man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Fleet Foxes – Crack-Up
Seis anos depois de Helplessness Blues, o último registo de originais, os norte americanos Fleet Foxes regressam em 2017 aos discos com Crack-Up, título inspirado num ensaio do aclamado escritor F. Scott Fitzgerald. Este novo trabalho da banda atualmente formada por Robin Pecknold, Skyler Skjelset, Casey Wescott, Christian Wargo e Morgan Henderson, vê a luz do dia à boleia da Nonesuch Records e foi produzido por Robin e Skyler, membros do grupo, misturado por Phil Ek e masterizado por Greg Calbi.
Os Fleet Foxes são fiéis depositários da identidade mais genuína de uma América que sempre viu na folk um veículo privilegiado de transmissão de todo o seu referencial identitário. Escutar as composições deste projeto é vaguear, obrigatoriamente, pelos meandros de uma realidade civilizacional natural e humana alicerçada numa enorme massa migrante que atravessou o atlântico nos séculos XVIII e XIX, mas também nas raízes deixadas por diferentes tribos que coabitaram com a natureza durante centenas de anos sem qualquer intromissão estrangeira. Assim, mesmo que alguns detalhes eletrónicos e uma vasta miríade instrumental suportadas pelas mais recentes inovações tecnológicas aplicadas à produção musical sejam manuseadas na concepção dos seus discos, estes Fleet Foxes fazem sempre questão que as suas canções soem o mais orgânicas e nativas possível, com a mira bastante apontada ao experimentalismo folk que começou a impressionar e a espevitar tantos nomes hoje consagrados na década de setenta do século passado.
Logo na tríade I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar, se um simples acorde acústico de uma guitarra e um sussurro abrem as hostilidades, rapidamente a canção nos desassossega e plasma a típica monumentalidade espiritual deste projeto, com tambores, sopros e cordas a revezarem-se entre si numa complexa teia relacional que muitas vezes faz suster a respiração, tal é a imensidão com que nos submerge. Depois, na exuberância luminosa e optimista da dupla Cassius - – Naiads, Cassadies, uma canção, em duas, que nos impulsiona, com a ajuda dos violinos, a atingir o estrelato, mesmo que não pareça haver nada de motivador ao virar da esquina, mas também na beleza e no charme vibrante de Fool’s Errand, nos quase nove minutos verdadeiramente inspiradores e tocantes de Third of May / Ōdaigahara, uma canção conduzida por uma simples melodia de uma viola em redor da qual o piano e a bateria se insinuam continuamente e na intimista religiosidade a que o amor acaba por saber nas teclas e nas cordas de If You Need To, Keep Time On Me, fica presente uma das marcas mais importantes da identidade destes Fleet Foxes, relacionada com a capacidade que têm em servir-se da simplicidade orgânica para adoçar o nosso coração com inquietude e coragem, deixando-o no ponto para a obtenção de grandes feitos, através de um cerrar de punhos que carece de ruído excessivo ou uma intrincada teia melódica, ritmíca e estilistica para se efetivar. Por outro lado, na sobriedade da guitarra e da batida sintetizada de Mearcstapa, ou no minimalismo inicial de On Another Ocean (January / June), depois quebrado por uma guitarra que não receia distorcer no tempo certo e por uma bateria intensa e encorpada, percebe-se que quer alguns aspetos essenciais da eletrónica atual, mas também do rock de cariz mais indie também são outra marca indelével dos Fleet Foxes, abastecendo e enriquecendo ainda mais o seu cardápio sonoro, com o mesmo efeito fortemente sentimental, interior e imersivo.
Crack-Up é um retrato humanamente doce e profundo, mas também algo inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional riquíssima do lado de lá do atlântico, uma realidade que justifica em grande medida o modo de vida fortemente evoluído e tecnológico em que vivemos, mas que tem nos seus pilares aquilo que de mais genuíno podemos experienciar enquanto seres vivos que é a vibração do interior desta terra mãe que nos alimenta e que hoje sofre de modo tão audível como aquele efeito cavernoso que encerra I Should See Memphis. De facto, a música dos Fleet Foxes tem esta espantosa capacidade de nos fazer refletir sobre aquilo que somos hoje e os desafios que nos esperam, ao mesmo tempo que enquanto manifestação artística se torna reveladora por desmascarar sensorialmente toda a pafernália biológica, física e filosófica por um lado e religiosa por outro que descreve a sociedade dos nossos dias, colocando perante nós aquilo que realmente deveria importar e fazer-nos verdadeiramente felizes que é a essência harmoniosa do que de mais virgem e intocável existe em nosso redor. Espero que aprecies a sugestão...
01. I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar
02. Cassius, –
03. – Naiads, Cassadies
04. Kept Woman
05. Third Of May / Ōdaigahara
06. If You Need To, Keep Time On Me
07. Mearcstapa
08. On Another Ocean (January / June)
09. Fool’s Errand
10. I Should See Memphis
11. Crack-Up