man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Damon Albarn - The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows
Sete anos depois do extraordinário registo Everyday Robots, o melancólico, mas sempre genial, brilhante, inventivo e criativo Damon Albarn, personagem central da pop britãnica das últimas três décadas, centrou novamente atenções na sua carreira a solo, depois de mais um capítulo da saga Gorillaz o ano passado e de uma nova rodela do projeto The Good, The Bad And The Queen, que partilha com Paul Simonon, Simon Tong e Tony Allen, chamada Merrie Land que, como certamente se recordam, foi um dos melhores álbuns de dois mil e dezoito para a nossa redação.
Esse novo disco a solo de Damon Albarn chama-se The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows e contém onze canções que pretendem, no seu todo, dar vida a uma peça orquestral inspirada na Islândia, país onde o músico tem assentado arraiais periodicamente nos últimos anos. É um registo, de facto, maravilhoso, que encarna na perfeição o ambiente muito peculiar de uma ilha com caraterísticas únicas, mas que também exibe, a espaços com enorme esplendor, toda a cartografia sonora que faz com que Damon Albarn seja um dos músicos mais ecléticos e completos das últimas duas décadas.
The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows é um álbum que explora com minúcia temas como a fragilidade, a perda, a emergência e o renascimento e o seu título é um excerto do poema Love and Memory, de John Clare. Sonoramente, está cheio de instantes fabulosos. Merece particular destaque o tema homónimo, cinco minutos que nos proporcionam uma jornada introspetiva muito orgânica e intimista, onde a voz clemente e cativante de Albarn é trespassada por uma vasta míriade de efeitos, quer de teclas, quer de uma guitarra e de algumas teclas de um insinuante piano, simultaneamente encharcado em delicadez a inquietude. Depois, Polaris oferece-nos uma tonalidade um pouco mais folk, no modo como teclas exuberantes e com um brilho muito inédito e sui generis, são adornadas por detalhes percursivos curiosos, dos quais sobressaiem diversos tipos de metais, um xilofone e outros instrumentos de sopro que aparecem sempre no momento certo para conferir uma elevada dose de charme ao tema, com destaque para o solo de saxofone final e Particles vira agulhas para territórios mais intimistas, à boleia de dedilhares esporádicos de uma guitarra amiúde agreste, um piano que divaga pelos nossos pensamentos sem misericórdia e, com a voz a ser a pedra de toque fundamental para conferir ao tema o nível reflexivo comedido pretendido. Os grandes momentos do registo acabam por ser, contudo, Royal Morning Blue, a composição mais eclética e frenética de The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows, criada ao piano, junto ao mar e de modo a procurar capturar aquele momento em que a chuva se transforma em neve, como se percebe logo no início da canção, conduzida por esse instrumento, em redor do qual viaja uma batida sintética efusiante, cordas impactantes e diversos efeitos já típicos das criações de Albarn e The Tower of Montevideo, uma composição que impressiona pela riqueza dos arranjos e pelo modo feliz como os mesmos nos conseguem transportar, com elevado nível de realismo auditivo e sensorial impressionista, para o lugar familiar e totalmente sobrenatural que, segundo Albarn, é a foz do rio de La Plata e a capital do Uruguai. Nesta cidade situa-se o Palacio Salvo, um edifício icónico, construído nos anos vinte do século passado e que inspirou esta composição caliente, romântica e instigadora, repleta de arranjos percussivos e de sopros que colocam o nosso imaginário naquele ambiente jazzístico algo boémio que caraterizava a la movida sul americana na segunda década do século passado.
Álbum intenso e cinematográfico e um dos discos fundamentais deste ano, The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows mostra um lado experimental que Albarn gosta de explorar com uma delicadeza bem presente e um lado também algo sombrio e questionador, que tão bem o carateriza. Espero que aprecies a sugestão...