man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Kathryn Calder – Kathryn Calder
Pianista dos New Pornographers e já uma veterana da indústria musical, a canadiana Kathryn Calder também tem uma respeitável carreira a solo, iniciada com os Immaculate Machines, a sua primeira banda e já com dez álbuns lançados na última década, o que dá uma incrível média de um disco por ano. A juntar a essa pujança discográfica, há que salientar várias digressões, que solidificaram uma carreira iniciada com Are You My Mother, um disco baseado na luta inglória que a mãe de Kathryn travou contra a ALS e que a artista assistiu de perto. Esta relação entre tragédia e sucesso, marcou o início do percurso discográfico de Calder e deu-lhe imenso material sobre o qual pode escrever, o que justifica, de certo modo, esta pujança editorial.
Passando longos períodos na estrada, Kathryn gosta de sentir que tem um ponto seguro e Bright And Vivid foi outro ponto importante no seu percurso discográfico, já que nesse trabalho refletiu, essencialmente, sobre si mesma e tudo aquilo que tinha mudado em si, após um início tão fulgurante de carreira, de mãos dadas com a perca referida, num álbum cheio de canções autênticas e pessoais.
Agora, em 2015, Kathryn encontrou nos sintetizadores um manancial sonoro que a artista sentia que ainda não tinha explorado devidamente e refugiada num estúdio em Vancouver Island com o seu marido e produtor Colin Stewart, deu à luz estas dez novas canções que têm em comum essa artmosfera sintética que é agora o grande ponto de partida da sua música em deterimento da orgânica sentimental e emotiva que sempre guiou o seu processo de produção musical.
Kathryn Calder é, portanto, um catálogo sonoro envolvente, climático e tocado pela melancolia. A delicadeza de canções como Song and Cm e Arm and Arm atestam esse vínculo forte com um ambiente sedutor, particularmente feminino e intenso. A instrumentação tem como pano de fundo a pop mais nostálgica, sendo audível a procura de uma sonoridade intimista e reservada, com um suspiro algo abafado e menos expansivo; Logo na primeira canção, em Slow Burning, sente-se um elevado teor emotivo, possibilitado não só pela letra, mas também pelo peso da componente instrumental. Esse é um fator relevante que justifica o fato de Kathryn Calder ser um verdadeiro passo em frente no aumento dos índices qualitativos do catálogo da artista, justificado pela tal primazia da sintetização e pelo uso de alguns arranjos inéditos; My Armour, por exemplo, é conduzida por uma batida hipnótica envolvente, mas os arranjos de sopros e cordas que flutuam pela canção, juntamente com a voz, dão ao tema uma cândura que transborda fragilidade em todas as notas, mas também nas sílabas e nos versos. Já o single Take A Little Time, com uma toada mais rock, com as guitarras a serem acompanhadas por uma melodia sintetizada vintage e um baixo cheio de efeitos, são outras manifestações audíveis e concretas deste jogo dual em que o disco encarreira, à medida que o alinhamento escorre pelos nossos ouvidos e uma mistura de força e fragilidade, nas vozes, na letra e na instrumentação, se equilibra de forma vincada e segura.
Como costuma suceder nos discos desta cantora canadiana, a voz é, mais uma vez, um dos aspetos que mais sobressai e a produção está melhor do que nunca, com Calder a aperfeiçoar tudo o que já havia mostrado anteriormente, também na componente lírica e sem violar a essência de quem adora afogar-se em metáforas sobre o amor, a saudade, a dor e a mudança, no fundo tudo aquilo que tantas vezes nos provoca angústia e que precisa de ser musicalmente desabafado através de uma sonoridade simultaneamente frágil e sensível, mas também segura e equilibrada. Dan Mangan, Jill Barber e Hannah Georgas são outras vozes que tambem se escutam neste trabalho e que lhe conferem uma dimensão sonora ainda mais abrangente e apelativa, dentro do cenário pop idealizado.
Kathryn Calder será sempre um marco importante na carreira da sua autora, independentemente da composição do seu catálogo sonoro definitivo, não só pela forma como apresenta de forma mais luminosa e extrovertida a sua visão sobre os temas que sempre lhe tocaram, mas, principalmente, pelo modo maduro e sincero como tenta conquistar o coração de quem a escuta com melodias doces e que despertam sentimentos que muitas vezes são apenas visíveis numa cavidade anteriormente desabitada e irrevogavelmente desconhecida do nosso ser. Espero que aprecies a sugestão...
01. Slow Burning
02. Take A Little Time
03. Worth RemeMbering
04. Blue Skies
05. When You See My Blood
06. Only Armour
07. Song In Cm
08. By Pride Or By Design
09. Arm In Arm
10. Beach