man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Bed Legs - Black Bottle
Oriundos de Braga, Fernando Fernandes,Tiago Calçada, Helder Azevedo e David Costa são os Bed Legs, uma banda que começou por criar um certo e justificado burburinho, junto dos críticos mais atentos, à boleia de Not Bad, um EP editado no início de 2014 e que continha cinco canções que justificaram, desde logo, a ideia de estarmos perante uma banda apostada em calcorrear novos territórios, de modo a entrar, justificadamente e em grande estilo, na primeira divisão do campeonato indie e alternativo nacional.
Dois anos depois os Bed Legs estão de regresso com o longa duração de estreia. Disco de certo modo concetual já que, de acordo com o press release do lançamento, conta a história de uma noite estranha naquele bar onde entras enganado, mas do qual não queres sair, Black Bottle é o nome desse novo compêndio do grupo, nove canções que estão impregnadas com o clássico rock cru e envolvente, sem máscaras e detalhes desnecessários, mas onde não faltam arranjos inéditos e uma guitarra nada longe do rock de garagem e daquele blues rock minimal e duro, mas também a piscar o olho a uma salutar vibe psicadélica.
Nestes Bed Legs é viva e evidente mais uma prova que se o rock estiver em boas mãos tem capacidade que sobra de renovar-se e quantas vezes for necessário, com a vantagem de, neste caso, também servir para ser colocado sempre ali, mesmo à mão, para quando sentirmos necessidade de escutar música que dispare em todas as direcções, sem preconceitos nem compromissos, usando a sonoridade habitual e clássica do rock, numa mistura explosiva de energia, audácia, irreverência e atitude, pouco ouvida por cá e que, por isso, merece ser amplamente divulgada.
Canções como o sumptuoso single Vicious, a altiva Wrong Man ou a descomprometida New World, contêm um poder e um charme que atraem e ofuscam tudo em redor, mostrando que uma das grandes virtudes destes Bed Legs é o desprezo pelo conforto do ameno, mas sem se limitarem a produzir barulho como um fim em sim mesmo. Este é um rock com qualidade melódica e que nos dá canções acessíveis e que poderiam relatar factos da vida de qualquer um de nós, mostrando que este rock pode ser a salvação e um excelente remédio para muitos dos nossos problemas.
Em suma, Black Bottle sabe, no modo como soa, a uma espécie de estado de alma colorido e, apesar do Black, vincadamente boémio, uma daquelas entradas em grande no palco em início do espetáculo, de forma tão ruidosa que desperta logo o espetador mais incauto.Confere abaixo a entrevista que este fantástico grupo bracarense concedeu ao blogue e espero que aprecies a sugestão...
Road Again
Vicious
Love, Lies N' Love
Black Bottle
Wrong Man
My Heart Back
New World
Try
The Fight
Antes de nos debruçarmos com algum cuidado no conteúdo de Black Bottle, o vosso primeiro registo discográfico em formato longa duração, começo com uma questão clichê… Como é que nasceu este projeto, oriundo da zona de Braga?
Bed Legs nascem da reunião de 4 amigos músicos com vontade de tocar e de criar. Eu(Fernando), o Tiago (guitarra) e o David (bateria) já tínhamos tocado juntos numa banda nos tempos do secundário. Nos tempos da universidade, fizemos uma jam na república dos Inkas em Coimbra com o Hélder e houve uma enorme química. Mais tarde, o Tiago e o David começam a tocar com ele, no seu sotão. Eles lembraram-se de mim e convidaram-me para cantar. Começámos a trabalhar numas ideias que eles já tinham e noutras que fomos fazendo a longo desses encontros. Daí nasceram temas interessantes, alguns desses que podem ser encontrados no nosso Ep “Not Bad”.
Desde o início, até esta estreia discográfica, o vosso percurso tem sido fulminante em termos de crescimento, visibilidade e aceitação. Além de terem já tocado em vários locais, o vosso Ep Not Bad foi bastante aclamado pela crítica. Como foi conciliar este percurso ascendente e todo este frenesim, nomeadamente de concertos, com o processo de gravação do disco de estreia?
Desconhecia de tanto reconhecimento por parte do público ou da crítica. Nós, até à data somos mais uma banda local, de Braga. O nosso reconhecimento fora da localidade, na minha opinião, acho ser pouco. É verdade, que depois do Ep fomos tocar em mais sítios fora da localidade, partilhamos palco com diversas bandas e isso é muito enriquecedor. Mas se formos perguntar pela rua quem são os Bed Legs, não haverá muita gente que os reconheça. Esperemos que esse dia chegue e rápido!(risos)
Com canções que vão beber a alguns dos fundamentos essenciais do indie rock de garagem, com um travo blues fortemente eletrificado e algo psicadélico, assente em guitarras angulares, feitas de distorções e aberturas distintas, onde não falta um piscar de olhos ao punk impregnado com indisfarçável groove, com a bateria a colar todos estes elementos com uma coerência exemplar e uma voz sentida e imponente, a dar substância e cor às melodias, Black Bottle é, na minha opinião, uma estreia particularmente inspirada. Que tipo de anseios e expetativas criaram para este primeiro passo de um percurso que espero que venha a ser longo?
O primeiro anseio em relação ao álbum foi lança-lo. Houveram oportunidades anteriores mas só agora o fizemos. Isto, claramente, criou ansiedade porque como artistas gostamos de estar sempre em constante criação e ter de esperar para lançar um álbum mais tarde, cria instabilidade na banda e no seu percurso. É uma questão de gestão das emoções, da razão e de circunstância. Em relação às expectativas, estamos satisfeitos com o resultado do álbum e só queremos que ele circule pelas mãos da gente.
Confesso que o que mais me agradou na audição de Black Bottle foi uma feliz simbiose entre a riqueza dos arranjos e a energia e imponência com que eles surgiam nas músicas, conferindo à sonoridade geral do disco uma sensação, quanto a mim, festiva e solarenga e onde, apesar do esplendor das guitarras, a percussão tem também uma palavra importante a dizer, já que o baixo e a bateria conduzem, frequentemente, o processo melódico, de modo a replicar uma sonoridade que impressiona por um certo charme vintage. Talvez esta minha perceção não tenha o menor sentido mas, em termos de ambiente sonoro, aquilo que idealizaram para o álbum inicialmente, correspondeu ao resultado final, ou houve alterações de fundo ao longo do processo? Em que se inspiraram para criar as melodias?
O álbum foi-se compondo até aos últimos momentos de gravação. Havia cerca de pouco mais de meio álbum composto até irmos para estúdio. Houveram temas que acabamos em gravações. Já tinhamos ideia do sentimento ou temática que queriamos dar a esses temas incompletos mas foi em gravação que descobrimos soluções. Trabalhamos bem com tempo mas também sobre pressão(risos). Existem arranjos que fazemos logo nos primeiros momentos de composição e outros que fazemos em estúdio. Mas este álbum foi pouco enfeitado, é cru. As inspirações que nos levaram a criar são as nossas emoções, as nossas experimentações, a nossa técnica, os nossos gostos, as nossas referências, as nossas ideias, a nossa vida.
Black Bottle, como opção para título do vosso primeiro álbum, sabe-me, no modo como soa, a uma espécie de estado de alma colorido, apesar do Black e vincadamente boémio, uma daquelas entradas em grande no palco em início do espetáculo, de forma tão ruidosa que desperta logo o espetador mais incauto. Acredito que queiram ser levados a sério pela crítica e que sejam extremamente cuidadosos e profissionais na vossa dinâmica de trabalho enquanto Bed Legs, mas a diversão, o arrojo e a rebeldia são também pilares essenciais do vosso estado de espírito enquanto banda, de certo modo ilustrado pelo curioso vídeo que ilustra Vicious, o single de apresentação do álbum?
Acima de tudo, é a diversão e a realização que nos move. Mas, conforme vamos avançando e o tempo vai passando, a infância na música e na vida vai se perdendo ou adulterando. Queremos manter a força das cores do início, mas o percurso vai escurecendo, a vida escurece. Como indivíduos, vamos ficando mais cicatrizados e isso reflecte-se nas nossas músicas. Este álbum é mais um lamento do que celebração. Mas mantém o vigor da nossa atitude. O vídeo é uma ilustração de momentos da nossa vida e também das que por nós passam. Não é assim tão distante da realidade mundana que chega a ser entediante. O nosso carnaval é que lhe dá cor e diversão.
Sempre senti uma enorme curiosidade em perceber como se processa a dinâmica no processo de criação melódica. Numa banda com vários elementos, geralmente há sempre uma espécie de regime ditatorial (no bom sentido), com um líder que domina a parte da escrita e, eventualmente, também da criação das melodias, podendo os restantes músicos intervir na escolha dos arranjos instrumentais. Como é a química nos Bed Legs? Acontece tudo naturalmente e de forma espontânea em jam sessions conjuntas, ou um de vocês domina melhor essa componente?
Geralmente, é em jams que fazemos juntos. O instrumental forma-se e a voz entra a seguir. A partir da improvisação e sugestão cria-se a temática da música. Normalmente, sou eu quem escreve as letras. Quando encalho na escrita peço ajuda ao resto da banda. Existem letras do Ep e de temas antigos que são do Hélder ou escritas em conjunto.
Por vezes, trazemos ideias e riffs de casa que propomos ao resto da banda. Se a banda gostar, começamos a trabalhar na ideia ou tema. Neste álbum, existem riffs e propostas de todos os elementos da banda.
Olhando um pouco para a escrita das canções, parece-me ter havido uma opção pouco ficcional de escreverem sobre aquilo que vos rodeia, em vez de não inventarem, apenas e só e na íntegra, histórias e personagens imaginárias, com as quais nunca teriam à partida de se comprometer. Acertei na mouche ou o meu tiro foi completamente ao lado?
Acertaste. Tudo o que está escrito em cada tema foi vivido ou ainda está a ser vivido. “Black Bottle” é um álbum cru e sincero que canta sobre a vida na estrada, vícios, amor e mentiras, decadência, desgostos amorosos, promiscuidade, incompatibilidade, frustração, luta e vontade de renascer, de tentar de novo. As relações que deixaram cicatrizes, os inúmeros copos e garrafas vertidas, o ficar e o partir, os romances-mentira, as escolhas e decisões feitas ou pendentes, o rastejar na lama, o comer na lama, o dormir na lama. Tudo isto, é a fórmula do cocktail da Black Bottle. O álbum fala sobre um passado atribulado, um presente incerto e um futuro fora de alcance. Existe muito amor e vivências dedicados a estas canções. Muito sangue derramado para dentro da garrafa. Sangue espesso, preto. A "Black Bottle" navega sobre águas negras como sugere a canção homónima do mesmo. É uma garrafa sem destino, sem rumo. Uma garrafa que emergiu do fundo do mar para dar de beber aos náufragos da vida, aos piratas do amor e aos descobridores do desconhecido.
Para terminar, como está a correr a promoção do disco? Onde podemos ver e ouvir os Bed Legs a tocar num futuro próximo?
Por enquanto, está a correr muito bem. Estamos a chegar mais longe do que antes. Começamos a entrar com mais facilidade nas rádios, televisão, revistas, blogs, magazines. Isto graças à nossa parceria com a Raquel Lains(Let's Start a Fire), que tem sido preciosa. Em relação a concertos de apresentação e divulgação, ainda estamos a tratar disso, juntamente com a Bazuuca(agência). Temos uma marcada em Lisboa, no Sabotage, a 20 de Fevereiro. Estejam atentos à nossa página do Facebook, brevemente divulgaremos as próximas datas. Esperamos por vocês na linha da frente. Rock on!