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Father John Misty – Mahashmashana

Segunda-feira, 25.11.24

Dois anos depois do extraordinário registo Chloë And The Next 20th Century, Josh Tillman, que assina a sua música como Father John Misty, está de regresso aos discos com Mahashmashana, o sexto compêndio de originais da carreira do músico norte-americano, um álbum produzido pelo próprio Father John Misty e por Drew Erickson. São oito canções que acabam de ver a luz do dia, com a chancela do consórcio Bella Union e Sub Pop Records.

Father John Misty é um dos artistas mais queridos deste espaço de crítica musical, sempre absorvido nos seus dilemas, vulnerabilidades e inquietações pessoais, enquanto ensaia, em cada novo trabalho, uma abordagem tremendamente empática e próxima connosco, sem se deslumbrar e perder a sua capacidade superior de criar canções assentes, quase sempre, num luminoso e harmonioso enlace entre cordas e teclas, que dão vida a temas carregados de ironia e de certo modo provocadores.

Desta vez, o músico disserta sobre o momento civilizacional atual e a ténue fronteira que todos nós sabemos que existe entre e vida e a morte, considerando, o autor, que temos os nossos arraiais assentes em Mahashmashana, (महामशान) uma palavra em sânscrito que significa grande campo de cremação. E, de facto, este registo oscila entre canções com um intenso espírito roqueiro, viçoso, inquieto e irrequieto e baladas de elevado pendor melodramático e quase desesperante, sendo transversal a todo o registo uma permanentes sensação de tensão e de inquietude, que personifica, de certa forma, a tal fronteira ténue em que vivemos.

Logo a abrir o registo, a magnificiência melodramática e cinematográfica de um tema homónimo que agrega em seu redor uma vasta pafernália instrumental, enquanto coloca todas as fichas líricas e filosóficas na descrição de um local que tanto pode ser de redenção, como de expiação, ficamos esclarecidos relativamente ao busílis sonoro de um disco que estará recheado de momentos sonoros esplendorosos e únicos. Misty é hoje, sem sombra de dúvida, uma figura interpretativa central e de excelência, não só como cantor, mas também como multi-instrumentista e, acima de tudo isso, um arquiteto de canções riquíssimas em detalhes, sobreposições orgânicas e sintéticas e jogos de sedução entre sons das mais diversas proveniências, sempre com um charme inconfundível, enquanto fortalece e carimba uma assinatura estilística muito própria e sem paralelo no universo sonoro indie contemporâneo. Por exemplo, o modo como o piano, os saxofones e os violinos vão dando a vez entre si no protagonismo arquitetural de Being You é um dos mais belos exemplos desta ímpar capacidade criativa do autor.

She Cleans Up dá-nos uma outra face da mesma moeda, enquanto projeta Tillman para um universo sonoro ainda pouco escutado no seu catálogo, uma nova nuance que claramente se saúda. Rugosa e roqueira, esta canção impressiona pelo efeito ecoante da voz, que se entrelaça com mestria com uma guitarra encharca em decibéis e que, no refrão, recebe uma inebriante distorção, amplificada por alguns sopros enleantes, mostrando, como referi, uma faceta mais arrojada, crua e imediata do que as propostas habituais do músico californiano.

Dado o pontapé de saída de Mahashmashana de forma tão díspar, temas como Mental Health, um testemunho impressivo das marcas profundas que ficaram do seu crescimento no seio de uma família extremamente conservadora e com a qual cortou relações, ou o relato da própria experiência pessoal do próprio músico ao consumo psicotrópico, em Josh Tillman And The Accidental Dose, que o fazia ver um apalhaço tagarela sempre que observava um quadro pendurado num apartamento imaginado, reforçam o cariz sempre autobiográfico e, simultaneamente, redentor, da sua obra artística. Depois, Screamland, tema que conta com a participação especial de Alan Sparhawk, dos Low, na guitarra e um extraordinário arranjo de cordas escrito por Drew Erickson, reforça o cariz dicotómico e, consequente, heterogéneo já descrito do processo criativo do autor, numa canção que impressiona pelo clima algo sinistro e épico, dominado por cascatas de diversas distorções, eminentemente sintéticas. 

Mahashmashana deixa-nos defintivamente rendidos com a estrondosa faustosa parada sonora que sustenta I Guess Time Just Makes Fools Of Us All, uma canção vibrante, com um groove ímpar e uma sensualidade indesmentível, em que teclas, sopros e cordas se entrelaçam entre si, conduzidas por um registo percussivo frenético, com um grau de refinamento classicista incomensuravelmente belo e, a seguir, com Summer's Gone, um típico tema de encerramento de um disco, íntimo, profundo, reflexivo e repleto de laivos musicais de excelência que proporcionam ao ouvinte, entre muitas outras sensações que só a vivência da audição consegue descrever, uma constante sensação de beleza e de melancolia ímpares, enquanto testemunhamos o modo como Father John Misty concebe o mundo em que hoje vivemos e que, na sua opinião, está, comicamente, mais próximo do que muitos pensam da ruína. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 13:11






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