauto. A feliz simbiose entre a riqueza dos arranjos e a energia e imponência com que eles surgem nas músicas, conferindo à sonoridade geral do disco uma sensação festiva e solarenga, define esta janela imensa de luz e cor, que nos convida a espreitar para um mundo envolvido por uma psicadelia luminosa, fortemente urbana e mística, mas igualmente descontraída e jovial, sempre presente durante os quase quarenta minutos que dura este trabalho.
Produzido por Paulo Mouta Pereira quase na sua totalidade, Les Crazy Coconuts é, volto a frisar, uma estreia particularmente inspirada de um projeto que demonstra uma elevada elasticidade e a capacidade de reproduzir diferentes registos e dessa forma atingir um significativo plano de destaque, rebocado por canções com uma sonoridade impar, que plasmam um disco que deve ser tragado como um todo, mas sem que isso evite que a entrega aos pequenos detalhes que o preenchem, não resulte na mais pura satisfação, como se estes Les Crazy Coconuts quisessem projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte em cada um dos fragmentos deste alinhamento. Confere, já de seguida, a entrevista que a banda me concedeu e espero que aprecies a sugestão...
Hello
Belong
Words Unsaid
Speed Shoes
Myself
Define
Human Radio Station
Party Dancer
Sailormoon
Closing Credits
Antes de nos debruçarmos com algum cuidado no conteúdo de Les Crazy Coconuts, o vosso primeiro registo discográfico, começo com uma questão clichê… Como é que nasceu este projeto em 2012, oriundo da zona de Leiria?
Foi de mim (Adriana), depois de terminar a licenciatura em dança fiquei com vontade de ter um projecto qualquer que envolvesse sapateado e música. Na altura não me passou pela cabeça que pudesse vir a ter uma banda, mas um ano mais tarde dei por mim no festival Paredes de Coura a convencer o Tiago de que íamos ter uma banda juntos. Já de regresso convidámos o Gil para se juntar a nós e a partir daí foi sempre a andar, ou a tocar neste caso.
Desde então, até esta estreia discográfica, o vosso percurso tem sido fulminante em termos de crescimento, visibilidade e aceitação. Além de terem já tocado em vários festivais, foram aclamados pelo júri do Festival Termómetro como melhor formação nacional de 2014 e pela Antena 3 como uma das 3 melhores novas bandas nacionais no Concurso Nacional de Bandas, entre outras distinções. Como foi conciliar este percurso ascendente com o processo de gravação do disco de estreia?
Foi bastante fácil porque não precisámos propriamente de conciliar nada, já tínhamos estipulado que numa determinada fase iríamos tentar a nossa sorte nos concursos, até porque nos prémios estavam incluídos a gravação de uma música ou de um ep o que nos poderias vir a dar jeito, mas não aconteceu. Na gravação do disco de estreia decidimos que tínhamos de “x” a “y” para gravar, e nesse período só nos focámos mesmo nisso.
Com canções que vão beber a alguns dos fundamentos essenciais da pop e do indie rock, com um travo glam fortemente eletrificado, assente em guitarras angulares, feitas de distorções e aberturas distintas, onde não falta um piscar de olhos ao punk e sintetizações impregnadas com indisfarçável groove, com a bateria a colar todos estes elementos com uma coerência exemplar e uma voz sentida e imponente, a dar substância e cor às melodias, Les Crazy Coconuts é, na minha opinião, uma estreia particularmente inspirada. Que tipo de anseios e expetativas criaram, no vosso seio, para este primeiro passo de um percurso que espero que venha a ser longo?
Tentámos ser fiéis a nós próprios tanto que também não nos regemos só por um estilo musical. Também tivemos consciência desde o início que iríamos ter dois tipos de trabalho diferentes, um ao vivo e outro em albúm devido à especifícidade do nosso projecto. Não gostamos de criar expectativas, o que vier é sempre bem vindo.
Confesso que o que mais me agradou na audição de Les Crazy Coconuts foi uma feliz simbiose entre a riqueza dos arranjos e a energia e imponência com que eles surgiam nas músicas, conferindo à sonoridade geral do disco uma sensação, quanto a mim, festiva e solarengo e onde, apesar do esplendor das guitarras, a eletrónica tem também uma palavra importante a dizer, já que os sintetizadores conduzem, frequentemente, o processo melódico, de modo a replicar uma sonoridade que impressiona por um certo charme vintage. Talvez esta minha perceção não tenha o menor sentido mas, em termos de ambiente sonoro, aquilo que idealizaram para o álbum inicialmente, correspondeu ao resultado final, ou houve alterações de fundo ao longo do processo? Em que se inspiraram para criar as melodias?
A base foi sempre a mesma desde o início, o que aconteceu é que naturalmente tivemos de fazer alguns ajustes para tornar todo o álbum mais coeso. Inspirámos-nos em tudo, todos e nada. Ouvimos e vemos muita coisa, naturalmente somos influenciados por isso, consciente ou inconscientemente. Mas nunca partimos de um ponto em que definíssemos uma melodia.
Les Crazy Coconuts, quer como nome da banda, quer como opção para título do vosso primeiro álbum, sabe-me, no modo como soa, a uma espécie de grito de revolta colorido, uma daquelas entradas em grande no palco em início do espetáculo, de forma tão ruidosa que desperta logo o espetador mais incauto. Por que motivo deram o nome da banda ao vosso primeiro disco?
Foi natural, é o nosso primeiro álbum e também é uma maneira de dizer Olá, somos os Les Crazy Coconuts e aqui estamos.
Sempre senti uma enorme curiosidade em perceber como se processa a dinâmica no processo de criação melódica. Numa banda com vários elementos, geralmente há sempre uma espécie de regime ditatorial (no bom sentido), com um líder que domina a parte da escrita e, eventualmente, também da criação das melodias, podendo os restantes músicos intervir na escolha dos arranjos instrumentais. Como é a química nos Les Crazy Coconuts? Acontece tudo naturalmente e de forma espontânea em jam sessions conjuntas, ou um de vocês domina melhor essa componente?
Acontece sempre tudo naturalmente, e geralmente em jam sessions. Nunca é o mesmo a começar e normalmente as melhores músicas até nascem de brincandeiras.
Olhando um pouco para a escrita das canções, em temas como Words Unsaid ou Myself, parece-me ter havido uma opção pouco ficcional e quase autobiográfica de escreverem sobre aquilo que vos rodeia, em vez de inventarem, na íntegra, histórias e personagens imaginárias, com as quais nunca teriam à partida de se comprometer? Acertei na mouche ou o meu tiro foi completamente ao lado?
Essa parte é domínio do Gil Jerónimo que é um picuinhas e escreve sobre as cenas da vida. Às vezes até chora. E faz birras.
Belong é um tema particularmente imponente, grandioso, mas adoro o ambiente sonoro da canção Speed Shoes. E o grupo, tem um tema preferido em Les Crazy Coconuts?
Tem pois, é redutor mas por maioria absoluta a Myself é a preferida.
Les Crazy Coconuts foi produzido por Paulo Mouta Pereira, quase na sua totalidade. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com ele e, já agora, com o islandês Birgir Jón Birgisson em Belong?
O Paulo já nos tem vindo a acompanhar na estrada há algum tempo e como excelente profissional que é fez todo o sentido que fosse ele a produzir o nosso álbum e também já estava mais familiarizado com os nossos gostos e trabalho. Com o Birgir foi por intermédio do nosso amigo e grande músico André Barros que estagiou no estúdio dele e surgiu a oportunidade do Birgir nos masterizar o tema Belong para a compilação Leiria Calling.
A Omnichord Records é a casa de alguns dos nomes fundamentais do universo sonoro musical nacional. É importante para vocês pertencer a essa família que parece apostar convictamente no vosso trabalho?
Claro que sim. E é mesmo esse espírito de familía, ajudamo-nos todos uns aos outros e sentimo-nos muito acarinhados. Assim ainda dá mais gosto trabalhar, temos muito a agradecer a esta grande e espectacular família.