man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Aaron Thomas – Human Patterns
Natural de Adelaide, na Austrália, Aaron Thomas está de regresso aos discos com Human Patterns, um álbum produzido pelo próprio autor, que o misturou com Tom Barnes e que era aguardado com enorme expetativa na nossa redação, contando nos créditos com a contribuição dos músicos Django Rowe, Tori Phillips, Kyrie Anderson, Kiah Gossner, Alex Taylor, Jason McMahon, Tom White e Gemma Phillips.
O amor, o fim de algumas amizades, eventos familiares e a contemporaneidade, são temas centrais de Human Patterns, um compêndio com doze canções envolventes, que tanto conseguem mexer com a nossa intimidade, como nos encorajar a enfrentar os dias com um sorriso renovado, enquanto planam nas asas de uma indie folk psicadélica de elevado calibre.
Aaron Thomas é um exímio compositor e um multi-instrumentista de elevado calibre. Ele tomou as rédeas da maior parte das guitarras e da bateria que se escutam no registo, fazendo-o com subtil beleza e comprovando que a simplicidade melódica pode coexistir com densidade sonora, sem colocar em causa conceitos como luminosidade, radiofonia, majestosidade e, principalmente, melancolia.
E, realmente, é de melancolia, mas não só, que se deve falar quando se escuta com devoção Human Patterns, algo que o disco merece. O seu alinhamento apela constantemente à nossa memória e atiça o desejo de revivermos, com ela, eventos felizes e de querer muito ter a oportunidade de consertar outros que correram menos bem.
Logo a abrir o registo o modo como, em Walk On Water, uma guitarra distorcida trespassa o banjo e os violinos coloca-nos em sentido, enquanto nos esclarece relativamente ao modus operandi sonoro que sustenta Human Patters. Depois, o faustoso travo classicista de Money, uma daquelas canções que nos mostram como vozes e cordas conseguem coabitar com superior beleza, principalmente se os sopros forem o indutor principal dos arranjos e a arrojada Before I Met You, ou Mouth Of The City, dois temas sustentados melodicamente por uma vibrante viola acústica e que aumentam de tensão à medida que recebem novos instrumentos, são belos exemplos que atestam esta capacidade comunicativa constante que o álbum transporta no seu âmago, plasmando o seu efeito atrativo muito pronunciado e simultaneamente animado e festivo, diga-se.
A subtil delicadeza enleante de Like A Stone, a simplicidade encantadora que embala Long Lost A Friend e o modo como Your Light nos impele, quase que de modo instintivo, a ir em frente sem receios, abrilhantam ainda mais um registo assinado por um cantautor que merece, de pleno direito, figurar no leque restrito dos melhores artistas que atualmente misturam com fino recorte folk, blues, rock e country. De facto, não falta a Aaron Thomas experiência e maturidade suficientes para navegar confortavelmente nas águas agitadas que misturam tudo aquilo que é, por definição, a força da indie folk mais pura e genuína, plasmada num disco que é, por direito próprio, um forte candidato ao pódio dos melhores do ano dentro do espetro sonoro em que se insere. Confere...
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Husky – Deep Sleeper
Já chegou aos escaparates o novo álbum dos australianos Husky, uma banda natural de Melbourne e formada atualmente por Jules Pascoe (guitarra), Holly Thomas (bateria) e Hollie Joyce (baixo). Apesar de terem diferentes formações musicais, une-os o amor pela pop clássica celebrizada por nomes tão influentes como Leonard Cohen, Paul Simon, The Doors e os Beach Boys.
Deep Sleeper são pouco mais de trinta minutos carregados de belas canções, todas escritas por Gawenda e compostas pela banda, daquelas canções que parecem ter sido concebidas em dias longos e noites quentes, onde terá sido intensa e constante a procura de harmonias o mais doces e transparentes possível. Nos Husky o processo de escrita deve ser um exercício transparente, assim como a música, porque nota-se intimidade e ausência de receio em exalar os sentimentos mais profundos que a vida vai oferecendo a Gawenda. O resultado é uma coleção exuberante de canções que ecoam os clássicos com os quais a banda cresceu, cheio de letras assombrosas e camadas delicadas do sons e ritmos, com as cordas da viola e um baixo muitas vezes vigoroso a ssumirem as rédeas do arquétipo sonoro do registo.
Deep Sleeper parece ter uma capacidade intensa em comunicar diretamente conosco, por causa da tal ausência de pudor em haver exposição, acabando por ter o efeito curioso de despertar no ouvinte o encontro de memórias de tempos idos, de sonhos que pareceiam já esquecidos e de incitar À presença espiritual daquelas pessoas especiais que não estão mais entre nós, mas ainda existem na memória.
Com tantas bandas e artistas a fazer atualmente a dita indie folk, é refrescante encontrar alguém que o faz de forma diferente e com músicas profundas e poderosamente bem escritas. A belíssima balada folk Devil On The Dresser, feita de infecciosas harmonias vocais e uma melodia magistral, os meticulosos arranjos que adornam o tema homónimo, onde se inclui uma guitarra encharcada num blues repleto de groove. Fake Moustache segue noutra direção devido à sua batida e a forma como a guitarra e a voz ecoam na melodia, o modo como a voz incrivelmente bonita de Gawenda paira delicadamente sobre uma melodia pop simples e muito elegante em Messy Head e o minimalismo viçoso de How To Forget, impressionam pelo espírito evocativo e profundamente melancólico que é, claramente, uma imagem de marca desta banda única no panorama indie contemporâneo.
Deep Sleeper é, pois, uma espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas de outro tempo, como já referi, pintadas com melodias acústicas bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam a sensibilidade desta banda para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana. E não restam dúvidas que estes Husky combinam com uma perfeição raramente ouvida a música pop com sonoridades mais clássicas. Espero que aprecies esta sugestão...
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GUM – Ill Times
GUM é um projeto a solo liderado pelo australiano Jay Watson, um músico com ligações estreitas aos POND e aos Tame Impala, que em dois mil e vinte e três fez faísca no nosso radar devido a um disco intitulado Saturnia, um alinhamento de dez canções que viu a luz do dia no final do verão e que sucedeu ao registo Out In The World, que o artista lançou em dois mil e vinte.
Agora, cerca de nove meses depois de Saturnia, GUM está de regresso e de mãos dadas com Ambrose Kenny-Smith, um dos elementos fundamentais dos King Gizzard. Juntos andaram a incubar um disco intitulado Ill Times, um alinhamento de dez canções que irá ver a luz do dia a dezanove de julho, com a chancela da p(doom) Records, a etiqueta dos King Gizzard.
Do alinhamento de III Times já se conhece o tema homónimo, um estrondoso hino à melhor herança do rock psicadélico setentista do século passado. É uma canção imponente, repleta de guitarras encharcadas com riffs impetuosos, acamados por um baixo cavernoso. Este perfil orgânico que sustenta a composição é depois embrulhado por uma vasta pafernália de sintetizações cósmicas, às quais compete um extraordinário papel de adorno, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados e trechos de puro experimentalismo. Confere o single III Times e a tracklist de III Times...
Dud
Ill Times
Minor Setback
Fool For You
Resilience
Powertrippn’
Old Transistor Radio
Emu Rock
Marionette
The Gloater
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Aaron Thomas – Before I Met You
Natural de Adelaide, na Austrália, Aaron Thomas está de regresso aos discos em dois mil e vinte e quatro com Human Patterns, um álbum que está previsto aterrar nos escaparates dentro de dias e que é aguardado com enorme expetativa na nossa redação.
Em fevereiro divulgámos Mouth Of The City, o primeiro single retirado do alinhamento de Human Patterns, uma canção envolvente, crua e íntima, mas também vibrante, que planava nas asas de uma indie folk psicadélica de elevado calibre. Agora, quase na data do lançamento do disco, Aaron Thomas disponibiliza o single Before I Met You, outra extraordinária composição, com o mesmo perfil estilístico de Mouth Of The City, mas que impressiona pelo modo como cresce em emotividade e arrojo. Before I Met You começa por sustentar-se melodicamente numa vibrante viola acústica, que acompanha exemplarmente uma bateria que replica um ritmo falsamente frenético. Depois, a tensão vai aumentando à medida que o tema recebe novos instrumentos, nomeadamente uma guitarra distorcida tremendamente angulosa.
Em suma, em Before I Met You, enquanto Aaron Thomas mistura com fino recorte folk, blues, rock e country, comprova que já tem experiência e maturidade suficientes para navegar confortavelmente nas águas agitadas que misturam tudo aquilo que é, por definição, a força da indie folk mais pura e genuína, deixando água na boca relativamente ao conteúdo de Human Patterns, disco que poderá bem ser um forte candidato ao pódio dos melhores do ano dentro do espetro sonoro em que se insere. Confere...
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Pond – (I’m) Stung
Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, está de regresso as discos com Stung!, um alinhamento de catorze canções, que irá ver a luz do dia a vinte e um de junho com a chancela da Spinning Top.
Como certamente se recordam, no início do passado mês de fevereiro passou por cá Neon River, uma composição de forte cariz lisérgico, ficando-se agora a saber que era a primeira antecipação divulgada pelos POND de Stung!. Agora, chega a vez de dançarmos ao som de (I’m) Stung, o segundo temado alinhamento do álbum.
Uma guitarra encharcada com um riff metalico fulminante, que trespassa uma viola acústica vibrantes, uma bateria vigorosa e repleta de variações rítmicas e diversos entalhes sintéticos com elevada cosmicidade, são os ingredientes que alimentam (I’m) Stung, uma canção opulenta, vigorosa, majestosa e instrumentalmente repleta de detalhes inebriantes e cheios de fuzz e de acidez, num resultado final que, qual odisseia em tecnicolor, mistura com mestria synth pop com rock psicadélico. Confere (I’m) Stung e o artwork e a tracklist de Stung!...
Constant Picnic
(I’m) Stung
Neon River
So Lo
Black Lung
Sunrise For The Lonely
Elf Bar Blues
Edge Of The World Pt. 3
Stars In Silken Sheets
Boys Don’t Crash
O, UV Ray
Last Elvis
Elephant Gun
Fell From Grace With The Sea
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Hazel English – Jesse
Artista debaixo dos holofotes da crítica mais atenta desde que lançou há pouco mais de meia década o EP Give In / Never Going Home, Hazel English estreou-se nos discos em dois mil e vinte com Wake Up!, um buliçoso alinhamento de dez composições que nos ofereceram uma bagagem nostálgica tremendamente impressiva, já que, ao escutarmos o registo, parecia que embarcavamos numa máquina do tempo rumo à melhor pop que se fazia há mais ou menos meio século e que ainda hoje influencia fortemente alguns dos melhores nomes da indie contemporânea.
Na primavera dois mil e vinte e três, e já depois de no final de dois mil e vinte e um nos ter brindado com um inédito intitulado Nine Stories, que foi grande destaque de um EP chamado Summer Nights, lançado no verão do ano seguinte, a cantora australiana a residir atualmente em Oakland, nos Estados Unidos, voltou à carga com uma belíssima cover de Slide, um icónico tema dos anos noventa assinado pelos míticos Goo Goo Dolls de Johnny Rzeznik, Robby Takac, George Tutuska e Mike Malinin.
No outono, Hazel English deliciou-nos com uma novidade intitulada Heartbreaker, que ainda não trazia atrelado o anúncio de um novo disco da artista e que contava nos créditos de produção com Jackson Phillips aka Day Wave, seu colaborador de longa data. No entanto, parece que esse segundo registo de originais da cantora de Oakland será mesmo uma realidade em dois mil e vinte e quatro, porque ela continua bastante ativa e a revelar novas composições, ao mesmo tempo que mantém profícua esta parceria com Day Wave.
Assim, depois de no início deste inverno Hazel English nos ter brindado com um tratado filosófico sobre desencontros amorosos e sobre a necessidade de saber seguir em frente quando uma relação termina, à boleia de Real Life, agora, quase no início da primavera, volta à carga com Day Wave para nos brindar com Jesse, um belíssimo tratado de indie rock com um forte travo chillwave. Jesse assenta em guitarras com um timbre metálico ziguezaguenta intenso, algumas sintetizações subtilmente charmosos e um registo vocal ecoante e sentimentalmente intenso, nuances que materializam pouco mais de dois minutos de puro deleite pop. Confere...
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Aaron Thomas – Mouth Of The City
Natural de Adelaide, na Austrália, Aaron Thomas está de regresso aos discos em dois mil e vinte e quatro com Human Patterns, um álbum que está previsto aterrar nos escaparates a dezassete de maio e já com um fabuloso single de apresentação divulgado, intitulado Mouth Of The City.
pic Lucy Spartalis
É nas asas de uma envolvente, crua e íntima, mas também vibrante, indie folk psicadélica, que plana Mouth Of The City. A canção sustenta-se melodicamente numa vibrante guitarra, que acompanha exemplarmente uma bateria que replica um ritmo lento constante e exemplarmente marcado, sustentando, ao longo de pouco mais de quatro minutos, uma tensão contínua.
Este modus operandi exala uma melancolia sagaz, que provoca uma sensação de proximidade com o ouvinte amiúde até algo sombria, mas sempre tremendamente aditiva, num resultado final bastante imersivo e emotivo e que contém uma forte espiritualidade. Mouth Of The City é uma canção intensa, incapaz de deixar o ouvinte mais incauto completamente preso a uma cartilha sonora ímpar no panorama alternativo atual. Confere...
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The Rubens – Liquid Gold
Depois de no ano de dois mil e vinte e três terem chamado a atenção da crítica com os singles Pets and Drugs e Good Mood, os australianos The Rubens voltam a estar debaixo dos holofotes devido a um novo tema intitulado Liquid Gold.
Esta nova canção da banda natural de Menangle, na Austrália e formada pelos irmãos Izaac Margin, Sam Margin e Elliott Margin e os seus amigos Scott Baldwin e William Zeglis, é um efusiante e enérgico tratado de indie pop, uma canção luminosa, angulosa, melodicamente solarenga e bastante radiofónica, apesar de liricamente ser uma impressiva narrativa que aborda questões relacionadas com a autodestruição.
O próprio vídeo de Liquid Gold, assenta na perfeição no seu conteúdo sonoro, já que contém filmagens feitas pelo vocalista Sam Margin, numa visita recente que fez ao Rio de Janeiro, capturando alguma da essência e do colorido dessa cidade brasileira. Confere...
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Pond – Neon River
Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, está de regresso com um novo tema intitulado Neon River, que ainda não traz atrelado o anúncio de um novo disco do projeto australiano.
Neon River é uma composição de forte cariz lisérgico, um oásis de luminosidade alimentado por cordas exuberantes, que tanto debitam uma sensibilidade acústica ímpar, como se deixam alimentar por um combustível eletrificado que inflama raios flamejantes que cortam a direito distorções inebriantes, plenas de fuzz e acidez, sendo depois trespassadas por sintetizações cósmicas efervescentes, num resultado final que, qual odisseia em tecnicolor, mistura com mestria synth pop com rock psicadélico. Confere...
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OS Melhores Discos de 2023 (20-11)
20 - Sigur Rós - ÁTTA
ÁTTA é um novo marco e um passo em frente, seguro e maduro, na discografia dos Sigur Rós. Em quase uma hora, o trio avança, talvez definitivamente, rumo à musica de cariz mais clássico e erudito, deixado para trás as guitarras inflamadas em agrestes distorções e uma imponência percurssiva, tantas vezes inigualável, que só o baterista Orri Páll Dýrason sabia como replicar, para se deleitar com um manuseamento tremendamente delicado, despudoradamente calculado e indisfarçadamente belo, do sintético, mesmo se trombones, violinos, harpas ou trompetes continuem a fazer parte da equação. No entanto, é curioso o modo como mesmo através desta guinada conceptual e interpretativa, os Sigur Rós continuam a manter intacto aquele adn muito próprio e único que nos transporta sempre para a típica paisagem vulcânica islandesa, fria e inóspita, já que, à semelhança da restante discografia do trio, este alinhamento é para ser escutado como um único bloco de som, compacto, hermético e aparentemente minimalista, mas rico em detalhes, experiências, nuances e paisagens, como é, num obrigatório e feliz paralelismo, um país tão belo, intrigante e rico como a Islândia.
19 - Dignan Porch - Electric Threads
Noções como crueza, simplicidade, imediatismo, rudeza e aspereza, mas também nostalgia e melancolia, assaltam facilmente a mente de quem escuta, pacientemente, Electric Threads, disponibilizando-se, assim, a embarcar numa viagem contundente rumo aquela indie lo fi e psicadélica do último meio século, que não descura, para se espraiar plena de luz e cor, um travo surf que é sempre tão apelativo. Aparentemente sem grandes pretensões mas, na verdade, de forma claramente calculada, Electric Threads volta a colocar os holofotes sobre os Dignan Porch, já mestres a recriar um som ligeiro, agradável, divertido e simples, mas verdadeiramente capaz de nos empolgar, tendo o louvável intuíto de nos fazer regressar ao passado.
18 - The New Pornographers - Continue As A Guest
Continue As A Guest é um intrincado jogo de luzes e reflexos em forma de música, um disco cheio de brilho e cor em movimento, que tem um alinhamento alegre e festivo e que parece querer exaltar, acima de tudo, o lado bom da existência humana. É, no seu busílis, uma trama orquestral complexa, um festim intrumental em que percussão, sintetizadores, sopros e guitarras, assim como as vozes de Newman e Case, se alternam e se sobrepôem em camadas, à medida que dez composições fluem naturalmente, sem se acomodarem ao ponto de se sufocarem entre si, num caldeirão sonoro criado por um elenco de extraordinários músicos e artistas, que sabem melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe neste universo sonoro ao qual dão vida e que deve estar sempre pronto para projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte, assentes num misto de power pop psicadélica e rock progressivo.
17 - Ulrika Spacek – Compact Trauma
Compact Trauma volta a colocar os Ulrika Spacek na órbitra da sua já habitual sonoridade punk, feita com fortes reminiscências naquela faceta sessentista ácida e psicotrópica, burilada, como sempre, com um timbre metálico de guitarra rugoso, acompanhado, quase sempre, por uma bateria em contínua contradição. A filosofia de composição musical destes Ulrika Spacek baliza-se através de um assomo de crueza, tingido com uma impressiva frontalidade, quer lírica quer sonora. Compact Trauma é mais um contínuo exercício insinuante de tornar aquilo que é descrito habitualmente, na música, como algo aparentemente desconexo e texturalmente incómodo, em algo que, quer ritmíca, quer melodicamente, é grandioso, sedutor e instigador, enquanto expressa, com nota máxima, um modo bastante textural, orgânico e imediato de criar música e de fazer dela uma forma artística privilegiada na transmissão de sensações que não deixam ninguém indiferente. De facto, Compact Trauma atesta a segurança, o vigor e o modo criativamente superior como este grupo britânico entra em estúdio para compôr e criar um shoegaze progressivo que se firma com um arquétipo sonoro sem qualquer paralelo no universo indie e alternativo atual.
16 - Teenage Fanclub - Nothing Lasts Forever
A ideia de luz é o foco central de um portentoso alinhamento de dez canções que, no seu todo, encarnam um tratado de indie rock com aquele perfil fortemente radiofónico que sempre caracterizou os Teenage Fanclub. De facto, Nothing Lasts Forever, um álbum encharcado em positividade, sorridente melancolia, inocente intimismo e ponderado pendor reflexivo, é um caminho seguro, retílineo e consistente rumo aquele indie rock que provoca instantaneamente sorrisos de orelha a orelha, independentemente do estado de espírito inicial. É um disco cheio de canções leves, melodicamente sagazes e, se forem analisadas tendo em conta o catálogo já vasto do projeto, são imperiosas no modo como, com uma intensidade nunca vista no quinteto, desbravam caminho até uma mescla contundente entre os primórdios da indie folk, a britpop e o melhor rock oitocentista. Nothing Lasts Forever é calor e luz, mas ouve-se em qualquer altura do ano. Intenso, poético e cheio de alma, exala um sedutor entusiasmo lírico, uma atmosfera sempre amável e prova que, quando os intérpretes têm qualidade, escrever e compôr boa música não é uma ciência particularmente inacessível. Aliás, para os Teenage Fanclub nunca foi.
15 - Jonathan Wilson - Eat The Worm
Eat The Worm é uma obra criativa única e indispensável, incubada por um autor que gosta de cantar e contar na primeira pessoa e assumir, ele próprio, o protagonismo das histórias que nos relata, enquanto prova ao mundo inteiro, mais uma vez, que é imcomparável a recriar diferentes personagens, cenas e acontecimentos, geralmente sempre dentro de um mesmo território criativo, neste caso o cinema. Sonoramente, é uma paleta sonora pintada com rock sinfónico de primeira água, um fabuloso tratado sonoro, tremendamente cinematográfico, que materializa uma espécie de colagem de vários trechos díspares num único alinhamento, enquanto abraça um elevado leque de influências que vão do jazz à folk, passando pelo rock psicadélico e progressivo.
14 - GUM - Saturnia
Nas dez canções de Saturnia Jay Watson executa, com elevada mestria, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências, que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop sinfónica de década seguinte, passando por alguns dos detalhes essenciais do jazz, da folk, do R&B e da própria eletrónica. Existe uma vibe psicadélica incomum, mas prodigiosa, em toda esta amálgama repleta de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchida com um travo de fragilidade e inocência incomuns.
13 - Woods - Perennial
Perennial é mais uma guinada no percurso sonoro dos Woods. Mantendo o perfil eminentemente indie folk, trespassado por algumas das principais nuances do rock alternativo contemporâneo, é um disco que coloca elevado ênfase num indisfarçável clima jazzístico. O registo coloca a nú a cada vez mais elaborada e eficazmente arriscada filosofia experimental interpretativa de um grupo bastante seguro a manusear o arsenal instrumental de que se rodeia, apostando em composições com arranjos inéditos e que são melodicamente abordados e construídos através de uma perspetiva que se percebe ter resultado de um trabalho aturado de criação que, tendo pouco de intuitivo, diga-se, plasma, com notável impressionismo, a enorme qualidade musical dos Woods. Um dos traços que mais impressionam na audição de Perennial é a quase presunçosa segurança que os autores demonstram na criação e na interpretação de canções que, tendo claramente o adn Woods, não são assim tão óbvias para os ouvintes que conheçam com profundidade a carreira do grupo. Esta sagacidade e esta altivez servem para aumentar ainda mais a pontuação de um trabalho que, sendo eminentemente crú e envolvido por um doce travo psicadélico, passeia por diferentes universos musicais sempre com superior encanto interpretativo e sugestivo pendor pop, traves mestras que melodicamente colam-se com enorme mestria ao nosso ouvido e que justificam, no seu todo, que este seja um dos melhores registos do já impressionante catálogo de uma banda fundamental do rock alternativo contemporâneo.
Personalidade exímia no modo como retrata uma Escócia repleta de especificidades, com uma cultura milenar e uma história ímpar de sobrevivência, Kenny Anderson utiliza a música como forma de homenagear a terra onde nasceu e sempre viveu, conseguindo, em simultâneo, colocar-nos bem no epicentro de tudo aquilo que o define enquanto pessoa, artista e cidadão. I DES, o seu novo tomo de dez canções e o quinto de uma já notável carreira com a assinatura King Creosote, é um notável catálogo de indie folk majestosa, imponente e, melhor do que isso, melodicamente tocante. Todas as composições do registo têm uma faceta incrivelmente enleante, no modo como nos cativam e nos seduzem, porque mesmo que narrem histórias de angústia, luta contra adversidades, ou de esperança em melhores dias, deixam-nos boquiabertos e, de certo modo, hipnotizados, perante uma indisfarçável beleza melódica que, como é óbvio, só se explica perante a enorme detreza criativa e interpretativa do autor. Um registo percurssivo quase sempre arritmado e vigoroso, teclados hipnóticos e um vasto catálogo de sopros das mais diversas proveniências instrumentais, preenchem o catálogo instrumental de I DES, um álbum portentoso e em que angústia e libertação são sensações que se fundem, quase sem se dar por isso, um modus operandi que resulta num clímax onde não falta um invulgar travo psicadélico.
11 - Local Natives - Time Will Wait For No One
Time Will Wait for No One é um álbum com uma atmosfera sonora enérgica, mas também com instantes de densidade algo inéditos no percurso discográfico dos Local Natives. É, claramente, um daqueles trabalhos em que uma banda resolve voltar a baralhar e a dar de novo, fazendo-o sem renegar, como é óbvio, o seu passado, mas querendo, com muita força e criatividade, explorar novos caminhos e possibilidades. Assim, neste registo impecavelmente produzido, o quinteto continua a caminhar dentro de uma atmosfera bem delineada e de uma constante proximidade entre as vertentes lírica e musical, algo que ficou logo bem patente logo em Gorilla Manor, a obra de estreia que alicerçou definitivamente o rumo sonoro dos Local Natives, mas o percurso é agora feito num ambiente mais efervescente, opção que demonstra, com objetividade, uma maior consciência musical e um modus operandi ainda mais renovado, emotivo e delicioso.