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Offa Rex - The Queen Of Hearts

Quinta-feira, 17.08.17

The Queen Of Hearts é o nome do primeiro álbum do projecto Offa Rex que reúne a cantora e multi-instrumentista britânica, Olivia Chaney, uma das melhores da sua geração e os norte-americanos The Decemberists, banda de topo da indie folk do outro lado do atlântico. É um alinhamento de onze canções cuja produção esteve a cargo de Tucker Martine (Modest Mouse, My Morning Jacket, Neko Case) e Colin Meloy. Foi gravado nos Martine’s studio em Portland e viu a luz do dia à boleia da insuspeita e conceituada Nonesuch Records.

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Trocas de mensagens no twitter entre a cantora e o grupo há alguns meses atrás e a descoberta de uma paixão mútua pela folk britânica do início da segunda metade do século passado, acabaram por ser o combústivel que inflamou a mente criativa deste conjunto de músicos para criar um disco que faz não só uma homenagem à herança de grupos como os Fairport Convention ou os Pentangle, mas que também nos oferece uma visão atual particularmente sensível e algo barroca de alguns dos melhores fundamentos da melhor folk. Assim, se o cravo e a voz sensível de Olivia, logo no tema homónimo, esclarecem o ouvinte acerca das principais permissas vintage de The Queen Of Hearts e se as cordas luminosas e o andamento de Blackleg Miner, o único tema cantado no disco por Colin Meloy, o vocalista dos The Decemberists, transporta-nos para um qualquer salão de festas de um sindicato de mineiros há meio século atrás, uma sensação também possível com a harmónica de Constant Billy (Oddington) / I’ll Go Enlist (Sherborne), já o dedilhar fortemente orgânico e contemplativo da guitarra de The Gardener e a tocante interpretação de Olivia do clássico The First Time I Ever Saw Your Face, da autoria do compositor inglês Ewan MacColl e que nos anos setenta já tinha sido revisitado pela americana Roberta Flack, oferecem a tal visão mais contemporânea, sem nunca defraudar o espírito tipicamente british do registo, potenciado ainda mais no timbre classicista do orgão que conduz The Old Churchyard.

Com letras que andam quase sempre à volta de histórias sobre personagens peculiares e do universo fantástico, The Queen Of Hearts está recheado de intensidade e boas canções, que apesar de conterem uma sonoridade algo estranha à banda de Portland, que baseou sempre o seu som na típica coutry-folk americana, foram exemplarmente recriadas e interpretadas pelo grupo, não só com a mescla instrumental apropriada, mas também, e principalmente, com o espírito e a soul muito precisa que uma autêntica carta de amor sentida à folk britânica exigia e que esta aliança aventureira batizada de Offa Rex conseguir redigir com extrema minúcia, astúcia, alma e sensibilidade. Espero que aprecies a sugestão...

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01. The Queen of Hearts
02. Blackleg Miner
03. The Gardener
04. The First Time Ever I Saw Your Face
05. Flash Company
06. The Old Churchyard
07. Constant Billy (Oddington) / I’ll Go Enlist (Sherborne)
08. Willie o’Winsbury
09. Bonny May
10. Sheepcock and Black Dog
11. To Make You Stay

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publicado por stipe07 às 14:21

Sufjan Stevens, Bryce Dessner, Nico Muhly And James McAlister – Planetarium

Quarta-feira, 14.06.17

Um dos registos discográficos que era aguardado com maior expetativa nas últimas semanas intitula-se Planetarium, um álbum conceptual sobre o sistema solar, que viu a luz do dia a nove de junho através da 4AD, com a assinatura dos músicos norte americanos Sufjan Stevens, Bryce Dessner, Nico Muhly e James McAlister. Com dezassete temas, o disco vinha a ser trabalhado pelo quarteto desde 2013, depois de uma performance no Brooklyn Academy Of Music, em Nova Iorque, mas já em 2011 Sufjan Stevens tinha sido convidado pelo compositor Nico Muhly a participar num projeto na galeria holandesa de arte e teatro Muziekgebouw, em Eindhoven.

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Planetarium assume em todas as suas notas uma gloriosa e cósmica viagem sonora pelos recantos do nosso sistema planetário, à boleia de um conjunto de canções inspiradas em diferentes planetas e corpos celestes, entre eles a nossa estrela, o Sol. É uma jornada que do rock progressivo à pop construída em redor de pianos melancólicos, aglutina também no seu âmago uma forte veia eletroacústica algo suave e adocicada, como se percebe, por exemplo, em Mercury, um dos grandes instantes do registo, já com direito a um vídeo a preto e branco, assinado por Deborah Johnson.

Ao longo destas jornada somos convidados a escutar uma espécie de ópera cósmica, com as diferentes canções a não viverem isoladamente, mas agregadas num todo sustentado por uma míriade instrumental extensa, que entre o orgânico e o sintético, o acústico e o elétrico,  balançam-se entre si e formam um alinhamento harmonioso por onde palpitam letras de forte cariz metafórico, que tanto são cantadas por vozes modificadas e replicadas roboticamente, mas também num registo o mais cru e humano possível.

Jupiter será talvez o tema que melhor condensa a filosofia sonora subjacente a Planetarium, mas quer a teia intrincada de efeitos e arranjos, principalmente os de sopro, em Uranus e o clima enérgico, futurista e monumentalmente percurssivo de Mars, são também composições que nos colocam eficazmente bem no centro deste recanto da nossa galáxia, sem necessidade de escafandro ou de uma veículo mais rápido que a velocidade da luz. Por outro lado, Sun ou Black Energy proporcionam instantes mais serenos e intimistas, bem à medida da imensidão e do silêncio que caraterizam o vazio cósmico.

Planetarium é uma odisseia sonora por onde confluem vários sons da mais diversa estirpe e de diferentes proveniências, mas todos cheios de vida e a criarem verdadeiras telas sonoras de um sistema solar idealizado por Stevens, Dessner, Muhly e McAlister. Apesar da dimensão universal, estes mais de setenta minutos de música foram entalhados no ventre da terra mãe e dela brotaram para se tornarem na banda sonora perfeita de um território tremendamente sensorial, assente numa arrebatadora coleção de trechos sonoros cuja soma resulta numa grande obra linda e inquietante. Espero que aprecies a sugestão...

Sufjan Stevens, Bryce Dessner, Nico Muhly And James McAlister - Planetarium

01. Neptune
02. Jupiter
03. Halley’s Comet
04. Venus
05. Uranus
06. Mars
07. Black Energy
08. Sun
09. Tides
10. Moon
11. Pluto
12. Kuiper Belt
13. Black Hole
14. Saturn
15. In The Beginning
16. Earth
17. Mercury

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publicado por stipe07 às 15:06

Father John Misty - Pure Comedy

Sexta-feira, 07.04.17

Father John Misty já foi visto como um reverendo barbudo e cabeludo, que vagueava pela noite americana a pregar o evangelho segundo Neil Young. Encharcado, pegava no violão e cantava sobre cenas bíblicas, Jesus e João Batista e a solidão. Hoje, este ser único não é só um artista, é uma personagem criada e interpretada por Josh Tillman, antigo baterista dos Fleet Foxes, e com uma já respeitável carreira a solo, que acaba de ver um novo capítulo. O mais recente registo discográfico de Joshua Tillman chama-se Pure Comedy, chega aos escaparates hoje, dia sete de abril e assume-se como um portentoso documento sonoro, uma ode aquele lado mais charmoso e clássico da pop que quer ser máquina de transmissão de tudo aquilo que o amor enquanto evidência feliz ou palco dos mais inquietantes e perigosos devaneios oferece, quer sejam realidades empíricas e fisicamente passíveis de provocar reparo ou dano, ou sensações psiquícas que muitas vezes incendeiam, para o bem ou para o mal, até o ser mais empedrenido que habita à face da terra.

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Num disco preenchido então, e como não podia deixar de ser, com canções de amor bonitas e sentidas, as mesmas encontram-se repletas de orquestrações opulentas e com um grau de refinamento classicista incomensuravelmente belo. Chega a ser inquietante o modo impressivo e realista como Joshua Tillman se senta ao piano ou coloca a viola no regaço e toca e canta emotivamente sobre as agruras, anseios, inquietações inerentes à condição humana, mas também as motivações e os desejos de quem usa o coração como veículo privilegiado de condução, orientação e definição de algumas das metas imprescindíveis na sua existência. E, como é do senso comum, somos muitos aqueles que nos deixamos conduzir, quase sempre, pelo coração em vez da razão. E se há momentos em que desconfiamos que seria bem melhor a materialização de opções mais racionais e até, quem talvez não saiba o que diz, conscientes, a música de Father John Misty é aquele tónico que nos deixa acreditar que pode ser possível confiar que o nosso modus operandi também poderá ser válido na obtenção dos melhores caminhos e atalhos principais e secundários para a suprema felicidade ou, em último caso, para a redenção pessoal.

É particularmente arrepiante o modo como no piano do tema homónimo, já com um maravilhoso vídeo realizado por Matthew Daniel Siskin, este verdadeiro sex symbol indie e estrela improvável faz uma sátira feroz e irónica à América atual, numa canção de inegável beleza e melancolia, que se não é a reinvenção da roda contém uma saudável dose de letargia que garante sucessivas audições, por dias a fio. Logo a abrir o disco, acaba por ser um dos mais belos exemplos do modo como Tillman serve-se do piano para expressar sentimentos que podem causar algum desconforto na mente dos mais desconfiados sobre as suas reais intenções, além de afagarem, com notável eficácia, as dores de quem se predispõe a seguir sem concessões a sua doutrina. E mais adiante, em Things That Would Have Been Helpful To Know Before The Revolution, essas mesmas teclas conseguem fazer-nos debruçar, numa fase inicial, de encontro ao nosso âmago, para depois, juntamente com um edifício instrumental heterogéneo e exuberante, fazer-nos desabrochar de novo, mas agora com uma postura final mais firme e confiante.

Mas as cordas também são um veículo imprescindível para o arquétipo sonoro de Tillman e se em Ballad Of The Dying Man entrelaçam-se com o piano para juntos conjurarem juras de amor mútuo e inseparável, já em Total Entertainment Forever constroem, novamente juntos, uma peça sonora vigorosa e pulsante, duas sensações luminosas ampliadas pela presença do trompete, que intercala maravilhosamente com a voz, numa mescla que permite um suave levitar, tal é o rol de emoções que transmite e a intensidade das mesmas. 

Até ao ocaso do disco, Father John Misty não abranda no sermão e na afabilidade com que nos faz espontaneamente refletir sobre a nossa perene existência. E da osmose contemplativa de Birdie, canção que nos faz divagar ao sabor de uma fina corrente de uma enigmática luz que dela exala, ao sentido sabor a despedida de uma cidade que não deixa ninguém indiferente, em Leaving LA, passando pelo profundo sabor a redenção que transborda de When The God OF Love Returns There ll Be Hell To Pay, são vários os momentos altos de um alinhamento que não deixa também de conter um estrondoso frenesim sensual e que aponta novos faróis a um dos artistas mais distintos e criativos da pop atual e que hoje e como nunca o fez antes, instiga, hipnotiza e emociona. 

Sedutor, cativante, profundamente engenhoso e com todos os atributos para ser um verdadeiro diabo vestido de anjo, Tillman aprofunda neste seu novo trabalho, que é já, claramente, um dos melhores discos do ano, o refinado e oportuno sentido de humor que tão bem o carateriza e a sagacidade das suas letras, cada vez mais inteligentes e enigmáticas. E Father John Misty leva a cabo esta demanda com um elevado sentido críptico e desafiante, já que não é óbvia, em alguns instantes, a descodificação célere das suas reais intenções relativamente a todos aqueles que se deixam inebriar pelos seus sermões e fazer parte de um rebanho que se assanha sempre que o pastor investe no seu tema recorrente, o amor. Espero que aprecies a sugestão...

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1. Pure Comedy
2. Total Entertainment Forever
3. Things It Would Have Been Helpful to Know Before the Revolution
4. Ballad of the Dying Man
5. Birdie
6. Leaving LA
7. A Bigger Paper Bag
8. When the God of Love Returns There'll Be Hell to Pay
9. Smoochie
10. Two Wildly Different Perspectives
11. The Memo
12. So I'm Growing Old on Magic Mountain
13. In Twenty Years or So

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publicado por stipe07 às 00:01

Efterklang And The Happy Hopeless Orchestra – Leaves: The Colour Of Falling

Sexta-feira, 25.11.16

Foi através da Tambourhinoceros que os dinamarqueses Efterklang, formados por Casper Clausen, Mads Christian Brauer e Rasmus Stolberg, regressaram aos discos, fazendo-o com Leaves: The Colour Of Falling, um álbum de música clássica onde juntamente com a The Happy Hopeless Orchestra e alguns vocalistas conterrâneos de renome, nomeadamente a lendária Lisbeth Balslev (soprano), Morten Grove Frandsen (contratenor), Katinka Fogh Vindelev (soprano) e Nicolai Elsberg (baixo), dão vida a lindíssimos poemas da autoria de Ursula Andkjær Olsen.

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Exímios no modo como nos oferecem sons criados com forte inspiração em elementos paisagísticos, este trabalho tem uma sonoridade única e peculiar e surge na sequência de outros projetos que esta consagrada banda dinamarquesa tem vindo a levar a cabo ultimamente, dos quais se destacam a participação na banda sonora do filme An Island e a criação do ambiente sonoro do restaurante Noma, um dos mais famosos da Dinamarca.

Ao longo da carreira, o som deste grupo não foi sempre algo estanque e a opção por um alinhamento de contornos eminentemente eruditas acaba por ser um passo lógico depois de uma fase feliz que assentou na mistura de sonos típicos do rock mais progressivo com a eletrónica de cariz mais ambiental. Tem sido, portanto, um percurso cheio de períodos de transformação, que oscilaram entre momentos minimalistas e outros mais expansivos e este Leaves: The Colour Of Falling acaba por, à boleia de uma orquestra, fazer uma espécie de súmula de toda uma amálgama de elementos e referências sonoras, como se todo este arsenal instrumental servisse para, no momento certo para, assim como uma linha de costura, unir pedaços separados e que precisavam de ser agregados.

Assim, se em Imagery Of Perfection somos conduzidos para lugares calmos e distantes, algo místicos, já o single City Of Glass parece querer derrubar tratados e convenções rumo a uma reunificação universal onde tudo é transparente e faz realmente sentido, com a voz de Morten em Spider's Web e o som dos metais e dos coros em The Colour Not Of Love a terem aquela cor e brilho que nos fazem levitar, começando assim um disco cheio de sentimos, emocionalmente profundo e que quando termina deixa-nos com a sensação que acabou-nos de passar pelos ouvidos algo muito bonito, denso e profundo e que, por tudo isso, deixou marcas muito positivas e sintomas claros de algum deslumbramento perante a obra. Espero que aprecies a sugestão... 

Efterklang And The Happy Hopeless Orchestra - Leaves The Colour Of Falling

01. Cities Of Glass
02. Imagery Of Perfection
03. Spider’s Web
04. The Colour Not Of Love
05. Leaves
06. Stillborn
07. Abyss
08. No Longer Me
09. Eye Of Growth
10. Wind

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publicado por stipe07 às 18:29

Noiserv - 00:00:00:00

Quinta-feira, 27.10.16

Uma das mentes mais brilhantes e inspiradas da música nacional chama-se David Santos e assina a sua música como Noiserv. Vindo de Lisboa, Noiserv tem na bagagem um compêndio de canções que fazem parte dos EPs 56010-92 e A Day in the Day of the Days, estando o âmago da sua criação artística nos álbuns One Hundred Miles from Thoughtless Almost Visible Orchestra, adocicados pelo DVD Everything Should Be Perfect Even if no One's Therehavendo, a partir de amanhã, mais um compêndio de canções para juntar a esta lista. Refiro-me a um trabalho intitulado 00:00:00:00, incubado quase de modo espontâneo e sem aviso prévio, mesmo para o próprio autor, após uma fatalidade originada por um jogo de basquetebol no ocaso do último inverno e que limitando fisicamente Noiserv, devido à fratura de um pé, conduziu-o para a frente das teclas de um piano. Ficaram, assim, lançados os dados para este novo registo que é mais um verdadeiro marco numa já assinalável discografia, ímpar no cenário musical nacional, de um artista que nos trouxe uma nova forma de compôr e fazer música e que gosta de nos deixar no limbo entre o sonho feito com a interiorização da cor e da alegria sincera das suas canções e a realidade às vezes tão crua e que ele também sabe tão bem descrever.

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Descrito como a banda sonora para um filme que ainda não existe, mas que pode muito bem servir de mote para um nosso, desde que o queiramos, 00:00:00:00 é uma daquelas armadilhas em que todos nós gostaríamos de cair, caso apreciemos as sensações e o modo como certas canções comunicam connosco, fornecendo-nos inspiração para os filmes que na nossa mente podemos, com elas, produzir. E este é o atributo maior de um trabalho oposto do seu antecessor, que era feito de longos títulos e sonora e visualmente bastante colorido e diversificado, por ser instrumentalmente sustentado num arsenal de instrumentos das mais inusitadas proveniências, muitos deles autênticos brinquedos e porque graficamente também obedecia a essa premissa. 00:00:00:00 é absolutamente minimal, incrivelmente simples, estupendamente crú e, por isso, aberto e (de outro modo) desafiante no modo como nos convida a exercitarmos a tal apropriação acima referida. 

Assim, se Almost Visible Orchestra contava histórias, algumas delas inspiradas em eventos reais, fazendo-o de modo concreto e incrivelmente realista, agora Noiserv sobe um patamar acima no arrojo que coloca no modo como se quer relacionar com os seus seguidores, oferecendo-lhes o inesperado, algo que à primeira audição parece o oposto daquilo a que sempre os habituou. Mas o que ele realmente faz é, obedecendo à filosofia conceptual da sua carreira e, certamente, da sua personalidade, que sempre buscou, deliciosamente, a melancolia, os afetos, a emotividade, a saudável ingenuidade genuína e o louvor do bem e do encontro da felicidade concreta através da experimentação do bem comum, desafiar-nos a darmos-lhe as mãos e sermos nós também, através da audição deste disco, construtores e definidores deste ideário, imaginando as tramas e a mensagem subjacente a cada um destes oito temas, cujos títulos podem muito bem ser o numeral referente a cada um dos takes por nós idealizados.

É curioso constatar o acerto temporal em que 00:00:00:00 chega aos escaparates, fazendo-o em pleno outono tardio, dando-nos tempo para, vagarosamente, selecionarmos toda a trama, cenários e personagens, que depois desfilarão perante nós e perante quem comungue connosco todo o calor que, potencialmente, este alinhamento contém e que o inverno prestes a chegar certamente exigirá e agradecerá que seja vivido.

Confesso que já me apropriei de Sete, o meu número preferido, um doce e tocante instrumental, com um imenso travo a melancolia, perigoso e de lágrima fácil para todos aqueles que habitualmente divagam e exorcizam ao som de um lindíssimo piano, para primeira cena do meu filme. Convido-vos a fazerem o mesmo e a deixarem-se levar, sem reservas, por este universo bucólico bastante impressivo e sentimentalmente rico, que marca um regresso aos discos imperdível e claramente inspirado de um músico, intérprete e compositor único no nosso panorama musical. Lá no alto, sei que alguém já o faz. Espero que aprecies a sugestão...

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Três

Sete

Seis

Quinze

Onze

Vinte e Três

Catorze

Dezoito

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publicado por stipe07 às 21:09

Soulsavers – Kubrick

Segunda-feira, 04.01.16

Do inspirador video do clássico The Universal dos Blur ao excerto de que Frank Ocean se apropriou, devidamente autorizado, de Eyes Wide Shut para o video do seu tema LoveCrimes, o universo da pop e do rock está recheado de créditos onde se pode conferir o nome de Stanley Kubrick, um dos produtores visuais mais inspirados e inspiradores e influentes do nosso tempo, apesar de já ter falecido e desta contemporaneidade cultural que nos assola constantemente com novidades e propostas de relevo, mas onde poucos autores se conseguem destacar e atingir uma mestria que os torne únicos e inconfundíveis, detentores de marcas identitárias próprias verdadeiramente inéditas e incomparáveis.

A obra de Stanley Kubrick é um edifício deslumbrante, que merece ser apreciado com particular devoção e não só por causa de Spartacus (1960), The Shining (1980), Full Metal Jacket (1987), ou 2001 : A Space Odissey (1968), além do filme referido acima, mas também devido ao modo como a música sempre foi uma componente essencial dos seus filmes. Depois de no início de outubro último a dupla Soulsavers de Rich Machin e Ian Glover ter editado um disco a meias com Dave Gahan, dos Depeche Mode, intitulado Angels & Ghosts, poucas semanas depois foi a vez de ver a luz do dia Kubrick, pouco mais de trinta minutos que homenageiam o malogrado cineasta norte americano, à boleia de oito instrumentais que replicam, de certo modo, a típica atmosfera visual e sonora do universo cinematográfico de Kubrick e cujos títulos são inspirados em personagens das obras mais significativas do cardápio do realizador.

Se a mercurial e exuberante DeLarge advém do segundo nome de Alex, o sociopata que protagoniza A Clockwork Orange (1971), já a contemplativa e iluminada canção Dax relaciona-se com o nome do coronel à volta do qual gira o argumento de Paths Of Glory (1957), protagonizado por Kirk Douglas. Estes são apenas dois exemplos do ideário sonoro detalhado e feliz que se pode escutar nesta obra sonora obrigatória não só para os verdadeiros apreciadores da cinematografia de Stanley Kubrick, mas também para todos aqueles que gostam de se deixar envolver por peças sonoras que os embalem num casulo de seda, criadas por uma dupla que possui uma soul claramente envolvente e uma espiritualidade invulgar e introspetiva, dois aspetos que transbordam deste conjunto de melodias doces com um leve toque clássico e que, tal como um filme de Kubrick, se escutam e se vêem com invulgar fluidez. Espero que aprecies a sugestão...

Soulsavers - Kubrick

01. DeLarge
02. Clay
03. Torrance
04. Dax
05. Joker
06. Hal
07. Mandrake
08. Ziegler

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publicado por stipe07 às 18:38

André Barros - Soundtracks Vol. I

Quarta-feira, 01.07.15

Estudante de direito, André Barros resolveu, em boa hora, aprender a tocar piano, de modo autodidata e numa idade considerada por muitos como tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. O passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumou à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar.

Particularmente apaixonado por música instrumental, André Barros sempre adorou escutar bandas sonoras e a facilidade com que tocou um dos temas de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Yann Tiersen, num piano acústico de uma amiga, acabou por ser o click final para o arranque de uma carreira, feita muitas vezes de improviso e que acaba de ter um enorme fòlego intitulado Soundtracks Vol. I, o seu rerceiro registo de originais e que, gravado entre Lisboa e Paço de Arcos, viu a luz do dia a dezoito de maio, por intermédio da Omnichord Records.

Soundtracks Vol. I contém, entre outros, os temas do filme Our Father, de Linda Palmer, que renderam ao autor um galardão para melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards e que, depois de ter alcançado boas críticas e alguns prémios em vários festivais, chegou também à edição de 2015 do Festival de Cannes.

Músico de excelência e exímio criador de arranjos, quer de teclas quer de cordas, em Soundtracks Vol. 1 André Barros oferece-nos vários temas criados essencialmente para curtas metragens e documentários, com Between Waves a ser a única canção que não é da sua autoria. Refiro-me a um tema de Yuchiro Nakano, com arranjos da autoria de André Barros e que fez parte de uma curta-metragem com o mesmo nome. Depois, há também uma excelente composição intitulada Gambiarras, que conta com a participação especial do escritor Valter Hugo Mãe, que escreveu um poema que o próprio leu, além de uma canção intitulada Flowers On Your Skin, criada propositadamente para o espetáculo de dança contemporânea Short Street Stories.
Trabalho comtemplativo, relaxante e intimista, Soundtracks Vol. I é um admirável compêndio de trechos sonoros, feitos com cordas e pianos que se unem entre si com uma confiança avassaladora, tornando-se absolutamente recompensadores pelo modo como nos transmitem uma paz de espírito genuína, ao memso tempo que conseguem ajudar-nos a materializar visualmente os diferentes cenários que as composições pretendem recriar nos diferentes filmes em que são utilizados. Este é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da ação dos filmes e documentários que utilizam as várias composições do alinhamento, contemplando-os usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião, música com cheiros e cores muito próprios.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental e tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Confere a entrevista que André Barros concedeu a Man On The Moon e espero que aprecies a sugestão...

Gravado em Lisboa e em Paço de Arcos, Soundtracks Vol. 1 é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da ação dos filmes e documentários que utilizam as várias composições do alinhamento, contemplando-os usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião, música com cheiros e cores muito próprios. Como surgiu a ideia de gravar um disco assim?

Agradeço imenso estas palavras! Diria que não houve, inicialmente, qualquer intenção de gravar um disco assim pois aquando da composição das várias bandas sonoras a que estes temas pertencem (portanto, desde final de 2013) eu não antevia que, juntamente com a editora, viríamos posteriormente a tomar a decisão de os compilar num CD e passar a ter esta mostra do meu trabalho nesta área dividida por volumes. No entanto, depois de termos os temas prontos, depois de terminadas as bandas sonoras, tudo fez sentido e dado que continuarei a trabalhar com afinco neste mundo da música para imagem, então que melhor forma de o partilhar com o público do que criar estas compilações ao longo do tempo?

Pessoalmente, penso que Soundtracks Vol. 1  tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Quais são, antes de mais, as tuas expetativas para este teu novo fôlego no teu projeto a solo?

É extraordinário sentir isso, e sinto-me muito grato por até hoje ter recebido um bom feedback deste trabalho de que tanto me orgulho. Espero tão somente que possa continuar a partilhar as minhas criações com as pessoas, seja gravando mais bandas sonoras, seja pelos concertos, seja pelo lançamento de um novo álbum de originais (que não para filmes). Para o fazer, certamente que terei de influenciar positivamente quem escuta o meu trabalho para que possa ter as condições para continuar, e estou convicto de não defraudarei as expectativas de quem, tão gentilmente, tem seguido o meu percurso.

Ouvir Soundtracks Vol. 1 foi, para mim, um exercício muito agradável e reconfortante que tenho intenção de repetir imensas vezes, confesso. Intrigante e melancólico, é realmente um documento que não tem apenas as teclas do piano como protagonistas maiores do processo melódico, com as cordas, quer de violas, quer de violinos, a serem, também, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem. Esta supremacia do cariz fortemente orgânico e vivo que esta miríade instrumental constituída por teclas e cordas por natureza confere à música que replica, corresponde ao que pretendeste transmitir sonoramente neste trabalho?

Sem dúvida! Estes temas, todos eles, vivem muito da intenção aquando da sua interpretação, e não apenas de todo o aparato técnico que montamos quando os criamos em estúdio. Este é um aspecto crucial que influenciará certamente a escuta atenta de quem põe o disco a tocar, é também um aspecto que vou tentando aprimorar a cada trabalho que vou produzindo, sendo que por vezes se pode tornar um desafio enorme partilhar com os músicos exactamente a intenção que pretendo que coloquem em cada frase, mas tudo isto é uma aprendizagem e felizmente vejo-me rodeado de músicos bem talentosos e maduros, apesar da sua (nossa!) juventude!

Em traços gerais, como foram sendo selecionados os filmes e documentários onde se podem escutar estas canções? Recebeste convites para participares na banda-sonora ou tu próprio abordaste alguns realizadores com essa intenção?

Até agora, todos os filmes nos quais tive o prazer de participar com o meu trabalho (tirando somente produções para filmes institucionais e corporativos/publicidade) surgiram graças ao meu trabalho de pesquisa (uma parte fundamental da minha actividade!) que desenvolvo incessantemente, procurando projectos de filmes em fases de pré-produção para os quais acha uma futura possibilidade de vir a integrar enquanto compositor. Uma vez captado o interesse de um realizador/produtores, desenvolvo os contactos por forma a mostrar que consigo atingir a sonoridade que pretendem, enviando demos com base em guiões ou outro material já disponível, até que (nos casos em que fui bem sucedido) recebo a confirmação do outro lado para integrar oficialmente a equipa de produção.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental. Houve, desde o início do processo de gravação, uma rigidez no que concerne às opções que estavam definidas, nomeadamente o tipo de sons a captar no piano e a misturar com as cordas e as vozes, ou durante o processo houve abertura para modelar ideias à medida que o barro se foi moldando?

Sim, há sempre uma certa flexibilidade que me dão durante o processo de amadurecimento dos temas, e que me permite experimentar novos sons ou novos efeitos que poderão enriquecer o resultado final do trabalho. Acredito que tais pormenores, e claro muitos deles apenas perceptíveis se escutados atentamente, acabam por contribuir para uma identidade mais vincada de cada projecto, ajudando-me a enriquecer e a complementar uma melodia.

Além de ter apreciado a riqueza sonora natural, gostei particularmente do cenário melódico das canções, que achei muito bonito. Em que te inspiras para criar as melodias?

Muito obrigado! De facto, tento sempre que o meu trabalho tenha uma boa estrutura melódica pois acabou por ser esta a razão que me levou a entrar no universo da música, da composição... é muito inglório atribuir a este ou outro aspecto/acontecimento o papel de  fonte de inspiração pois será sempre uma resposta subjectiva e incompleta, na medida em que sinto que há uma infinidade de factores de certamente contribuirão para a génese do meu trabalho de composição, muitos deles claramente intuitivos e difíceis de racionalizar!

Valter Hugo Mãe escreveu propositadamente o poema de Gambiarras, um tema em que ele próprio também colabora com a voz. Como surgiu a possibilidade de trabalhar com este escritor ilustre no disco? De quem partiu a iniciativa desta colaboração?

Eu conheci o Valter e enderecei-lhe o convite, sendo que já vinha a amadurecer este tema há algum tempo, e com ele também a ideia de cruzar a poesia (ainda que não declamada, apenas lida) com o este meu trabalho. E quem melhor do que o Valter, que aliás tem imensas colaborações com projectos musicais, para me ajudar a concretizar este devaneio?

Adoro a composição Wounds Of Waziristan, por sinal o single do disco. O André tem um tema preferido em Soundtracks Vol. 1?

É-me sempre difícil responder a esta questão, pois tenho muito carinho por todos os temas do álbum... mas se realmente tivesse de eleger um e distingui-lo como uma espécie de “single” do disco, de facto escolheria precisamente o Wounds of Waziristan pois trata-se do primeiro tema que alguma vez compus para filme, logo terá sempre um espaço especial no meu trajecto e nas minhas memórias!

Em relação ao futuro, após Soundtracks Vol. 1, já está definido o próximo passo na tua carreira?

Continuar a trabalhar nesta área das bandas sonoras pois, para além de me dar imenso prazer, dá-me também um certo conforto financeiro para que me possa continuar a aventurar sem receios nesta indústria! Continuar com os concertos de apresentação tanto deste álbum como do anterior e ir pensando em temas para um eventual álbum a solo (isto é, que não de temas para bandas sonoras).

Em tempos, quando estudavas Direito, resolveste aprender a tocar piano, pelos vistos de modo autodidata, numa idade que muitos podem considerar tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. Como se deu esse click?

Sim! Agradeço a simpatia. Eu já ouvia imensa música instrumental e nomeadamente de bandas sonoras pela altura em que estava perto de terminar o curso de Direito, pelo que um dia lembrei-me de tentar tocar um dos temas da banda sonora do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” de Yann Tiersen... pesquisei no Youtube como tocar o tema e pedi a uma amiga que me deixasse tentar fazê-lo num piano acústico que ela tinha em casa. Quando percebi que o fiz com relativa facilidade, apaixonei-me de imediato pelo toque e pela sonoridade do piano, daí até comprar um piano digital passaram uns dias e desde logo me aventurei no improviso até construir os meus temas!

Depois, o passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumaste à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar. Como é, em traços gerais, o ambiente nesse estúdio? Como foi essa experiência?

Sim, estive naquele estúdio maravilhoso durante 3 meses, no Verão de 2012. Foi uma experiência inesquecível, aprendi imenso, contactei com músicos e técnicos extraordinários e seria ridículo não dizer que foi o concretizar de um sonho poder partilhar aquele ambiente com músicos e projectos que tanto admiro. São todos extremamente profissionais e pessoas muito dedicados a esta arte. Reina a calma e a boa disposição e procura-se sempre a perfeição sonora respeitando-se todo e cada instrumento e músico para que transpareça nas gravações a paixão que se sente pelo que fazem.

 

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publicado por stipe07 às 21:32

Peter Broderick - Colours Of The Night

Sexta-feira, 05.06.15

Gravado em Lucerna, na Suiça e editado pela Bella Union a vinte e sete de abril, Colours Of The Night é o novo trabalho discográfico de Peter Broderick, um músico norte americano, natural de Portland e que nos oferece mais dez canções que são uma colecção intimista de experiências vocais e líricas, que confirmam o ambiente sonoro predileto do autor.

Etéreo e feito com candura e suavidade, permitindo-nos usufruir de um silêncio sonoro, nem sempre disponível na imensidão de propostas que nos chegam aos ouvidos diariamente, Colours Of The Night é aquele disco que faltava ao lado da tua mesa de cabeceira, mesmo junto do mais recente best seller do teu escritor preferido. Com a participação especial de alguns músicos suiços com quem dividiu belíssimos instantes sonoros espontâneos e com canções como Red Heart ou o tema homónimo que nos mergulham num universo acústico folk particularmente emotivo e profundo, muito do agrado deste músico, Colours Of The Night materializa o período mais fulgurante e expressivo da carreira do autor, que neste álbum sonoramente amplia as suas experiências e as suas virtudes, quer vocais quer experimentais, servindo-se smepre do piano como a arma de arrmesso primordial e o grande trunfo do processo de composição, mas dando também luz verde para que as cordas também tenham o protagonismo devido.

É claramente percetível como ao longo do álbum Broderick transpira confiança e como esta simbiose com músicos com os quais nunca tinha trabalhado resultou na perfeição. A guitarra delicada e as harmonias frágeis da já citada Red Heart, apresentam-nos essa colaboração estreita e alicerçam as fundações de uma plenitude sonora que será transversal a todo o alinhamento, que mesmo o modo pouco ortodoxo como The Reconnection sustenta o seu ritmo ou a postura vocal em If I Sinned, dois dos momentos mais curiosos de Colours Of The Night, não colocam em causa. Já os belos arranjos, as subtis mudanças de ritmo e a delicadeza pueril de Our Best, a toada afrobeat de One Way e os ecos de One Time, entram diretamente para a lista dos melhores instantes sonoros com a chancela de Broderick.

Colours Of the Night promete uma noite relaxada a tranquila. Adormecer a meio da sua adição acaba por ser uma benesse já que até ao ocaso usufruimos de uma banda sonora excelente para conduzir a nossa mente até ao mundo dos nossos sonhos mais desejados, prometendo uma noite repleta de emoções agradáveis, à boleia de um silêncio sonoro, nem sempre disponível na imensidão de propostas que nos chegam aos ouvidos diariamente. Espero que aprecies a sugestão...

Peter Broderick - Colours Of The Night

01. Red Earth
02. The Reconnection
03. Colours Of The Night
04. Get On With Your Life
05. If I Sinned
06. Our Best
07. One Way
08. On Time
09. More And More
10. Rotebode

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publicado por stipe07 às 21:32

digitalanalogue - Be Embraced, You Millions

Sexta-feira, 01.05.15

Be Embraced, You Millions!

Membro dos escoceses Broken Records, Ian Turnbull também tem um belíssimo projeto a solo intitulado digitalanalogue, uma das novas coqueluches da Song By Toad, Records, de Matthew Young e que editou no passado dia 16 de maio Be Embraced, You Millions, um extraordinário compêndio de treze canções que resultaram numa obra de arte que balança entre a dream pop e a música clássica e onde o piano, a viola acústica e uma bateria eletrónica são os grandes protagonistas.

Delicado e envolvente, Turnbull cria peças instrumentais únicas, que emocionam facilmente os mais incautos e de lágrima fácil, alicerçadas, geralmente, num piano adulto e jovial, que vai transitando entre o orgânico e o sintético, à volta do qual gravitam alguns arranjos mais ou menos implicítos, com particular destaque parao diálogo entre uma criança e uma avó em NO.99 (I Love To Go A-Wandering) e cordas que adivinham um clímax sónico, criando uma atmosfera no mínimo encantadora.

Confessadamente autobiográfico, Be Embraced You Millions é declaradamente inspirado em Gavin Bryars, Brian Eno, ou o mais contemporâneo Gonzales e foi a terapia que Turnbull encontrou para superar um passado recente menos feliz, nomeadamente entre 2012 e 2013, período da sua existênciap pessoal conturbado, em que foi pela primeira vez pai e teve dificuldades em conciliar essa novidade com as exigências profissionais musicais e a doença e morte da sua mãe. Cada um dos treze temas é sobre uma pessoa ou evento específico desse período e particularmente cinematográfico. A música de digitalanalogue oferece-nos instantes em que os instrumentos clamam pela simplicidade e outros em que a teia sonora se diversifica e se expande para dar vida a um conjunto volumoso de sentimentos sinceros, sons acinzentados e um desmoronamento pessoal que nos arrasta sem dó nem piedade para um ambiente que oscila entre a amplitude luminosa da crença e o cariz nostálgico da dúvida e do receio, em canções que tanto podem ser extremamente simples e prezar pelo minimalismo da combinação instrumental que as sustenta.

Sincera, emotiva e profundamente tocante, a música de digitalanalogue acaba por ser um dos bons exemplos atuais da tomada de consciência por parte de um músico de que a existência humana não deve apenas esforçar-se por ampliar intimamente o lado negro, porque ele será sempre uma realidade, mas antes focar-se no que de melhor nos sucede e explorar até à exaustão o usufruto das benesses com que o destino nos brinda, mesmo que as relações interpessoais nem sempre aconteçam como nos argumentos dos filmes. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 20:54

Peixe - Motor

Sábado, 14.03.15

Pedro Cardoso é Peixe, antigo guitarrista dos Ornatos Violeta e hoje um nome fundamental quando é hora de assinalar as principais referências nacionais desse instrumento. Em 2002, formou a banda de rock Pluto e a banda de jazz DEP. 2010 foi o ano da edição de Joyce Alive com o grupo Zelig e mais tarde em 2012 de Apneia, o seu primeiro álbum a solo, infelizmente ignorado por grande parte da crítica. Motor é o seu segundo registo a solo, um disco editado a nove de março último, que merece ampla divulgação pela magnitude qualitativa e beleza ímpar do seu conteúdo, um trabalho gravado, misturado e masterizado por Nuno Mendes.

Preenchido com catorze instrumentais de rara sensibilidade e luz, ao mesmo tempo que é possível absorver Motor como um todo, entregar-se aos pequenos detalhes que preenchem o seu alinhamento é um exercício reconfortante e que provoca pura satisfação. Ao fazê-lo, percebe-se o modus operandi de Peixe e o modo como através da guitarra projeta inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte em cada canção, num resultado final que impressiona pela beleza utópica das composições, que exploraram ao máximo a relação sensorial humana que o autor estabelece com um instrumento que é um prolongamento físico da sua alma e com o qual atiça todos os nossos sentidos e provoca em nós reações físicas que dificilmente conseguimos disfarçar.

Contendo belíssimas texturas, que vão muito além do mero registo sonoro, Motor trespassa o nosso âmago, fechando-nos dentro de um mundo muito próprio, místico e grandioso, onde tudo flui de maneira hermética, sustentada por uma base instrumental concreta, mas plena de nuances variadas e harmonias magistrais, onde tudo se orienta de forma controlada, como se os dois protagonistas maiores, músico e instrumento, fossem um só corpo num bloco único de som.

Motor dispensou a componente lírica, mas nem por isso deixa de conter letras pessoais, expressas através de uma notável variedade de acordes, timbre e ritmos, que contam com notável clareza histórias na primeira pessoa de uma pessoa que também se apropria das histórias dos outros para as contar como se fossem suas, quando também são suas. Genuíno e eloquente no modo como dá vida a sentimentos, desejos e emoções de um ser humano, Peixe enche-nos a alma e faz-nos acreditar que é possível ser-se verdadeiramente feliz apreciando as suas pinturas sonoras carregadas de imagens evocativas, pintadas com melodias acústicas bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam a sua sensibilidade para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:23






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