man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Few Fingers - Burning Hands
Nuno Rancho, músico dos Dapunksport e dos Bússola, colaborador dos Indignu, líder dos Team Maria e já com três dicos a solo e André Pereira,que tem acompanhado os Ultraleve, os Team Maria e os Quem É O Bob? são a dupla que dá vida aos Few Fingers, dois cúmplices, amigos e antigos vizinhos que já comungam musica e projetos há quase duas décadas. Few Fingers acaba por ser uma consequência óbvia de tão estreita ligação entre dois músicos bastante criativos e Burning Hands, um álbum que viu a luz do dia a vinte e oito de setembro, à boleia da Omnichord Records, o novo passo da dupla rumo ao merecido estrelato.
Cheio de canções com uma sonoridade indie folk particularmente aconchegante e sedutora, conduzidas por uma Lap Steel Guitar, o principal elemento instrumental agregador do disco, Burning Hands é eminentemente acústico e, conforme indica a banda na entrevista que me concedeu e que podes apreciar a seguir a esta crítica, tem um forte pendor orgânico, simples e despretencioso, debruçando-se em algo tão simples como aquele momento do dia em que as nossas tarefas e obrigações ficaram para trás e é o momento de fazer um balanço sobre tudo aquilo que vivemos. Curiosamente, ou talvez não, a simplicidade intimista do vídeo de From Pale To Red, o single já retirado do trabalho, da autoria de Tiago Gomes, é, na minha opinião, particularmente encantadora e além de clarificar a cumplicidade que existe entre ambos, mostra-nos como podemos fazer esse exercício reflexivo, através de um vídeo tão bonito e profundo que parece estabelecer um firme propósito estético no ideário artístico atual e futuro dos Few Fingers, em que os filmes das canções irão ser sempre pensadas de acordo com o conteúdo das mesmas.
Maioritariamente pensado e escrito pelo Nuno e tocado pelo André, este é um álbum dominado então pelo esplendor das cordas, acústicas ou eletrificadas e o seu alinhamento oferece-nos uma certa bipolaridade entre a riqueza dos arranjos e a subtileza com que eles vão surgindo nas músicas, muito de forma quase impercetível, conferindo à sonoridade geral de Burning Hands uma sensação, quanto a mim, enganadoramente, minimal. O álbum contém um açúcar muito próprio e um pulsar particularmente emotivo e rico em sentimento, não deixando assim, em nenhum instante, de ser eficaz na materialização concreta de melodias que vivem à sombra de uma herança natural claramente definida e que, na minha opinião, atinge um estado superior de consciência e profundidade nos acordes únicos e lindíssimos da confessional Our Own Holidays.
Burning Hands é alma e emoção traduzidas à voz e às cordas, como documento sonoro ajuda-nos a mapear as nossas memórias e ensina-nos a cruzar os labirintos que sustentam todas as recordações que temos guardadas, para que possamos pegar naquelas que nos fazem bem, sempre que nos apetecer. Basta deixarmo-nos levar pelos sussurros da voz, para sermos automaticamente confrontados com a nossa natureza, à boleia de uma sensação curiosa e reconfortante, que transforma-se, em alguns instantes, numa experiência ímpar e de ascenção plena a um estágio superior de letargia. Espero que aprecies a sugestão...
Nuno Rancho e André Pereira, a vossa trajetória musical até à formação dos Few Fingers e o nascimento de Burning Hands, este vosso fabuloso disco de estreia, aconteceu e foi passada, no caso do Nuno, em participações em bandas como os Dapunksport, os Bússola e os Tema Maria, além de trabalhos a solo e colaborações com os Indignu e, no que que concerne ao André, a participação nos Ultraleve, Tema Maria e nos Quem é o Bob. Além de saltar à vista uma provável coexistência nos Tema Maria, de que modo é que os astros conjuraram para que fosse possível unirem esforços e dessa união feliz nascer os Few Fingers?
Nuno Rancho: Éramos praticamente vizinhos, conhecemo-nos quando começámos a fazer música há uns 15 anos atrás, tivemos na altura numa banda juntos mas rapidamente enveredamos por outros projectos separadamente, depois de 2008 a 2012 voltamos a juntar-nos com os Team Maria onde lançamos um álbum e o ano passado desafiados pela Omnichord Records gravamos um tema inédito (From Pale To Red) para a compilação Leiria Calling, gostamos imenso da canção e achamos que faria todo o sentido gravar um álbum que seguisse a mesma linha estética.
E agora uma questão cliché… Quais são, antes de mais, as vossas expetativas para este Burning Hands?
Esperamos reacções positivas e que as pessoas consigam ouvir o álbum de uma ponta a outra sem passar faixas à frente. Depois de ouvirem o álbum queremos que as pessoas nos procurem ao vivo.
Disco dominado pelo esplendor das cordas, acústicas ou eletrificadas, confesso que o que mais me agradou na sua audição foi uma certa bipolaridade entre a riqueza dos arranjos e a subtileza com que eles surgiam nas músicas, muito de forma quase impercetível, conferindo à sonoridade geral de Burning Hands uma sensação, quanto a mim, enganadoramente, minimal. Talvez esta minha perceção não tenha o menor sentido mas, seja como for, em termos de ambiente sonoro, o que idealizaram para o álbum inicialmente correspondeu ao resultado final ou houve alterações de fundo ao longo do processo?
Desde o inicio sabíamos que queríamos fazer canções com uma sonoridade folk onde a Lap Steel Guitar tivesse um papel preponderante, há canções em que isso se nota menos mas foi sempre essa a linha condutora, queríamos fazer um disco acústico, maioritariamente orgânico virado para as canções.
Além de ter apreciado a riqueza instrumental, quer orgânica, quer eletrónica, e também a criatividade com que selecionaram os arranjos, gostei particularmente do cenário melódico destas vossas novas canções, que achei particularmente bonito. Em que se inspiram para criar as melodias? Acontece tudo naturalmente e de forma espontânea em jam sessions conjuntas, ou as melodias são criadas individualmente, ou quase nota a nota, todos juntos e depois existe um processo de agregação?
Todas as canções do álbum são inicialmente ideias minhas que apresentava ao André, algumas canções já completas com estruturas e letras definidas, outras apenas esboços que depois montamos em conjunto, posteriormente com a canção já estruturada todo o instrumental do álbum ficou a cargo do André que gravou todos os instrumentos.
A simplicidade do vídeo de From Pale To Red é, na minha opinião, particularmente encantadora e clarifica a cumplicidade que existe entre ambos. Tomando como ponto de partida este vídeo tão bonito e profundo, diria até, existe no ideário artístico atual e futuro dos Few Fingers, um propósito firme e um plano já definido quanto ao rumo a tomar acerca da vossa componente visual, nomeadamente os filmes que ilustram os vossos singles, ou será tudo pensado e decidido no momento consoante as circunstâncias?
Para o video de From Pale To Red decidimos confiar na visão do nosso amigo Tiago Gomes, pedimos-lhe um video simples e intimista. Com uma produção completamente amadora o video acabou por superar as nossas expectativas, as imagens abraçam a canção na perfeição. A narrativa do próximo video clip será completamente diferente, os vídeos serão sempre pensados conforme a canção.
Burning Hands foi misturado e produzido por ambos. Esta opção acabou por surgir com naturalidade ou já estava pensada desde o início e foi desde sempre uma imposição vossa? E porque a tomaram?
Nunca pensamos na possibilidade da mistura e produção ser feita por outra pessoa, à medida que fomos trabalhando no álbum fomos percebendo que estávamos a ir no caminho certo e deixamo-nos ir até ao produto final. Apesar disto não pomos de parte a possibilidade de no futuro essas tarefas serem realizadas por outra pessoa.
Confesso que fiquei particularmente surpreso com a simplicidade do artwork de Burning Hands. Como surgiu a ideia e qual a razão? Caso exista alguma explicação plausível, além de uma possível relação com o nome da banda e do próprio disco...
A ideia do artwork vem do nome do álbum e também do nome da banda. Não queremos entrar em grandes explicações, queremos deixar em aberto, que criem a vossa própria historia ao olharem para a capa e ao juntarem os elementos da mesma.
Adoro a canção Our Own Holidays. Os Few Fingers têm um tema preferido em Burning Hands?
Neste momento a Forward March é a canção que gostamos mais, talvez por ter sido a ultima a entrar no álbum.
Não sou um purista e acho que há imensos projetos nacionais que se valorizam imenso por se expressarem em inglês. Há alguma razão especial para cantarem em inglês e a opção será para se manter?
A maior parte das bandas e artistas que me influenciam cantam e Inglês, não me imagino a cantar noutra lingua.
O que vos move é apenas o rock, a folk e a indie pop experimental ou gostariam ainda de experimentar outras sonoridades? Em suma, o que podemos esperar do futuro discográfico dos Few Fingers?
Queremos começar já a trabalhar no próximo álbum a ideia é continuarmos a fazer canções com guitarra acústica e Lap Steel, o folk será sempre a base dos Few Fingers.
Para terminar, mais uma curiosidade… Quais são as três bandas atuais que mais admiram?
Father John Misty, Arcade Fire, Radiohead.