man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Westerman – Nevermind
O cantor e compositor britânico Will Westerman esteve am grande destaque na nossa redação em dois mil e vinte e três com um alinhamento de nove canções intitulado An Inbuilt Fault, o sucessor de outro extraordinário registo chamadoYour Hero Is Not Dead, lançado três anos antes, em dois mil e vinte.

An Inbuilt Fault estava recheado de momentos altos, nomeadamente CSI: Petralona, ou Idol; RE-run, um tema que contava com a participação especial de James Krivchenia dos Big Thief, que assinou, também, a produção de An Inbuilt Fault. Eram dois temas belos, retirados de um disco que impressionou pelo modo como Westerman alternou, com indisfarçável arrojo, entre uma espécie de rugosidade experimental sintética e uma delicadeza intensamente charmosa, predicados bem evidentes também na planante Give, uma belíssima canção de amor.
Agora, no outono de dois mil e vinte e cinco, Westerman regressa ao nosso radar à boleia de Nevermind, o mais recente single retirado do alinhamento de A Jackal’s Wedding, um disco que será lançado já a sete de novembro, com a chancela da Partisan Records.
Nevermind é mais um exemplo feliz do modo enigmático como o autor escreve e se debruça sobre a intimidade humana, um aspeto fundamental de uma escrita muitas vezes densa e críptica, que, neste caso, se debruça sobre o modo como tantas vezes nos esquecemos de certas coisas que dizemos e que, no momento da verbalização, foram pronunciadas com certeza e sobriedade. Esta imagem temática é personificada, neste caso, pela riqueza detalhística de um baixo encorpado e algumas teclas plenas de subtileza, que sustentam um registo melódico algo minimal, mas bastante inspirado e acolhedor. Confere...

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Anna Calvi – I See A Darkness (feat. Perfume Genius)
Sete anos depois de um extraordinário álbum intitulado Hunter, à época o seu terceiro registo de originais, a britânica Anna Calvi, está de regresso ao nosso radar devido a uma cover que incubou a meias com Perfume Genius. Trata-se da revisitação de um original de Bonnie Prince Billy intitulado I See A Darkness, que fazia parte do disco com o mesmo nome que o músico norte-americano Will Oldham lançou em mil novecentos e noventa e nove e o primeiro da sua carreira sob o nome Bonnie "Prince" Billy.
![Cover] Anna Calvi – I See A Darkness (feat. Perfume Genius (Bonnie 'Prince' Billy Cover)](https://www.ecletismomusical.pt/wp-content/uploads/2025/10/561900025_1397140398446575_2975757658218280551_n-e1761147302105-787x787_c.jpg)
Autora, cantora e compositora que tem chamado a si os holofotes da crítica devido ao seu registo vocal único e, já agora, também devido a um modus operandi sempre de difícil catalogação no que concerne ao modo como manuseia a guitarra, simultaneamente rugosa e gentil, Anna Calvi ponderou com todo o detalhe esta nova roupagem de I See A Darkness, não só para não defraudar as justificadas elevadas expetativas dos fervorosos fãs de Oldham, mas também, e principalmente, porque queria doar novas nuances, a um tema já de si bastante rico e intenso.
Assim, com a ajuda de Mike Hadreas aka Perfume Genius, Calvi oferece-nos um soporífero sintético, com uma impactante atmosfera lo-fi, mas também com aquela dose de delicadeza e emotividade que carateriza, através de um aparato tecnológico amplo, os principais caminhos de expressão musical dos dois protagonistas. É, em suma, um curioso e realisticamente magnético exercício de simbiose, entre elementos sintéticos particularmente rugosos. Confere a cover, já com direito a um vídeo assinado por Alexander Brown e o original...

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Vancouver Sleep Clinic – Beyond All Reason
É sempre com agrado que recordamos na nossa redação um dos discos que mais nos marcou no já longínquo ano de dois mil e dezanove. O trabalho chamava-se Onwards To Zion e era assinado, quase na íntegra, por Tim Bettinson, o músico e compositor australiano que encabeça o projeto Vancouver Sleep Clinic. Era, à altura, o segundo registo de originais de um projeto que ficou logo debaixo de merecidos holofotes, não só da crítica dos antípodas, mas também de diversas outras latitudes do nosso globo e que tinha como grande força motriz a perca de um amigo muito chegado do músico, sendo um exercício de catarse dessa inevitável dor.

Vancouver Sleep Clinic tinha estado pela última vez no nosso radar devido a Fallen Paradise, o álbum que o projeto lançou em dois mil e vinte e dois, o terceiro do grupo, um alinhamento de dez canções que tinha a chancela da Believe e que nos ofereceu pouco mais de trinta e seis minutos de música bastante envolvente, intimista e charmosa. Era um disco intenso, riquíssimo em detalhes e nuances, orquestralmente chegava a ser extravagante em alguns momentos e era tocante, já que exalava, em praticamente todo o seu alinhamento, sentimentos que, à partida, mexem sempre com o nosso âmago e o nosso lado mais irracional.
Agora, no outono de dois mil e vinte e cinco, Vancouver Sleep Clinic impressiona-nos novamente devido a um novo tema Beyond All Season. Trata-se de uma canção sentimentalmente intensa e hipnotizante, com uma elevada luminosidade intimista, que desagua numa feliz interseção entre música clássica eletrónica e pop ambiental, abraçada à voz sempre tocante de Tim, que não deixa ninguém passar incólume e que pode servir como ponte vigorosa, estável e firme para uma travessia segura rumo a um território de aconchego inimitável. Confere...

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Ezra Furman – One Hand Free
Há pouco mais de um mês foi destaque nesta redação Goodbye Small Head, o quinto registo de originais de Ezra Furman, um cantor e compositor norte-americano natural de Chicago e que, com quase quarenta anos, assina em dois mil e vinte e cinco o seu disco mais maduro e consistente. Trata-se de um disco com uma energia, uma autenticidade e um carisma inconfundíveis e que nos oferece uma viagem aventureira e até algo psicadélica, sugerida por um músico que sente finalmente ter força, amor próprio e vigor para encarar o mundo novo que se abriu de par em par depois de concluído o processo de transformação pessoal que viveu.

Assente na primazia da guitarras, mas com o charme do piano e a insistência em utilizar entalhes sintéticos sem receios, a serem também traves mestras do registo, Goodbye Small Head demonstrou-nos, cabalmente, que a carreira de Furman merece, claramente, uma projeção intensa e maior, até porque, pelos vistos sobraram algumas pérolas das sessões de gravação do disco.
Uma delas chama-se One Hand Free e acaba de ser disponibilizada por Ezra Furman em formato single. Trata-se de uma lindíssima balada, com um toque classicista impar, conferido por um belíssimo piano que acama uma melodia bastante aditiva e alegre e que é adornada com cordas vibrantes, em quase três esplendorosos e emotivos minutos que descrevem uma relação conflituosa e intensa entre dois amantes. Confere One Hand Free e o vídeo do tema, assinado por JJ Gonson...

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Meltt – By Your Side
Oriundos de Vancouver, no Canadá, os Meltt têm já uma assinalável reputação no país natal, como uma das bandas que melhor replica aquele rock majestoso e de forte cariz progressivo, enquanto não renega contactos mais ou menos estreitos com outros espetros sonoros, com particular destaque para a eletrónica ambiental, a música de dança e o próprio R&B. Já com um vasto catálogo em mãos, surpreenderam a nossa redação em dois mil e vinte com Another Quiet Sunday, um EP com cinco canções que valeram bem a pena destrinçar e, no ano seguinte, com uma formada de singles que deixaram marcas profundas e este projeto definitivamente na nossa mira.

No início do passado mês de agosto os Meltt regressaram ao nosso radar à boleia de Hesitate, um novo tema do grupo, que ainda não trazia atrelado o anúncio de um novo disco da banda atualmente formada por Chris Smith, Jaime Turner, James Porter e Ian Winkler. O mesmo também não sucedeu com Goodbye, a composição que a banda disponibilizou um mês depois, assim como como By Your Side, a composição que temos hoje para partilhar convosco. No entanto, tendo em conta o calendário e a sequência destes lançamentos, parece-nos provável que o anúncio de um novo registo de originais dos Meltt, em formato álbum ou EP, deve estar para breve.
Olhando então para o conteúdo sonoro de By Your Side, são pouco mais de quatro minutos de indie folk experimental, eminentemente etérea e contemplativa, com um travo oitocentista ímpar, com cordas reluzentes, uma bateria sóbria e diversos entalhes sintéticos ia criarem uma soberba imagem de paz e tranquilidade, enquanto versa sobre a importância dos momentos que passamos com os amigos durante o verão, as memórias que esses instantes acabam por criar para sempre e como eles nos fazem sentir vivos e felizes. Confere...

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Tame Impala – Deadbeat
Cinco anos após The Slow Rush e a testar os limites da nossa paciência devido a tão prolongado hiato, os australianos Tame Impala de Kevin Parker voltaram, finalmente, aos discos com Deadbeat, o quinto e novo registo de originais do projeto, um alinhamento com doze músicas gravadas, produzidas e misturadas pelo próprio Parker no estúdio do artista em Fremantle, na Austrália, onde reside e que, tendo a chancela da Columbia Records, é bastante inspirado na cultura bush doof na cena rave da Austrália Ocidental.

Os seguidores mais atentos do universo sonoro indie, habituaram-se, na última década e meia, a estar sempre particularmente atentos a tudo aquilo em que Kevin Parker fosse criando, quer nos Tame Impala, quer noutros projetos paralelos, ou como convidado. Ao início as cordas do baixo e das guitarras foram sempre suas fiéis aliadas, mas a verdade é que os sintetizadores têm vindo, ao longo dos anos, a ganhar cada vez maior primazia no seu modus operandi e a pop a tornar-se o princial alvo, em detrimento do rock progressivo e psicadélico.
Esta constante mutação sonora, que nunca deixou de ser também evolutiva, acabou por plasmar um importante aspeto da personalidade deste músico, que sempre se mostrou avesso a restrições, seguidismos e balizamentos e que foi perdendo o receio de assumir-se como amante da música de dança, reforçando, ao mesmo tempo o desejo de se vir a tornar num DJ de referência.
Deadbeat é o culminar de toda esta epopeia transformadora e reveladora, num disco que já tem muito pouco, ou praticamente nada, de Currents e que acaba também por cornfirmar as fortes suspeitas relativamente a esta guinada definitiva, que o álbum The Slow Rush já nos tinha deixado em dois mil e vinte. Ao longo de quase uma hora, Parker transforma a sua mente numa enorme pista de dança e oferce-nos um lugar na fila da frente da sua festa privada, com stream aberto, cimentando um ponto forte que este músico sempre teve, que é a capacidade de se conetar com cada um de nós, em particular com todos aqueles que se sentem mais excluídos ou marginalizados, algo bem patente no tema Loser, que tem nas poucas cordas mágicas de uma guitarra do disco e no registo vocal ecoante de Parker aquela marca psicotrópica setentista que tipifica grande parte do catálogo sonoro dos Tame Impala. No entanto, o curioso travo funk do perfil percurssivo do tema, oferece ao mesmo uma tonalidade psicadélica incontestável, numa canção plena de contemporaneidade, mas também com um forte pendor nostálgico, uma das imagens de marca deste projeto.
Antes disso, a abrir o registo, na batida orgânica e lo fi de No Reply, Parker amplifica ainda mais esta ligação que pretende estabelecer com uma audiência que raramente se revê no mainstream, com My Old Ways, tema que abre o disco, a calcorrear territórios um pouco mais intimistas, através de um perfil sonoro com levado travo jazzístico, apesar do registo percussivo sintético, mais uma marca que não é propriamente transversal ao catálogo Tame Impala.
A partir daí, a ecoante Oblivion tem a curiosidade de tocar perigosamente nas fronteiras do techno e a flutuante Not My World acaba por ter um efeito algo hipnótico, apenas afagado por uma melodia cintilante em tom de sino, numa espécie de deep house experimental, também pouco visto no projeto.
Até ao ocaso de Deadbeat, um disco cheio de batidas grandes e vazias que ecoam pelo espaço, na curiosa abordagem ao trance em Ethereal Connection, no piscar de olhos à pop sessentista em See You On Monday (You're Lost) e na eletropop de Dracula, uma canção que aponta baterias para aquilo que nomes como os Justice ou The Weeknd trouxeram para a ribalta já neste século, continua um desfile algo inócuo e inconsequente daquilo a que se pode chamar de uma admirável tentativa de Parker de propor algo novo e que de algum modo redifina a sua própria identidade enquanto artista.
Em suma, essencialmente através de drum machines ligadas desleixadamente a amplificadores de guitarra e deixadas a rodar enquanto reproduzem loops algo rudimentares, Deadbeat acaba, no seu todo, por ter um efeito algo oposto aquilo que a boa música de dança deveria de ter, nomeadamente um poderoso efeito libertador e até terapêutico. Espero que aprecies a sugestão...

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Helado Negro – Protector
Pouco mais de ano e meio depois de PHASOR, um disco que esteve em alta rotação na nossa redação no ocaso do inverno de dois mil e vinte e quatro, o projeto Helado Negro, liderado por Roberto Carlos Lange, está de regresso com o anúncio do lançamento de Last Sound on Earth, um novo EP deste artista filho de emigrantes equatorianos e radicado há vários anos nos Estados Unidos. Será um registo com cinco canções e irá ver a luz do dia a sete e novembro, com a chancela da Big Dada, a nova etiqueta de Lange.

Os cinco temas de Last Sound On Earth, têm como mote resultarem de um exercício reflexivo levado a cabo pelo artista, no qual imaginou quais seriam os últimos sons que escutaria antes de falecer. O filme Wavelength, assinado por Michael Snow, foi também, de acordo com Lange, um interruptor que acionou no âmago do músico sentimentos e emoções tão díspares como a esperança e o desespero, que acabaram por inspirar o conteúdo deste EP.
No final de setembro passou por cá More, a composição que abre Last Sound on Earth e que se debruçava sobre o modo como todos nós, que vivemos numa sociedade tremendamente conetada nas redes sociais e no digital e no virtual, acabamos por nos afundar em instantes prolongados de angústia e de isolamento.
Agora, cerca de três semanas depois, seguimos a ordem do alinhamento do EP e temos para escuta Protector, um tema eminentemente sintético e um verdadeiro festim de pop eletrónica. Por cima de uma batida abrasiva, acomodam-se diversos efeitos, nuances e detalhes, que criam um clima sonoro pleno de distorções, efeitos e sons, um estilo interpretativo que recria uma fronteira muito ténue entre o retro e o futurista, devido também ao elevado espírito lo-fi que exala. Protector escorre com desmesurada rugosidade e vibração pelos nossos ouvidos, num resultado final eminentemente experimentalista, que recria um clima que encarna na perfeição o espírito muito particular e simbólico que Helado Negro pretenderá para esta nova etapa da sua carreira e da sua música, que parece ter a bússola dfinitivamente apontada para as máquinas. Confere...

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Courtney Barnett – Stay In Your Lane
Quase quatro anos depois de Things Take Time, Take Time, um álbum que figurou na sétima posição dos melhores álbuns de dois mil e vinte e um para esta redação, Courtney Barnett está de regresso ao nosso radar devido a um novo single intitulado Stay In Your Lane, tema que tem a chancela da o selo Mom + Pop Music e que, para já, ainda não traz atrelado um novo disco da artista australiana.

Stay In Your Lane assenta na destemida companheira de sempre de Barnett, a guitarra, neste caso amiúde salutarmente abrasiva, mas também com o baixo a querer mostrar-se interventivo numa canção com um imparável groove insinuante. São detalhes que pintam um belíssimo quadro sonoro de indie rock, quente e tremendamente elegante, servindo para consolidar a já elevada maturidade desta artista e o modo como consegue, definitivamente, ampliar o seu espetro de influências, sem colocar em causa a sua assência. Confere Stay In Your Lane e o vídeo do tema assinado por Alex Ross Perry...

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Geese - Getting Killed
Caos e tensão são adjetivos que se ajustam às mil maravilhas aos Geese, uma banda de Nova Iorque que teve a sua génese há quase uma década no profícuo e efervescente bairro de Brooklyn e que é atualmente formada por Cameron Winter, Emily Green, Dominic DiGesu e Max Bassin, quarteto ao qual se junta o teclista Sam Revaz, quando o projeto toca ao vivo. Estrearam-se nos discos já esta década, em dois mil e vinte e um, com o registo Projector, ao qual se sucedeu 3D Country dois anos depois e agora, há poucos dias, Getting Killed, um alinhamento de onze canções produzidas por Kenneth Blume e que têm a chancela da Partisan Recordings.
Pujantes e, ao mesmo tempo íntimos, contundentes e simultaneamente emotivos, os Geese são o exemplo perfeito de como na música muitas vezes a ausência de regras estilísticas rigidas, de seguidismos ou de balizamentos é, também, uma boa fórmula para se chegar ao sucesso e à tão almejada perfeição. Getting Killed, o novo álbum do quarteto, pode ser catalogado, de modo simplista, como um disco de indie rock, mas é claramente muito mais do que isso. Os seus quarenta e cinco minutos condensam, sem ordem definida e numa espécie de caos ordenado, world music, jazz, folk, rock, pop, R&B, grunge, garage, psicadelia, punk e tudo aquilo que mais quiseres colocar nesta listagem. Depois, qual cereja no topo do bolo, temos Cameron Winter, considerado já por muitos como um dos vocalistas mais carismáticos do cenário indie e alternativo atual. Se num segundo ele choca-te e instiga-te com um voz ensurdecedora e, imagine-se, algo desconfortável, pouco depois está a falar, de modo contundente, ao teu coração, sussurrando-te ao ouvido com o registo mais adoçicado que possas imaginar. Pelo meio, captando a nossa atenção frequentemente de uma forma pouco convencional e até algo chocante, mantém uma performance algo arrastada, mas sempre tensa, atributos que ampliam ainda mais o modo bem sucedido como ele comunica connosco, mesmo que a disposição para o escutar não esteja nos píncaros.
Começa-se a escutar Trinidad, o tema que abre Getting Killed e, numa espécie de alegoria aquele jazz da primeira metade do século passado, percebe-se logo a cadência e o travo de um perfil sonoro ansioso, fragmentado e descontrolado, aspetos que vão ser transversais a todo o disco, independentemente do perfil interpretativo selecionado para cada composição, que explora sempre um som vibrante e que parece estar permanentemente a querer fugir ao típico arquétipo estrutural do formato canção, na sua forma mais pura e natural.
Feitas as apresentações, logo a seguir Cobra escancara, de par em par, as janelas da nossa alma para a contemplação de uma pop lisérgica e luminosa, com Husbands a colocar as fichas num perfil mais minimal e eletrónico, mas nem por isso menos abundante em detalhes, tiques e nuances, geralmente percussivas, que nos mantêm permanentemente alerta relativamente ao rumo que a canção possa levar.
Getting Killed prossegue em grande estilo e 100 Horses é outro exemplo feliz desta filosofia interpretativa musculada e quase irreal, em que os instrumentos frequentemente se confundem e mal se distinguem, deixando-nos sempre em absoluto suspense; No travo funk da composição saboreia-se um arsenal instrumental que tem na rugosidade do baixo e na aspereza das guitarras, elementos decisivos na indução de extase a uma canção de elevado pendor lisérgico. Antes, já o ímpeto vibrante do tema homónimo e o modo como as cordas crescem em intensidade e astúcia em Islands Of Men, tinham-nos mostrado que as guitarras são também uma arma de arremesso essencial do disco e que a guitarrista Emily Green e o baixista Dominic DiGesu são peças vitais no seu movimento sinuoso que, por incrível que Às vezes possa parecer, nunca resvala nem se despista.
Até ao ocaso de Getting Killed, o refrão gospel e a alegria contagiante de Half Real, uma belíssima canção de amor e o hino Taxes, um tema que tem tudo para se tornar numa das melhores canções do século XXI, são outros instantes impressivos de um disco cheio de reviravoltas e imprevistos, que escapa constantemente às expetativas que sobre ele se possam colocar e que parece saciar uma curiosidade inquieta e indomável que os Geese sentiram de explorar o máximo possível o potencial criativo que neles existe e o arsenal intrumental que dispôem.
Num dos discos do ano, cheio de força e vigor criativo, timbres e dinâmicas, este quarteto nova iorquino mostra que o sucesso e a felicidade no seio desta forma de arte chamada música, podem andar de mãos dadas, desde que se ponha de lado convenções e regras e se aposte numa fé inabalável no instinto e naquilo que ele nos pedir que seja feito no momento de criar e de desconstruir, porque aí, quando a realidade se dissolve, vale mesmo tudo. Espero que aprecies a sugestão...
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The Mountain Goats – Cold At Night / Rocks In My Pockets
Falar dos The Mountain Goats é quase como fazer referência a uma hipotética carreira a solo de John Darnielle já que é ele a principal mente criativa e grande indutor sonoro e lírico deste grupo. Também escritor, ficou famoso nessa vertente com o livro Wolf In The Van, que lançou em dois mil e catorze e que tinha um enredo que girava em redor de um recluso de rosto desfigurado e criador de jogos informáticos, que acabou também por inspirar, de certo modo, o disco Beat The Champ, que chamou a atenção da nossa redação em dois mil e quinze.

Pic by Jillian Clark
Agora, cerca de uma década depois, os The Mountain Goats estão de regresso ao nosso radar à boleia de um par de canções intituladas Cold At Night e Rocks In My Pockets. Os temas antecipam um novo disco dos The Mountain Goats intitulado Through This Fire Across From Peter Balkan. Trata-se de um álbum conceptual, produzido por Matt Douglas, membro do grupo e que terá a chancela da própria etiqueta da banda, a Cadmean Dawn Label.
Through This Fire Across From Peter Balkan debruça-se sobre a o dia-a-dia de um grupo de sobreviventes de um naufrágio numa ilha deserta. Mas também é dedicado a Peter Hughes, baixista do projeto durante muito tempo e que abandonou o mesmo em dois mil e vinte e quatro. É um registo que conta com várias participações especiais de relevo, nomeadamente Lin-Manuel Miranda, que canta em alguns temas e Tommy Stintson, dos The Replacements, que toca baixo em diversas composições. Aliás, estes dois músicos têm presença ativa em Cold At Night, uma canção vigorosa, assente num indie rock inebriante, com pitadas de folk. Já Rocks in My Pockets assenta num perfil mais acústico, impressionando pela riqueza detalhística das cordas.
No limite, estas duas novidades dos The Mountain Goats parecem carregar uma sabedoria que não compreendemos muito bem, mas que acreditamos que faz sentido, até porque escorre da suave boca de John Darnielle, um excelente contador de enredos, que se abriga à sombra de uma performance criativa, sonora e lírica, cheia de fórmulas e histórias maravilhosas, sem se preocupar com o julgamento do ouvinte sobre as suas opiniões acerca da singularidade dos temas que o inspiram. Espero que aprecies a sugestão...
