man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
GUM – Saturnia
GUM é um projeto a solo liderado pelo australiano Jay Watson, um músico com ligações estreitas aos POND e aos Tame Impala, que ultimamente tem feito faísca no nosso radar devido aos singles que foi divulgando do seu novo disco, um trabalho intitulado Saturnia, que viu recentemente a luz do dia e que sucede ao registo Out In The World, que o artista lançou em dois mil e vinte.
Saturnia tem a chancela da Spinning Top e nas suas dez canções Jay Watson executa, com elevada mestria, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências, que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop sinfónica de década seguinte, passando por alguns dos detalhes essenciais do jazz, da folk, do R&B e da própria eletrónica. Como é óbvio, existe uma vibe psicadélica incomum, mas prodigiosa, em toda esta amálgama, uma constatação que canções como Race To The Air e Would It Pain You To See?, dois temas com uma toada crescente e progressiva e que colocam todas as fichas num baixo vigoroso e num registo vocal de forte cariz lisérgico, exemplarmente ilustram.
De facto, Saturnia, um álbum repleto de arranjos meticulosos e em que o detalhe é um aspeto essencial, contém instantes que tanto agarram num piano pelas rédeas para indicar o caminho melódico que uma canção deve seguir como, logo a seguir, oferecem à guitarra a primazia nessa demanda. E muitas vezes esse caminho é feito por ambos, cordas e teclas, de mãos dadas, cabendo depois aos sintetizadores, geralmente encharcados em cosmicidade e a sopros e outras cordas, o extraordinário papel de adorno, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchido com um travo de fragilidade e inocência que é, sem dúvida, um dos grandes atributos de Saturnia.
O perfil ecoante e planante de Argentina, um oásis de luminosidade e complacência, ou o carimbo tremendamente rugoso das guitarras que se acotovelam em Muscle Memory, são outros dois bons exemplos da enorme disparidade sonora sagaz de Saturnia, uma evidência que funciona, em simultâneo, como um enorme elogio, porque é neste jogo de aparentes contradições que o ouvinte é instigado, seduzido e prendido a uma audição que vicia. O dedicado e harmonioso dedilhar de uma viola acústica e o falsete ecoante de Jay Watson em Music Is Bigger Than Air e, na mesma toada, a singela e sentida acusticidade de Real Life, são mais duas lindíssimas canções, de forte pendor íntimo e contemplativo, que deixam a nu o tremendo dinamismo de um álbum que se deixa conduzir, como é natural, por muitas das imagens de marca daquele que é o habitual registo psicadélico de projetos conterrâneos que todos conhecemos e que comprovam que a Austrália é um manancial deste espetro sonoro do indie rock, mas também pelo que de melhor a contemporaneidade indie vai oferecendo a Jay. E o bónus é quarenta e dois minutos depois do início da audição ficarmos com a certeza de que Saturnia exala uma luminosidade imponente, ainda mais charmosa e classicista do que essas notáveis referências. Espero que aprecies a sugestão...