man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Darkside - Psychic
Gravado nos últimos dois anos entre Paris e Nova Iorque e lançado no passado dia oito de outubro, Psychic é a mais recente obra-prima com a intervenção direta do músico e produtor Nicolas Jaar, que no projeto Darkside une esforços com o não menos talentoso David Harrington, seu colega de palco e da faculdade. E quando é o selo Other People, em parceria com a Matador Records, a abençoar esta estreia de uma dupla que promete deixar uma marca importante na história da música eletrónica, então juntam-se todos os ingredientes para estarmos na presença de um disco que será certamente um marco. Psychic foi antecedido de um auspicioso EP de estreia, chamado Darkside, que serviu logo para a crítica tomar o pulso à electrónica mercurial de Jaar e Harrington e ficar à espera deste disco com justificada expetativa.
Psychic impressiona pela forma subtil como, ao criar um ambiente muito próprio e único através da forma como sustenta instrumentalmente os oito temas do seu alinhamento, alberga diferentes géneros sonoros e faz uma espécie de súmula da história da música dos últimos quarenta anos. É um disco mutante, que cria um universo quase obscuro em torno de si e que se vai transformando à medida que avançamos na sua audição, que surpreende a cada instante.
Do rock sujo e rugoso à pop mais límpida, escuta-se de tudo um pouco e logo no primeiro tema; Os onze minutos de Golden Arrow provocam e atiçam. São uma verdadeira entrada a matar para percebermos que os Darkside preocuparam-se em trazer para o disco o ambiente envolvente dos seus concertos, ora catárticos devido à batida, ora em busca de uma psicadelia que só uma guitarra picada a lançar-se sobre o avanço lento mas infatigável de um corpo eletrónico que também usa a voz como camada sonora, consegue proporcionar. São onze minutos que nos preparam o cenário sobre o qual vai apresentar-se Psychic como um todo.
A partir daí são vários os mestres que Psychic chama para os seus braços; Mark Knofler é chamado à pedra por Harrington em Sitra, quando se escuta uma linha de guitarra que poderia muito bem ter sido dedilhada por ele e quer Moby quer os Massive Attack certamente sentiram um enorme arrepio quando escutaram a ambiência sonora e os loops de Hearts, ao mesmo tempo que amparavam uma voz que poderia muito bem ser um Tom Waits sobre o efeito de uma bolha de hélio. Na verdade, uma das grandes virtudes deste disco é a forma como a eletrónica de Jaar e a guitarra de Harrington se entrelaçam, numa simbiose que roça a perfeição em muitos temas. Mas, voltando à revisão histórica, na minha opinião, o auge desta revisão eufórica acontece quando Psychic desperta-nos para uns Pink Floyd imaginários e futuristas ao som da sequência Paper Trails e The Only Shrine I’ve Seen , uns Pink Floyd que certamente não se importariam de ter sido manipulados digitalmente há trinta anos atrás se fosse este o resultado final dessa apropriação.
Daqui em diante ainda há tempo para sentir em Freak, Go home, um toque de lustro dos anos oitenta, através de um sintetizador que apenas permanece o tempo suficiente para nos preparar para uma batida crua, cheia de loops e efeitos em repetição constante, mas livre de constrangimentos estéticos e que nos provoca um saudável torpor, que de algum modo apenas é interrompido em Greek Light, aquela canção que todos os grandes discos têm e que também serve para exaltar a qualidade dos mesmos, principalmente quando se desviam um pouco do rumo sonoro geral do trabalho. Os efeitos robóticos carregados de poeira e daquele som típico da agulha a ranger no vinil, assim como os teclados de Metatron e um subtil efeito de guitarra colocam-nos de novo na rota certa de um álbum que do tecno minimal ao space rock, passando pela chillwave e a eletrónica ambiental, impressiona pela atmosfera densa e pastosa mas libertadora e esotérica que transporta. Psychic é um disco muito experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas. Mas tem também uma estrutura sólida e uma harmonia constante. É estranho mas pode também não o ser. É a música no seu melhor. Espero que aprecies a sugestão...
01. Golden Arrow
02. Sitra
03. Heart
04. Paper Trails
05. The Only Shrine I’ve Seen
06. Freak, Go Home
07. Greek Light
08. Metatron