man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Blur – The Ballad Of Darren
Já está nos escaparates o disco mais inspirado que os Blur de Graham Coxon, Damon Albarn, Alex James e Dave Rowntree, nos oferecem desde o extraordinário registo 13 que encerrou o último milenio. O álbum intitula-se The Ballad Of Darren, contém dez canções e sucede ao registo The Magic Whip de dois mil e quinze, materializando o tão badalado regresso à ribalta de uma banda fundamental da música ocidental das últimas três décadas, liderada pelo melancólico e sempre genial, brilhante, inventivo e criativo Damon Albarn, personagem central da cultura pop britânica contemporânea.
Disco inspirado em Darren Smoggy Evans, guarda costas dos Blur há vários anos e ajudante pessoal de Damon Albarn e com uma capa também bastante original, feita a partir de uma fotografia captada em dois mil e quatro por Martin Parr e que ilustra a piscina de uma localidade chamada Gourock, na Escócia, The Ballad Of Darren funciona como uma espécie de tributo a essa personalidade sempre dedicada e leal, ao mesmo tempo que nos recorda que está bem longe do fim a carreira de um grupo ímpar e que está, de pleno direito, no lugar mais alto do pedestal da indústria musical britânica contemporânea.
The Ballad Of Darren não é um disco assente em guitarras agrestes ou em arranjos orgânicos e sintéticos demasido intrincados e esse é, talvez, um dos maiores elogios que se podem fazer a pouco mais de trinta e seis minutos que acabam por fazer, talvrz inconscientemente, a súmula de uma riquíssima e bastante profícua carreira. Assim, se logo a abir o disco, The Ballad seduz pela riqueza detalhística das vozes e pela elevada sentimentalidade que os diferentes instrumentos vão conferindo à composição à medida que se revezam no protagonismo, em St. Charles Square Graham Coxon toma conta das rédeas, mostrando-nos que o rock puro e duro, sem espinhas, agreste e sedutor, ainda faz parte do catálogo essencial deste quarteto. Curiosamente, essa mesma sensação repete-se, mas de um modo mais contido, em The Heights, canção em que viola e guitarra, com extrema simplicidade, conduzem uma massa de sons enleantes, que nos colocam na senda daquele rock que mistura epicidade e sentimentalismo com indisfarçável harmonia.
O disco prossegue e torna-se impossível ficarmos indiferentes à luminosidade quase ofuscante de Barbaric, um tratado de indie pop que atesta a faceta radiofónica que também sempre caraterizou os Blur, sensação que se repete em The Narcissist, composição inspirada na figura do Pierrot que se olha ao espelho e procura encontrar e descrever o seu próprio ego. The Narcissist é um portento de pop rock, assente numa inspirada e repetitiva linha de guitarra assinada por Coxon, que vai recebendo diferentes nuances instrumentais e rítmicas, à medida que a canção cresce em charme e majestosidade e, simultaneamente, em abrangência e ecletismo.
Até ao seu ocaso, no clima orquestral de Russian Strings, canção cuja delicioso piano, uma guitarra plena de soul, diversos efeitos planantes e uma bateria arritmada, nos recordam, curiosamente, os melhores momentos do período mais recente da carreira de uns Arctic Monkeys, no classicismo intimista de The Everglades (For Leonard), ou no piscar de olhos a climas mais sintéticos em Goodbye Albert, ficamos convencidos relativamente ao brilhantismo do conteúdo de um disco que, com um pé no rock e outro na pop e com a mente a sempre a convergir muitas vezes para a soul, nos oferece uma sábia introspeção sobre o mundo moderno. Em The Ballad Of Darren, os Blur não poupam na materialização dos melhores atributos que guardam na sua bagagem sonora, encarnada por quatro músicos criativamente e intepretativamente inigualáveis confirmando, mais uma vez, o forte cariz eclético e heterogéneo de uma banda que da britpop, ao experimentalismo ruidoso, passando pela eletrónica e pelo fascínio do lo-fi, criou canções que fazem parte do imaginário sonoro da civilização ocidental contemporânea e que em dois mil e vinte e três criou, com sagacidade, uma ode nostálgica a toda esta sua herança, sem deixa de se mostrar familiarizada com as tendências mais atuais, sugerindo, assim, uma visão muito própria e claramente identitária, da pop e do indie rock atuais. É curioso como neste The Ballad Of Darren os Blur ainda conseguem fazer-nos sentir aquela névoa húmida tipicamente britânica e pôr-nos a visualizar multidões em chapéu de coco a beber um chá ou um gin e a ter conversas humoradas com o típico sotaque que todos conhecemos, ao som da sua música. Espero que aprecies a sugestão...