man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Björk – Fossora
Fossora é o curioso título do novo disco de originais da islandesa Björk, uma artista exímia a mostrar o quanto o cenário musical do país de onde é originária é inspirador, mas também ela, por si só, uma verdadeira fonte de inspiração para imensos artistas. E o deslumbre que ela irradia, há já três décadas de uma carreira extraordinária, sente-se na pafernália de sons, detalhes e efeitos que vão cirandando em redor da uma voz que parece sempre encontrar, disco após disco, novo motivos para olhar com optimismo para o mundo que a rodeia.
Fossora não foge a esta permissa, num alinhamento de treze composições, impecavelmente representadas logo em Atopos, o primeiro tema do registo, uma canção instrumentalmente poderosa, assente num registo percussivo luxuriante e numa imponente secção de sopros, duas nuances habituais no quase sempre celebratório modus operandi sonoro da autora e que versa sobre a necessidade intrínseca à nossa essência humana de procura do outro, utilizando como ponto de partida uma famosa expressão do filósofo Roland Barthes, que traduzida diz algo do género: As nossas diferenças são irrelevantes e o nosso desejo de união é mais forte do que nós.
Fossora (escavadora em islandês) é, portanto, um compêndio que foge ao convencional, mas que não deixa, por isso, de conter uma profundidade e uma emotividade bem vincadas. Aliás, sente-se ao longo do disco uma sensação quase física de contacto com algo parecido com o subsolo, uma caraterística muito própria da melhor música tradicional islandesa e que Björk manipula com imaculada destreza, através de sintetizações rugosas e batidas vincadas, mas também com detalhes angelicais, que acabam por conferir a essa sensação uma feminilidade bastante intensa. De facto, as canções exalam tudo aquilo que a autora pretende, quer seja algo sobre o amor e o romantismo, mas também a separação ( Sorrowful Soil), ou sobre a própria morte e o luto (a morte da ativista Hildur Rúna Hauksdóttir, mãe de Björk, inspirou alguns dos temas de Fossora, em particular Ancestress), mesmo que, à partida, a estrutura do tema e a sua própria sonoridade não transpirem equivalência relativamente à componente lírica. Aliás, esta questão da morte e da inevitabilidade da mesma e da necessidade de a encarar de frente, é mesmo a ideia central do álbum, aprofundada pela seleção do universo dos fungos como adereço estilístico visual privilegiado do registo, de modo a mostrar que com a morte também existe a possibilidade de um recomeço, apesar da dor do fim de algo ou de alguém, que ela sempre representa.
Repleto de ilustres convidados, Fossora é um extraordinário disco assente numa estética com elevada filosofia orgânica e centrada eminentemente no sintético e na vastidão percurssiva orgânica que está disponível para todos mas que é ainda pouco explorada, talvez o território onde esta artista islandesa se tem sentido mais confortável ao longo da carreira. É um registo sólido e uniforme e muito centrado, liricamente, nas fraquezas individuais e na fragilidade própria da existência humana. Espero que aprecies a sugestão...