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Dear Telephone - Taxi Ballad

Quarta-feira, 29.05.13

Inspirados pela curta metragem de Peter Greenway intitulada Dear Phone, realizada em 1976, os Dear Telephone vêem de Barcelos e formaram-se há cerca de três anos, tendo na sua formação gente que nos tem sempre mostrado, em todos os projectos que se envolvem, uma inegável qualidade enquanto músicos e que prova que na música se pode fazer diferente. Falo de Graciela Coelho, André Simão, Pedro Oliveira, Ricardo Cibrão e Paulo Araújo. Em março de 2011 estrearam-se com o EP Birth Of A Robot, um conjunto de canções com uma abordagem sonora algo crua, intimista e minimalista, um EP que foi muito bem recebido pela crítica e apresentado ao vivo em algumas das mais importantes salas de espetáculos do país. Mas também chegaram ecos desse EP ao estrangeiro, com os Dear Telephone a fornecerem um tema para a banda sonora do filme brasileiro Contramão de Fabio Menezes e a representarem Portugal em agosto de 2011 no evento Music Alliance Pact.

Agora, no passado dia seis de maio, e novamente por intermédio da PAD, chegou aos escaparates Taxi Ballad, o tão aguardado longa duração de estreia, um disco cujo conteúdo, de acordo com a press review que recebi, tem uma toada densa mas heterogénea e com canções onde os Dear Telephone mergulham sem concessões no assumido fascínio pelo quotidiano e suas contradições, no discurso directo e desconcertante das personagens que as vozes encarnam e numa instrumentação dura e sem artifícios

Taxi Ballad foi gravado nos Estúdios Sá da Bandeira por José Arantes e João Brandão e finalizado no Golden Mastering por JJ Golden, tendo como destaque principal o single That Violin Lesson Sucks, um tema com um filme onde se pode observar a banda num espaço de um edifício perdido no ambiente urbano, mas que terá continuidade com outro single em outra parte distinta desse edifício. Já agora, e como poderás constatar abaixo na entrevista que a banda me concedeu, os vários vídeos concebidos para o conteúdo de Taxi Ballad hão-de entrelaçar-se, ou seja, o fim de um é o início do próximo, abrindo quadros em espaços diferentes de um mesmo edifício.

Taxi Ballad é uma obra rica em conteúdo, com nove canções alicerçadas em diferentes linguagens e esferas de influência sonora, um disco que experimenta a pop e pisca o olho ao rock, sempre com mestria e com os ingredientes certos. Há uma mistura criativa de ritmos que ao início pode soar algo estranha, mas com o tempo o nosso ouvido descobre o ponto de equilíbrio e o prazer da audição cresce e entranha-se sem exigir grande esforço. Há aqui, nesta mistura e aparente indecisão estilística, um certo assumir de um risco que, por neste caso ter resultado, acaba po ser a maior mais valia de um álbum que finta alguns dos habituais cânones da pop nacional, sem deixar de apresentar temas com refrões aditivos e que poderão ter um invejável airplay.

As letras falam de conversas de telefone, conversas de querido diário se preferirem e procuram dar vida a canções que não seguem uma linha pré-definida e que provam que a beleza não tem de ser explícita para que possa ser apreendida.

Verdadeiros criadores de uma pop sofisticada, inteligente a até corajosa, os Dear Telephone apresentam em Taxi Ballad nove temas que se afirmam como umas das melhores colheitas da música portuguesa actual e que poderá ser adquirido digitalmente pelo simpático preço de 6€ no bandcamp oficial da banda. Confere abaixo entrevista com os Dear Telephone e espero que aprecies a sugestão...

 

O nome Dear Telephone foi inspirado pela curta-metragem de Peter Greenway intitulada Dear Phone e realizada em 1976. Expliquem lá um pouco melhor esta história…
 É um filme que retrata, num registo muito abstracto, temas fundamentais para nós. A incomunicação, a palavra, o anti-clímax. Pela lente dum autor que adoramos, o Peter Greenaway. O nome do filme fez eco numa série de conceitos que queríamos abordar. O "querido telefone" do yuppie hiperactivo, da adolescente apaixonada, do velho solitário. O telefone que representa, em simultâneo, o estar ligado e o estar sozinho.
 
Depois do EP Birth Of A Robot, surgiu finalmente, Táxi Ballad, o longa duração. Há uma continuidade do EP para o álbum?
Sim e não. Há elementos fundamentais que se mantiveram, outros que foram completamente revistos. Persiste uma atitude estruturalista, mínima nos recursos. Mas nasceu uma face mais exploratória e rebuscada: das personagens que as vozes encarnam, cada vez mais complexas, até um lado mais agreste e denso, expresso nas guitarras, no processamento dos teclados, nas arritmias das percussões. Depois há a questão fundamental de nos conhecermos melhor e de conseguirmos respirar muito mais naturalmente o universo estético que perseguimos.  
 
Segundo uma nota de imprensa, Táxi Ballad tem uma toada densa mas heterogénea e com canções que mergulham sem concessões no assumido fascínio pelo quotidiano e suas contradições, no discurso directo e desconcertante das personagens que as vozes encarnam e numa instrumentação dura e sem artifícios. Parece existir uma ligação íntima entre uma abordagem lírica direta e relacionada com os assuntos do quotidiano e a sonoridade algo crua do álbum. Isso é propositado?
Sim. Essa ambivalência é um dos traços fundamentais do modo como nos vemos. Como se essas personagens e histórias fossem uma pequena pintura muito colorida, quase barroca, numa moldura enorme, pós-moderna, branca e minimal, que é a música.
 
Como chegaram à escolha do nome para o álbum?
A expressão “táxi ballad” vem directamente da última canção (Passengers). Cuja letra se inspira numa campanha de prevenção rodoviária, em Nova Iorque, feita de haikus ilustrados e mensagens muito poéticas e catastróficas. Ocorreu-nos que, sendo um álbum de interiores, faria sentido pensar o táxi como uma espécie de quarto em movimento, um espaço de reflexão, perdido nos clichés da confusão urbana. 
 
Na gravação e na mistura, este álbum teve a mão de José Arantes e João Brandão. Como foi possível congregar técnicos de tanta excelência em redor desta causa?
 O José Arantes é das pessoas mais próximas da banda. Aliás, foi ele quem nos desafiou a gravar o primeiro EP – que na altura era suposto ser apenas uma demo. E para além de ter sido o homem do som em todos os registos de Dear Telephone, já tinha trabalhado com todos nós em projectos diferentes, dos peixe:avião aos La la la ressonance. O João é o engenheiro de som dos estúdios Sá da Bandeira, onde decidimos gravar o álbum. Não o conhecíamos e foi uma bela surpresa. 
 
Acompanho o universo musical indie e alternativo com interesse. Quais são as vossas principais influências musicais?
Temos referências muito diferentes uns dos outros. Em termos de influências comuns e que tenham tido algum ascendente sobre o nosso método ou pairado como fantasmas sobre o disco, apontaria 4: Arthur Russell, Gillian Welch, Low, Dean Blunt.
 
Descobri um vídeo de uma versão de That violin lesson sucks gravado em Guimarães, no parque de estacionamento da Plataforma das Artes, propositadamente para uma iniciativa chamada Videoteca Bodysapce, inserida no evento Guimarães - Capital da Cultura. Como surgiu o convite?
 A propósito do nosso concerto no Primavera Club, precisamente na Plataforma das Artes. O Bodyspace era parceiro da Capital Europeia de Cultura e fez-nos o convite directamente. Esse é o primeiro registo dessa canção, que tinha sido escrita uns dias antes. 
 
Quanto ao vídeo oficial deste mesmo single That Violin Lesson Sucks, é descrito como o primeiro de vários de Táxi Ballad que irão ser apresentados, todos com uma ideia conceptual, ou seja, transversal a todos eles. Que ideia é essa?
 É uma ideia muito mais abstracta e formal do que propriamente narrativa. Tem a ver com a ideia de interior, de espaço contido. Os vídeos hão-de entrelaçar-se – o fim de um é o início do próximo - abrindo quadros em espaços diferentes de um mesmo edifício.
 
A banda tem uma canção preferida no álbum?
Não. Temos com o álbum a relação que desejávamos antes de gravar, ou seja, vemo-lo como um todo. Claro que cada um de nós há-de ter a que prefere tocar ao vivo, ou a interpretação mais inspirada…
 
Será necessário haver uma escrita menos terrena e mais etérea, para que os Táxi Ballad possam vir a explorar outros territórios sonoros ou ainda será demasiado cedo para pensar nisso, ou sequer fazer uma associação deste género? O que podemos esperar do futuro discográfico dos Dear Telephone?
Com mais ou menos derivas, sentimo-nos muito confortáveis no lugar sonoro e estético que ocupamos. Gostamos bastante desta ideia de navegação à vista, sem grandes expectativas sobre futuros imaginados. 
 
Para terminar, li algures que Barcelos, a vossa cidade natal, musicalmente está na moda. Devo ficar particularmente atento a mais nomes, além dos Dear Telephone?
Claro que sim. São tantos que temos medo de esquecer algum. Mais fácil será ires seguindo as plataformas criativas/editoriais que vão suportando o “fenómeno”: PAD, Lovers & Lollypops, Honeysound, Noir et Blanc..
 

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publicado por stipe07 às 21:48






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