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Jens Lekman - Life Will See You Now

Sexta-feira, 24.02.17

Depois de em 2015 o músico e compositor sueco Jens Lekman ter voltado às luzes da ribalta com um assumido compromisso de todas as semanas compor e gravar um novo tema, através do seu projeto Smalltalk, do quel resultou o EP Ghostwriting, uma espécie de complemento dessa hercúlea tarefa onde o autor e a banda que o tem acompanhado transformaram as suas histórias pessoais em canções, assentes numa folk acústica intensa, próxima  e subtilmente encantadora, agora, no dealbar de 2017, este artista que desde 2000 tem revelado o seu charme melancólico e romântico com inegável bom gosto, está de regresso ao formato longa duração, com Life Will See You Now, o quarto álbum da sua carreira, editado a dezassete de fevereiro através da Secretly Canadian.

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Hábil poeta e permanentemente focado e apaixonado pelo processo de escrita e composição, Jens Lekman é exímio a entender os mais variados sentimentos e confissões humanas e fá-lo de forma peculiar, convertendo simples sensações em algo grandioso, épico e ainda assim delicadamente confessional. Neste trabalho, o modo como a sua voz e o piano se apresentam logo na abertura do tema homónimo, causando espanto, faz-nos também entender, com clareza, aquilo que nos espera, em dez canções onde o autor se particularmente intimista e reflexivo, sobrepondo as palavras dos seus poemas com uma evidente exaltação instrumental, necessária e preciosa para a materialização da clara honestidade poética e melódica que sempre o guiou. E essa permissa transforma-se, neste artista, num mecanismo eficaz de diálogo direto com quem se predispõe a ouvi-lo.

Na verdade, Lekman é único e universal a traduzir com simplicidade musical tudo aquilo que gostaríamos de expressar em momentos de maior dor e melancolia, mas também de euforia e exaltação.  What’s That Perfume That You Wear?, tema que inclui um sample do tema The Path de Ralph MacDonald, que data do ano 1978 e que é uma das músicas favoritas do sueco, é um notável exemplo do modo como Lekman retrata o tenebroso final de uma relação amorosa, mas de modo a fazer desse evento uma espécie de desabrochar e a possibilidade de um novo recomeço. E essa capacidade que Lekman tem de nos mostrar sempre o lado positivo e radioso de um qualquer evento, por muito catastrófico que possa parecer, é um dos seus maiores atributos sonoros, audível na exuberância não só das teclas, mas também das cordas e dos metais que tanto se escutam nas suas canções, que nunca descuram a busca de ritmos dançantes e de uma curiosa tropicalidade, também sublime na leveza divertida e primaveril de Wedding In Finistére. Outro bom exemplo dessa estranha dicotomia entre tragédia e celebração está plasmada em Evening Prayer, instante pop também bastante dançante e que se debruça sobre alguém que descobriu que tem cancro e que decide fazer uma cópia do tumor entretanto retirado do próprio corpo numa impressora 3-D. Outra notável canção deste trabalho é, sem dúvida, Our First Fight, composição onde o autor aprimora a sua habitual delicadeza e na pele de um contemporâneo trovador, arrasta-nos, através de soberbos arranjos, para um cenário bucólico bastante impressivo, onde a paixão dá lugar à saudade, o beijo converte-se em despedida e o que é aparentemente grandioso serve agora para nos confortar.

Produzido por Ewan Pearson (M83, Goldfrapp, Chemical Brothers), Life Will See You Now é um festim para os nossos ouvidos e uma boa dose de humor, um verdadeiro caleidoscópio de sensações realisticamente agradáveis, mas também profundamente reflexivas, em que cada uma das suas canções tem tudo para transformar-se num memorável clássico do indie pop, um disco que recheia o curriculum deste sueco com um atestado superior de magnificiência sonora, assente também versos pegajosos e um tipo de atmosfera quase mágica que apenas ele parece capaz de desenvolver. Espero que aprecies a sugestão...

Jens Lekman - Life Will See You Now

01. To Know Your Mission
02. Evening Prayer
03. Hotwire The Ferris Wheel
04. What’s That Perfume That You Wear?
05. Our First Fight
06. Wedding In Finistére
07. How We Met, The Long Version
08. How Can I Tell Him
09. Postcard #17
10. Dandelion Seed

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publicado por stipe07 às 17:32

Thievery Corporation – The Temple Of I And I

Quarta-feira, 15.02.17

Sem um daqueles sucessos radiofónicos que catapultam um projeto para o éden durante um longo período de tempo, sem uma portentosa máquina de marketing por trás, vídeos com milhões de visualizações ou uma editora internacional nos seus créditos, os Thievery Corporation continuam, quase duas décadas após a estreia, a ser um dos nomes mais consensuais e influentes da chamada música de fusão, tendo uma base de seguidores fiel e numerosa em todo o mundo, a sua própria editora, a ESL Music Label, assento destacado em cartazes de alguns dos mais relevantes festivais de música e, mais importante que tudo isso, uma carreira recheada de extraordinários momentos sonoros. Assim, em 2017 os Thievery Corporation chegam ao seu oitavo disco de originais e embarcam em mais uma digressão que passa hoje por Portugal e que será certamente recheada de excelentes concertos, assentes não só neste novo disco, mas num extenso e eclético catálogo capaz de agradar a todos aqueles que se predisponham a dançar ao som desta dupla de Washington, formada por Rob Garza e Eric Hilton.

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Se em 2014 os Thievery Corporation olharam profundamente para o Brasil no disco Saudade, agora em The Temple Of I And I, é a Jamaica que os seduz, com as quinze canções do registo a captarem muita da essência mítica e do poder da música deste arquipélago caribenho, resultado de uma prolongada estadia da dupla em 2015 numa das suas principais cidades, Port Antonio. Repleto de participações especiais das quais se destacam, por exemplo, os rappers Zee e Notch ou a norte americana Lou Lou Ghelichkhani, acaba por ser à boleia da jamaicana Raquel Jones, quer na contagiante Letter To The Editor, quer na interventiva Road Block, que melhor é absorvida e explanada toda a influência e exotismo deste pedaço de mundo onde nasceu, como todos sabemos, o reggae.

Estando, portanto, toda a herança sonora da Jamaica em ponto de mira para os Thievery Corporation neste The Temple Of I And I, esse mesmo reggae firma-se, naturalmente, como o grande suporte estilístico da sonoridade do seu alinhamento, com o dubb, o jazz, o rap e a eletrónica e fornecerem a base para arranjos, batidas, efeitos e até trechos melódicos, destacando-se, como grandes instantes do disco, o excelente baixo que conduz Strike The Root e True Sons Of Zion, a cadência algo inebriante e hipnótica do instrumental Let The Chalize Blaze e também do tema homónimo e as batidas de Babylon Falling. O objetivo primordial é que se mantém o de sempre; Fazer o ouvinte dançar mas também refletir sobre vários aspetos da vida contemporânea. nomeadamente os de cariz eminentemente político.

Já não restam dúvidas que Garza e Hilton apreciam imenso ir ao génese de alguns dos movimentos musicais essenciais da dita música do mundo, num disco onde, de acordo com os próprios, os Thievery Corporation dão vida à vocalização melancólica, quente e cheia de alma que faz parte da essência do reggae e completam um círculo onde, depois de deambularem pela música eletrónica e, no exato momento anterior a este registo, pela bossa nova, viajaram agora para algo ainda eminentemente orgânico, construindo mais um tronco do túnel do tempo musical que é a sua discografia, antes de passarem ao próximo capítulo. Espero que aprecies a sugestão...

Thievery Corporation - The Temple Of I And I

01. Thief Rockers (Feat. Zee)
02. Letter To The Editor (Feat. Racquel Jones)
03. Strike The Root (Feat. Notch)
04. Ghetto Matrix (Feat. Mr. Lif)
05. True Sons of Zion (Feat. Notch)
06. The Temple of I And I
07. Time + Space (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
08. Love Has No Heart (Feat. Shana Halligan)
09. Lose To Find (Feat. Elin Melgarejo)
10. Let The Chalice Blaze
11. Weapons Of Distraction (Feat. Notch)
12. Road Block (Feat. Raquel Jones)
13. Fight To Survive (Feat. Mr. Lif)
14. Babylon Falling (Feat. Puma)
15. Drop Your Guns (Feat. Notch)

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publicado por stipe07 às 21:09

Bruno Pernadas - Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them

Quarta-feira, 26.10.16

Com ampla formação musical (Escola do Hot-Club de Portugal e Escola Superior de Música de Lisboa), Bruno Pernadas é um músico versátil. Autor, arranjador e guitarrista nos projetos Julie & the Carjackers, When We Left Paris e Suzie´s Velvet, guitarrista no Real Combo Lisbonense e improvisador rodado, Bruno tem também composto e tocado em vários projectos de artes performativas. How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge? foi o seu disco de estreia a solo, um extraordinário trabalho, composto e produzido pelo próprio em 2014 e que contou com a participação de vários músicos, entre os quais João Correia (Julie & the Carjackers, Tape Junk), Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Francisca Cortesão (Minta & the Brook Trout, They’re Heading West) e Margarida Campelo (Julie & the Carjackers, Real Combo Lisbonense). Ano e meio depois dessa auspiciosa estreia, Bruno Pernadas está de regresso com Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them, à boleia da Pataca Discos.

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Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them é uma sequência da sonoridade apresentada em How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge? e que nos permitiu contactar com uma variedade imensa de instrumentos de cordas, metais e sopro, além da percurssão. Dos violinos às guitarras e ao violoncelo, passando pelo trombone, trompete e flauta, Bruno Pernadas presenteou-nos nesse alinhamento com um amplo panorama de descobertas sonoras, numa espécie de exercício criativo nostálgico, mas sem descurar o efeito da novidade, que agora se repete, em dez canções que foram gravadas nos Estúdios 15A, com a colaboração de João Correia, Nuno Lucas, Margarida Campelo, Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Diogo Duque, Diana Mortágua, João Capinha e Raimundo Semedo.

Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them oferece-nos um delicioso caldeirão sonoro, onde as composições vestem a sua própria pele enquanto se dedicam, de corpo e alma, à hercúlea tarefa comunicativa que o autor designou para cada uma, individualmente. E fazem-no fervilhando de emoção, arrojo e astúcia, enquanto vêm potenciadas todas as suas qualidades, à medida que Pernadas polvilha o conteúdo das mesmas com alguns dos melhores tiques de variadíssimos géneros e subgéneros sonoros, cabendo, no desfile dos mesmos, liderados pelo jazz contemporâneo, indie rock, pop, folk, eletrónica, ritmos latinos e até alguns lampejos da música dita mais clássica e erudita.

Assim, o exercício que se coloca perante o ouvinte que se predispõe a saborear convenientemente o universo criado por those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them, deverá firmar-se, por exemplo, em Spaceway 70, na vontade de apreciar o modo como uma flauta ou um trompete cirandam em redor de um par de acordes da guitarra, como em Problem number 6 se equilibram com total desembaraço, flashes de samples, alguns sopros que gostam de jogar ao esconde esconde, uma guitarra em contínuo e inquieto frenesim e instrumentos percussivos a tresandar a samba por todos os poros, como na soul contemplativa de Valley in the ocean é dada total liberdade ao piano e às cordas para provocarem em nós uma agradável e viciante sensação de letargia e torpor, o modo como o trompete, o sintetizador e um efeito de guitarra quase surreal produzem um intenso travo oriental e exótico em Anywhere in spacetime, o devaneio cavernoso lo fi das teclas de Because it’s hard to develop that capacity on your own, o ménage a trois desavergonhado e feito cópula, à vez, entre trompete, piano e flauta em Galaxy, ou de perceber a teia intrincada de relações promíscuas que se estabelecem, constantemente, durante os mais de doze minutos de Ya ya breathe, entre as teclas do piano, as distorções da guitarra e os diferentes instrumentos percussivos que se escutam, enquanto o baixo, procura estabelecer alguma ordem e harmonizar um salutar caos, numa composição que sobrevive num terreno experimental e até psicadélico e onde a fronteira entre a heterogeneidade instrumental e melódica final e o (aparente) minimalismo inicial é geralmente indecifrável. Com esta atitude certa, constata-se, então, que those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them é um ponto de partida para muitas emoções agradáveis, por ser, curiosamente, o ponto de chegada de muitas porções de um mundo onde é possível sentir, sonoramente, diferentes cheiros e sabores, enquanto se aprecia composições de diferentes cores, intensidades e balanços, que desafiam e apuram todos os nossos sentidos.

Saboreando poemas escritos em inglês pelo autor do disco e por Rita Westwood, those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them coloca-nos à prova à medida que diante de nós escorre aquilo que o género humano tem de mais genuíno e seu, enquanto Pernadas disserta alegremente e claramente fascinado pelo lado mais luminoso, colorido e natural deste mundo, sobre uma heterogeneidade de sensações e aspetos físicos e naturais que o atraem e que, em contacto com a espécie humana, obriga todas as partes envolvidas a diferentes processos adaptativos, o que resultou numa multiplicidade de raças, experiências e estádios de desenvolvimento que hoje caraterizam a nossa cultura e a nossa essência e que estas dez canções também, à sua maneira, plasmam. E durante este exercício antropológico, o autor aproveita para estabelecer paralelismos com o amor e a teia intrincada de relações, sensoriais e neurológicas que esse sentimento provoca, quer individualmente, quer durante a sua materialização com outro(s), com canções do calibre das já descritas Problem number 6 ou Valley in the ocean a fazerem-nos crer que se há sentimento mais belo e capaz de nos transformar e fazer-nos ver com exatidão o mundo que nos rodeia é a vivência plena do amor. Espero que aprecies a sugestão…

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01. Poem (1)
02. Spaceway 70
03. Problem Number 6
04. Valley In The Ocean
05. Anywhere In Spacetime
06. Poem (2)
07. Because It's Hard To Develop That Capacity On Your Own
08. Galaxy
09. Ya Ya Breathe
10. Lachrymose

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publicado por stipe07 às 18:00

O (duplo) regresso de Bruno Pernadas.

Sexta-feira, 02.09.16

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Com ampla formação musical (Escola do Hot-Club de Portugal e Escola Superior de Música de Lisboa), Bruno Pernadas é um músico versátil. Autor, arranjador e guitarrista nos projetos Julie & the Carjackers, When We Left Paris e Suzie´s Velvet, guitarrista no Real Combo Lisbonense e improvisador rodado, Bruno tem também composto e tocado em vários projectos de artes performativas. How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge? foi o seu disco de estreia a solo, um extraordinário trabalho, composto e produzido pelo próprio em 2014 e que contou com a participação de vários músicos, entre os quais João Correia (Julie & the Carjackers, Tape Junk), Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Francisca Cortesão (Minta & the Brook Trout, They’re Heading West) e Margarida Campelo (Julie & the Carjackers, Real Combo Lisbonense). Ano e meio depois dessa auspiciosa estreia, Bruno Pernadas está de regresso e em dose dupla com Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them e Worst Summer Ever, à boleia da Pataca Discos.

Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them é uma sequência da sonoridade apresentada em How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge? e que nos permitiu contactar com uma variedade imensa de instrumentos de cordas, metais e sopro, além da percurssão. Dos violinos às guitarras e ao violoncelo, passando pelo trombone, trompete e flauta, Bruno Pernadas presenteou-nos nesse alinhamento com um amplo panorama de descobertas sonoras, numa espécie de exercício criativo nostálgico, mas sem descurar o efeito da novidade, que agora se repete, em dez canções que foram gravadas nos Estúdios 15A, com a colaboração de João Correia, Nuno Lucas, Margarida Campelo, Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Diogo Duque, Diana Mortágua, João Capinha e Raimundo Semedo e que serão alvo de análise crítica neste espaço muito breve.

Já Worst Summer Ever contém oito temas onde Bruno Pernadas explora o jazz, uma das suas linguagens sonoras predilectas, um compêndio gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho e na Blackbox do CCB recorrendo a formações variáveis, do trio ao sexteto de jazz: Bruno Pernadas (guitarra), Francisco Brito / Pedro Pinto (contrabaixo), Joel Silva / David Pires (bateria), Sérgio Rodrigues (piano), João Mortágua (Saxofone Alto), Desidério Lázaro (Saxofone Tenor).

A treze e a vinte de setembro, Bruno Pernadas irá apresentar os dois discos no Teatro Maria Matos, estando os bilhetes já disponíveis para venda nos locais habituais. Para já, confere Anywhere In space Time, o primeiro single divulgado de Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them.

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publicado por stipe07 às 17:12

TV Girl - Natalie Wood vs Life We Planned

Quarta-feira, 08.07.15

Enquanto não chega aos escaparates Who Really Cares, o novo álbum dos TV Girl, esta banda de São Diego formada por Trung Ngo e Brad Peterson e que toca aquele típico bedroom pop, lo fi, caseiro e deliciosamente irresistível, disponibilizou recentemente, via bandcamp, Natalie Wood e Life We Planned, duas canções que não farão parte desse novo registo de originais da dupla.

Escritas e produzidas por Brad Petering, com exceção do verso cantado por Maddie em Like We Planned e misturadas e masterizadas por Jason Wyman, estas duas canções impressionam pelo modo relaxante como conjugam alguns arranjos que piscam o olho declaradamente ao jazz e à bossa nova e todos juntos, de mãos dadas, apresentam um verdadeiro festim sonoro para os nossos ouvidos sempre sedentos de paisagens sonoras relaxantes e elegantes.

Ouvimos cada uma das músicas e conseguimos, com clareza, perceber os diferentes elementos sonoros que foram sendo adicionados e que esculpiram as canções, com particular destaque para as guitarras, melodicamente sempre muito próximas da postura vocal e para alguns arranjos sintéticos que sobressaiem, não porque ficam na primeira fila daquilo que se escuta, mas porque suportam aqueles simples detalhes que, muitas vezes com uma toada lo fi, fazem toda a diferença no cariz e nas sensações que transmitem. Confere...

 

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publicado por stipe07 às 13:46

Leapling - Vacant Page

Terça-feira, 10.02.15

Hoje, dia dez de fevereiro, chegou aos escaparates, através da Inflated/Exploding In SoundVacant Page o novo disco do projeto nova iorquino Leapling, um quarteto formado por Dan Arnes, Yoni David, R.J Gordon e Joey Postiglione e que plana em redor de permissas sonoras fortemente experimentais e onde tudo vale quando o objetivo é arregaçar as mangas e criar música sem ideias pré-concebidas, arquétipos rigorosos ou na clara obediência a uma determinada bitola que descreva uma sonoridade especifica.

A intro Negative Space, uma verdadeira amálgama de sons rugosos e metálicos, que ajudados por uma voz reverberada se acumulam sem um propósito evidente, é uma porta de entrada que plasma com nitidez o clima identitário dos Leapling que, apesar de em Flesh Meadowns, devido ao efeito da guitrarra, à subtileza da bateria e ao timbre das cordas, já se aproximam do habitual edificio melódico que sustenta o formato canção mais acessível, não deixam de se manter fiéis ao espírito inicial, permitindo que nos embrenhemos num disco onde é constante o desafio entre o experimentalismo e a chamada dream pop, já que o nível de desordem sonora serve apenas para colocar a nú um aparente caos, com o conteúdo de Vacant Page a mostrar-se sempre acessível ao ouvinte e, apesar de parecer que vale (quase) tudo, a fluir dentro de limites bem definidos.

O típico som feito com guitarras distorcidas, também tem um elevado protagonismo. Silent Stone, uma magnífica canção que que flutua entre o indie rock mais anguloso e aquele que aposta num forte cariz experimental, já que no tema, além de um maravilhoso falsete, sobressai uma percussão com um elevado pendor jazzístico e o doce romantismo de Slip Slidin' Away e a toada blues conferida pelo baixo vigoroso em N.E.R.V.E., entrelaçado com uma bateria que se estende livremente pela melodia, sem cadência rítmica homogénea, são mais três lindíssimos instantes do álbum, que entre o experimental e o atmosférico, seduzem e emocionam. Depois, no piscar de olho à bossa nova em Going Nowhere e no acerto da quente e sedosa melancolia que escorre da guitarra de Retrograde e em redor da qual abundam violinos que tão depressa surgem como se desvanecem, ficamos sempre na dúvida sobre uma possível alteração repentina do rumo dos acontecimentos, algo que nos exige um alerta permanente e o foco contínuo naquilo que se escuta.

Um dos momentos altos de Vacant Page é, sem duvida, a original secção rítmica que sustenta Crooked, onde se inclui um baixo com um certo toque psicadélico, que não receia o risco no modo como transmite nervo e intensidade e alguns arranjos de cordas, aquáticos e claustrufóbicos, que contrastam com a clareza de uma voz que nos embala e convida de modo sedutor a penetrar em direção a um mundo algo fantasmagórico e claustrufóbico, ao qual é difícil resistir. Um pouco adiante, em Hung Out Dry, esse mesmo baixo teima em espreitar, para massajar as nossas têmporas com um misto de delicadeza e vigor, numa canção feita com a típica luminosidade de uma quente tarde de verão que atiça e desarma todos os nossos sentidos.

Com um certo travo punk, enérgico e libertário, que escorre por todos os poros da melodia hipnótica e repetitiva que alicerça In Due Time, termina um disco cheio de emoções fortes, inédito no modo como dificulta uma catalogação rigida e bem balizada, intemporal no cruzamento transversal que faz entre os mais variados espetros do universo sonoro indie, delicado na invocação de sentimentos felizes, divertido na forma como esbanja ritmo e sensualidade e jovial no modo como pode conquistar na nossa prateleira discográfica aquele recanto especial onde se guardam aquelas coleções de canções que chamamos para a parada dos nossos momentos mais genuínos, muitas vezes ocupados na busca por uma musicalidade amena, coberta por uma aúrea de sensibilidade e fragilidade romântica indisfarçáveis. Espero que aprecies a sugestão...

Vacant Page cover art

 

Negative Space

Flesh Meadows

N.E.R.V.E.

Going Nowhere

Crooked

Retrograde

Silent Stone

Hung Out To Dry

Slip Slidin' Away

In Due Time

 

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publicado por stipe07 às 21:20

Duplodeck - Verões

Terça-feira, 09.09.14

Os Duplodeck são uma banda indie brasileira que se formou numa localidade chamada Juiz de Fora, em Minas Gerais, no ano de 2001 e cujo ponto comum entre os seis membros era a admiração por Jorge Ben. Entre 2001 e 2005 a banda compôs um vasto reportório, mas apenas se estreou nos lançamentos discográficos em 2011, com um EP homónimo, que continha no alinhamento essas músicas que sofreram uma nova mistura e produção e novas guitarras. Agora, três anos depois, chega finalmente o longa duração de estreia; Verões são oito maravilhosas canções, que sabem, por inteiro, à estação do ano que dá título à rodela, um trabalho que viu a luz do dia a três de fevereiro por intermédio da Pug Records e disponível também na plataforma bandcamp, com a possibilidade de doares um valor pelo mesmo ou de o obteres gratuitamente.

Verões é folk, bossa nova, rock psicadélico, electrónica e ambient, um disco onde o público contacta com uma variedade imensa de instrumentos de cordas e metais e efeitos sintetizados, além da percurssão. Com as guitarras e o sintetizador a assumir as rédeas do processo de criação melódica, os Duplodeck presenteiam-nos com um amplo panorama de descobertas sonoras que fazem com que o álbum seja uma espécie de exercício criativo nostálgico, mas sem descurar o efeito da novidade.

É impressionante a quantidade de detalhes que os Duplodeck colocam a cirandar quase livremente por trás de cada uma das canções que transbordam do disco e ainda mais diversificado é o conjunto de ritmos, sons e incontáveis referências que borbulham enquanto se desenvolve o álbum. Sejam a pop agradável e nada descartável de Saint-Tropez e do tema homónimo, as pequenas transições pela psicadelia garageira em Brisa, ou o indie rock à The Strokes de Boemia e Hi-Fi, tudo se ouve como se estivessemos a fazer um grande passeio por várias épocas, estilos e preferências musicais.

Na verdade, assim que o disco começa, somos rapidamente absorvidos pelo mundo caleidoscópico de Verões, um universo cheio de cores e sons que nos causam tanto espanto como a ironia fina que sustenta o primeiro tema do alinhamento, uma canção que leva-nos do típico ambiente folk nórdico, ao blues de Nashville, feito com um subtil e enevoado acorde de uma guitarra elétrica que inflete num arco írís de cordas e arranjos luminosos muito típicos da melhor tropicália de além mar, a sul do Equador.

A voz é um importante trunfo em Verões, quer devido ao registo vocal clássico, que se destaca amplamente não só no tema de abertura, mas, principalmente no quase falsete de Uns Braços, uma canção que plasma claramente o jogo instrumental e alegre que se estabelece entre uma toada mais orgânica, facultada pela bateria e uma vertente sintética proporcionada por um efeito algo hipnótico, com a distorção da guitarra e a voz a serem os fiéis de uma balança que se mantém graciosamente estável, originando um clima sedutor simultaneamente épico e melancólico.

Em suma, Verões é uma coleção de excelentes canções que, entre a eletrónica e o indie rock dançável e orelhudo, procuram conciliar o velho fulgor anguloso e elétrico do rock’n’roll, com novos espetros sonoros e abordagens pop, havendo, pelo meio, a habitual pitada tropicália típica da maioria dos projetos brasileiros a funcionar como uma espécie de cereja no topo do bolo. É incrível a sensação de ligaçao entre as canções e ao longo do alinhamento assiste-se a uma espécie de narrativa leve e sem clímax, com uma dinâmica bem definida e muito agradável.

A música que se ouve aqui é uma harmoniosa chuva de conhecimento musical e espiritual de toda a espécie, de todos os tempos ou apenas de hoje e representa uma explosão de criatividade que nunca se descontrola nem perde o rumo, numa receita pouco clara e nada óbvia, mas com um resultado incrível e único. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 22:05

Sinkane - Mean Love

Segunda-feira, 08.09.14

Quase dois anos após o magnífico Mars, Sinkane está de regresso aos discos com Mean Love, o seu novo registo a solo, novamente com a chancela da insuspeita DFA Records de James Murphy. Extraordinário músico e compositor, oriundo de uma família de professores universitários e músicos do Sudão, Sinkane desembarcou nos Estados Unidos da América em 1989 como refugiado político e cresceu no Ohio a ouvir punkreggae, música eletronica e sons típicos da sua terra natal. Entretanto mudou-se para Brooklyn, em Nova Iorque, onde, antes de iniciar a carreira a solo, tocou com nomes tão importantes do universo indie como os Of Montreal, Yeasayer, ou Caribou e, nesta última década, tem-se debruçado a fundo sobre aquilo que vai escutando e acontecendo musicalmente ao redor, num bairro musicalmente tão efervescente como é Brooklyn, tendo já abordado espetros sonoros tão divergentes como o post rock ou a música de cariz mais erudito, mas nunca renegando as suas raízes africanas, sendo esse, muitas vezes, o elo de ligação privilegiado entre os diferentes géneros que remexe e onde se posiciona.


Se a sonoridade de Mars apontava, acima de tudo, para a sua origem nos povos sudaneses e as suas raízes músicais africanas, em Mean Love Sinkane olha com outra profundidade para aquilo que mais o seduz na música norte-americana e em especial na soul. Com a permanente parceria com os nomes de peso acima citados e, mais recentemente, tendo sido incumbido da direção musical de Atomic Bomb, de Willian Onyeabor, Sinkane acabou por se especializar num espetro sonoro que diz muito ao país que o acolheu. Desse modo, Mean Love é uma bela homenagem à soul que o adotou, mas onde não falta o R&B ou a bossa nova, por exemplo, para enriquecer ainda mais um quadro sonoro magnífico, feito de dez canções que merecem a nossa mais completa devoção. Sejamos, ou não, verdadeiros apreciadores deste universo musical, devemos olhar para Mean Love como uma jóia rara, já que seste disco é um paraíso soul em todos os sentidos e isso deve-se à sua sonoridade universal, dançante e, ao mesmo tempo, íntima e suave.

Ouve-se Mean Love com alguma descontração e somos atravessados por uma certa homogeneidade sonora, como se o alinhamento fosse um todo constituido pela soma de várias partes que pouco diferem entre si. No entanto, da pop luminosa e assente num jogo entre o orgânico, audível na percurssão das palmas e o sintético fornecido pelo efeito do teclado sintetizado em How We Be, ao afrobeat de New Name, passando pelo funk de Yacha, o meu tema preferido do disco, a pop melancólica de Hold Tight e de Son, a bossa nova que sustenta Moonstruck, o reggae que alimenta Young Trouble, o jazz e o blues de Mean Love, o tema homónimo, ou a implícita toada folk de Galley Boys, que se torna mais festiva devido ao efeito de sopros em Omdurman, Mean Love é uma verdadeira passerelle de uma diversidade incrivel de traços e tiques, uma mistura de sonoridades do passado com as ilimitadas possibilidades técnicas que o desenvolvimento tecnológico proporciona e disponibiliza aos produtores e compositores.

Como sempre, Gallab toca quase todos os instrumentos e não se fez rogado no uso de efeitos, quer nas batidas, quer nas guitarras, conseguindo soar, em simultâneo e de forma inteligente, sofisticado e descontraído, havendo no ambiente criado pelas canções um certo humor e boa disposição, numa atmosfera típica de um afável e acolhedor dia de verão.

Em Mean Love, Sinkane deitou-se numa nuvem feita com a melhor pop atual e operou mais um milagre sonoro; Tornou-se expansivo e luminoso, encheu essa nuvem com uma sonoridade eminentemente introspetiva, mas que não deixa de ser alegre, floral e perfumada e fê-lo sem grandes excessos e com um belíssimo acabamento açucarado, duas das permissas que justificam coerência e acerto na estratégia musical escolhida. Mean Love é um belíssimo disco, com um conteúdo grandioso e um desempenho formidável ao nível instrumental e da voz, um tratado musical leve, cuidado e que encanta, não sendo difícil ficarmos rendidos ao seu conteúdo. Espero que aprecies a sugestão... 

01. How We Be
02. New Name
03. Yacha
04. Young Trouble
05. Moonstruck
06. Mean Love
07. Hold Tight
08. Galley Boys
09. Son
10. Omdurman

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publicado por stipe07 às 22:25

Thievery Corporation – Saudade

Segunda-feira, 05.05.14

Lançado no passado dia um de abril por intermédio da própria etiqueta da banda, a ESL Music Label, Saudade é o novo álbum dos Thievery Corporation, o sétimo registo de originais da carreira desta dupla formada por Eric Hilton e Rob Garza. Saudade está disponível para audição no soundcloud dos Thievery Corporation, um dos projetos essenciais do cenário da eletróinica e da dance music contemporânea e que, em Saudade, resolve prestar um tributo à música brasileira, uma influência que foi sempre bastante explícita no percurso musical dos Thievery Corporation.

É comum dizer-se que Saudade é uma palavra exclusiva da língua portuguesa e que não tem tradução em nenhuma outra. E esta palavra, assim como o sentido que nós lhe damos, foi a inspiração para o título deste disco, como explicam os próprios Thievery Corporation, (Saudade borrows its title from a Portuguese word meaning a longing for something or someone that is lost, a contented melancholy, or, simply, the presence of absence).

Saudade impressiona, desde logo, pelo alargado espetro de convidados, que ultrapassam a dezena. Assim, durante o disco podemos deliciar-nos com cinco extraordinárias vozes femininas (LouLou Ghelichkhani, Elin Melgarejo, Karina Zeviani das Nouvelle Vague, Natalia Clavier do projeto Argentine e Shana Halligan dos Bitter:Sweet) e, nos instrumentos, com Michael Lowery, baterista dos U.N.K.L.E,  Federico Aubele, também dos Argentine e o percussionista brasileiro Roberto Santos, entre outros.

Com uma míriade de influências que vão dos clássicos brasileiros Antonio Carlos Jobim, Gal Costa e Luis Bonfá, aos europeus Serge Gainsbourg, e Ennio Morricone, Saudade também tem uma forte componente típica do samba eletro, do qual, por exemplo, Isabelle Antena é hoje um dos nomes mais consensuais.

Não é preciso ser um exímio conhecedor dos universo sonoro abarcado por toda esta amálgama de influências e convidados especiais para adivinhar, prreviamente, que Saudade fará, no seu conteúdo sonoro, uma súmula entre a banda sonora de um dia solarengo na praia de Ipanema com o típico ambiente sonoro que ilustra a Riviera Francesa na época alta. A Europa mediterrânica e o atlântico um pouco a sul do Equador dão as mãos neste disco onde o jazz e a bossa nova dizem olá ao samba e todos juntos, de mãos dadas com a eletrónica, apresentam um verdadeiro festim sonoro para os nossos ouvidos sempre sedentos de paisagens sonoras relaxantes e elegantes.

Saudade sabe à banda sonora de um filme europeu francês ou italiano, onde um gigolo ou um sobredotado da cosa nostra dão o golpe e resolvem refugiar-se algures, no Rio, rodeados dos melhores prazeres que esta vida tem para oferecer. A dupla Eric Hilton e Rob Garza teve certamente em mente esta imagem  elegante que povoou tantas vezes o imaginário a preto e branco de quem, do lado de cá do atlântico, olha tantas vezes para os trópicos como o éden só ao alcance dos predestinados e dos espertos.

Ter musas lindas, elegantes e tão femininas e com vozes tão sensuais como as de Shana Halligan, Lou Lou Gleichkhani, Karina Zeviani, Elin Melgarejo e Natalia Clavier a cantar em Saudade, só ajuda a aguçar ainda mais o nosso imaginário relativamente ao universo sedutor e enigmático que os Thievery Corporation criaram em Saudade, um disco cantado em cinco línguas que falam do amor e da tal saudade, em cima de instrumentais luxuriantes dominados pelas cordas, por uma percurssão vibrante e por arranjos sintetizados que tanto nos colocam na loja mais in de Nice como a comer um sorvete nos areais de Ipanema.

Cada canção deste disco é um tratado sobre como se deve conjugar as cordas de uma viola, com a melhor percurssão brasileira; Das mais climáticas Nós Dois e a instrumental canção homónima, passando pelo samba genuíno de Para Sempre e pelas preguiçosas Claridad e Meu Nêgo, até à hipnotizante e sedutora Sola in La Cittá, ou o português ingenúo e quase genuíno de Quem Me Leva, Saudade é um sonho lounge, simultaneamente eletrónico e orgânico, que alimenta um verdadeiro manancial de referências nostálgicas. A própria capa do disco parece ter sido feita dos anos sessenta, tal é a psicadelia melancólica que ela suscita.

Já não restam dúvidas que Garza e Hilton apreciam imenso a música brasileira, num disco onde, de acordo com os próprios, os Thievery Corporation dão vida à vocalização melancólica, quente e cheia de alma que faz parte da essência da bossa nova e completam um círculo onde, depois de deambularem pela música eletrónica, viajaram para algo mais orgânico e construiram um túnel do tempo musical, antes de passarem ao próximo capítulo. Espero que aprecies a sugestão...

Thievery Corporation - Saudade

01. Décollage (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
02. Meu Négo (Feat. Karina Zaviani)
03. Quem Me Leva (Feat. Elin Melgarejo)
04. Firelight (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
05. Sola In Citta (Feat. Elin Melgarejo)
06. No More Disguise (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
07. Saudade
08. Claridad (Feat. Natalia Clavier)
09. Nós Dois (Feat. Karina Zaviani)
10. Le Coeur (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
11. Para Sempre (Feat. Elin Melgarejo)
12. Bateau Rouge (Feat. Lou Lou Ghelichkhani)
13. Depth Of My Soul (Feat. Shana Halligan)

 

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publicado por stipe07 às 18:40

Bruno Pernadas - How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?

Sexta-feira, 25.04.14

Com ampla formação musical (Escola do Hot-Club de Portugal e Escola Superior de Música de Lisboa), Bruno Pernadas é um músico versátil. Autor, arranjador e guitarrista nos projetos Julie & the Carjackers, When We Left Paris e Suzie´s Velvet, guitarrista no Real Combo Lisbonense e improvisador rodado, Bruno tem também composto e tocado em vários projectos de artes performativas. How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge? é o seu disco de estreia a solo. Composto e produzido pelo próprio, conta com a participação de vários músicos, entre os quais João Correia (Julie & the Carjackers, Tape Junk), Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Francisca Cortesão (Minta & the Brook Trout, They’re Heading West) e Margarida Campelo (Julie & the Carjackers, Real Combo Lisbonense).

O sitio da Pataca Discos esclarece os mais incautos que How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge? é Folk, Jazz, Space Age-Pop, Exótica, Afro-beat, Rock Psicadélico, Electrónica e Ambient e, realmente, em How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge? o público contacta com uma variedade imensa de instrumentos de cordas, metais e sopro, além da percurssão. Dos violinos às guitarra e ao violoncelo, passando pelo trombone, trompete e flauta, Bruno Pernadas presenteia-nos com um amplo panorama de descobertas sonoras que faz com que o álbum seja uma espécie de exercício criativo nostálgico, mas sem descurar o efeito da novidade.

É impressionante a quantidade de detalhes que Bruno coloca a cirandar quase livremente por trás de cada uma das canções que transbordam do disco e ainda mais diversificado é o conjunto de ritmos, sons e incontáveis referências que borbulham enquanto se desenvolve o álbum. Sejam a pop agradável e nada descartável de Première, as pequenas transições pelo jazz e pela bossa nova em Huzoor, o samba e a blues em Ahhhhh, ou mesmo todo o clima caliente de Guitarras, tudo se ouve como se estivessemos a fazer um grande passeio por diferentes épocas, estilos e preferências musicais.

Assim que o disco começa somos rapidamente absorvido pelo mundo caleidoscópico de Pernadas, um universo cheio de cores e sons que nos causam tanto espanto como a interjeição que intitula o primeiro tema do alinhamento. Em Ahhhhh parece-me que Bruno procura mostrar como abre a sua boca para absorver todos os sons que o rodeiam e que, depois de serem devidamente processados no seu âmago, são novamente expelidos em música, como se a mesma fosse para si tão importante como o ar que respira e que Ahhhhh também pode claramente querer exemplificar. A canção leva-nos do típico ambiente folk nórdico, ao blues de Nashville feito com um subtil e enevoado acorde de uma guitarra elétrica que, adiante, inflete num arco írís de cordas e arranjos luminosos muito típicos da melhor tropicália de além mar, a sul do Equador.

A voz é um importante trunfo em How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowdlege?, quer devido ao registo vocal clássico, que se destaca amplamente não só no Ahhhhh do tema de abertura, mas, principalmente em Première, assim cono na enorme quantidade de samples que Bruno utiliza nas canções sendo, em algumas, o único registo vocal existente.

Após Guitarras, uma canção cujo nome define claramente o jogo instrumental e alegre desse instrumento, ao qual se junta uma espécie de solo de improvisação de xilofone, o ambiente criado em Pink Ponies Don't Fly on Jupiter e as batidas eletrónicas que se escutam, antecipam o que a melancólica dose dupla intitulada How Would It Be propôe-nos, no fundo uma segunda metade do disco em que domina um som essencialmente bucólico, épico e melancólico, que pode servir de banda sonora para um mundo paralelo cheio de seres fantásticos e criaturas sobrenaturais, que aterrarão um dia, algures em L.A., ao som do último tema do alinhamento.

Em suma, How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge? é uma coleção de excelentes canções, com uma toada ora tímida ora experimental, pontuadas por uma verdadeira mescla de influências que fazem deste trabalho um verdadeiro e feliz caldeirão sonoro. Se Bruno quis abarcar todo o conhecimento deste mundo no cosmos que é este seu How Can We Be Joyful In A World Full Of knowledge?, o que ele realmente conseguiu foi estabelecer um convívio saudável entre tudo o que é a música hoje como forma de arte, sem se especializar conscientemente em nenhum género e sem deixar que qualquer um deles se sobreponha verdadeiramente.

A música que se ouve aqui é uma harmoniosa chuva de conhecimento musical e espiritual de toda a espécie, de todos os tempos ou apenas de hoje e representa uma explosão de criatividade que nunca se descontrola nem perde o rumo, numa receita pouco clara e nada óbvia, mas com um resultado incrível e único.

Agradeço à Raquel Laíns e à Let's Start A Fire pelo envio do exemplar físico do disco que possibilitou a publicação deste crítica e espero que aprecies a sugestão...

01. Ahhhhh
02. Indian Interlude
03. Huzoor
04. Première
05. Guitarras
06. Pink Ponies Don’t Fly on Jupiter
07. How Would It Be 1
08. How Would it Be 2
09. L.A.

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publicado por stipe07 às 21:37






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