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Damon Albarn – Everyday Robots

Domingo, 11.05.14

O melancólico, mas sempre genial, brilhante, inventivo e criativo Damon Albarn, personagem central da pop britãnica das últimas duas décadas, está de regresso aos discos em nome próprio com Everyday Robots, um dos álbuns mais aguardados do ano e que viu a luz do dia a vinte e oito de abril, um belíssimo compêndio de doze canções produzidas por Richard Russell e lançadas por intermédio da Parlophone.

Falar de Damon Albarn como artista a solo e não abordar as experiências musicais do artista em projetos tão significativos como os Blur, os Gorillaz ou os The Good The Bad and The Queen é algo impossível, já que Everyday Robots transpira a tudo aquilo que Albarn idealizou e criou nestes projetos. As canções de Everyday Robots não caberiam facilmente em qualquer alinhamento típico dos grupos citados, mas há algo em todas elas, mesmo que muito implícito, que nos remete para a excelência das propostas que foram surgindo desta mente brilhante nos últimos vinte anos que, tendo-se feito acompanhar por outros músicos extraordinários, nunca deixou de ser o protagonista maior de todas estas bandas.

Sendo assim, Everyday Robots transborda uma imensa sinceridade, sendo o disco onde Albarn compôs e criou aquilo que realmente quis e com o bónus de não ter tido receio de expôr a sua maturidade de adulto cheio de experiências de vida significativas, quase a chegar ao meio século de existência. É um disco onde um Albarn eletrónico e minimalista e viciado em tecnologia, mas apaixonado pela natureza e permanentemente inquieto pela forma como a tratamos, transborda modernidade e uma sensação de quotidiano e normalidade, como se qualquer um de nós pudesse vestir a sua pele e viceversa, quando exalta a sua individualidade e apela à consciência de individualidade de cada um de nós, num mundo atual tão mecanizado e rotineiro e que, tantas vezes, atrofia, de algum modo, a predominância das vontades e necessidades de cada um de nós, em deterimento do bem e da vontade comuns.

Não há outra forma de entrar no alinhamento de Everyday Robots e não começar por Hollow Ponds, um tema que nos remete para o universo sonoro que Albarn desenvolveu com Paul Simonon e Tony Allen em The Good, The Bad and the Queen; Esta é a canção matriz do disco, já que a decisão de avançar na gravação do trabalho apenas sucedeu depois de Richard Russell ter escutado o tema e ter desafiado Albarn a continuar.

Com um pé na folk e outro na pop e com a mente a sempre a convergir para a soul, Albarn entregou-se então à introspeção e refletiu sobre o mundo moderno, não poupando na materialização dos melhores atributos que guarda na sua bagagem sonora, havendo, no disco, vários exemplos do forte cariz eclético e heterogéneo da mesma. Por isso, há que conferir grande destaque à folk animada de Mr. Tembo, uma música dedicada a um elefante bebé que Damon conheceu na casa de uns amigos numa reserva na Tanzânia e que conta com a participação do coro gospel da igreja Mission City, de Leytonstone, sendo, o tema do disco que mais se aproxima das aproximações já feitas por Albarn no projeto Gorillaz. Depois, há algo de profundamente enigmático no dedilhar deambulante do piano de The Selfish Giant e naquela voz rouca, acabada de emergir de um sono profundo certamente marcado pela batida hipnótica que sustenta a canção e que, no refrão, quando Albarn relata o mundo perfeito com que acabou de sonhar, é acompanhada por detalhes e arranjos tão doces e delicados. A esta sonoridade do tema não será alheio o facto de ser sobre uma noite que Albarn passou em 1995, durante uma digressão caseira dos Blur, num local chamado Dunoon, na costa oeste da Escócia, onde existiam muitos submarinos nucleares americanos, por causa da guerra fria e a canção imagina alguém dentro de um deles, nas profundezas do oceano, apenas à espera que algo aconteça, tendo como única companhia uma simples televisão.

Uma canção fundamental para perceber a essência de Everyday Robots é também You & Me, que são, na verdade, duas canções unidas numa só, sobre a vida de um casal e sobre o carnaval de Nothing Hill, bairro onde Albarn mora há vários anos com a atriz Suzy Winstanley e uma filha adolescente, sendo, talvez, o tema mais autobiográfico do disco. A canção leva-nos de volta ao mundo dos sonhos e ao típico som da viola acústica que Albarn tanto aprecia, feito com  o ruído das mãos que tocam num instrumento que obedece cegamente a um músico que sabe a fórmula exata para temporizar, adicionar e remover pequenos sons e, como se a canção fosse um puzzle, construir, a partir de uma aparente amálgama de vários sons, uma peça sonora sólida. Na lindíssima Lonely Press Play, no meio de leves batidas e de um piano que vai dividindo o protagonismo com uma guitarra que nos faz emergir da solidão, a voz calma e humana de Albarn mostra-nos que, por trás de um músico que tinha tudo para viver uma existência ímpar e plena de excessos, existe antes um homem comum, às vezes também solitário e moderno.

Everyday Robots termina com o extase índie pop Heavy Seas Of Love onde, a meias com Brian Eno, o coração traiçoeiro de Albarn converte-se num portento de sensibilidade e optimismo, a transbordar de um amor que o liberta definitivamente de algumas das amarras que filtrou ao longo do disco e, sem deixar completamente de lado a melancolia que, como ele tão bem mostra, tem também um lado bom, empenha-se em mostrar-nos que a existência humana e tudo o que existe em nosso redor, por mais que esteja amarrado à ditadura da tecnologia, pode ser um veículo para o encontro do bem e da felicidade coletivas. Espero que aprecies a sugestão...

Damon Albarn - Everyday Robots

01. Everyday Robots
02. Hostiles
03. Lonely Press Play
04. Mr Tembo
05. Parakeet
06. The Selfish Giant
07. You And Me
08. Hollow Ponds
09. Seven High
10. Photographs (You Are Taking Now)
11. The History Of A Cheating Heart
12. Heavy Seas Of Love

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publicado por stipe07 às 15:48






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